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Um preto no teatro e o racismo no Brasil.

Escrito por Abdon Mar­inho


UM PRETO NO TEATRO E O RACISMO NO BRASIL.

Por Abdon C. Marinho*.

UMA FOTOGRAFIA. Vi a fotografia do amigo Soeiro (José Raimundo Pereira Soeiro), uti­lizada no seu per­fil de uma rede social ambi­en­tada no “nosso” teatro Arthur Azevedo. Quando ele me ligou para tratar de questões rela­cionadas aos tra­bal­hos que temos em comum, além de falar da sua cos­tumeira elegân­cia na foto de per­fil, comentei do alcance histórico que me des­per­tou aquela imagem, a ponto de moti­var a escr­ever um texto sobre o assunto.

Observei que a importân­cia histórica da sua pre­sença no teatro prendia-​se ao fato de, durante sécu­los, no Brasil – e, tam­bém, no mundo –, aque­les ambi­entes terem sido, essen­cial­mente, ambi­entes “bran­cos”.

Em out­ras palavras, em todo mundo, Brasil inclu­sive, o teatro sem­pre foi o “tem­plo cul­tural” da elite dom­i­nante, branca, empoada, abas­tada.

Pes­soas pre­tas no teatro, no máx­imo pas­savam na porta ou eram escal­adas para os serviços de limpeza, manutenção ou, quando muito, uma ponta em alguma peça, ence­nando os tipos des­ti­na­dos à cor da pele, como escravos, ser­vos ou empre­ga­dos domés­ti­cos dev­i­da­mente far­da­dos com uni­formes bran­cos.

As exceções, quando exis­tentes, ape­nas tin­ham ou têm o condão de jus­ti­ficar a regra.

Daí a importân­cia de se saudar e lou­var a pre­sença de um preto no teatro como plateia. Como um cidadão igual a todos os demais.

Na con­versa, Soeiro aproveitou para dizer-​me que fora ao teatro pres­ti­giar uma peça sobre a can­tora Alcione Nazaré, a nossa “mar­rom” e que, na peça, uma grande parte dos seus atores são negros.

Cer­ta­mente alguns leitores – ou não –, irão ques­tionar o fato de ter trazido para o tex­tão do fim de sem­ana a pauta do racismo. Alguns, até dirão, que estou sendo “racista” ao saudar como histórica a pre­sença de um preto no teatro, pois, não sendo o Brasil um país racista, qual o sen­tido da saudação ou “estran­hamento”?

O Brasil padece de alguns males, den­tre eles, a negação e/​ou o auto-​engano.

Uma negação ou auto-​engano, prin­ci­pal­mente, da parte de pes­soas que se dizem esclare­ci­das é essa, de negar o racismo exis­tente no país, inclu­sive, aquele racismo estru­tural, que “fun­ciona” como se fosse insti­tu­cional e que ten­tam escon­der ou escamotear todos dias como se ele não exis­tisse.

Certa vez um amigo me rela­tou que estando na acad­e­mia do con­domínio onde morava ainda recente, foi sur­preen­dido pela pre­sença do segu­rança no ambi­ente, suposta­mente, por está sem más­cara. Ele perce­beu, ainda que o segu­rança, que o con­hecia não lhe tenha dito, que na ver­dade aquela “viz­inha” achava que aquele ambi­ente não era para ele, que pode­ria ser “algum pen­e­tra” den­tro do con­domínio usando a acad­e­mia.

Tal situ­ação em muito se assemelha aquela de deter­mi­nada autori­dade, que, para dizer que não era racista, apre­sen­tou as empre­gadas domés­ti­cas de sua casa, pre­tas, como sendo “as donas da sua casa”.

Muitos podem até achar que não são racis­tas, mas ao tentarem colo­car as pes­soas den­tro de deter­mi­na­dos espaços soci­ais e de tra­balho estão sendo.

Ora, não sou racista mas acho muito estranho um negro na acad­e­mia do “meu” con­domínio; ou não sou racista, min­has domés­ti­cas são negras.

