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A imo­lação dos inocentes na Paixão de Cristo.

Escrito por Abdon Mar­inho


A IMO­LAÇÃO DOS INOCENTES NA PAIXÃO DE CRISTO.

Por Abdon C. Marinho*.

CHOREI bas­tante e, enquanto fazia isso, a lem­brança de uma canção de Natal chamada Rei Pequenino, de Siba e Fuloresta – que usei no vídeo da cam­panha Natal Solidário 2022 –, assaltou-​me à mente pois na sua última estrofe ela pon­tua:

A todo instante

Que uma mul­her dá à luz

Vê-​se a feição de Jesus

Numa cri­ança inocente

Como a semente

já tem árvore guardada

Toda cri­ança é sagrada

Não pode ser diferente

É Natal diariamente

Pois, a vida não se cansa

E onde nasce uma criança

Nasce Jesus novamente”.

Ainda pro­fun­da­mente impactado com os acon­tec­i­men­tos da Quarta-​feira Santa, quando, em Blu­me­nau — SC, um ser dis­farçado de humano, inva­diu uma crèche e imolou qua­tro cri­anças de 04 a 07 anos e feriu out­ras tan­tas, lembrei-​me e me pus a refle­tir sobre a canção de natal que tanto me emocionou.

Imag­inei, então, em sen­tido reverso, que a imo­lação de cri­anças inocentes sig­nifica, a cada morte, a cada sac­ri­fí­cio de um inocente, a morte de Jesus nova­mente. Em Blumenau-​SC, em uma única manhã, mataram Jesus Cristo qua­tro vezes e o feri­ram infini­ta­mente mil­hares ou mil­hões de out­ras vezes – e não me refiro ape­nas aque­las cri­anças se feri­ram no ataque covarde, ou mesmo aque­las que estiveram próx­i­mas aos acon­tec­i­men­tos, e, cer­ta­mente, estão trauma­ti­zadas e com receio de irem à escola –, todas as cri­anças do nosso país.

Roubaram-​lhes a infân­cia, tiraram-​lhes o dire­ito de serem inocentes.

A vio­lên­cia injus­ti­fi­cada – e toda ela é injus­ti­fi­cada –, pas­sou a dom­i­nar os debates nas esco­las, nas mesas de bares, no seio das famílias.

Mesmo aqui, no norte e nordeste do Brasil, tão dis­tante do local onde se deu a tragé­dia, e que já vinha sendo noti­ci­ado pos­síveis atos de vio­lên­cia con­tra cri­anças e ado­les­centes, as famílias firam ansiosas em man­dar seus fil­hos para as esco­las.

Pos­suo, por for­mação, uma imensa de difi­cul­dade em aceitar qual­quer ato ou abuso con­tra pes­soas inde­fe­sas, idosos, defi­cientes, cri­anças, além das mul­heres, tan­tas vezes vio­ladas e abu­sadas sex­ual­mente, psi­co­logi­ca­mente, finan­ceira­mente, e tan­tas out­ras for­mas.

Já trata­mos tan­tas vezes disso.

O que acon­te­ceu um Santa Cata­rina é algo que, de tão absurdo, não con­seguimos com­preen­der. Uma vez me deparei com uma con­statação bem curiosa, a de que exis­tem coisas tão grandes, mas tão grandes, que não con­seguimos enxerga-​las. É dizer, são tão imen­sas que ocu­pam todo o nosso campo visual a ponto de não con­seguirmos saber do que se trata.

Um ato de vio­lên­cia – assim como tan­tos out­ros –, é algo que a mente humana nor­mal não pos­sui capaci­dade para “divisar”, não há como com­preen­der, sob qual­quer aspecto, que alguém pule o muro de uma crèche, e, com golpes de machado, tire a vida de cri­anças.

Uma situ­ação ou fato desses não é algo que “caiba” den­tro das nos­sas mentes.

Acho que na natureza pou­cas são as espé­cies capazes de destruir os seus semel­hantes. A raça humana ocupa o topo dessas exceções.

Sobre o fato especí­fico – e sobre out­ros acon­tec­i­men­tos dos últi­mos dias –, bem como, sobre os infini­tos boatos de que mais atos de vio­lên­cia irão eclodir a qual­quer momento e em qual­quer lugar, urge que as autori­dades de segu­rança, autori­dades médi­cas e, prin­ci­pal­mente, as famílias, inves­tiguem o que vem ocor­rendo no nosso país na quadra que vive­mos.

