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A des­onra da Casa Branca

Escrito por Abdon Mar­inho


A des­onra da Casa Branca.

Por Abdon C. Mar­inho.

QUANDO me pro­pus a escr­ever o pre­sente texto a primeira dúvida a assaltar-​me foi se o título seria “ a des­onra na Casa Branca” ou “A des­onra da Casa Branca”. Acabei optando pelo segundo e, ao final do texto, os leitores podem dizer se acertei ou errei na escolha.

O assunto incon­tornável do momento é o encon­tro (ou armadilha) entre o pres­i­dente da Ucrâ­nia, Volodymyr Zelen­sky e o presidente-​gângster dos Esta­dos Unidos, Don­ald Trump, ladeado pelo não menos gâng­ster vice-​presidente, J. D. Vance.

O “encon­tro” que descam­bou para uma baixaria jamais vista em uma visita de Estado, muito menos no Salão Oval da Casa Branca já gan­hou seu ingresso na história mundial.

Imag­ino que o “bar­raco” possa ser inter­pre­tado, estu­dado ou avali­ado em três gradações:

Na primeira e mais super­fi­cial pode-​se dizer que o pres­i­dente Zelen­sky foi humil­hado pub­li­ca­mente e que a Ucrâ­nia pas­sará por dias, meses ter­ríveis com o claro risco de ser re anex­ada à Rús­sia ou sim­ples­mente desa­pare­cer como nação livre ou perder grande parte de seu ter­ritório.

Na segunda e inter­mediária avali­ação, pode-​se dizer que os EUA pro­tag­oni­zaram em rede mundial a maior ver­gonha enquanto nação de toda sua história tornado-​se aquele per­son­agem de quem não se recomenda a aquisição de veículo usado por não ser con­fiável ou por não ter palavra ou por não ter qual­quer crédito a palavra empen­hada ou o con­trato fiado.

Na ter­ceira e última avali­ação podemos dizer que a humanidade saiu humil­hada e der­ro­tada no “bar­raco” da Casa Branca. O que ficou explíc­ito aos olhos do mundo é que os Esta­dos Unidos estão sendo gov­er­na­dos por gâng­sters que colo­cam os seus inter­esses mer­can­tilis­tas acima de qual­quer coisa, inclu­sive dos inter­esses da humanidade. O que restou claro é que no médio e longo prazo pas­sará a vig­o­rar no cenário mundial a “lei do mais forte” com uma clara tendên­cia para a “lib­er­ação” dos mais fortes esma­garem os mais fracos.

Em relação à humil­hação imposta a Ucrâ­nia, que luta brava­mente con­tra uma invasão russa – a segunda desde a extinção da União Soviética –, essa começou com a per­mis­são para que o vice-​presidente tivesse assento e voz na reunião de pres­i­dentes. Isso foi com­bi­nado com Trump. Tivesse o Zelen­sky a pre­sença de espírito e não tivesse tão frag­ilizado pela guerra, a primeira coisa que dev­e­ria ter feito era ter dito que estava ali para uma con­versa de chefes de estado ou seja, de pres­i­dente para pres­i­dente.

O pres­i­dente amer­i­cano “ava­cal­hou” a reunião ao per­mi­tir que um chefe de estado con­vi­dado para estar ali fosse “destratado” por alguém que sequer dev­e­ria par­tic­i­par do encon­tro. O vice-​presidente arvorou-​se de uma autori­dade que não pos­suía para destratar e desre­speitar o con­vi­dado do país – que depois, inclu­sive, foi “con­vi­dado” a deixar a Casa Branca –, que lá estava para tratar de assun­tos de inter­esse das duas nações. O “com­binemos” de gâng­sters fez-​se tão pre­sente quanto a humil­hação imposta ao con­vi­dado que Trump não ape­nas per­mi­tiu que o vice con­duzisse a baixaria como lhe deu total razão e lhe tomou as dores.