Mesmo o racismo que ocorre à vista de todos, como o caso daquela agressão de uma mul­her branca a uma mul­her preta, chamando-​a de fedida ou que seu cabelo “era ruim”, etc.; ou da outra preta que teve uma com­pra recu­sada em razão da dona da loja recusar-​se a vender a ela por conta de sua cor, além das diver­sas ofen­sas; ou os reit­er­a­dos casos ocor­ri­dos nos está­dios de fute­bol onde tor­ci­das orga­ni­zadas ou não agri­dem deter­mi­na­dos jogadores em razão da cor da sua pele, e tan­tos out­ros casos patentes de racismo.

Mesmo nesses exem­plo que des­per­tam repul­sam no momento em que ocor­rem, logo depois, começam a escamotear ou a “colo­car panos quentes” para livrar a cara dos racis­tas.

Durante muitos anos usaram o cam­inho da desqual­i­fi­cação do crime. Como o crime de racismo, nos ter­mos da Con­sti­tu­ição é impre­scindível e inafi­ançável, dizia-​se que os crimes, se ocor­ri­dos, teriam sido meras “injúria racial”, e diver­sos out­ros argu­men­tos de igual valia.

O Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, em boa hora, endure­ceu a inter­pre­tação, dando a tais crimes e a inúmeros out­ros o mesmo trata­mento, como no caso da homo­fo­bia, trans­fo­bia e tan­tos out­ros rela­ciona­dos à condição sex­ual da vítima.

Ape­sar disso – não sei se por conta da vis­i­bil­i­dade que os fatos pas­saram a ter com o advento dos celu­lares, inter­net, etc. –, não tem um dia, uma hora que não nos deparamos com um exem­plo de agressão racial ou em razão da condição sex­ual das pes­soas.

Vive­mos em uma sociedade doente em que tudo é motivo para descar­regar suas frus­trações e covar­dias. Quase sem­pre fazem isso con­tra pes­soas que jul­gam ser infe­ri­ores a elas ou que não dev­e­riam ocu­par o mesmo espaço que elas ou usando seus dis­cur­sos de ódio como fer­ra­menta de pro­moção pes­soal ou para gan­harem din­heiro. Sim, assim como existe um público de doentes que “con­somem” pornografia infan­til ou ped­ofilia, exis­tem o público con­sum­i­dor para os dis­cur­sos de ódio con­tra mul­heres, negros, judeus, homos­sex­u­ais, tran­sex­u­ais, etcetera.

O exem­plo de grande reper­cussão mais recente de dis­curso de ódio para fins políti­cos foi o pro­ferido por dep­utado fed­eral mineiro, o mais votado do Brasil, pro­ferido na Câmara dos Dep­uta­dos, no Dia Inter­na­cional da Mul­her, que, como dito acima, é tam­bém uma vítima pref­er­en­cial de uma série de vio­lên­cias.

No caso do dep­utado fed­eral, poder-​se-​ia ale­gar que sua vio­lên­cia con­tra os tran­sex­u­ais na tri­buna do par­la­mento é decor­rente de sua ignorân­cia por conta da pouca idade.

Na ver­dade, não é isso. O Brasil, nos últi­mos anos, tem vivido a cruel exper­iên­cia de cul­tuar diver­sos tipos de ódio pelos motivos mais banais, mas que ren­dem div­i­den­dos, sejam eles finan­ceiros, sejam eles políti­cos.

E retor­namos ao racismo explíc­ito ou estru­tural exis­tente no Brasil e que cor­rob­ora com a intenção de ganho finan­ceiro e/​ou político.

Ainda reper­cute na mídia, a oper­ação poli­cial que res­ga­tou cerca de 200 tra­bal­hadores de uma situ­ação análoga à escravidão.

Análoga é uma espé­cie de eufemismo para o que foi rev­e­lado. Soube-​se que os tra­bal­hadores eram man­ti­dos apri­sion­a­dos, sob sev­eras ameaças de morte e em condições abso­lu­ta­mente insalu­bres.

Destes tra­bal­hadores ficou-​se sabendo que mais 90% (noventa por cento) eram negros.

Vem cá, existe alguma difer­ença sig­ni­fica­tiva entre a real­i­dade destes tra­bal­hadores com a real­i­dade do régime escrav­ocrático vigente no país até 1888?

Ao meu sen­tir a difer­ença é que se pas­saram 135 anos desde a Abolição da escra­vatura, o que torna a prática, nos dias atu­ais, ainda mais abom­inável.