As famílias, prin­ci­pal­mente elas, pre­cisam acol­her e con­viver mel­hor com os fil­hos, procu­rando saber se efe­ti­va­mente estão bem ou se estão recebendo out­ros tipos de influên­cias que os tornem capazes de praticar atos insanos e incom­preen­síveis.

Soube que a mãe do assas­sino das cri­anças de Blu­me­nau teria dito que o mesmo não apre­sen­tava “condição” anor­mal, exceto pelo o uso de dro­gas. As primeiras infor­mações ofi­ci­ais sobre o fato davam conta que ele teria tido um “surto psicótico”.

Ora, a menos que ele tenha tido tal surto em casa, de onde saiu com machad­inha. Nesse meio tempo, antes de come­ter o ato inom­inável, teria repen­sado, ces­sado o surto? Ouvi de um del­e­gado que o plano do indig­i­tado seria imo­lar 30 (trinta) cri­anças.

Não me parece surto algum, mas uma ação plane­jada e exe­cu­tada, que não teve seu des­fe­cho com­pleto graças a ação das pro­fes­so­ras.

As autori­dades, por sua vez, pre­cisam “mer­gul­har” fundo no sub­mundo das redes mundi­ais de com­putares, a fim de desco­brir que tipo de crimes ou de plane­ja­mento de crimes estão em curso.

São muitas coin­cidên­cias entre os fatos ocor­ri­dos e a série de boatos surgi­dos nos últi­mos tem­pos. Talvez uma coisa não tenha nada a ver com a outra, talvez este­jam rela­cionadas e este­jamos diante de algo tão grande e ruim, como disse ante­ri­or­mente, que nem pos­suí­mos a capaci­dade de divisar ou com­preen­der.

Mas deix­e­mos isso, por enquanto, ao escrutínio das autoridades.

Esta­mos na Sexta-​feira Santa, a Sexta-​feira da Paixão de nosso Sen­hor e por isso, como falamos no iní­cio, nos­sas palavras devem ser no sen­tido de bus­car Nele, no seu sofri­mento por todos nós, o con­forto que tanto pre­cisamos, pois vive­mos um momento em que só a fé em algo bem maior é capaz de trazer um pouquinho de “refrigero” as nos­sas vidas.

Toda vio­lên­cia é inom­inável, a vio­lên­cia con­tra cri­anças inde­fe­sas, penso eu, não cabe numa definição, é algo que ape­nas dói muito, pois dói dire­ta­mente na alma.

É algo que nos faz duvi­dar, em um rasgo de revolta, da própria existên­cia div­ina. Pois, como pode Deus per­mi­tir, ante seus olhos, tamanha maldade?

O que dizer a um pai, uma mãe quando estes per­dem um filho? Que palavras os con­for­t­ariam? Cer­ta­mente nen­huma.

Quando perda se perde um ente querido, alguém que amamos, perdemos um pouco de nós mes­mos.

Lembrei-​me do pequeno Bernardo, órfão de mãe, assas­i­nado pelo pai em con­sór­cio com a madrasta e mais out­ros seres abje­tos, no Rio Grande do Sul, há alguns anos.

Numa triste e dramática coin­cidên­cia, uma das víti­mas da tragé­dia insana de Blu­me­nau tam­bém se chamava Bernardo, cer­ta­mente, em hom­e­nagem ao santo.

Em plena Sem­ana Santa e antes do dia da Paixão, mataram o Cristo nova­mente qua­tro vezes, e tan­tas vezes mais o fiz­eram antes.

Nós, os que cre­mos, temos a con­vicção de que Cristo ressus­ci­tará e com Ele ou Nele ressus­ci­tarão todas as cri­anças imo­ladas. Estarão elas, como anjos que são, ao lado do Sen­hor por toda a eternidade.

Uma Sexta-​feira Santa de reflexão para todos.

Abdon C. Mar­inho é advogado.

A NOS LIBERTA.

Escrito por Abdon Mar­inho

A NOS LIBERTA.

Por Abdon C. Marinho*.

