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Ode ao ladrão.

Escrito por Abdon Mar­inho


Ode ao Ladrão.

Por Abdon C. Marinho*.

O ladrão que trato na pre­sente crônica não é aquele a quem os reis (ou o povo) entregam as admin­is­trações das provín­cias ou mesmo aque­les que se ocu­pam de espre­itar os ban­his­tas para roubar-​lhes as vestes, ou que fam­intos, roubam o pacote de bis­coito ou um quilo de carne, con­forme nos faz lem­brar Vieira** no ser­mão do “Bom ladrão”.

O ladrão a que me refiro é aquele em quem você con­fiou, ou trouxe para perto de si, ou que é seu con­hecido, ou aquele lhe rouba o celu­lar, o salário do mês e ainda o chama de vagabundo, quando é ele o vagabundo.

O ladrão que trato é tam­bém aquele a quem esten­destes a mão em uma difi­cul­dade e até o teve por irmão.

O ladrão a que me refiro nessa crônica de ficção é aquele que tu jul­gastes mere­ce­dor de con­fi­ança e lhe deu crédito que ele jamais teve.

O ladrão que trato não é um ladrão deter­mi­nado, mas muitos e inde­ter­mi­na­dos podem vestir a cara­puça que lhe será con­fortável.

O ladrão é um ser desprezível, asqueroso, imundo, repug­nante, nojento, petu­lante, debochado, sujo, abjeto, infame, torpe, sór­dido, fétido …

O ladrão não tem qual­quer pre­ocu­pação com os danos que causa as pes­soas ao seu redor – ou de qual­quer lugar do mundo –, con­heci­das ou não.

O ladrão não liga se está cau­sando sofri­mento as cri­anças, mul­heres, enfer­mos, as famílias.

O ladrão sequer se pre­ocupa se os seus atos prej­u­dicam a sua própria família – se a tiver.

O ladrão não está “nem aí” se dos seus atos decorre a destru­ição dos son­hos das pes­soas, pois ele próprio não pos­sui sonho algum.

O ladrão se aprox­ima de ti na “maciota”, fin­gindo ser bom moço, ter sen­ti­men­tos nobres, famil­iares, tudo para des­per­tar uma certa empa­tia – isso até con­seguir o que quer.

O ladrão, em ver­dade, não tem empa­tia por nada além dos próprios inter­esses sub­al­ter­nos, mesquinhos …

O ladrão não ama a natureza, as pes­soas (só as quer para usar), os ani­mais, ou qual­quer ser vivente.

O ladrão é nar­ci­sista, ele se acha o máx­imo quando na ver­dade não é nada, quando se faz a apu­ração da sua vida vê-​se que nunca fez a difer­ença na vida de ninguém, entrou e saiu da vida sem deixar nada de útil para a posteridade.

O ladrão cul­tiva o ódio às mino­rias, às difer­enças, ao ser humano … pois ele próprio não sabe o que seja humanidade.

O ladrão é vai­doso chegando a orgulhar-​se da própria indigên­cia do seu caráter (ou seria da ausência?).

O ladrão é tam­bém um inve­joso. A mín­gua de con­quis­tar as coisas por seus próprios méri­tos, tenta – e as vezes con­segue –, roubar aquilo que é seu objeto de desejo.

O ladrão quer a sua vida. Ele inveja seu sucesso, seu tal­ento, suas amizades, suas conquistas.

O ladrão tem como uma das prin­ci­pais e primeiras mis­sões ten­tar con­quis­tar teus ami­gos, até chegar ao ponto de pro­por a eles que lhe deem uma “rasteira”.

O ladrão se não con­segue o seu intento ante­rior passa a ter esses ami­gos como tam­bém seus inimi­gos e passa a tra­bal­har para roubá-​los.

O ladrão é um infe­liz que não se pre­ocupa com os próprios riscos que corre no mal­ogro de suas tentativas.

O ladrão é um Midas reverso, tudo que ele toca, mesmo ouro, con­segue trans­for­mar em m… .

O ladrão não tem tal­ento para escr­ever, por isso se ocupa em criticar os escritos alheios, à procura de um erro de grafia ou de uma vír­gula ou ponto fora de lugar.

O ladrão não tem tal­ento para ler nada além dos man­u­ais de tra­paças ou as biografias dos trapaceiros.

