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Como os livros sal­varam minha vida.

Escrito por Abdon Mar­inho


Como os livros sal­varam minha vida.

Por Abdon C. Marinho.

RECEN­TE­MENTE li uma frase do econ­o­mista amer­i­cano James Heck­man (Chicago, Illi­nois, EUA, 1944 -), gan­hador do Prêmio Nobel de Ciên­cias Econômi­cas do ano 2000, que diz: “a tarefa de prover con­hec­i­mento às cri­anças deve começar tão cedo quanto pos­sível, de modo que se ergam alicerce sóli­dos para for­mar adul­tos pro­du­tivos e ino­vadores – duas qual­i­dades tão caras a uma econo­mia mod­erna”.

Desde sem­pre pre­ocu­pado com a edu­cação e já tendo escrito algu­mas dezenas de tex­tos sobre o assunto, fiquei espe­cial­mente feliz pelo fato do econ­o­mista amer­i­cano, lau­reado com o Nobel – repita-​se –, cor­rob­o­rar com aquilo que venho dizendo a minha vida inteira: o Brasil só ocu­pará o seu ver­dadeiro lugar no mundo se tiver­mos uma edu­cação forte, igual­itária, inclu­siva, que desde a mais tenra idade coloque a cri­ança como sen­hora de seu próprio des­tino, provendo-​a de condições obje­ti­vas edu­ca­cionais que não a deixe em desvan­tagem em relação às demais cri­anças.

Trata-​se de uma ver­dade tão óbvia que não pre­cis­aríamos de palavras boni­tas ou de efeito para expressá-​la.

Não faz muito tempo, durante uma sem­ana inteira, o Jor­nal da Band exibiu uma série de reporta­gens sobre o incen­tivo ao hábito de leitura para cri­anças na primeira infân­cia e os resul­ta­dos sur­preen­dentes que se pode alcançar com um hábito ou com ini­cia­ti­vas tão sin­ge­las na vida e para futuro destas cri­anças e do país.

Foi neste mesmo período que durante uma visita do amigo José Fer­reira, por alguma razão, pusemo-​nos a con­ver­sar sobre a importân­cia dos livros nas nos­sas vidas. Ele me con­tou da vez que levou uma surra da mãe por gasto todo o din­heiro que gan­hara de um tio ou padrinho, em uma viagem de férias, com­prando revis­tas em quadrin­hos. Por serem pobres, ela já con­tava com esse recurso para alguma despesa nas fes­tas de natal. Depois da “pisa”, ele pas­sou a con­sumir o “pro­duto do crime” em furtivas leituras em um beco próx­imo a sua casa.

Contei-​lhe tam­bém das min­has exper­iên­cias e de como os livros “sal­varam” minha vida.

Coloco como ponto de par­tida para minha relação com os livros o “dia seguinte” ao falec­i­mento da minha mãe. Não que tenha enveredado pelo mundo das leituras quando ela par­tiu, nada disso, quando tal fato se deu tinha pouco mais de cinco anos, naquele tempo só entrá­va­mos na escola depois dos sete, no meu caso, por conta da defi­ciên­cia física, demorou um pouco mais.

Uma vez um amigo me ques­tio­nou sobre a forma como colo­quei a minha orfan­dade em um texto ou vídeo. Segundo ele, dera a enten­der que ficara órfão de mãe e pai, simul­tane­a­mente, e, em seguida dizia que desde muito cedo aju­dava meus pais nas ativi­dades do dia a dia e em um comér­cio.

Na ver­dade, quando minha mãe mor­reu de parto, deixou uma “escad­inha” de 09 fil­hos, de 21 a 0 anos, que o meu pai ficou com a respon­s­abil­i­dade de criar – e fez isso diante de suas pos­si­bil­i­dades –, da mel­hor forma. Quando nos deixou, todos os fil­hos de seu primeiro casa­mento, já estavam bem encam­in­hados ou pelo menos já tin­ham um “rumo” na vida.

Sem­pre con­sid­erei como orfan­dade – pelo menos “con­tar” a par­tir daí –, o pas­sa­mento de minha mãe, pois quando a mãe falta ces­sam todas as nos­sas refer­ên­cias, sentimo-​nos estrangeiros na nossa própria casa, nos sen­ti­mos sem um “lugar” nosso, sem um acol­hi­mento, sem alguém para secar nos­sos pran­tos ou per­gun­tar das nos­sas dores.