AMANHÃ será Domingo de Ramos, o dia/​marco do iní­cio da Sem­ana Santa, o fim e um novo começo. No domingo Jesus Cristo aden­tra em Jerusalém mon­tado em jumento e sendo saudado por pes­soas com ramos de árvores, depois sobrevém a traição de Judas, a prisão, a negação de Pedro, o jul­ga­mento, a con­de­nação pela von­tade do próprio povo que no domingo o saudara, sabendo-​o inocente, Pilatos lava as mãos, entrega-​o às solenidades ofi­ci­ais da con­de­nação: a preparação com a coroa de espin­hos, o ras­ga­mento de suas vestes para que sinta bem mais peso da cruz enquanto até o calvário em cortejo público de humil­hação; sobrevém a árdua cam­in­hada, com seus diver­sos sig­nifi­ca­dos; a cru­ci­fi­cação com requintes de cru­el­dade; o pedido de perdão de Cristo; a promessa a Dimas, o bom ladrão; a entrega da vida ao Pai e Sen­hor; a morte; o sepul­ta­mento; a ressur­reição na Pás­coa; a Ascenção para vida eterna.

O sábado aman­heceu chu­voso – uma chuva fina e inter­mi­tente que vem desde a madru­gada. Após o café da manhã e ali­men­tar os peixes, enquanto obser­vava a chuva da varanda, pen­sava no quanto a Sem­ana Santa foi impor­tante para a minha vida – já disse isso aqui em um texto muito antigo –, mais impor­tante que o Natal, Ano Novo, aniver­sários, ou qual­quer outra.

A Sem­ana Santa, para mim, sem­pre teve esse sen­tido de propósito, de final­i­dade, que as coisas, as pes­soas e tudo mais, “acon­te­cem” na nossa vida com uma final­i­dade e ao cabo de tudo ter­e­mos a rec­om­pensa, aqui, neste plano, noutro plano, na eternidade.

A sequên­cia de acon­tec­i­men­tos da Domingo de Ramos à ressur­reição na Pás­coa teve uma final­i­dade. Quando Cristo aden­tra tri­un­fal em Jerusalém teve como propósito atrair a ira dos poderosos, sobre­tudo, daque­les que domi­navam a fé; a traição de Judas, por moti­vações políti­cas ou mon­etárias, teve sua razão de ser, Cristo já era sabedor disso, tendo anun­ci­ado a traição na última ceia; e veio com um beijo a traição no Monte das Oliveiras, quando o sen­hor anun­ciou: — Judas, com um beijo, tu trai o filho do Homem; a prisão sem reação – a caso, se não estivessem nos planos, Cristo e os seguidores não teriam reagido? Não pode­ria ter cla­mado por uma legião de anjos para impedir a prisão? Nada disso foi feito e Jesus Cristo ainda resti­tuiu a orelha decepada por um dos seguidores a dos sol­da­dos que o pren­deu.

A negação de Pedro, tam­bém anun­ci­ada por Jesus, serve para nos mostrar o quanto somos frágeis na nossa fé quando con­fronta­dos com o medo ou com out­ras cir­cun­stân­cias extremas. É nor­mal a nós, humanos, que fraque­je­mos algu­mas vezes e em algu­mas situ­ações. Até com Pedro deu-​se isso. Pedro, a pedra, a rocha sobre a qual ergueu-​se toda uma fé.

A mesma análise dar-​se em relação as demais “estações” de sofri­mento de Jesus Cristo até a ressur­reição, quando, por der­radeiro, o tri­unfo da vida se sobrepõe à escuridão da morte.

A Sem­ana Santa, ao longo dos anos da minha existên­cia, sem­pre teve esse propósito de pen­sar e repen­sar os planos de Deus para nossa existên­cia e para minha própria vida.

Nos meus primeiros anos, ainda pequenino, lem­bro que toda a sem­ana era Santa, se guar­dava todos os dias, e nunca fomos muito reli­giosos, morá­va­mos em um povoado onde não havia igre­jas. A fé que guardá­va­mos nada tinha a ver com a igreja, era fruto do cos­tume ances­tral de uma lig­ação “direta” com o próprio Cristo Jesus e pelo respeito ao seu sofri­mento em sua der­radeira sem­ana ter­rena.

Ao que me recordo, a sem­ana ia gan­hando ares de gravi­dade à medida que se aprox­i­mava do seu ápice, já a par­tir da quarta-​feira os ani­mais não pode­riam ser pre­sos, não se orden­hava as vacas, o que sig­nifi­cava que não teríamos leite. Na quinta-​feira e na sexta-​feira eram para jejum silen­cioso, não se ouvia rádio, não se falava alto, não se brin­cava, um silên­cio cor­tante reinava somente sendo que­brado no sábado da Aleluia, quando já se podia brin­car, os adul­tos se per­diam nos jogos de car­tas ou de dom­inó e das coz­in­has vin­ham o cheir­inho gos­toso de bolo de macax­eira ou de puba para com­er­mos com um café com leite.