Imag­ine numa situ­ação colo­quial: você con­vida alguém para ir a sua casa e lá esse con­vi­dado é destratado. Você acharia isso correto?

O Zelen­sky, por suas próprias condições, comportou-​se como se estivesse naquele encon­tro para pedir favor quando na ver­dade dev­e­ria ter ido com o ímpeto de cobrar um compromisso.

O com­pro­misso dev­ido pelos Esta­dos Unidos a Ucrâ­nia de garantir-​lhe a segu­rança esta­b­ele­cido no Mem­o­rando de Budapeste sobre Garan­tias de Segu­rança, assi­nado pelos Esta­dos Unidos em 5 de dezem­bro de 1994.

Por tal mem­o­rando a Fed­er­ação Russa, o Reino Unido e os Esta­dos Unidos estão proibidos de ameaçar ou de qual­quer força mil­i­tar ou coerção econômica con­tra a Bielor­rús­sia, o Caza­quistão e a Ucrâ­nia, exceto em caso de legí­tima defesa ou de qual­quer outro modo em con­cordân­cia com a Carta das Nações Unidas.

Nesse con­texto os Esta­dos Unidos pro­tag­oni­zaram no bar­raco da Casa Branca sua auto desmor­al­iza­ção. Naquele dia de infâmia os EUA fin­gi­ram descon­hecer o acordo do qual foi fiador, pois desde o iní­cio da guerra dev­e­riam ter deix­ado claro que a Rús­sia estava violando aquele acordo e que isso seria inad­mis­sível, como tenta, ele próprio des­cumprir o acordo na modal­i­dade da coerção econômica.

Em 1994 os EUA fiaram um acordo que “des­cumprido” pela Rús­sia ao invés de ficarem con­tra quem o desre­speitou se coloca ao seu lado e busca tirar van­ta­gens econômi­cas em cima da vítima, a Ucrâ­nia.

O “bar­raco” da Casa Branca destruiu o mito de que os EUA são uma nação com insti­tu­ições fortes e consolidadas.

O Mem­o­rando de Budapeste mal acabou de com­ple­tar trinta anos e as autori­dades amer­i­canas agem como se ele nunca tivesse exis­tido.

Muito emb­ora os Esta­dos Unidos sejam dirigi­dos por pres­i­dente que foge da nor­mal­i­dade e tenha um vice-​presidente que não fica muito longe disso, não se viu quais­quer out­ras autori­dades amer­i­canas lem­brando que exis­tem com­pro­mis­sos do país que estão acima dos seus gov­er­nantes de plan­tão. Esse é o sen­tido do termo insti­tu­ições fortes: os gov­er­nantes pas­sam, as insti­tu­ições ficam.

Não se viu “uma insti­tu­ição” falando em cumpri­mento do acordo. Aliás, não se ouviu de ninguém a sug­estão de que o pres­i­dente ao negar apoio ao Ucrâ­nia ou usar da coerção econômica con­tra o “ali­ado” em guerra estava des­cumprindo um acordo do país com aquela nação.

Mesmo os par­tidos políti­cos amer­i­canos – exceto por algu­mas man­i­fes­tações iso­ladas –, se colo­caram con­trários a esse com­por­ta­mento ver­gonhoso e ultra­jante do gov­erno amer­i­cano.

Em 1994 o Mem­o­rando pelo qual os três países abri­ram mão de seus instru­men­tos de defesa, foram assi­na­dos pelos próprios diri­gentes dos países, não é com­preen­sível que uma nação que se diga uma democ­ra­cia descon­heça a natureza de tais compromissos.

Em 1994, Esta­dos Unidos, Reino Unido Ucrâ­nia e Rús­sia assi­naram o acordo – pos­te­ri­or­mente China e França tam­bém se mudaram dando garan­tias –, pelo qual a Ucrâ­nia, que abria mão de seu arse­nal nuclear em favor da Rús­sia não seria ata­cada e nem sofre­ria coerção econômica por parte daque­les países.