Mais infamante que as práti­cas relatadas acima, só mesmo o fato de haver pes­soas “do bem” cul­pando as víti­mas ou não fazendo qual­quer exame de con­sciên­cia sobre o ocor­rido, como fez o vereador do Municí­pio de Bento Gonçalves, ao tratar do assunto na tri­buna do par­la­mento munic­i­pal; ou os donos das viní­co­las muitas delas pre­mi­adas nacional e inter­na­cional­mente e estre­lasse pro­gra­mas de tele­visão, não dando “a mín­ima” para aque­las pes­soas que, com seu tra­balho, as colo­cam em destaque.

O Brasil pre­cisa se reen­con­trar com decên­cia. Não é con­ce­bível que ainda ten­hamos que con­viver com o racismo, com os pre­con­ceitos e com todo tipo de intolerância.

O respeito ao próx­imo dar-​se por sua condição humana (exten­siva, tam­bém aos ani­mais) e deve pre­ceder a todas as demais. Não é a cor da pele, o gênero, a condição física ou psi­cológ­ica, a condição sex­ual, etcetera que devem deter­mi­nar o espaço de cada um ou as opor­tu­nidades a serem dis­pen­sadas a eles.

Todos são iguais per­ante a lei, sem dis­tinção de qual­quer natureza, garantindo-​se aos brasileiros e aos estrangeiros res­i­dentes no País a invi­o­la­bil­i­dade do dire­ito à vida, à liber­dade, à igual­dade, à segu­rança e à pro­priedade, con­forme pre­ceitua a nossa Carta Magna no seu artigo 5º.

Por uma sociedade com mais igual­dade para todos.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

UM NOVO RECOMEÇO PARA O MARANHÃO

Escrito por Abdon Mar­inho


UM NOVO RECOMEÇO PARA O MARAN­HÃO.

Por Abdon C. Marinho*.

NUMA cidadez­inha pequena do nosso longíquo sertão nordes­tino, há muitos os dois gru­pos políti­cos se diglad­i­avam a cada eleição pelo comando da urbe. O grupo gov­ernista já havia per­dido as con­tas dos anos em que estava no poder.

Na oposição, emb­ora os can­didatos para a dis­puta se rever­sassem, con­tava com um “balu­arte” firme, que não arre­dava o pé. Estava sem­pre lá con­solando os der­ro­ta­dos e crit­i­cando o grupo gov­ernista.

Até que, quando ninguém mais acred­i­tava que pudessem vencer, a oposição sagrou-​se vito­riosa. Apu­ra­dos os votos é tida a vitória por inques­tionável, na casa do “chefe político” ou do prefeito eleito, a festa “troava”, muita comida, muita bebida e até mesmo um grupo de “forró de pé de serra” foi escal­ado para ani­mar a comem­o­ração que ameaçava não ter hora ou dia para acabar, depois de tão longo jejum.

Acabrun­hado em um canto da sala lá estava aquele velho “balu­arte” da oposição numa tris­teza de inco­modar a todos, a ponto de chama atenção até do can­didato eleito (pense numa coisa difí­cil de dar atenção depois de uma vitória). Mas, o “nosso” balu­arte, naquela tris­teza incô­moda, con­seguiu.

O eleito chegou pra ele para agrade­cer (outra coisa difí­cil de se vê): — muito obri­gado, meu com­padre. Vence­mos e parte dessa vitória deve­mos a você que sem­pre esteve firme, nunca arredou o pé da nossa luta é da nossa causa. Muito obri­gado, mesmo. Mas, me diga meu com­padre, por que você está tão triste depois de vitória tão bonita e sur­preen­dente quanto essa?

O velho balu­arte então respon­deu: —pois é, meu com­padre, final­mente vence­mos. E estou triste por causa disso, depois de anos jun­tos nessa luta con­struí­mos uma amizade e agora ter­e­mos que nos afas­tar pois o que eu sei mesmo fazer é oposição.

E foi para oposição tão logo o gov­erno ini­ciou.

Quem contou-​me, há décadas, a pre­sente história, com a riqueza de detal­hes que só os fatos verídi­cos pos­suem, foi o ex-​deputado Ader­son Lago. Deu os nomes dos per­son­agens e da local­i­dade onde passou-​se a nar­ra­tiva.