O ladrão não tem tal­ento para os negó­cios pois não con­segue, sequer, ser um “ban­dido hon­esto”, estando sem­pre ocu­pado em “pas­sar a perna” em quem lhe con­fiou qual­quer coisa.

O ladrão não con­hece a arte, a lit­er­atura, a música, nada que o faça cul­ti­var bons sentimentos.

O ladrão não tem ami­gos, nen­huma amizade duradoura, no seu entorno só pros­peram os sabu­jos, adu­ladores e parasitas …

O ladrão não tem amizades porque é inca­paz de cul­ti­var bons sen­ti­men­tos estando sem­pre a espre­ita para aplicar um novo golpe em quem come­teu a ingenuidade de lhe confiar.

O ladrão é tão vigarista que quando não con­segue ninguém para roubar tenta roubar de si próprio.

O ladrão é inca­paz de agir com qual­quer escrúpulo, guia-​se pelos man­u­ais de tra­paça e de con­tratos fajuto, pouco lig­ando para o brio e o peso da palavra dada.

O ladrão não sabe o que é pejo, não sabe o sig­nifi­cado de caráter ou de decên­cia ou da antiga e pouco usual ver­gonha na cara.

O ladrão só se pre­ocupa em se “dar bem”, seja roubando um mil­hão ou mesmo um tostão.

O ladrão é tam­bém um covarde, ao roubar tudo de todos, no fim está em busca de alguém que dê cabo a sua vida de crimes.

O ladrão é inca­paz de assumir suas próprias respon­s­abil­i­dades por isso tenta roubar a vida de alguém junto com a sua.

O ladrão que é inca­paz de ir a guerra ou de qual­quer outro gesto de grandeza busca “matar”, tirar as vidas alheias com suas tor­pezas.

O ladrão de tão infame jamais con­seguirá lam­ber os pés daque­les a quem rouba.

O ladrão imag­ina que o hábito de roubar lhe con­fere outro sta­tus além do que mis­er­av­el­mente já é: ladrão.

*Abdon C. Mar­inho é advo­gado, escritor e cro­nista.

** Padre Antônio Vieira (Lis­boa, Por­tu­gal, 16081697, Sal­vador, Brasil).

Post Scrip­tum (P.S.) — iden­ti­fique o ladrão que con­hece e atrasa sua vida e o coloque no espaço da fotografia.

Out­ros que se iden­ti­fi­carem podem colo­car a própria imagem ou onde tem ladrão colo­car o nome.

A MEMÓRIA ME TRAIU OU A AMIZADE DE DEUS E ABRAÃO

Escrito por Abdon Mar­inho

A MEMÓRIA ME TRAIU OU A AMIZADE DE DEUS E ABRAÃO.

Abdon C. Marinho*.

COMO sabem, escrevo de memória.

É assim: após o café da manhã me instalo na poltrona pen­sadora, abro a tela do tablet e começo a escr­ever con­fiando uni­ca­mente na memória, nas lem­branças, sem qual­quer pesquisa. Uma ou duas horas depois, o tex­tão do fim de sem­ana está pronto para ser publicado.

No último final de sem­ana no texto Palestina ≠ Hamas ≠ Israel cometi um equívoco (já cor­rigido) que foi dizer que Ló inter­ced­era junto a Deus pela não destru­ição de Sodoma/​Gomorra e não Abraão, como seria o cor­reto.

Neste caso a memória me traiu duas vezes.

Cerca de dez ou quinze min­u­tos após a pub­li­cação do texto, minha sobrinha Már­cia Mar­inho me apon­tou o equívoco. Como estava andando pelo sítio acabei esque­cendo de fazer a cor­reção que só fiz ontem após rece­ber men­sagem do colega Eli Medeiros apon­tando o mesmo equívoco no texto.

A ambos meus sin­ceros agradecimentos.

Na ver­dade, como sabe­mos Deus era “chapa” de Abraão, daque­les de sen­tar na varanda de casa e ficarem levando um papo enquanto Sara prepar­ava o cafez­inho para ambos.