O que acon­te­ceu? Em 2014 a Ucrâ­nia foi inva­dida e teve um pedaço do seu ter­ritório (Crimeia) anex­ado a Rús­sia; em 2022, mais uma vez a Rús­sia invade a Ucrâ­nia.

O que se esper­ava era que todos os países – pelo menos aque­les que foram sig­natários do acordo –, se colo­cassem con­tra e garan­tis­sem a segu­rança da nação inva­dida.

No “bar­raco” da Casa Branca o pres­i­dente Zelen­sky errou ao pedir garan­tias de segu­rança para os Esta­dos Unidos.

Essas garan­tias a Ucrâ­nia já as pos­sui desde 1994. Um com­pro­misso assi­nado pelos Esta­dos Unidos da América.

Uma sug­estão para a Ucrâ­nia é ela entrar na justiça amer­i­cana cobrando o cumpri­mento dos ter­mos do Mem­o­rando de Budapeste. Não ape­nas as garan­tias de segu­rança mas, tam­bém, que não sofr­erá a coerção econômica que vem sofrendo do atual governo.

Seria impor­tante tal medida para saber se ao menos a justiça daquele país ainda existe.

Encerro repetindo o que já disse ante­ri­or­mente, o mundo cam­inha a pas­sos lar­gos para um retro­cesso jamais visto em sua história. O que os grandes querem travar não é ape­nas relações onde val­ham a lei do mais forte, querem mais que isso, alme­jam uma nova ordem mundial sem qual­quer con­ceito do que seja honra, dig­nidade e respeito.

No final de tudo, mais do que nunca, a humanidade é a grande der­ro­tada pela ambição dos homens.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

É pre­ciso cor­agem para fazer a coisa certa.

Escrito por Abdon Mar­inho

É pre­ciso cor­agem para fazer a coisa certa.

Por Abdon C. Marinho.

EXISTE um con­senso na sociedade: todos gosta­mos de fes­te­jar, de festa, diver­são. Os que não gostam são as exceções que jus­ti­fi­cam a regra. Existe até um sam­binha cuja letra é mais ou menos assim: “quem não gosta de samba bom sujeito não é ou está ruim da cabeça ou doente do pé…”

O prefeito de Cedral, Danilo Moraes, meu amigo e revi­sor desta col­una, prati­ca­mente, desde que ela existe – os com­pro­mis­sos da cam­panha e, agora, do mandato, o afas­tou dessa “mis­são” mas, sem­pre que pos­sível ainda con­tribui –, inte­gra a grande maio­ria dos que gostam de fes­te­jar, ainda assim, com a cor­agem de bem poucos tomou uma decisão que foi na “con­tramão” do con­senso gen­er­al­izado: decidiu que os recur­sos públi­cos do municí­pio que admin­is­tra não iriam, esse ano, custear o Car­naval local.

Esse fato faz com ele saia da posição de revi­sor para a de pro­tag­o­nista da nossa col­una de hoje.

Até onde sei, ape­nas dois prefeitos maran­henses tomaram essa ini­cia­tiva – se exi­s­tirem out­ros me avisem para que possa fazer o reg­istro –, o prefeito de Ama­rante do Maran­hão, na região sul do estado, que decidiu sus­pender o car­naval por razões san­itárias (o prefeito infor­mou a existên­cia de um surto de COVID 19 no municí­pio) e o prefeito de Cedral, no litoral norte.

O que torna a decisão de Danilo Moraes cora­josa e espe­cial é que ele, pes­soal­mente, foi para as redes soci­ais e veícu­los de comu­ni­cação e disse que deix­ava de patroci­nar o Car­naval local com ban­das e tudo mais, porque, nesse momento, as pri­or­i­dades dele, como gestor, são out­ras: é recu­perar os pré­dios públi­cos, veícu­los, mel­ho­rar os aces­sos dos povoa­dos e tan­tas out­ras coisas que o municí­pio pre­cisa resolver antes de gas­tar direta e indi­re­ta­mente quase um mil­hão dos recur­sos munic­i­pais em três dias de festa. Isso parece tão óbvio.