O mesmo sen­ti­mento de respeito e reflexão sobre a Sem­ana Santa e a Pás­coa me foi com­pan­heiro de toda uma vida. Sem­pre servindo para a ren­o­vação da fé e que tudo que pas­sava, ao menos aos olhos do Sen­hor tinha e tem um propósito como o teve o sofri­mento do seu próprio filho.

Mesmo nos momen­tos dos maiores sofri­men­tos e aflições, mantive-​me firme e forte na fé, na certeza de que as provações tin­ham um propósito que mesmo não com­preen­dendo o seu sig­nifi­cado elas tin­ham uma sig­nifi­cação aos planos de Deus.

Muitas vezes – e ainda hoje –, em momento de difi­cul­dades me pus a per­gun­tar: —oh, Deus é mesmo necessário tudo isso? Livra-​me de todos os males e poupa-​me de mais esse sofri­mento.

Ao fazer tais ques­tion­a­men­tos ao pedir por livra­men­tos, trazia na lem­brança que tam­bém Jesus Cristo, o filho de Deus, ao ser preso, tam­bém pediu ao pai que o livrasse todos os males, mas que fosse feita a sua von­tade.

Tudo faz parte dos planos de Deus e se crermos nisso as nos­sas cruzes, os nos­sos far­dos são bem mais leves.

Outro dia um amigo me ques­tio­nou. Dizia ele que alguns tex­tos meus, aque­les que retratavam a minha cam­in­hada até aqui, era muito tristes e que não con­seguia lê-​los. Contra-​argumentei dizendo a ele que se não con­seguia ler, imag­ina eu que tive que vivê-​los.

Depois, com mais vagar, com­preendi o que que­ria dizer.

Vive­mos hoje em um mundo no qual as pes­soas “se entregam” com muita facil­i­dade, entram em crise, se angus­tiam e por vezes, infe­liz­mente, põem termo à própria existên­cia. Não foram “for­madas” para terem fé, para enten­derem que os sofri­men­tos de hoje fazem parte de um plano que nos torna mais fortes.

Nunca fui reli­gioso ou santo – e longe de mim querer sê-​los –, mas, con­forme dito acima, sem­pre tive muita fé. Foi essa fé que me fez aguen­tar todos os “tran­cos” até aqui e os que, cer­ta­mente, ainda virão – paciên­cia, faz parte do plano –, foi a fé que me fez enx­er­gar além, que me fez perce­ber que o bem que faze­mos ao próx­imo, ainda que per­dendo algo mate­r­ial, não nos faz perder e, sim, gan­har.

A fé me fez perce­ber que suces­sos, fra­cas­sos são cir­cun­stan­ci­ais, fazem parte da vida, da qual nada lev­a­mos e que não vale pena pas­sar a vida em sofri­mento por conta de bobagens.

Final­mente, posso dizer, sem qual­quer dúvida, foi a fé que me lib­er­tou e salvou.

Um Bom Domingo de Ramos uma boa Sem­ana Sem­ana Santa e até a Pás­coa da ressur­reição de Cristo, nosso Sen­hor.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

O REVÓLVER DE VITORINO E A PACIÊN­CIA DE D. CREUSA.

Escrito por Abdon Mar­inho


O REVÓLVER DE VITORINO E A PACIÊN­CIA DE D. CREUSA.

Por Abdon C. Marinho*.

ADER­SON DE CAR­VALHO LAGO FILHO, ex-​deputado estad­ual, engen­heiro civil de for­mação e o não his­to­ri­ador que mais con­hece da história política do Maran­hão e seus cau­sos – isso, graças ao fato de per­tencer a uma tradi­cional família de políti­cos, a quem o dileto e saudoso amigo, ex-​deputado Bened­ito Fer­reira Pires Ter­ceiro, com finís­sima iro­nia, referia-​se como “os Sar­ney que não deram certo”; e, por pos­suir uma memória de “ele­fante” –, contou-​me, certa vez, um causo que envolve­ria Vitorino Freire (19081977), o político orig­inário de Pedra — PE, que foi proem­i­nente, por décadas, na política maran­hense, a ponto de denom­i­nar um movi­mento político: o vitorin­ismo, até ser sub­sti­tuído por outro político, esse maran­hense, José Sar­ney (1930 — …), em 1965.

