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O menino e o foguete: uma reflexão sobre a desigualdade.

Escrito por Abdon Mar­inho


O MENINO E O FOGUETE: UMA REFLEXÃO SOBRE A DESIGUAL­DADE.

Por Abdon C. Mar­inho.

MAIS UM ANO se ini­cia, com ele todos os dese­jos de dias mel­hores, de saúde, sucesso, paz e pros­peri­dade. Pelo menos é isso que con­sta na mil­hares de men­sagens que recebe­mos em todos os fins e iní­cios dos anos.

Este ano, em espe­cial, tais dese­jos se man­i­fes­tam com mais inten­si­dade, talvez por coin­cidir o iní­cio de ano com o dos gov­er­nos estad­u­ais e fed­eral, o que traz uma dupla chance para “esper­ançar”.

Entre­tanto, para alcançar­mos o que dese­jamos para o próx­imo, para o país e demais entes fed­er­a­dos, é opor­tuno refle­tir sobre o que e como fare­mos para com­bater as desigual­dades soci­ais tão pre­sentes nos dias atuais.

Há alguns dias – ainda no ano pas­sado, rsrs –, duas notí­cias, divul­gadas pela imprensa quase que de forma simultânea, chama­ram minha atenção: a primeira (ou a segunda) dava conta de um lança­mento de foguete no nosso Cen­tro de Lança­mento de Alcân­tara — CLA; a segunda, que, segundo o Insti­tuto Brasileiro de Geografia e Estatís­ti­cas — IBGE, dos 25 municí­pios brasileiros com a renda per capita mais baixa, 24 destes estão local­iza­dos no Maranhão.

Desde então tenho estado com tal para­doxo na cabeça: somos capazes de lançar foguetes ao espaço, satélites avançadís­si­mos, quiçá, daqui a alguns anos pos­samos daqui mesmo man­dar homens à lua ou a out­ros plan­e­tas, entre­tanto, não con­seguimos aliviar a fome, a pobreza e a desigual­dade social entre nós.

Imag­inei a cena de um menino pobre, desprovido de quais­quer per­spec­ti­vas futuras, daqui, deste lado da Baía de São Mar­cos, ali na Ilhinha ou Ponta d’Areia ou mesmo de um dos quilom­bos do lado de lá assistindo ao lança­mento do foguete – e serão vários, assim esper­amos –, essa cena pedi ao ilus­tre car­tunista Cordeiro Filho que a imor­tal­izasse na ponta do lápis para ilus­trar o texto.

O que passa pela cabeça do menino mal­trapilho, talvez fam­into, que assiste ao lança­mento do foguete? O que passa pela cabeça dos mil­hares de meni­nos, meni­nas, homens, mul­heres, jovens ou anciãos que diari­a­mente pas­sam fome – e segundo o IBGE são mais de 30 mil­hões de cidadãos cidadãos –, enquanto assis­tem numa tele­visão de uma loja ou escu­tam em rádio que o país, mais uma vez bateu o recorde de pro­dução agrí­cola ou que é o celeiro do mundo? Como pode haver mérito em tais suces­sos, tec­nológi­cos e/​ou de pro­dução agrí­cola, quando os dados nos rev­e­lam o inacesso dos cidadãos a tais benefícios?

Hoje os gov­er­nadores de todos os esta­dos da fed­er­ação e um pres­i­dente da república assumirão o comando dos esta­dos e da nação.

Daqui a pouco será a vez de cen­te­nas de par­la­mentares, estad­u­ais, fed­erais, senadores, tomam posse como rep­re­sen­tantes do povo.

Quais os com­pro­mis­sos que terão estes cidadãos em com­bater o prob­lema da desigual­dade social? Como fare­mos para ofer­tar a todos os brasileiros as mes­mas oportunidades?

Imag­ino que os diri­gentes dos esta­dos e do país assim com os rep­re­sen­tantes do povo (afi­nal, rep­re­sen­tam o povo) saibam que algo muito errado têm feito até aqui a ponto de pos­suirmos um país tão desigual com o efeito direto na fome de tan­tos mil­hões de cidadãos.

A fome é a sen­hora abso­luta da nossa des­graça.