No seu vídeo o prefeito se com­pro­m­e­teu (e fez) em bus­car out­ros patroci­nadores para custear as brin­cadeiras locais como eram os car­navais de antiga­mente.

O que torna a ati­tude do prefeito lou­vável é que mesmo diante das incom­preen­sões, que cer­ta­mente virão, ou da explo­ração do fato pelos adver­sários, ele não se que­dou, não teve medo de fazer o certo, que é, na sua visão (e na visão das pes­soas sen­sa­tas) pri­orizar os serviços públi­cos em detri­mento das fes­tas car­navalescas.

Ao virar a chave e romper com o roteiro pre­vi­a­mente esta­b­ele­cido: tem que gas­tar com o car­naval, tem que con­tratar banda (de prefer­ên­cia a mel­hor e mais cara), ele mostra que não terá medo de fazer o que é certo, ainda que isso venha a desagradar algu­mas pessoas.

Muito emb­ora ele esteja coberto de razões para decidir não colo­car 600, 700 ou mesmo um mil­hão de reais numa festa de três dias, pois rece­beu os equipa­men­tos públi­cos sucatea­dos, con­tas para pagar e zero de recur­sos nas con­tas públi­cas, muitos são os que não com­preen­dem essa ati­tude, uns por ignorân­cia, out­ros por má-​fé e, ainda, out­ros pelo sem­pre pre­sente opor­tunismo.

É claro que muitos out­ros gestores rece­beram seus municí­pios em idên­tica situ­ação ou até mesmo em situ­ação pior, infe­liz­mente, esses não tiveram a cautela de fazer o enfrenta­mento que o prefeito de Cedral fez.

Com isso ele “inau­gura” uma nova forma de admin­is­trar: ter a cor­agem de enfrentar as críti­cas para fazer a coisa certa e cumprir com o plano de gov­erno com o qual se com­pro­m­e­teu na eleição.

Como dito, cer­ta­mente o prefeito nada tem con­tra as fes­tas car­navalescas ou qual­quer outra, mas sabe que não faz sen­tido pagar uma for­tuna para algu­mas ban­das e estru­turas em detri­mento das neces­si­dades da pop­u­lação, dos seus servi­dores, dos serviços públi­cos de qual­i­dade.


Desde muito tempo exponho a opinião de que não faz muito sen­tido um municí­pio, sobre­tudo, os pequenos municí­pios, con­tratarem com recur­sos públi­cos grandes ban­das “aliení­ge­nas” para suas pro­gra­mações de car­naval, fes­te­jos juni­nos, aniver­sários ou out­ros even­tos de seus cal­endários cul­tur­ais.

Explico os motivos: exceto pela a ale­gria momen­tânea dos cidadãos, o resto é só pre­juízo. O municí­pio tira, por exem­plo, 500, 600 mil para pagar artis­tas e estru­tura de festa, esse din­heiro deixa de cir­cu­lar na cidade e vai cir­cu­lar na cidade e/​ou no estado da sede da empresa ou da casa do artista. Jamais esse recurso é recu­per­ado com os trib­u­tos ger­a­dos pelo evento, até porque a maio­ria dos municí­pios maran­henses não pos­suem estru­tura de arrecadação de impos­tos e quando pos­sui o que con­segue arrecadar é incip­i­ente.

Tem mais de uma década que fiz um desafio: que provem que estou errado nessa assertiva. Nunca ninguém me provou. É pre­ciso que haja essa com­pro­vação téc­nica: vamos inve­stir X e vamos rece­ber em trib­u­tos XY.

Arrisco dizer que, talvez o gov­erno estad­ual – que resolveu inve­stir bas­tante nesse segui­mento –, ou os grandes municí­pios con­sigam, ao menos, “empatar” o que gas­tam com esses even­tos com a arrecadação de impos­tos, o restante dos municí­pios, arrisco dizer, mais de noventa por cento, retira din­heiro público que pode­ria ser investido em coisas mais urgentes para man­dar para out­ras cidades e esta­dos, sem qual­quer retorno.