No episó­dio, em sen­tido reverso, que usei para criticar a matança indis­crim­i­nada de inocentes em Gaza, sobre­tudo, cri­anças, mul­heres, idosos e enfer­mos por Israel na sua guerra con­tra o grupo ter­ror­ista Hamas, deu-​se o seguinte:

Vis­i­tava Deus os ‘parças’ Abraão e Sara e após dizer que a última engravi­daria em breve, ape­sar da idade avançada, fazendo com que Sara risse Dele – viram o grau de intim­i­dade? Quando Deus disse que Sara ficaria grávida, ela pois-​se a rir de suas palavras. Tipo assim: –– conta outra bar­budo –, começaram a con­ver­sar sobre a situ­ação de Sodoma e Gomorra, enquanto Sara fora a coz­inha preparar o café.

Deus anun­ciou que lançaria os mís­seis mais potentes para destruir as duas cidades.

Tendo Abraão pon­der­ado: –– Destru­irás o justo com o ímpio (em lin­guagem atual: tu vai destruir os inocentes junto com os culpados?).

Veja a intim­i­dade de Abraão era tão grande que ele o chamava de tu.

E con­tin­uou Abraão: –– Se por­ven­tura hou­ver cinquenta jus­tos na cidade, destru­irás tam­bém e não pouparás o lugar por causa dos cinquenta jus­tos que estão den­tro dela? Longe de ti que faças tal coisa, que mate o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o juiz de toda a terra?

Veja que Abraão deu uma “chamada” em Deus, chamando-​o à razão. Dizendo ser injusto que cul­pa­dos e inocentes fos­sem punidos jun­tos.

Deus pen­sou, viu que o ‘parça’ Abraão estava certo, disse: –– Tá bom, se eu achar em Sodoma cinquenta inocentes, por conta deles não lançarei os mís­seis destruidores.

Abraão, já certo que vencera, o “barba” na argu­men­tação de fundo, foi além: –– já que disse o que penso, con­tinuo a dizer: Se não forem cinquenta, mas ape­nas quarenta e cinco, pela falta de cinco destru­irás a cidade.

Deus respon­deu: –– Está bem, Abraão, não lançarei os mís­seis se achar ali quarenta e cinco.

Abraão: –– e se forem quarenta?

Deus: –– não lançarei os mís­seis por causa dos quarenta inocentes.

Abraão: –– e se forem trinta os inocentes?

Deus: –– não lançarei os mís­seis por causa desses trinta.

Abraão: –– e se forem ape­nas vinte?

Deus: –– não lançarei os mís­seis de fab­ri­cação amer­i­cana por causa desses vinte.

Abraão insis­tiu: –– brother, des­culpa a “apor­rin­hação”, vai que só encon­tre ali dez inocentes?

Deus: –– cabra tu estás chato, tá bom, se achar os dez inocentes não lançarei os mís­seis, vou man­dar verificar.

Foi a hora que Sara chegou com o café, Deus tomou uma xícara com uma broa de milho, se des­pediu do casal e foi cuidar dos seus afaz­eres – que já eram muitos.

Dias depois foi que man­dou os anjos fazer o censo dos inocentes de Sodoma/​Gomorra e foram acol­hi­dos por Ló.

Não tendo os anjos recenseadores encon­tra­dos os inocentes que Abraão imag­i­nara que tivesse, e ainda ten­taram “pas­sar” os mes­mos, Deus lançou ataques vio­len­tos com todos os mís­seis que pos­suía no arse­nal celes­tial, não deixando sequer vestí­gios das cidades.

Ape­nas Ló e suas fil­has se sal­varam. Enquanto fugiam para as mon­tan­has ou out­ras ter­ras dis­tantes já que as cidades não eram cer­cadas, a esposa de Ló olhou para trás e foi con­ver­tida em uma estátua.

Con­forme disse no texto ante­rior, Deus só lançou os seus mís­seis após a ver­i­fi­cação “in loco” da inex­istên­cia de inocentes.

O que ocorre nos dias atu­ais é que o exército judeu, difer­ente do que tanto cobrou Abraão de Deus, estão mirando nos inocentes e não nos cul­pa­dos.

É o con­trário do acordo cel­e­brado naquela tarde entre Deus e Abraão (o pai de todos eles) enquanto aguar­davam o café de Sara.

Outro “parça” que tem tudo a ver com os con­fli­tos dos nos­sos tem­pos foi Moisés. Mas nesse caso Deus teve sua parcela de responsabilidade.