Dava-​se com o “balu­arte” oposi­cionista acima, basi­ca­mente o inverso do que ocorre com o nosso “cen­trão”, acos­tu­mado a ser gov­erno desde que Cabral por aqui chegou nos idos de 1.500, e de quem contaram-​me outra história deli­ciosa.

Rindo a não mais poderem, jor­nal­is­tas que “cobrem” a cena política nacional, relataram que logo depois da eleição ou da posse do novo gov­erno fed­eral, alguém indagou, em uma reunião de impor­tante leg­enda: — e aí pres­i­dente (citou o nome) vamos para o gov­erno? O pres­i­dente, que fora impor­tante min­istro do gov­erno der­ro­tado respon­deu: — não, vamos para oposição.

Com inco­mum sin­ceri­dade, outra lid­er­ança da leg­enda e que estava próx­imo obser­vou: — se vamos ficar na oposição ter­e­mos que fazer um curso inten­sivo rápido.

Um outro, com idên­tica sin­ceri­dade, acres­cen­tou: — sei não, mas sap­ato branco e oposição, acho que só fica bem nos out­ros.

As comen­taris­tas caíram na gar­gal­hada e eu mesmo, assistindo pos­te­ri­or­mente o pro­grama, não me con­tive no riso.

Narro as his­to­ri­etas acima para dizer – como faço ao longo dos anos –, que é desprovido do sen­ti­mento que nor­teou a vida do “balu­arte oposi­cionista” da primeira história e sem – nem de longe –, imag­i­nar que “sap­ato branco e oposição só fica bem nos out­ros” que traço as con­sid­er­ações sobre o “novo governo”.

O título, “um novo recomeço para o Maran­hão”, antes de ser um dis­curso ufanista é um chama­mento e um desejo.

Muito emb­ora o “novo” gov­erno seja uma con­tin­u­ação de um ini­ci­ado há quase um ano e, por derivação, do que se instalou em 2015, quero acred­i­tar que trata-​se de uma nova gov­er­nança, com um novo estilo de gov­ernar próprio, cor­re­lação de forças artic­u­ladas pelo próprio gov­er­nante e por aux­il­iares escol­hi­dos, na medida do pos­sível, para exe­cu­tar as políti­cas públi­cas imag­i­nadas e dese­jadas pelo atual gov­er­nador.

Por tudo isso, muito emb­ora já ten­hamos ultra­pas­sado a quadra car­navalesca, con­sidero que o novo gov­erno se ini­cia a par­tir de agora, da posse do novo sec­re­tari­ado e dos demais aux­il­iares, como “novo”.

A par­tir de agora, os acer­tos e erros, serão deb­ita­dos e cred­i­ta­dos na conta do atual gov­er­nador.

Achei alvis­sareira a ini­cia­tiva de empos­sar o sec­re­tari­ado na região tocan­tina, em Imper­a­triz, a nossa cap­i­tal do Maran­hão do Sul. Quiçá tal prática se torne uma rotina, que gov­erno e assem­bleia leg­isla­tiva deslo­quem, vez ou outra, suas ativi­dades para alguma região do estado, Bal­sas, Baca­bal, Barra do Corda, Timon, Cax­ias, Coroatá, Maraçacumé ou Zé Doca e tan­tos out­ros municí­pios com­por­tam tal “itin­erân­cia”.

Inte­ri­orizar as ações do gov­erno e dos poderes é uma neces­si­dade para tornar a ativi­dade gov­er­na­men­tal mais próx­ima dos administrados.

Claro que essa inte­ri­or­iza­ção não deve ocor­rer como uma espé­cie de “chegada das cortes por­tugue­sas”, tumul­tuando a vida das pes­soas e alterando suas roti­nas, mas de forma disc­reta e sem muitos cus­tos para o com­balido estado é pos­sível se fazer “presente”.