Dá-​se, o que já alertei diver­sas vezes, uma espé­cie de Robin Hood ao con­trário: tira-​se dos pobres para dar aos ricos.

Essa é uma questão matemática: se você pega o din­heiro público e manda para out­ros municí­pios e esta­dos, sem que o mesmo cap­i­tal ou mais, retorne através de arrecadação de impos­tos, você está tor­nando seu municí­pio mais pobre e enri­cando os que recebem esses recur­sos.

Para começar, a maio­ria das pes­soas que vão para os pequenos municí­pios por ocasião do Car­naval, Sem­ana Santa, ou out­ros feri­ados, são os fil­hos da terra que retor­nam para vis­i­tar os par­entes, não são tur­is­tas de verdade.

Os pequenos municí­pios que têm vocação turís­tica, aliás, pre­cisam, antes, inve­stir na infraestru­tura local para con­seguir atrair out­ros tur­is­tas e assim jus­ti­ficar com a pre­visão de incre­mento na arrecadação, os inves­ti­men­tos na con­tratação de shows artís­ti­cos.

Essa, ainda, não é a real­i­dade da maio­ria dos municí­pios maran­henses.

O jovem prefeito de Cedral, rompeu com um par­a­digma ao preferir, acer­tada­mente, uti­lizar os recur­sos públi­cos que des­ti­naria ao paga­mento de ban­das e estru­turas aliení­ge­nas e inve­stir na recu­per­ação dos pré­dios e equipa­men­tos públi­cos. Acer­tará, ainda, mais se con­seguir con­tratar ape­nas empre­sas e mão de obra locais para real­iza­ção dos serviços, fazendo com que o din­heiro cir­cule den­tro do municí­pio.

É pre­ciso ter cor­agem para fazer a coisa certa prin­ci­pal­mente nos dias de hoje em que os con­ceitos e val­ores pare­cem ter se inver­tido. Muitos, na ver­dade, até têm ver­gonha de fazer o que é certo, preferindo ape­nas seguir o que os out­ros fazem sem qual­quer ques­tion­a­mento.

O que o prefeito de Cedral fez é o que dev­e­ria ser feito por todos os demais prefeitos e prefeitas: primeiro ver­i­ficar as reais neces­si­dades do povo e só depois “inve­stir” em out­ras coisas que não são tão necessárias e/​ou urgentes em um iní­cio de mandato.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

Tigre de men­tira, mis­éria de verdade.

Escrito por Abdon Mar­inho


Tigre de men­tira, mis­éria de verdade.

Por Abdon C. Marinho.

EM 2024, na esteira do trigésimo ano de aniver­sário das eleições de 1994, escrevi uma coletânea de tex­tos alu­sivos àquela eleição. Uma espé­cie de memória de quem viveu aque­les de den­tro de uma das alas da dis­puta. Apelidei os seis tex­tos de “Trinta anos de uma cam­panha mem­o­rável” e nominei cada um dos episó­dios.

Não faz muito recebi de um amigo querido – que tam­bém esteve pre­sente naquela cam­panha –, um fil­mete da cam­panha da can­di­data vito­riosa, Roseana Sar­ney, onde a mesma aparece em um ambi­ente de sala de aula para mostrar como iria preparar o Maran­hão para o futuro. A can­di­data cita como exem­plo os Tigres Asiáti­cos como mod­elo, dizendo que três daque­les ter­ritórios (For­mosa, Sin­ga­pura e Cor­eia do Sul), saíram da pobreza em vinte anos para se trans­for­mar em potên­cias econômi­cas, a par­tir do inves­ti­mento em mão de obra e tec­nolo­gia. A can­di­data ainda coloca as rep­re­sen­tações dos três ter­ritórios den­tro do mapa do Maran­hão para mostrar que eles, soma­dos, pos­suem uma área bem menor que a do nosso estado e sem os recur­sos nat­u­rais que já dis­pún­hamos naquela época.