Como escrevo “de memória” como dito acima, só lem­bro de dois caras que tiveram intim­i­dade com Deus a ponto de con­ver­sarem cara a cara, ou como se dizia antiga­mente, na face do Sen­hor: Abraão e Moisés.

Só que no tempo de Abraão Deus tinha mais tempo, podia ficar uma tarde inteira tro­cando umas ideias com ele, dis­cutindo sobre as coisas terrenas.

Já no tempo de Moisés o trampo estava mais pux­ado. Já haviam con­fli­tos por todos os lados, Deus já pen­sando em destruir tudo e começar de novo.

Deus já não tinha tanto tempo e para agravar a situ­ação Moisés era gago.

Imag­ine, você cheio de coisas para fazer e pre­cisar fazer uma reunião com o gago para passar-​lhe uma con­sti­tu­ição inteira.

Por isso que só saíram os dez man­da­men­tos dita­dos por Deus a Moisés.

A respon­s­abil­i­dade div­ina nos episó­dios recentes deu-​se pela falta de tempo de Deus e pela gagueira de Moisés.

Quando Deus salvou os hebreus do cativeiro no Egito – os fazendo vagar por quarenta anos pelo deserto –, Moisés subiu no monte para rece­ber a con­sti­tu­ição do povo, que como disse, Deus só teve tempo de ditar os dez man­da­men­tos, mandando-​o se virar com o resto das leis.

Pois bem, naquela opor­tu­nidade, após pas­sar ditar a con­sti­tu­ição, Deus dirigiu-​se a Moisés e indagou: –– Ok, Moisés, já os tirei do cativeiro, já te ditei a con­sti­tu­ição, agora me diz ai para onde queres que mande o seu povo?.

Moisés começou: –– ca-​ca, ca-​ca…

Deus, sem tempo, foi no mais rápido: –– certo Moisés, todo mundo para Canaã.

E foi cuidar dos out­ros conflitos.

Na ver­dade Moisés que­ria dizer Canadá.

Por conta dessa falta de comu­ni­cação, dessa impaciên­cia div­ina temos esse con­flito todo.

Como os ami­gos devem saber, esse texto é uma crônica, não tomem ao “pé da letra” mas tem fundamento.

A atual guerra me fez recor­dar, tam­bém, a série de debates que travei com o saudoso amigo Wal­ter Rodrigues por conta das diver­sas “inti­madas” ocor­ri­das antes de sua morte. Todas elas, claro, nem de longe, tão vio­len­tas quanto a atual, o que per­mi­tia ao amigo dizer, entre a pil­héria e a pre­ocu­pação: –– Abdon, em todo o Ori­ente Médio não existe uma única pedra que ainda não tenha sido ati­rada uns con­tra os out­ros.

Saudosas e tristes memórias.

Abdon C. Mar­inho é advogado.

Palestina ≠ Hamas ≠ Israel.

Escrito por Abdon Mar­inho


PALESTINAHAMASISRAEL.

Por Abdon C. Marinho*.

NAS TRÊS PALAVRAS do título o essen­cial é o que se encon­tra entre elas, um sím­bolo matemático pouco usual e quase esque­cido pelos alunos do fun­da­men­tal: o sinal de difer­ente.

Talvez essa defi­ciên­cia no con­hec­i­mento dos sím­bo­los matemáti­cos ou mesmo gra­mat­i­cais faça com que sejamos obri­ga­dos a ouvir, a ler tan­tas sandices em torno de questões sérias e com­plexas.

Outro dia um senador da República, ex-​juiz, que rep­utava pos­suir con­hec­i­men­tos mesmo que de nível fun­da­men­tal, pos­tou uma charge que chamou de “per­feita”, onde, segundo ele, resumiu toda a situ­ação judaico-​palestina.

Soube depois que até deu uma entre­vista onde con­fir­mava su ignorân­cia sobre o tema histórico e até mesmo sobre dire­ito, assunto que imag­i­nava que con­hecesse.

O pre­ten­sioso se achou no dire­ito de resumir três mil anos de história em uma charge e em meia dúzias de palavras que nem de longe pas­sam perto da essên­cia do que se dev­e­ria dis­cu­tir no momento: a perda de vidas inocentes.