No meu caso, as neces­si­dades eram um pouco maiores uma vez que após a poliomielite minha mãe pas­sou a desem­pen­har o papel de cuidadora, fisioter­apeuta, enfer­meira, e tan­tos out­ros. Sem ela, findara-​se o reinado de D. Abdon I — e único.

Acho que já ia pela casa dos sete ou oito anos quando, depois de pas­sar alguns meses na escol­inha de “latada” do povoado, fui man­dado para morar com meus irmãos em Gov­er­nador Archer, na Rua do Sossego, para estu­dar no colé­gio Alde­nora Belo.

Eram cri­anças cuidando de cri­anças, não tinha como dar certo. Os primeiros meses, em um mundo total­mente difer­ente, não foram fáceis. Eu ia para escola, cir­culava um pouquinho por lá – as vezes nem isso –, e “fugia” para casa.

Desnecessário dizer que nas min­has primeiras “férias” de volta ao povoado, com meu pai tendo tomado con­hec­i­mento, das min­has “fugas” da escola gan­hei uma surra de cin­turão. Foi um santo remé­dio. No semes­tre seguinte nada de fugir de escola e procu­rava me esforçar o máx­imo para apren­der o que era ensi­nado. Com o auxílio de uma palmatória, éramos “incen­ti­vado” a apren­der a tabuada.

Com oito anos (ou mais) já lia e escrevia alguma coisa. Nas férias, meu pai aproveitava esse “con­hec­i­mento” para que ano­tasse em um caderno o peso das sacas de arroz que buscá­va­mos nas roças daque­les que haviam ven­dido o pro­duto “na folha”.

Foi no iní­cio da minha ado­lescên­cia que mer­gul­hei no mundo dos livros.

Emb­ora já gostasse de ler e tendo nos livros a chave para um mundo só meu, neste período mudou-​se para minha rua uma sen­hor­inha já de idade avançada (acho que mais de sessenta ou setenta anos) que pos­suía diver­sos livros.

Não sabia de onde viera ou da sua história, mas ela era uma leitora voraz, pas­sava horas e horas lendo. Me emprestava todos livros que não estivesse lendo para que eu lesse. Fui criando gosto pelo pas­satempo.

Quando mudei-​me para cap­i­tal, para seguir em frente nos estu­dos, perdi total­mente o con­tato com essa sen­hor­inha a ponto de nem lem­brar ou saber o seu nome – acho que só a chamavam de dona Mocinha.

Por vezes fico a pen­sar que todas as pes­soas que cruzam as nos­sas vidas fazem isso por algum propósito não deter­mi­na­dos por nós. O caso dessa sen­hora, sem­pre lem­bro como o mais ilus­tra­tivo.

Sem motivo algum, uma cri­ança órfã – devia ter dez, onze, no máx­imo doze anos –, defi­ciente, faz amizade com uma sen­hor­inha de idade avançada e dessa inter­ação faz des­per­tar o gosto por livros que fun­cionam como dro­gas a lhe per­mi­tir fugir de todos os seus anseios, inqui­etações e sofri­men­tos.

Nessa “fuga”, todo tipo de lit­er­atura me servia, dos livrin­hos recre­ativos com histórias de cow­boys amer­i­canos aos clás­si­cos da lit­er­atura brasileira e mundial; mitolo­gia grega; história clás­sica, geografia do Brasil e do mundo; ensaios pornográ­fi­cos e tan­tos outros.

Acho que nos dias de hoje pren­de­riam dona Mocinha por me colo­car em con­tato com tanto “mate­r­ial impróprio” a uma criança/​adolescente.

O certo é que lia tudo que me chegasse às mãos, fosse pelas mãos de dona Mocinha, fosse por quais­quer out­ras mãos. Favore­cia a leitura o fato de ficar durante todo o dia tomando de conta de um comér­cio que meu pai inau­gurou para que tomasse conta na Rua Dr. Paulo Ramos, que naquele tempo, como tudo, tinha outro apelido.