Revendo aquele video trinta anos depois – e sem a ten­são daque­les dias –, conclui-​se que a can­di­data até que se saiu bem na apre­sen­tação da peça pub­lic­itária, ape­sar dos recur­sos tec­nológi­cos ainda estarem “engat­in­hando”, ape­nas para ficar na refer­ên­cia dos feli­nos.

O que não foi nada bem foi aquela pro­posta de trans­for­mar o Maran­hão em um “tigre do nordeste”. Ape­sar de ter dito saber como trazer o desen­volvi­mento para o estado e os cam­in­hos a per­cor­rer para isso, cheg­amos à con­clusão que a can­di­data ape­nas foi bem “ensa­iada” para pas­sar com tanta con­vicção pro­postas que jamais iria colo­car em prática.

Roseana “levou” a eleição de 1994, depois, nova­mente, em 1998, elegeu o suces­sor e retornou nova­mente ao gov­erno em 2008 (ficando até 2014) após um curto período do gov­erno de Jack­son Lago, eleito con­tra ela e colo­cado para fora do gov­erno em 2008.

O tempo de vinte anos que fez países mis­eráveis se tornarem potên­cias e econômi­cas cor­re­sponde ao que a então can­di­data teve prati­ca­mente soz­inha no poder para implan­tar ou para, pelo menos, lançar as bases daquele desen­volvi­mento prometido.

Trinta anos depois vemos os indi­cadores do estado prati­ca­mente no mesmo lugar man­tendo o Maran­hão “acor­rentado” aos gril­hões do atraso.

Mais ilus­tra­tivo do que qual­quer indi­cador econômico ou social sobre a nossa situ­ação no cenário nacional você encon­tra no horário nobre da tele­visão onde passa nos inter­va­los da pro­gra­mação uma “vis­tosa” cam­panha do gov­erno estad­ual anun­ciando suas políti­cas de com­bate à “extrema pobreza”.

O Maran­hão, trinta anos depois de ter sido anun­ci­ado como o futuro “tigre do nordeste” não é um estado com uma pop­u­lação pobre é ainda um estado que pos­sui parte de sua pop­u­lação “extrema­mente pobre”, pre­cisando dos favores do estado para con­seguir sobre­viver.

Essa dura ver­dade, com o máx­imo de sin­ceri­dade, nos é dita pelo próprio gov­erno do estado enquanto assis­ti­mos o Jor­nal Nacional ou outra pro­gra­mação qual­quer do horário nobre.

Esse texto não é para fazer “des­fi­lar” os números do nosso fra­casso – e pos­suirmos a maior parte da pop­u­lação depen­dente de bolsa-​familia e uma infinidade de out­ros pro­gra­mas assis­ten­ci­ais –, o seu propósito é nos fazer refle­tir sobre eles.

Vejam, há trinta anos a can­di­data vito­riosa já dizia que para trans­for­mar o Maran­hão em um “tigre do nordeste” dev­eríamos inve­stir em edu­cação, qual­i­fi­cação de mão de obra, tec­nolo­gia, atrair empre­sas, aumen­tar expor­tações … o que fize­mos nesse sen­tido? O que ela fez, já que ficou quase vinte anos no poder? Por que o Maran­hão não se tornou ao menos um “gat­inho” em matéria de desen­volvi­mento, se já se sabia o que fazer para chegar ao desen­volvi­mento?

Faço esse texto com “desalento dos fra­cas­sa­dos” pois a minha ger­ação e, tam­bém, aquela que nos pre­cedeu, não alcançare­mos as “luzes do desen­volvi­mento”.

Aquele sonho de ver­mos pré­dios mon­u­men­tais nos dois lados da baía de São Mar­cos, por­tos dos dois lados car­regando e descar­regando riquezas ao mesmo tempo em que mil­hares de tur­is­tas virão ao estado con­hecer nos­sas riquezas nat­u­rais e os avanços tec­nológi­cos da nossa gente, infe­liz­mente, não ver­e­mos acon­te­cer.