O vitorin­ismo foi respon­sável direto pela eleição/​nomeação de três gov­er­nadores maran­henses: Sebastião Archer, de 19471952; Eugênio Bar­ros, de 1952 a 1956, que “bati­zou” o Povoado Cen­tro dos Boas com o nome Vitorino Freire; e, por último, já como uma hom­e­nagem a sua vida política, con­seguiu com, o gen­eral Ernesto Geisel, a nomeação de Osvaldo da Costa Nunes Freire, de 1974 a 1978.

Já não me recordo em qual dos três gov­er­nos acima referido o “causo” que me foi relatado por Ader­son teria ocor­rido – pode­ria ser qual­quer um deles –, isso não é rel­e­vante, muito emb­ora acred­ite que tenha sido no de Eugênio Bar­ros.

Pois bem, o fato é que como todo líder político que se preza, Vitorino Freire tinha diver­sos ali­a­dos, cor­re­li­gionários e ami­gos vivendo nas sinecuras dos gov­er­nos e a eles servindo e se servindo – muitos deles, como é nor­mal, com mais afinidades com quem indi­cou (Vitorino) do que o chefe ime­di­ato (o gov­er­nador).

Como a residên­cia de Vitorino Freire no estado era “pro forma”, tal qual a residên­cia de José Sar­ney no Amapá, diz-​se que ficava hospedado – pelo menos durante os gov­er­nos dos seus ali­a­dos –, na área res­i­den­cial do Palá­cio dos Leões.

Aí vem o nosso “causo”. Diz-​se numa dessas “itin­erân­cias” pelo Maran­hão, andando pelo palá­cio, encontrou-​se com um cor­re­li­gionário que “alo­jara” para tra­bal­har com o próprio gov­er­nador, no gabi­nete deste.

O cor­re­li­gionário começou a falar do gov­er­nador: — ah, senador, o homem é um bruto, me trata muito mal, vive me humil­hando e me desre­spei­tando. Nem sei como é que con­tinuo no gabi­nete, acho que só em respeito ao sen­hor. E por aí vai.

Vitorino que tudo ouvia com acu­rada atenção, retru­cou: —é mesmo, meu amigo, ele está fazendo tudo isso com você? Pois saiba que tens todo meu apoio e sol­i­dariedade. Já sei o que deves fazer.

O cor­re­li­gionário indagou: — sério, senador!? O que devo fazer?

Então, Vitorino, que car­regava o revólver no bolso interno do paletó, o sacou e entre­gou ao cor­re­li­gionário com uma recomen­dação: —pegue meu revólver. Na hora que você entrar gov­er­nador o descar­regue todo na cara dele.

Foi então que o cor­re­li­gionário, empalide­cido, diante da “solução” encon­trada pelo senador bal­bu­ciou: — mas o que é isso, senador? Talvez não seja pra tanto.

Vitorino vira-​se para ele diz: — ah, meu filho, você me conta uma série de coisas graves, humil­hações sofridas, etcetera, eu lhe sou solidário, o apoio e até minha arma pes­soal lhe empresto, mas a cor­agem tem que ser com você.

Muito emb­ora fos­sem out­ros tem­pos, é provável que o “causo” relatado acima seja ape­nas mais um fol­clore da nossa história política, como tan­tos out­ros que se sabem e tan­tos out­ros já per­di­dos bru­mas do tempo.

Mas, ape­sar disso – ver­dade ou não –, serve-​nos para lem­brar o quanto que é precária a relação entre aquele que se acha chefe ou líder político e aquele que se encon­tra no exer­cí­cio do mandato. Mesmo as amizades mais próx­i­mas e “doces” ten­dem a azedar, ainda mais quando os “entornos” que cer­cam a ambos, movi­dos por inter­esses próprios ou mesmo incon­fessáveis “tra­bal­ham” nesse sen­tido.

A ambos, aos que teimam em não “des­en­car­nar” do gov­erno que não é seu e aquele que luta para imprimir a própria marca de gestão, a recomen­dação é ape­nas uma: paciên­cia.

O “causo” suposta­mente envol­vendo o ex-​senador Vitorino Freire me veio à lem­brança após lê em alguns veícu­los de comu­ni­cação (blogues, prin­ci­pal­mente) e lê em out­ros tan­tos, os des­men­ti­dos à respeito de uma pos­sível rup­tura política entre o atual gov­er­nador e o ex-​governador, senador da república investido cargo de min­istro de estado.

Ver­dade ou não, esse não é o assunto do texto.