Outra coisa que favore­cia o hábito da leitura é que “naquele tempo”, anos setenta, oitenta, todo mundo lia alguma coisa. As mocin­has liam revis­tas Sétimo Céu, Sab­rina, Bianca, Bár­bara, etc; os meni­nos liam gibis, Tio Pat­in­has, Pato Don­ald, Zé Car­i­oca, etc; os jovens liam os “bol­silivros”, Tex, Zagor e mes­mos os clás­si­cos da lit­er­atura, como José de Alen­car, Gonçalves Dias … a leitura era o prin­ci­pal passatempo.

Já na ilha, morando com meu irmão e estu­dando no Liceu Maran­hense – e depois quando me prepar­ava para vestibu­lar –, con­tin­uei “vici­ado” em livros. Após as tare­fas domés­ti­cas ou qual­quer tempo livre cor­ria para a bib­lioteca.

Quando Cafeteira assumiu o gov­erno do estado, uma das primeiras medi­das, após deter­mi­nar que frota de veícu­los públi­cos de abób­ora, foi reati­var ou dar maior fun­cional­i­dade aos Cen­tros Soci­ais Urbanos, os CSU’s, através da Sec­re­taria de Assistên­cia Social. No cen­tro do Habita­cional Turu tin­ham diver­sos cur­sos des­ti­na­dos a todos os públi­cos (cheguei a fazer e ser cer­ti­fi­cado no curso de datilo­grafia) e tinha, tam­bém, uma bib­lioteca com mil­hares de vol­umes de livros, que li, capri­chosa­mente, uma grande parte (quase todos). Quando não estava mer­gul­hado nos livros de lit­er­atura, estava pesquisando nas enci­clopé­dias Barsa ou Britânica. Muito emb­ora hoje todo o con­hec­i­mento esteja à dis­tân­cia de um dedo, “basta dá um Google”, como dizem alguns, as enci­clopé­dias escritas tin­ham uma van­tagem: enquanto você pesquisava um tema, lia ou encon­trava diver­sos out­ros, indo muito além da pesquisa ini­cial. Essa é uma van­tagem do ensino analógico.

Foram essas exper­iên­cias, esse amor aos livros que me fiz­eram forte e me troux­eram até aqui.

E por tudo somos gratos.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

A ineleg­i­bil­i­dade de Bol­sonaro e a democ­ra­cia rel­a­tiva de Lula.

Escrito por Abdon Mar­inho


A INELEG­I­BIL­I­DADE DE BOL­SONARO E A DEMOC­RA­CIA REL­A­TIVA DE LULA.

Por Abdon C. Marinho*.

SOBRE o ex-​presidente Bol­sonaro e sobre o atual pres­i­dente Lula muito já escrevi. Acred­ito que muito mais do que uma cen­tena de tex­tos, em muitos deles – como o atual –, eles apare­ce­ram jun­tos.

Lem­bro que ainda em 2018, logo após as eleições pres­i­den­ci­ais que elegeram o sen­hor Bol­sonaro dizia a respeito do eleito: “acho que ele, nem nascendo outra vez, seria um estadista à altura do país”, no texto “Bol­sonaro e a nova democ­ra­cia pos­sível”; em setem­bro do ano seguinte, a respeito das reit­er­adas ameaças do pres­i­dente, e seu entorno, as insti­tu­ições do país e prin­ci­pal­mente ao judi­ciário, escrevi um texto com o seguinte título: “Os Bol­sonaro e o leão da metro”; já em 2020, em maio, escrevi um texto com o título “Bol­sonaro ensaia para o impeach­ment – ou para o golpe”; em junho do mesmo ano, escrevi: “O gov­erno Bol­sonaro acabou”; em out­ubro, com­para­ndo as bobagens que tanto o Bol­sonaro pro­fe­ria quando as bobagens já ditas por Lula, sobre um tema especí­fico, escrevi: “Da trans­vi­adônica de Lula à “boio­lagem” de Bol­sonaro”; em janeiro de 2021, escrevi: “A insur­reição e o suicí­dio de Bol­sonaro”; mais adi­ante, no mesmo ano, pontuei em um texto com o título: “Bol­sonaro é tão inocente quanto Lula”; e um outro texto: “A escolha de Bol­sonaro: renún­cia ou impeach­ment”; já no iní­cio mouse meio da cam­panha de 2022, escrevi um texto: “Um can­didato entre à presidên­cia e a Papuda”.