O pro­gresso é ilu­mi­nado. Ainda vive­mos as trevas do atraso.

Há quan­tas décadas osten­ta­mos o título de “estado rico e povo pobre”? Pas­sa­dos tan­tos anos, além dos pobres, temos os extrema­mente pobres. A sen­sação que temos é que esta­mos crescendo para baixo, como rabo de cav­alo ou avançando rumo ao fra­casso.

Fico imag­i­nando o que teria acon­te­cido com o estado se há trinta anos aquele com­er­cial de cam­panha eleitoral tivesse sido além daquilo, além de um chama­riz para iludir tolos e, de fato, tivesse sido um pro­jeto de gov­erno a ser imple­men­tado nos qua­tro ou oito anos seguintes. Con­tin­uaríamos com cidadãos extrema­mente pobres?

Desde sem­pre – e há mais de trinta anos que é um corte tem­po­ral sig­ni­fica­tivo –, cobro das nos­sas autori­dades um pro­jeto de desen­volvi­mento para o nosso estado com começo, meio e fim e que não seja vin­cu­lado a esse ou aquele gov­er­nante.

É dizer, temos as emergên­cias do dia a dia mas, para­lelo a elas, pre­cisamos fazer avançar um plano de desen­volvi­mento para estado que seja “supra­partidário” e que vin­cule qual­quer gov­erno a cumprir as metas pré-​estabelecidas.

O mesmo raciocínio vale para os gov­er­nos munic­i­pais, além dos “cor­res” diários teriam que “con­tribuir” com um pro­jeto macro para desen­volver o estado.

Acred­ito que a Assem­bleia Leg­isla­tiva, casa mater da rep­re­sen­ta­tivi­dade pop­u­lar, pode­ria “con­tratar” uma comis­são de espe­cial­is­tas para estu­darem o assunto e apre­sentarem um pro­jeto de desen­volvi­mento para, por exem­plo, vinte anos. Nesses vinte anos todos os gov­er­nos estad­u­ais e munic­i­pais estariam vin­cu­la­dos aquele pro­jeto de desen­volvi­mento, tra­bal­hando para tornar aquilo real­i­dade. A Assem­bleia Leg­isla­tiva iria acom­pan­har, através de seus órgãos aux­il­iares, e cobrar se estavam dando segui­mento ou não.

Vejo os gov­er­nos brasileiros – não é um prob­lema só do Maran­hão e dos seus municí­pios –, como “naus des­gov­er­nadas” nave­gando ao sabor dos ven­tos e/​ou das con­veniên­cias dos gov­er­nantes.

Esse tipo de gestão não traz desen­volvi­mento perene.

Qual­quer plano de desen­volvi­mento econômico neces­sita, como dizia aquela can­di­data há trinta anos, de edu­cação de qual­i­dade e qual­i­fi­cação de mão de obra.

Os gov­er­nos estad­ual e os munic­i­pais pre­cisam com­preen­der essa urgên­cia pri­mor­dial para o desen­volvi­mento com a mel­ho­ria das condições de ensino. Urge que todas as cri­anças e jovens ten­ham uma edu­cação de qual­i­dade e que sejam alfa­bet­i­za­dos em pelo menos duas lín­guas e terem habil­i­dades em tec­nolo­gia.

Esse desafio não pode esperar. Esta­mos falando de algo que é para ontem.

Encerro com a frase do Duende da pros­peri­dade que diz o seguinte: “quando sabe­mos onde quer­e­mos chegar qual­quer cam­inho nos leva lá”.

Os esta­dos e municí­pios, assim como as pes­soas, pre­cisam saber onde querem chegar e tra­bal­har para alcançar esses obje­tivos.

Somente com esse nível de con­sciên­cia é pos­sível romper o ciclo do atraso.

Os tigres podem ser de men­tira ou de papel, mas as neces­si­dades são de ver­dade.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.