Em todo caso, sendo ver­dade, acho que seja uma grande “bobagem” e falta de inteligên­cia polit­ica, uma vez que não são adver­sários (pelo con­trário) e con­cor­rem, politi­ca­mente, em faixas total­mente dis­tin­tas.

Quais­quer divergên­cias ou dis­cordân­cias entre ambos, um no poder estad­ual e outro no poder fed­eral é de fácil solução.

No poder tudo é fácil de se resolver, é como car­regar melan­cia no cam­in­hão: você pensa que não vai dá certo, mas depois elas se “encaixam” e não cai uma.

Difí­cil é resolver divergên­cias fora do poder.

Há uma sen­tença que sem­pre digo por onde passo: no poder, só os tolos arran­jam motivos para brigar.

Em outra opor­tu­nidade, se instado, farei tal análise.

Antes porém que algum tolo afoito vá em busca do revólver de Vitorino, recomendo a leitura do resto do texto.

Na minha já longeva car­reira jurídica – advo­gando para municí­pios há mais de vinte e cinco anos –, uma das políti­cas mais argutas que con­heci foi a sen­hora Creüsa Braga Queiróz, ex-​prefeita de Luis Domingues, um municí­pio pequenino, menos de dez mil habi­tantes, no noroeste do estado.

E não digo pelo fato dela já ter nos deix­ado em 2020, vítima de um câncer agres­sivo.

Há mais de 20 anos, desde que come­cei a tra­bal­har com ela, que a citava como exem­plo para out­ros gestores.

Imag­inem uma mul­her que mal con­cluiu os anos ini­ci­ais do ensino fun­da­men­tal, dona de casa, mãe de seis fil­hos, esposa de ex-​prefeito, con­seguir admin­is­trar seu municí­pio sem per­mi­tir a intro­mis­são de nen­hum deles, ela con­seguiu.

Emb­ora o marido, o amigo e saudoso Didi, tenha sido prefeito, ela que era a ver­dadeira política da casa. Acol­hendo um e outro sem­pre que podia; con­ver­sando com quem apare­cesse na sua coz­inha para con­ver­sar, almoçar ou tomar um café.

O marido foi prefeito no quadriênio de 1989 a 1993 – antes da reeleição –, depois uma dis­puta sem sucesso, em 2000, elegeu-​se prefeita.

Quando assumiu, em janeiro de 2001, uma das primeiras aquisições foi uma agenda onde ano­tava de tudo: desde alguma coisa que pre­cisava lem­brar ou instrução que pas­sava aos sal­dos das con­tas do municí­pio.

Tinha tudo ano­tado e con­trolava a admin­is­tração como poucos prefeitos vi fazer, não deixando que o marido ex-​prefeito ou qual­quer um dos fil­hos desse qual­quer “pitaco”.

Assim, con­seguiu a reeleição em 2004, eleger e reeleger o suces­sor nos dois mandatos seguintes e depois, eleger o filho, atual prefeito, em 2016.

Ela entre nessa crônica porque, como política, con­seguiu, como poucos admin­is­trar essa precária relação entre ex-​gestor e lid­er­ança política com o suces­sor, sem colo­car os inter­esses políti­cos maiores sub­mis­sos a inter­esses menores ou pes­soais.

Nos mais de vinte anos em pri­va­mos de uma amizade sin­cera, me tornei uma espé­cie de con­fi­dente. Sem­pre que o suces­sor a con­trari­ava ou fazia alguma coisa que não gostava ou mesmo quando ia alguém à sua coz­inha fazer alguma recla­mação ou se queixar de algo, ela me lig­ava para con­ver­sar ou desaba­far.

Na máx­imo, depois de con­ver­sar­mos, se res­ig­nava: —pois é, doutor, temos que atu­rar esse tipo de coisa.

Quando muito zan­gada já sabia, ela falava o nome do prefeito e com­padre dela, dizia: — ah, doutor Abdon, o “homem” fez isso ou aquilo.

Já sabia: ela estava zan­gada.

Mesmo assim nunca “dava recibo”, não sei se com mais alguém, além de mim, expres­sava suas contrariedades.

Foi assim durante os oito anos do suces­sor, ao tér­mino do qual elegeu o filho prefeito.

Em situ­ações de con­fli­tos reais ou imag­inários entre ex e atu­ais gestores sem­pre recomendo que antes de se fazer uso do revólver de Vitorino que se adote a serenidade e paciên­cia de Creüsa.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.