Acima, ape­nas alguns títu­los dos tex­tos sobre a gestão do ex-​presidente Bol­sonaro e alguns out­ros sobre a “sime­tria” entre bobagens e ações exis­tentes entre ele (Bol­sonaro) e o atual pres­i­dente Lula da Silva. Teve um texto, inclu­sive, acho que de 2021 ou 2022, com um título “Lula ‘fechado’ com Bol­sonaro”, onde pon­tu­ava que as bobagens exter­nadas pelo primeiro era o prin­ci­pal com­bustível para o segundo.

Como dito no iní­cio, são dezenas de tex­tos, talvez cen­te­nas, onde anal­iso o com­por­ta­mento de tais per­son­agens – os prin­ci­pais da política brasileira da atu­al­i­dade, oh, Deus, que tragé­dia –, em face dos inter­esses da nação, da sociedade, dos dire­itos dos cidadãos, e tan­tos out­ros assun­tos. Muitos dos tex­tos com opiniões que não se con­cretizaram, out­ros em errei na avali­ação, mas, uma grande parte deles, sem qual­quer mod­és­tia, com a com­pro­vação de que estava certo e podem ser con­sul­ta­dos para análises e amor ao debate.

Na sem­ana pas­sada, os dois prin­ci­pais per­son­agens da tragé­dia nacional acabaram por “se encon­trarem” pelo menos na inspi­ração para o tex­tão sem­anal, por se tornarem assun­tos incon­tornáveis em quais­quer rodas de con­versa, das mais sérias as pil­hérias imor­tal­izadas em charges ou “memes”.

Durante qua­tro sessões (terça a sexta-​feira) o Tri­bunal Supe­rior Eleitoral — TSE, ocupou-​se do jul­ga­mento de uma ação con­tra o ex-​presidente Bol­sonaro, que cul­mi­nou com a dec­re­tação de sua ineleg­i­bil­i­dade por 08 (oito) anos, afastando-​o das dis­putas eleitorais, até, pelo menos, 2030, se out­ras con­de­nações mais graves, inclu­sive, alguma que o leve à Papuda, não se con­fir­marem, pois são pelo menos mais de uma dezena de ações, eleitorais e crim­i­nais que tem de respon­der, e os tri­bunais, pelo que vimos nessa primeira, não pare­cem dis­pos­tos a “aliviarem”.

Pois bem, con­cluído o jul­ga­mento, na sexta-​feira, com diver­sas man­i­fes­tações dos ali­a­dos do atual pres­i­dente pelo “sex­tou” espe­cial e protestos “incon­for­ma­dos” dos ali­a­dos do ex-​presidente inelegível – muitos demon­strando incon­formismo pub­li­ca­mente e fes­te­jando no íntimo –, vieram as per­gun­tas, muitas delas em forma de protestos.

— Abdon, o que você achou do jul­ga­mento?

— Doutor, como podem cas­sar o “homem” por fazer uma “reunião” com embaix­adores estrangeiros?

— Um absurdo, né, doutor?

A primeira sen­sação que me “acode” é a de frus­tração, por saber que estes ami­gos, a exem­plo do próprio ex-​presidente, não leram o que escrevi diver­sas vezes, desde o iní­cio do seu gov­erno, sobre os vários tipos de com­por­ta­men­tos inad­e­qua­dos à frente da chefia da nação.

No iní­cio “chamando para briga” os dois out­ros poderes con­sti­tuí­dos, leg­isla­tivo e judi­ciário; e, depois, “entre­gar” o gov­erno ao primeiro-​ministro do Con­gresso Nacional, se voltar sem­pre que tinha opor­tu­nidade, con­tra o Poder Judi­ciário, como um todo – e con­tra alguns dos seus inte­grantes em par­tic­u­lar.

Com tal com­por­ta­mento “desafiou” uma das primeiras regras da sabedo­ria política, segundo muitos, lecionadas com maes­tria pelo ex-​presidente José Sar­ney, aquela que diz: “não se briga com quem veste saias: mul­her, padre e juiz”. Acho que hoje se acres­cen­taria out­ros à cat­e­go­ria de “vestirem saias”.