Acho que qual­quer outro debate sobre desigual­dade social perde o sen­tido diante da cruel real­i­dade dos que acor­dam pela manhã e não têm o que comer; mais tarde, pre­cisam gan­har o almoço e no fim do dia o jan­tar. Ou, como assis­ti­mos por diver­sas vezes, irem dormir mais cedo na vã ten­ta­tiva de “enga­nar a fome”.

Ven­cida a “emergên­cia nacional” de garan­tir que os cidadãos não passem fome, pre­cisamos cor­ri­gir as demais maze­las que puxam o Brasil para o atraso.

Nos últi­mos anos tenho con­statado que a primeira – e talvez a mais urgente –, a ser cor­rigida é a desigual­dade na edu­cação infan­til. Pre­cisamos igualar em tec­nolo­gia e fer­ra­men­tas edu­ca­cionais as esco­las do país colocando-​as no mesmo nível da rede de ensino pri­vado e dos mel­hores cen­tros do mundo.

As cri­anças da rede pública começam o ensino em fla­grante desvan­tagem em relação as cri­anças cri­anças ini­ciam os estu­dos na escola da rede pri­vada, em todos os sen­ti­dos, no acesso às tec­nolo­gias, no apren­dizado de lín­guas, etc.

Agora mesmo, redes de rádio e tele­visão, pas­sam com­er­ci­ais de esco­las pri­vadas chamando para as matrícu­las e infor­mando que terão ensino de robótica e de lín­guas estrangeiras já a par­tir do mater­nal, aliás, já infor­mam que o apren­dizado será bilíngue.

Ora, tal real­i­dade é tão dis­tante da rede pública quanto a da cri­ança mal­trapilha que observa de longe o lança­mento do foguete.

Exceto pelo pio­neirismo de alguns gestores munic­i­pais, o ensino de lín­guas na rede pública só é obri­gatório a par­tir do sexto ano, assim mesmo, o mate­r­ial ofer­tado é abso­lu­ta­mente incom­patível com a real­i­dade dos estu­dantes que nunca tiveram qual­quer acesso à dis­ci­plina e não con­seguem acom­pan­har.

Temos nesta única situ­ação duas desigual­dades: a primeira que a cri­ança já “perdeu” cinco anos de apren­dizado; a segunda, que a par­tir do sexto ano, com mate­r­ial inad­e­quado, não con­seguirá mais acom­pan­har.

O resul­tado desta “anom­alia” sistêmica será sen­tida ao longo dos anos na vida acadêmica do estu­dante, nos anos finais do fun­da­men­tal, no ensino médio e, até mesmo, no ensino supe­rior, se con­seguir chegar lá, uma vez que o ENEM a par­tir de 2024, con­terá questões trans­ver­sais de lín­gua estrangeira.

Esse é ape­nas um exem­plo de uma das difi­cul­dades que pre­cisamos cor­ri­gir com urgên­cia, desde ontem.

Não passa de hipocrisia exigir-​se de cri­anças e ado­les­centes que não tiveram as mes­mas condições de ensino um aproveita­mento, pelo menos igual, com os que tiveram todas as condições desde o maternal.

Logo, pre­cisamos de mais inves­ti­men­tos em edu­cação básica. Sem cor­ri­gir o ensino fun­da­men­tal não ter­e­mos como alcançar resul­ta­dos no ensino médio e no supe­rior.

No Maran­hão, além da fome, da desigual­dade na edu­cação, pre­cisamos de uma política de desen­volvi­mento econômico regional.

Viajo o MARAN­HÃO quase todo, por onde passo, seja por cidades peque­nas, médias ou grandes, não vemos indús­trias de nada; não vemos pro­dução de nada.

O que vemos dia após dia, a qual­quer horário que se passé, são homens em idade de tra­balho, nas por­tas ou debaixo de árvores, ociosos, “matando” em jogu­inho de car­tas ou dom­inó, ou na cerveja ou cachaça; o que vemos são crianças/​adolescentes fora da escola quando dev­e­riam estar em sala de aula apren­dendo alguma coisa.

Os que pos­suem respon­s­abil­i­dades, não podem ficar inertes diante de tal quadro.

Urge uma política de indus­tri­al­iza­ção e de pro­dução como forma de romper com o ciclo nefasto que vem se repetindo ao longo das décadas no estado.

Faz-​se necessário, com urgên­cia, uma rup­tura.

O novo gov­erno, a instalar-​se hoje, tem tam­bém essa mis­são.