Nos anos de exper­iên­cia, aprendi que gov­ernar é con­duzir uma loco­mo­tiva em movi­mento. Inde­pen­dente do dia da sem­ana ou da data fes­tiva ou mesmo das posses de autori­dades, os prob­le­mas que recla­mam soluções estão ocor­rendo, o hos­pi­tal pre­cisa está aberto para rece­ber o paciente, o cura­tivo pre­cisa está à dis­posição, a merenda esco­lar pre­cisar chegar na hora do recreio das esco­las, a polí­cia pre­cisa ficar a pos­tos para evi­tar e com­bater a vio­lên­cia, os sindi­catos estão na outra ponta pres­sio­n­ando por mel­hores salários e condições de tra­balho – mas se aten­der o primeiro item já se dão por sat­is­feitos –, e por aí vai.

Quem assume um cargo público pre­cisa se doar e está preparado para “servir o público” todos os dias.

Outro dia, acho que na quinta-​feira, com pil­héria, um amigo aden­trou ao meu escritório e foi inda­gando: — ei, Abdon, não fos­tes con­vi­dado para tomar posse em alguma sec­re­taria do gov­erno lá em Imperatriz?

Sem perder o clima da piada e lem­brando da velha lição de Tan­credo Neves, respondi-​lhe: — rapaz, até o gov­er­nador me con­vi­dou, mas recu­sei, estou sem muito tempo, a saúde já não ajuda, achei mel­hor dec­li­nar. Rsrsrs.

Aproveita­mos para rir da situ­ação.

Mas, voltando ao assunto sério, sendo a gov­er­nança uma loco­mo­tiva em movi­mento, difi­cil­mente os execu­tores das ativi­dades “de ponta” têm o tempo necessário para pen­sarem muito além de man­ter a máquina fun­cio­nando, de man­ter o trem em movi­mento.

Como disse em tex­tos ante­ri­ores, acred­ito que o Maran­hão vive um bom momento, vive boas per­spec­ti­vas de futuro, são os por­tos, são as fer­rovias, é o pro­jeto aeroe­s­pa­cial, é tur­ismo nos vários pon­tos do estado, são os empreendi­men­tos agrí­co­las nas diver­sas regiões, etcetera.

E nem fale­mos da Zona de Expor­tação do Maran­hão — ZEMA, pro­jeto pelo qual o ex-​senador Roberto Rocha tanto se bateu nos últi­mos anos e que não pode ser deix­ado de lado ou esque­cido, ainda mais por “picuin­has” políti­cas.

Ainda espero que nos anos que me restam – e que serão muitos –, alcançar a nossa Baía de São Mar­cos com um movi­mento idên­tico à de Sin­ga­pura, ou de Hong Kong, ou Taiwan …

Daí ter achado de grande sig­nificân­cia a manutenção do ex-​governador José Reinaldo Tavares na sec­re­taria de pro­je­tos espe­ci­ais e, como já disse em outra opor­tu­nidade, tal sec­re­taria pre­cisa de mais “reforços int­elec­tu­ais e finan­ceiros” para fazer sair do plane­jado para a real­i­dade os grandes pro­je­tos que se desen­ham para o Maran­hão, fazendo com que os mes­mos se rever­tam em bene­fí­cio de todos os maran­henses e não como meros “enclaves econômi­cos”. O ex-​governador é a pes­soa certa, no momento certo, para tal mis­são.

Lá atrás, há uns trinta anos, quando o Ceará deixou de ser um “estadeco” de coro­néis e exper­i­men­tou grande desen­volvi­mento econômico, imag­inei o Maran­hão pode­ria seguir o mesmo cam­inho – o que ainda não acon­te­ceu.

O nosso estado é “uma anom­alia econômica” pois é ina­cred­itável que com tan­tos recur­sos nat­u­rais e uma posição geográ­fica única não tenha con­seguido romper as bar­reiras do atraso.

Esta­mos diante de uma nova grande opor­tu­nidade para o desen­volvi­mento do estado, os gov­er­nantes não têm o dire­ito de des­perdiçarem tal chance.

Que o novo gov­erno se torne, efe­ti­va­mente, “um novo recomeço para o Maranhão”.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

A tragé­dia é irmã da omis­são e prima da incompetência.

Escrito por Abdon Mar­inho

Vista de Recife — PE. Foto de Abdon C. Marinho.

A TRAGÉ­DIA É IRMÃ DA OMIS­SÃO E PRIMA DA INCOM­PETÊN­CIA.

Por Abdon C. Marinho*.