Durante qua­tro anos tudo que o ex-​presidente e seu entorno fiz­eram foi agredi­rem, atacarem o Judi­ciário e seus mem­bros, muitas das vezes, sem qual­quer motivo aparente ou oculto.

Quem não se lem­bra dos xinga­men­tos con­tra o min­istro Alexan­dre de Moraes, chamando-​o de canalha em coro com seus ali­a­dos em um pleno feri­ado de Sete de Setem­bro?

O min­istro Alexan­dre de Moraes talvez tenha se lem­brado disso ao pro­ferir o seu voto no jul­ga­mento na última sexta-​feira, 30 de junho.

O amigo insis­tente não se dando por ven­cido, ques­tiona: — Abdon, a reunião com os embaix­adores era motivo sufi­ciente para a dec­re­tação de ineleg­i­bil­i­dade do capitão? Não houve perseguição política por parte do judi­ciário?

O que acho dessas coisas é o inserto em um adá­gio pop­u­lar: “quem pode mais, chora menos”.

Isso para dizer que se Bol­sonaro tivesse ven­cido as eleições pres­i­den­ci­ais, estando ou não os mem­bros do judi­ciário o odiando – e com razão –, provavel­mente ele não seria cas­sado e não teria con­tra si uma ineleg­i­bil­i­dade dec­re­tada, dariam o dito pelo não dito, engoliriam o choro e ten­tariam sobre­viver mais qua­tro anos.

No aspecto estri­ta­mente legal e pelos prece­dentes da Corte Eleitoral, a decisão tem amparo.

O ex-​presidente não foi tor­nado inelegível por ter feito uma “reunião com embaix­adores”. A ineleg­i­bil­i­dade deu-​se pela uti­liza­ção de um espaço público, com estru­tura pública, servi­dores públi­cos para um ato político de cam­panha eleitoral, desafiando e ten­tando jus­ti­ficar um golpe mil­i­tar (se tivesse cor­agem para tal, o que não teve) e trans­mitindo tal ato de cam­panha por emis­sora de tele­visão ofi­cial e demais mídias, para que fos­sem repli­cadas infini­tas vezes por seus seguidores.

Os votos dos cinco min­istros que for­maram a maio­ria pela dec­re­tação de ineleg­i­bil­i­dade estão ai para serem exam­i­na­dos. Acred­ito ser de fácil com­preen­são a ver­i­fi­cação, fora das paixões, se houve ou não abuso de poder político e o uso inde­v­ido dos meios de comu­ni­cação, condições esta­b­ele­ci­das na leg­is­lação.

O que me pare­ceu, das partes do jul­ga­mento que assisti, é que a maio­ria, os cinco min­istros, estavam muito mais las­trea­dos nos seus fun­da­men­tos do que os dois out­ros que diver­gi­ram, que, ao meu sen­tir, pro­feri­ram votos sem con­vicção, um tanto quanto “enver­gonhados”, como se estivessem pre­stando um favor. Tanto assim que os seus argu­men­tos foram facil­mente “desmon­ta­dos” pelos demais min­istros.

O meu amigo insi­s­tiria: — não teria havido “despro­por­cional­i­dade”?

A lei só exige a prática da con­duta abu­siva e não a sua poten­cial­i­dade.

Quem não se lem­bra da cas­sação do casal Capibaribe, do Amapá, anos atrás, por terem doado para eleitores o valor, se não me falha a memória de R$ 26,00 (vinte e seis reais)? No caso deles, além de cas­sa­dos e perderem os mandatos foram con­sid­er­a­dos inelegíveis por oito anos.

Esse exem­plo, em meio a tan­tos out­ros, para dizer que a ineleg­i­bil­i­dade do ex-​presidente não é “um ponto fora da curva”, muitos políti­cos, gov­er­nadores, senadores, dep­uta­dos, prefeitos, vereadores, não só perderam mandatos, mas foram declar­a­dos inelegíveis por atos até menos graves do que os atribuí­dos ao ex-​presidente. Agora mesmo dezenas de políti­cos perderam os mandatos, out­ros estão em vias de perderem, por terem “frau­dado” as cotas de gênero nas eleições, em alguns casos, os eleitos nem sabiam da fraude.