Não é crível ou aceitável que o nosso estado com tan­tas poten­cial­i­dades con­tinue pade­cendo de tan­tos males.

Podemos ter por­tos dos dois lados da baía, podemos ter um sis­tema rod­o­fer­roviário levando e trazendo as riquezas do país inteiro e para o mundo; já temos um cen­tro de lança­mento de foguetes; temos solo fér­til, água em abundân­cia, ter­ras vas­tas.

O que falta para trans­for­mar tudo isso em riquezas para o nosso povo?

As cri­anças, ado­les­centes e jovens não podem se con­for­mar ape­nas em olhar o foguete subir aos céus.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

Um pres­i­dente em fuga

Escrito por Abdon Mar­inho


UM PRES­I­DENTE EM FUGA.

Por Abdon C. Marinho.

INTER­ROMPE­MOS o recesso de final de ano para um reg­istro que só podemos fazer até hoje: pela primeira vez desde que Cabral apor­tou por estas ter­ras, temos um pres­i­dente em fuga. Sim, não passa de eufemismo dizer que o “ainda” pres­i­dente (até as 24 horas de hoje) entrou de férias ou que o pres­i­dente “via­jou” ou que o pres­i­dente foi vis­i­tar “ami­gos” no estrangeiro ou com­prar uma com­pota de bacuri, ou mesmo, como ainda pregam os mais cré­du­los da sua seita, o pres­i­dente deixou o país para coman­dar a reação a par­tir do estrangeiro ou ainda que na undécima hora as Forças Armadas do país irão tomar o poder e chamá-​lo para reas­sumir o cargo de pres­i­dente na eleição que perdeu.

Sinto nos que pregam tais coisas uma fé própria dos que se encon­tram afas­ta­dos da real­i­dade. Assim como os devo­tos de D. Sebastião que ainda hoje aguardam o seu retorno ou, trazendo para algo mais próx­ima da real­i­dade brasileira, na vitória de Antônio Con­sel­heiro con­tra o exército repub­li­cano de Flo­ri­ano Peixoto, na Guerra de Canudos, tão bem retratada na obra “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, recon­hecida como primeiro livro-​reportagem do país e pode ser lido como livro de história, geografia ou soci­olo­gia.

Os que assim agem ou expõem, ao meu sen­tir, pare­cem per­ten­centes a uma real­i­dade para­lela com­ple­ta­mente desco­lada da real­i­dade. Não faz nen­hum sen­tido que este­jam há sessenta dias acam­pa­dos em frente aos quar­téis mil­itares, em orações, lou­vores ou can­tando hinos, pedindo um golpe mil­i­tar na décima econo­mia do mundo em pleno avançado século XXI.

Voltando à nossa real­i­dade nua e crua – e ao que motiva o pre­sente texto –, temos um pres­i­dente em fuga. Não sei o que o motivou a “fugir” do país fal­tando pouco mais de um dia para o tér­mino do mandato ou que temeu ao fazê-​lo, mas, a ver­dade é uma só, o pres­i­dente da república fugiu do país.

O vice-​presidente, no exer­cí­cio da presidên­cia, uma vez que o tit­u­lar bandeou-​se para o estrangeiro, anun­ciou ou pro­nun­ci­a­mento à nação para o dia de hoje, talvez esclareça os motivos da fuga do pres­i­dente – aguardemos.

Se fiz­er­mos um res­gate histórico, em 1985, o então pres­i­dente João Figueiredo, tam­bém recusou-​se a trans­mi­tir o cargo a Sar­ney (na véspera da posse o pres­i­dente eleito Tan­credo Neves pas­sou mal e foi inter­nado às pres­sas no hos­pi­tal de Base de Brasília, onde veio fale­cer, em 21 de abril).

Se não me falha a memória, Figueiredo não faria a trans­mis­são de cargo a Tan­credo Neves – e muito menos a Sar­ney, de quem tomara ojer­iza por ter o mesmo se ban­deado para a oposição após ter dado sus­ten­tação política ao régime mil­i­tar do qual foi o último pres­i­dente –, e via­jara para o Sítio do Dragão, em Petrópo­lis, região ser­rana do Rio de Janeiro, deixando a faixa pres­i­den­cial com algum aju­dante de ordens.

A história não conta, mas é bem provável que no momento da posse de Sar­ney na presidên­cia inte­rina, Figueiredo estivesse andando a cav­alo ou cuidando dos mes­mos ou ainda tomando chá com a esposa.