UMA SEM­ANA, enquanto o brilho do Car­naval con­ta­giava o país após dois anos sem tal festa dev­ido à pan­demia, uma tragé­dia ocor­ria no litoral norte de São Paulo e que, até aqui, já con­tabi­liza quase seis dezenas de vidas humanas per­di­das.

Um “evento climático extremo” – chu­vas tor­ren­ci­ais –, provo­cou desliza­men­tos de encostas, levando con­sigo dezenas, cen­te­nas de habitações, soter­rando out­ras tan­tas e cul­mi­nando com o número de mor­tos referi­dos acima que ainda não é defin­i­tivo tendo em vista que diver­sas pes­soas ainda estão desa­pare­ci­das.

Como não sou um grande folião, desde o domingo de Car­naval até a quarta-​feira de Cin­zas alternei a pro­gra­mação de leituras, filmes, escritas e música com o acom­pan­hamento dos noti­ciários sobre a tragé­dia.

Dispondo do tempo, enquanto ia acom­pan­hando as notí­cias, me ocu­pava em refle­tir sobre o que a motivou.

Quase todos os anos assis­ti­mos os tais “even­tos climáti­cos extremos” – e os cien­tis­tas já vêm aler­tando, e não é de agora, que eles serão cada vez mais fre­quentes e inten­sos –, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, já reg­is­traram situ­ações climáti­cas “anor­mais” nos últi­mos anos – me referindo ape­nas aos que lem­bro de ime­di­ato.

Há décadas, desde que sur­gi­ram os ter­mos “El Niño” e “La Niña”, que con­vive­mos com secas extremas no nordeste, chu­vas inten­sas no sul e sud­este; se inver­tendo tais cenários de forma alter­nada, numa região ou noutra.

Na con­fer­ên­cia inter­na­cional sobre o clima ocor­rida no Brasil há mais de trinta anos, a Rio 92, já se falava quero clima seria cada vez mais deter­mi­nante para a vida dos humanos no plan­eta e que pre­cis­aríamos ado­tar inúmeras medi­das para mino­rar os efeitos dos even­tos.

O que foi feito? Nada. Ou quase nada sig­ni­fica­tivo.

Como con­se­quên­cia, o “clima” escolhe ano sim e no outro tam­bém, algum estado brasileiro para ser “cas­ti­gado” com alguma tragé­dia. Em qual­quer um deles encon­trará as condições propí­cias para cei­far vidas e causar imen­sos pre­juí­zos.

Desde sem­pre sabe­mos que não podemos con­tro­lar o clima, é algo que encontra-​se a cima de nos­sas forças, sabe­mos, sim como mino­rar os efeitos que o mesmo provoca do plan­eta, daí se falar tanto na diminuição do des­mata­mento, na diminuição da poluição, na redução da pro­dução de gases que provo­cam o aque­c­i­mento global, etc., etc., tanto assim, que desde a Rio 92 que as nações assi­nam pro­to­co­los de intenções – que depois igno­ram –, com medi­das a serem ado­tadas por cada um deles visando man­ter o equi­líbrio climático.

Desde sem­pre tam­bém sabe­mos que é pos­sível, se não elim­i­nar, mit­i­gar ou reduzir os efeitos e a perda de vidas humanas nas tragé­dias quase anun­ci­adas de todos os anos.

Essa mit­i­gação, redução ou mesmo elim­i­nação da perda de vidas humanas nas tragé­dias cau­sadas pelos even­tos climáti­cos se dá com a ação de esta­dos e municí­pios na imple­men­tação de políti­cas públi­cas que garan­tam mora­dias pop­u­lares em lugares seguros e impeça a ocu­pação de áreas de risco.

Todos os anos, diante das tragé­dias, apare­cem os cien­tis­tas, espe­cial­is­tas ou mesmo autori­dades dizendo que as con­struções que lev­adas pelas enchentes, que deslizaram ou foram soter­radas, estavam em locais inde­v­i­dos; que pre­cisamos fazer isso ou aquilo para impedir que isso volte acontecer.

Depois que o noti­ciário “esfria”, parece que ninguém mais lem­bra do que acon­te­ceu, os inves­ti­men­tos não vêm, as pes­soas con­tin­uam ocu­pando de qual­quer jeito áreas inse­guras e as autori­dades de omitindo, como sem­pre.