Uma vez, em uma eleição munic­i­pal qual­quer, pleno domingo, me liga o ex-​deputado Mar­cony Farias: —Abdon, pre­cisas fazer algo com urgên­cia. Enquanto me recu­pero do susto ele com­pleta: — Pren­deram o Raimundo João.

No caso, o saudoso Raimundo João Sal­danha, ex-​prefeito de Rosário foi detido no dia da eleição porque ao pas­sar pela praça um pop­u­lar gri­tou pra ele: — Raimundo João, me con­segue aí R$ 5,00 (cinco reais) para que possa tomar um café na rodoviária. Ele meteu a mão no bolso, deu o din­heiro e lá estava “enquadrado” por com­pra de votos e o escritório todo mobi­lizado e “per­dendo” o domingo para soltá-​lo.

O ex-​presidente teve con­tra si dec­re­tada a ineleg­i­bil­i­dade por ter, em sen­tido genérico, vio­lado e ata­cado a democ­ra­cia brasileira. Numa daque­las situ­ações em que a “vida imita a arte” tal con­de­nação deu-​se jus­ta­mente na mesma sem­ana em que o atual pres­i­dente da República, o sen­hor Lula da Silva, com todos os erros e absur­dos que uma con­ceitu­ação pode ter, em resposta a “Rádio Gaúcha”, disse que democ­ra­cia é um con­ceito rel­a­tivo – inda­gado sobre a situ­ação política na Venezuela.

Como disse ante­ri­or­mente, o Lula é outro que abusa do dire­ito de falar besteira, muitas das vezes aten­tando con­tra a própria democracia.

Pelo adi­antado da hora e do texto, dedi­care­mos um “tex­tão espe­cial” só para tratar da rel­a­tivi­dade da democ­ra­cia na visão do nosso pres­i­dente.

Abdon C. Mar­inho é advogado.

PS. A ilus­tração genial foi “pescada” na internet.

José Reinaldo colhe tâmaras. O Maran­hão perde oportunidades.

Escrito por Abdon Mar­inho


José Reinaldo colhe tâmaras. O Maran­hão perde oportunidades.

Por Abdon C. Marinho*.

NOTICIOU-​SE, não faz muito tempo, que o pres­i­dente do país, sen­hor Lula, agen­dara a inau­gu­ração do tre­cho der­radeiro da fer­rovia norte-​sul, per­mitindo, assim que uma carga possa sair do Porto do Itaqui, no Maran­hão até o Porto de San­tos, em São Paulo, um feito real­mente extra­ordinário na estru­tura do trans­porte no brasileiro.

Para a solenidade que acon­te­ceria no Estado de Goiás – acabou sendo can­ce­lada por algum motivo climático ou outro qual­quer –, foram con­vi­da­dos o ex-​presidente José Sar­ney, que pre­sidiu o país de 1985 a 1990, período que teve iní­cio a obra; e o ex-​ministro dos trans­portes da época, respon­sável por colo­car em prática o pro­jeto de interli­gar o Brasil por via fer­roviária, José Reinaldo Tavares, ex-​governador do Maran­hão.

Ao refle­tir sobre o assunto, lembrei-​me de um antigo ditado dos povos do deserto que diz: “quem planta tâmaras, não colhe tâmaras”, uma alusão ao fato de que as tamareiras para pro­duzirem seus primeiros fru­tos no deserto lev­avam de oitenta a cem anos – hoje com as novas tec­nolo­gias de pro­dução esse tempo foi bas­tante reduzido, mas ainda é con­sid­erável.

A lem­brança deveu-​se ao fato de que, quase quarenta anos depois de ide­al­izado, o pro­jeto da fer­rovia de inte­gração nacional, final­mente, tornou-​se uma real­i­dade – depois de uma demora injus­ti­fi­cada –, pos­si­bil­i­tando aos seus ide­al­izadores, tais quais os plan­ta­dores de tâmaras, a ale­gria de col­herem os fru­tos, ou seja, de teste­munharem a con­clusão do projeto.

Antes que algum desav­isado venha ques­tionar: — Ain, Abdon, dev­e­rias dizer no título que Sar­ney colhe tâmaras e não Reinaldo.