Emb­ora a trans­mis­são de cargo seja um gesto de civil­i­dade e maturi­dade democrática, não existe uma obri­gação de fazê-​lo – quem empossa o gov­er­nante eleito é o Con­gresso Nacional, com­posto pelos rep­re­sen­tantes do povo –, assim como não existe uma obri­ga­to­riedade de recon­hecer o resul­tado eleitoral e cumpri­men­tar o vence­dor – quem proclama o resul­tado das eleições é o Tri­bunal Supe­rior Eleitoral — TSE.

Em ambos os casos, recon­hecer o resul­tado e trans­mi­tir o cargo ao eleito foram com­por­ta­men­tos aos quais nos acos­tu­mamos e nos fazia pen­sar que vivíamos em uma democ­ra­cia amadure­cida.

Em 1990, mesmo sendo dura­mente crit­i­cado durante o processo eleitoral do ano ante­rior, Sar­ney trans­mi­tiu o cargo o pres­i­dente Col­lor de Melo; em 1995, Ita­mar Franco – que assumiu a presidên­cia em razão da cas­sação de Col­lor –, fez a trans­mis­são do cargo a Fer­nando Hen­rique Car­doso; em 2003, foi a vez de FHC trans­mi­tir a Lula, que trans­mi­tiu a Dilma Rouss­eff, em 2011; em 2019, Michel Temer – que assumiu em razão do impeach­ment de Dilma –, fez a trans­mis­são de cargo ao atual pres­i­dente, que se encon­tra em fuga.

Ora, se a recusa do pres­i­dente der­ro­tado era ape­nas em pas­sar a faixa ou trans­mi­tir o cargo ao eleito, não pre­cis­aria espetar mais uma conta (esper­amos que a última) nas costas do con­tribuinte dando as costas ao país com um séquito para o exte­rior, pode­ria ter ficado no Brasil e até mesmo em Brasília, tomando um chaz­inho de camomila com a primeira-​dama, enquanto os novos inquili­nos do poder assum­iam os car­gos para os quais foram eleitos.

Mas a “fuga” do pres­i­dente para estrangeiro, por razões que ainda descon­hece­mos, talvez seja ou ape­nas mereça um reg­istro para história, deste que vos escreve e de tan­tos out­ros que já se debruçaram ou se debruçarão sobre o tema.

O mais grave de tudo isso – e que a história dev­erá levar anos para enten­der –, é a humil­hação pública a que foram e a que estão sendo sub­meti­dos os seus mil­hares ou mil­hões de seguidores acam­pa­dos nas por­tas dos quar­téis com propósi­tos golpis­tas, por acred­itarem em uma “virada de mesa” ou em um mila­gre de último min­uto.

O pres­i­dente em fuga os “coz­in­hou” durante dois lon­gos meses de sol, chuva, sereno, pri­vações diver­sas com fal­sas esper­anças e ilusões, para pouco antes da fuga dizer que nada tinha a ver com os referi­dos movi­men­tos e protestos.

Não sendo ele um com­pleto igno­rante, já era sabedor desde sem­pre que não houve qual­quer anor­mal­i­dade no processo eleitoral, pode­ria ter recon­hecido como “homem” a der­rota no mesmo dia em que ela foi divul­gada, como fiz­eram todas as enti­dades, órgãos e gov­er­nos estrangeiros, ou quando muito, recon­hecer a der­rota quando divul­gado o resul­tado das análises feitas pelas Forças Armadas – que por receio ou covar­dia não foi tão cabal quanto dev­e­ria.

Mas não, em silên­cio, insu­flando os seus através de ter­ceiros e com sinais con­heci­dos como “api­tos de cachorro”, deixou que os seus ali­a­dos, seguidores ou devo­tos, homens, mul­heres, cri­anças, per­manecessem nas por­tas dos quar­téis pas­sando por pri­vações e vex­ames, acred­i­tando em coisas só exis­tentes numa real­i­dade para­lela.

Vejam que difundi­ram (ou ainda difun­dem) que o golpe vai ocor­rer de hoje pra manhã; que as fron­teiras estão sendo pro­te­gi­das para evi­tar que nações estrangeiras invadam o país por ocasião do golpe; que países ali­a­dos do pres­i­dente em fuga já estão na costa do país, pron­tos para aju­darem as Forças Armadas no golpe; e, até mesmo, pas­mem, que os ET’s estão no ponto para inter­virem.