Diante dos holo­fotes, o din­heiro existe, as medi­das restri­ti­vas serão tomadas “doa a quem doer”, não serão omis­sos, incom­pe­tentes e haverá proa­t­ivi­dade, fora dos holo­fotes, tudo con­tin­uará como dantes até a próx­ima tragé­dia no verão seguinte.

Como dito no título, as tragé­dias no Brasil são irmãs das omis­sões das autori­dades fed­erais, estad­u­ais e munic­i­pais, que emb­ora sabendo que ela virá mais cedo ou mais tarde, nada fazem.

Agora mesmo, enquanto somos “inun­da­dos” pelo noti­ciário sobre a tragé­dia no litoral norte de São Paulo quan­tas ocu­pações irreg­u­lares estão acon­te­cendo em todo país? Mil­hares.

Aqui mesmo na Ilha do Maran­hão, nas rodovias que a cor­tam e pelas quais passo todos os dias, vejo sur­gir diver­sas invasões ou ocu­pações irreg­u­lares de ter­ras.

Há anos venho aler­tando para o retorno, na Ilha, da chamada “indús­tria das invasões”, sem que as autori­dades se man­i­festem para impedi-​las. Mesmo pes­soas que pos­suem imóveis, estão fin­gindo que não tem onde morar para con­struir em pro­priedades alheias ou pri­vadas.

Muito emb­ora as ocu­pações irreg­u­lares (invasões) rep­re­sen­tem gas­tos públi­cos pos­te­ri­ores para urban­iza­ção, implan­tação de serviços e equipa­men­tos públi­cos diver­sos, as autori­dades per­mitem que os lití­gios judi­ci­ais sejam trata­dos como questões pri­vadas ou seja, se o pro­pri­etário pelos próprios meios ou através da justiça não con­segue “desin­vadir” o imóvel, estare­mos diante do surg­i­mento de um “novo bairro”, que cer­ta­mente levará o nome de um político famoso, “bati­zado” na esper­ança de que não serão per­tur­ba­dos.

(Invasão em anda­mento em Paço do Lumiar — MA. Foto de Abdon C. Mar­inho).
Con­sol­i­dada a ocu­pação e surgido o “bairro” lá vem municí­pio e estado para dotá-​lo de infraestru­tura e até reg­u­larizar as posses no mesmo momento em que os “inva­sores orig­inários” ini­ciam a venda dos ter­renos, sobre­tudo os mais val­oriza­dos, às mar­gens de rodovias ou vias prin­ci­pais.

É assim que fun­ciona há mais 50 anos a “indús­tria da invasão” que as autori­dades fin­gem não ter qual­quer con­hec­i­mento.

Com toda tec­nolo­gia envolvida na vida das pes­soas atual­mente, autori­dades estad­u­ais e munic­i­pais – e mesmo fed­erais –, não con­seguem ter um cadas­tro das famílias ou pes­soas que efe­ti­va­mente não têm onde morar – muito emb­ora todos este­jam inscritos nos pro­gra­mas tipo “Bolsa Família” ou Auxílio Emer­gen­cial.

Essa falta de con­t­role, de com­par­til­hamento de infor­mações sobre a real­i­dade econômica das famílias é a “prima incom­petên­cia” fazendo o seu “tra­balho” no favorec­i­mento das tragé­dias, da des­or­dem urbana, da vio­lên­cia e do caos.

Foge à minha com­preen­são que as autori­dades das três esferas de gov­erno (fed­eral, estad­u­ais e munic­i­pais) não con­sigam fazer um mapea­mento das áreas de risco, das pes­soas e famílias que efe­ti­va­mente moram em tais situ­ações por neces­si­dade e não con­sigam resolver ou pelo menos mino­rar a situ­ação das mes­mas antes das chu­vas e das tragé­dias do próx­imo verão.

A tragé­dia não vem soz­inha, ela tem uma irmã chamada omis­são e tem uma prima chamada incom­petên­cia. Enquanto o Brasil não apren­der a respon­s­abi­lizar os que “têm culpa no cartório”, seja por ação, seja por omis­são, seja por incom­petên­cia, deve­mos nos con­for­mar e nos preparar para chorar os mor­tos a cada tragé­dia – ou ser­mos indifer­entes e “sam­bar” diante da dor cau­sada pelas mes­mas.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.