Esclareço que a opção por Reinaldo não se trata de uma ani­mosi­dade ou injustiça ao ex-​presidente, que à época pre­sidia o país e será muito rev­er­en­ci­ado como “pai” do pro­jeto. A opção pelo ex-​governador prende-​se ao fato deste vir ded­i­cando a vida a semear tâmaras, como, aliás, dev­e­riam fazer os demais agentes públi­cos do estado e do país. Não tenho notí­cias, se exis­tem, fazem questão de man­terem seg­redo, de outro político maran­hense, além de José Reinaldo, que esteja ide­al­izando pro­je­tos – e indo atrás de recur­sos para viabilizá-​los –, pen­sando nas ger­ações futuras, para daqui a vinte, trinta, quarenta anos …

Con­forme esclareci em tex­tos ante­ri­ores – e já foram diver­sos –, o ex-​governador não fez dos car­gos que ocupou – e ainda ocupa –, um tram­polim para a “feitura” de for­tuna, tanto assim que nunca se teve notí­cias de suas fazen­das, suas man­sões, seus aviões, suas mil­hares de “cabeças de gado”, muito pelo con­trário, não faz muito, o ex-​governador virou “notí­cia” ao acudir-​se em uma casa de crédito atrás de um emprés­timo ou nego­ciar uma dívida qual­quer – situ­ação bem difer­ente de tan­tos out­ros políti­cos, que emb­ora nunca ten­ham tido qual­quer uma ativi­dade profis­sional, indus­trial ou com­er­cial pri­vada, ficaram ricos nos exer­cí­cios de car­gos públi­cos e/​ou de mandatos ele­tivos.

A situ­ação de tão nor­mal sequer causa estran­hamento quando se noti­cia que algum fato deu-​se na fazenda ou man­são de algum imberbe dep­utado, senador ou sim­ples­mente de alguém que ocupou um cargo público qual­quer. Ninguém mais se dá o tra­balho de perguntar-​se: como assim?

Vejamos o próprio exem­plo da fer­rovia norte-​sul, durante anos foi tida como “maldita”, não porque as pes­soas esclare­ci­das não soubessem de sua importân­cia para o país e prin­ci­pal­mente para o nosso estado, mas, porque sem­pre foi fonte con­stante de escân­da­los e um sum­i­douro de ver­bas públi­cas.

Uma obra, como tan­tas out­ras, que os políti­cos mais anti­gos apel­i­dam de “obras para morder”, uma alusão ao fato de nunca ter­mi­nar porque os seus respon­sáveis têm inter­esse per­pet­u­arem “gan­hos” com as mes­mas.

Jamais, nunca, nunca mesmo, uma obra tão impor­tante para o país pode­ria levar quase quarenta anos para ficar pronta, até porque, a engen­haria para con­struir fer­rovias “não é coisa de outro mundo”, estando em prática há cen­te­nas de anos em todo mundo e o relevo do Brasil não deman­dar grandes obstácu­los.

Chega a ser ina­cred­itável que façamos “fes­tas de inau­gu­ração” para rece­ber uma obra que durou quase quarenta anos quando, pode­ria ter sido exe­cu­tada em qua­tro – ou mesmo que lev­asse uma década –, e fes­te­je­mos isso. É como se estivésse­mos fes­te­jando o nosso fra­casso.

E, mais ina­cred­itável ainda, que os políti­cos que nunca se deram o tra­balho de sequer inda­gar sobre tamanha demora, apareçam por lá fes­te­jando ou com cara de “pais­agem” e, pior, sem qual­quer con­strang­i­mento.

Temos um exem­plo até mais próx­imo a ilus­trar bem o que digo: a infind­ável dupli­cação da BR 135, único acesso ter­restre a cap­i­tal, já tem mais de uma de década que foi ini­ci­ada e ainda não avançou a casa dos 100 km.

Vejam, não avançamos cem quilômet­ros em mais de uma década, uma obra rodoviária, tam­bém, sem maiores com­pli­cações. É uma ver­gonha! Como diz certo jor­nal­ista.

Enquanto isso, como no mito do manto de Pené­lope, os con­tratos de manutenção da dita BR pare­cem ser uma “aposen­ta­do­ria” a décadas ali­men­tando seus felizes ben­efi­ciários.