Tudo isso, entrecor­tado com os dis­cur­sos de que estão pron­tos a “mor­rer pela pátria” para que a mesma não se torne uma “nação comunista”.

Con­fesso que grau de fanatismo idên­tico, na história recente, só encon­tra para­lelo, no suicí­dio massa dos seguidores de Jim Jones na Guiana, em 1978.

Tudo isso em defesa do “capitão” para que este no penúl­timo dia de gov­erno, faça um pro­nun­ci­a­mento dizendo que nada tem com isso e empreenda fuga para os Esta­dos Unidos.

Logo no iní­cio da cam­panha escrevi um texto inti­t­u­lado “Um pres­i­dente entre o Planalto e a Papuda”.

Não sei o que fez o pres­i­dente fugir, mas cer­ta­mente ele deve ter algum motivo para assim agir.

Só o tempo, sen­hor da razão, nos trará as respostas que pre­cisamos.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

Mais ten­ta­ti­vas e novas esper­anças: A “ELA» não é fácil

Escrito por Abdon Mar­inho

Mais ten­ta­ti­vas e novas esper­anças: A “ELA» não é fácil

Por Chico Leitoa.

Ao lidar­mos com a lit­er­atura da escle­rose lat­eral amiotró­fica ( ELA ) doença degen­er­a­tiva que afeta as célu­las do neurônio motor, da qual dona Beta é acometida, tomamos a decisão de desafi­ar­mos a situ­ação asso­ciando Ciên­cia e religião, sendo que por tudo que bus­camos, a con­clusão é única: esta­mos nas mãos de Deus. Como ele mesmo disse: faz por ti que ti aju­darei, fomos à luta. E esta­mos desafiando as estatís­ti­cas pois elas apon­tam que os por­ta­dores de ELA ( uma a cada 100 mil pes­soas no mundo ) em geral mor­rem num tempo de dois a cinco anos. Os raros casos que resistem, vão para o imo­bil­ismo, traque­oto­mia, colosto­mia etc. e pas­sam a movi­men­tar ape­nas com os olhos… dependên­cia total !

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Pois bem, 10 anos e meio depois da primeira man­i­fes­tação da doença, Beta ainda con­segue deg­lu­tir mesmo com alguns engas­gos, se loco­mover, mesmo com difi­cul­dades, peque­nas dis­tân­cias, com ajuda do andador, já tendo que usar apar­elho que ajuda na res­pi­ração na hora de dormir, com ajuda de Deus esta­mos enfrentando o grande desafio.

De 0510 a 08/​10, cump­ri­mos mais uma etapa dessa grande batalha. Domingo 0610 pela quarta vez fomos à missa da cura, na Igreja de Pai Santo em Santo Amaro, com Padre Eugênio Maria. 0710 as 13 h uma avali­ação com testes de respirome­tria com a espe­cial­ista em fisioter­apia de doenças do neurônio motor, Dra Celiana.

De 14:30 as 16 h, uma min­u­ciosa con­sulta com Dr Pedroso. No final, ape­nas uma pre­ocu­pação, a neces­si­dade do uso mais intenso do bipap e uma med­icação especí­fica para for­t­ale­cer os mús­cu­los do pul­mão. Mas no geral, a doença não evoluiu, ou evoluiu muito lenta­mente, o que já é um milagre.

Além da mara­tona de médi­cos, fisioter­apeu­tas, fonoaudiól­o­gos, nutri­cionistas e vez por outra, espe­cial­is­tas, dona Beta, há um mês, dois dias na sem­ana, prat­ica hidroginás­tica com leves exer­cí­cios, o que com certeza trarão efeitos positivos.

No campo da ciên­cia, pou­cas novi­dades, ape­nas a esper­ança nos avanços do oligonu­cleotídeo, já com efeitos pos­i­tivos nos por­ta­dores de ELA, que tiveram origem genética, ( menos de 5 % dos casos ) infe­liz­mente não é o caso de Beta.

Nossa con­sulta coin­cidiu com o momento em que rodava fre­neti­ca­mente na inter­net, um vídeo sobre um suposto trata­mento da doença, a par­tir da indução de pro­teí­nas através de choque térmico.