E a grande novi­dade dos últi­mos dias é que o órgão que cuida das estradas vai con­tin­uar em “boas mãos”.

É com imensa tris­teza que “não vejo” os homens públi­cos do estado “brigarem” pelo pro­gresso do Maran­hão, pelo nosso desen­volvi­mento, por grandes pro­je­tos que tragam desen­volvi­mento e pros­peri­dade para todos, não con­seguimos assi­s­tir uma “hege­mo­nia” política a favor do estado, pelo con­trário, o que vemos são brigas, públi­cas ou ínti­mas, entre eles por espaços de poder, que para o con­junto da pop­u­lação brasileira e local, nada sig­nifica.

Não é fulano man­dar mais que sicrano que inter­essa ao cidadão na linha de pobreza extrema, no degrau mais baixo na escada de desen­volvi­mento, não é isso que impacta sua vida. Essa brigal­hada infe­liz só inter­essa aos próprios políti­cos sem nen­huma visão e aos pseu­dos escribas que “gan­ham” seus dias escrevendo sobre bobagens.

Quan­tas décadas de desen­volvi­mento econômico o Maran­hão não perdeu caso a fer­rovia norte-​sul tivesse sido con­cluída no tempo certo? Se por­tos no Itaqui ou em Alcân­tara tivessem fica­dos pron­tos? Se estivésse­mos com políti­cos empen­hados na real­iza­ção de grandes pro­je­tos de desen­volvi­mento ou invés de estarem nas eter­nas “brigas” pela emenda da prac­inha, da estrada vic­i­nal, etc? Qual seria a posição do Maran­hão nos índices de desen­volvi­mento econômico e social se estivésse­mos a pleno vapor na uti­liza­ção das nos­sas poten­cial­i­dades?

Agora mesmo, quando pos­suí­mos tan­tas posições de destaque na estru­tura de poder do gov­erno fed­eral, no leg­isla­tivo e até no judi­ciário, não temos notí­cias de uma “união” dessas autori­dades para o desen­volvi­mento do nosso estado, pelo con­trário, as noti­cias são que “estão de mal”, brig­ando pelo “car­rinho que­brado” ou por alguma “pan­ela furada”, quando dev­e­riam tra­bal­har pela implan­tação de grandes pro­je­tos econômi­cos como forma de “aliviar” o imenso sofri­mento do povo maran­hense, sem­pre ocu­pando as últi­mas posições em tudo que é indi­cador.

O MARAN­HÃO perde opor­tu­nidades mesmo quando as autori­dades não estão em cam­pos opos­tos ou dis­putando as mes­mas “raias da política”.

A impressão que tenho é que pade­cem de alguma dis­função que os deixam inca­pac­i­ta­dos a com­preen­derem que o pro­gresso, até do ponto de vista da política, seja local ou nacional, é fun­da­men­tal para suas ambições.

O Sar­ney, mesmo quando pres­i­dente, nunca deixou de levar con­sigo a “pecha” de ser ori­undo do estado mais atrasado do país, assim o foi, tam­bém, nas diver­sas vezes que foi senador da República e pres­i­dente do Senado.

Quase quarenta anos depois de Sar­ney ter ascen­dido ao cargo mais ele­vado país – não por culpa “só” dele –, o Maran­hão segue na mesma posição, na “rabeira” da fila de “tudo”. Os políti­cos do esta­dos rep­re­sen­tam o povo e o estado mais mis­erável da fed­er­ação.

Esse índice, que não é meu, mas do IBGE, dev­e­ria nortear o com­por­ta­mento de toda a classe política, faz­erem se per­gun­tar todos os dias ao se olharem no espelho enquanto esco­vam os dentes, o que estão fazendo ou farão para mudar tamanha ver­gonha.

Ver­dadeiros estadis­tas não se con­tentam em faz­erem algo com resul­tado ime­di­ato, pen­sando no amanhã ou na próx­ima eleição, mas, sim, tra­bal­ham no sen­tido traz­erem bene­fí­cios e pro­gresso para as ger­ações futuras, tal qual fazem os plan­ta­dores de tâmaras, eles têm con­sciên­cia que jamais com­erão o fruto daquela árvore que plan­tou, mas sabem que alguém, no futuro, vai comer e agrade­cer aquele que a plan­tou.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.