Claro que é algo que faz nascer uma esper­ança, porém, sobre o assunto, a Asso­ci­ação Brasileira dos por­ta­dores de ELA, ABRELA, emi­tiu a seguinte nota:

Não exis­tem dados disponíveis na lit­er­atura vigente, com­pro­vando que tal abor­dagem possa, reverter ou mesmo aten­uar os danos provo­ca­dos pela ELA».

Dr Marco Orsini ressalta que a fisiopa­tolo­gia das doenças citadas no vídeo ( ELA, alzheimer e parkin­son ) é com­ple­ta­mente difer­ente. Sendo assim, como seria pos­sível o mesmo trata­mento abar­car todas as doenças degen­er­a­ti­vas ? Não podemos tirar a esper­ança dos pacientes, mas não podemos dar infor­mações pre­cip­i­tadas que pos­sam prej­u­dicar os trata­men­tos atuais.

Em relação ao vídeo apre­sen­tado, esclare­ce­mos que toda pesquisa em ELA, é bem vinda. Real­mente o estudo da indução de pro­teína por choque tér­mico tem aberto novas per­spec­ti­vas de entendi­mento e de trata­mento. Entre­tanto, até o momento, o que foi apre­sen­tado não preenche os req­ui­si­tos mín­i­mos para que o pro­ced­i­mento seja con­sid­er­ado terapêutico.

Quanto à mel­ho­ria relatada na paciente com transtorno de movi­mento, qual era seu diag­nós­tico ? Emb­ora, com vídeo curto, o transtorno de movi­mento mais parece está rela­cionado a com­pro­me­ti­mento fun­cional, e não orgânico.

Dr Acary de Sousa Bulle de Oliveira, alerta para o fato de que pre­cisamos anal­isar as infor­mações com parcimô­nia, sem prom­e­ter algo baseado em inter­ro­gações, mas tam­bém sem reti­rar esperanças.

Neste mesmo sen­tido, em pesquisa pub­li­cada recen­te­mente, os autores ( Lyon e Mil­liban, 2019 ) con­cluem que é necessário com­preen­der mel­hor os mecan­is­mos intra e extra celu­lares envolvi­dos nesta Téc­nica, antes que esse trata­mento possa ser usado com efi­ciên­cia em um ambi­ente clínico. ABrELA — Asso­ci­ação Brasileira de Escle­rose Lat­eral Amiotró­fica. ( da qual somos sócios)

Claro que fomos e esta­mos ten­ta­dos a fazer essa ten­ta­tiva. Porém, esta­mos cautelosos, pois nos­sos médi­cos que fazem parte de um grupo seleto de estu­diosos do assunto, assim recomen­dam e aler­tam para even­tu­ais consequências.

De dezem­bro de 2019 a janeiro de 2020, dona Beta esteve por duas ocasiões, 20 dias inter­nada no hos­pi­tal da Unimed, por prob­le­mas renais, decor­rentes de infecção urinária, que exigiu o implante de um duplo jota ( espé­cie de cateter ), que aux­il­iou na recu­per­ação do rim. Na primeira ocasião, foram oito dias de inter­nação, de retorno, Pas­samos da noite de Natal e ano novo no hos­pi­tal, de 2512 a 0601. Cuidado redo­brado, Deusa, min­has irmãs Célia e Orcelia, min­has Sobrinhas/​Filhas e minha cun­hada Cristina se revezam nas noites durante a sem­ana aux­il­iando dona Beta e nós con­tin­u­amos otimistas.

Vamos con­tin­uar enfrentando, cuidando de dona Beta com todo o car­inho e pedindo sem­pre ao Espírito Santo, que nos con­ceda o cam­inho da cura. E vamos con­seguir ape­sar da ELA não ser fácil.

OBSER­VAÇÃO:

Atu­al­izada em janeiro de 2020

Em março de 2023, já serão 14 anos dos primeiros sin­tomas e pelas mãos de Deus con­tin­u­amos desafiando a ELA. Dona Beta é de uma per­se­ver­ança impres­sio­n­ante e con­tin­u­amos tendo esper­ança de que com o avanço da ciên­cia e com as Bençãos vin­das do Céu., pos­samos ter sua saúde pelo menos melhorada.

Chico Leitoa é engen­heiro civil.

P.S. D. Beta e Chico Leitoa em dois momen­tos: no ano 2002, na minha casa, e mais recente em 2022.