Essa ignorân­cia é bem própria dos nos­sos dias, o indi­ví­duo “escolhe” um lado e o “seu” lado pode fazer o que quiser, o que lhe der na “telha” sem pre­cisar se jus­ti­ficar ou dar qual­quer jus­ti­fica­tiva.

A mídia oci­den­tal assim como muita gente boa vem divul­gando a guerra entre Israel e o Hamas. Só que essa guerra não vem sendo travada con­tra o Hamas, mas sim con­tra o povo palestino que é difer­ente (≠) do Hamas.

O Hamas é um grupo ter­ror­ista que pos­sui cerca de vinte mil inte­grantes de diver­sas nacional­i­dades, não ape­nas palesti­nos, que tomou o poder – medi­ante eleições –, e com o apoio direto e indi­reto (inclu­sive finan­ceiro) de Israel que que­ria (e quer) enfraque­cer a Autori­dade Palestina e assim “enter­rar” o sonho de um Estado Palestino con­forme foi definido pela Orga­ni­za­ção das Nações Unidas — ONU, em 1947, através da Res­olução 158 (se não me falha a memória) que esta­b­ele­ceu que naquele ter­ritório dev­e­riam exi­s­tir dois países: Israel e Palestina.

Desde 1948, quando foi insta­l­ado o Estado de Israel que a região vive em con­stantes guer­ras e con­fli­tos. Sejam eles provo­ca­dos pelos palesti­nos, pelos países viz­in­hos, seja pelo próprio Estado de Israel, que a cada guerra aumenta seu ter­ritório em detri­mento dos povos palesti­nos, con­forme mostra clara­mente os mapas que ilus­tram esse texto.

Nesse clima de guerra con­stante vice­jam os gru­pos terroristas.

O Hamas é um desses gru­pos ter­ror­is­tas, repito, que foi “ban­cado” durante décadas por diver­sos países, inclu­sive por Israel (direta e indi­re­ta­mente para enfraque­cer a Autori­dade Palestina e o seu par­tido político no poder na Cisjordânia).

Esse grupo ter­ror­ista ata­cou Israel em 07 de out­ubro p.p., de forma covarde, infame, e todas out­ras adje­ti­vações exis­tentes, inclu­sive com o seque­stro de duas cen­te­nas de israe­lenses, mul­heres, idosos e até mesmo cri­anças.

No mesmo ataque ter­ror­ista esse grupo ter­ror­ista matou mais de mil cidadãos israe­lenses e alguns de out­ras nacional­i­dades, inclu­sive, brasileiros.

Pois bem, sendo Hamas um grupo ter­ror­ista, como é um con­senso quase global e Israel um estado nacional recon­hecido por quase todos países do mundo, sig­nifica dizer que Israel é difer­ente (≠) do Hamas, logo, como tal, não pode se valer dos méto­dos do Hamas, ou seja, do ter­ror­ismo para combatê-​lo.

É essa lóg­ica bem sim­ples, fun­da­men­tal até, que muitos pelos motivos mais canal­has fin­gem descon­hecer e a igno­rar.

O preço de ser recon­hecido como estado sober­ano, com todos os dire­itos esta­b­ele­ci­dos na carta das Nações Unidas é que você pre­cisa submeter-​se as leis do dire­ito inter­na­cional, sobre­tudo o dire­ito da guerra quando no exer­cí­cio da chamada “autode­fesa”.

Essa é a questão essen­cial. Ninguém diz que Israel não tem o dire­ito à autode­fesa que é uma pre­rrog­a­tiva das nações recon­heci­das esta­b­ele­cido na Carta da ONU, o que se diz é que esse dire­ito pre­cisa ser exer­cido den­tro da lei.

O Estado de Israel tem todo o dire­ito de ir atrás do grupo ter­ror­ista, mata-​los em con­fronto, prendê-​los, julgá-​los e condená-​los.

O que não pode fazer é usar do seu pode­rio mil­i­tar extra­or­di­nar­i­a­mente supe­rior para ater­rorizar e matar pes­soas que nada fiz­eram con­tra o Estado de Israel, impondo deslo­ca­men­tos força­dos, destru­indo casas, pri­vando as pes­soas de elet­ri­ci­dade, ali­men­tos e até água.

Essa estraté­gia de guerra viola todos trata­dos de guerra e por isso é crim­i­nosa.

É dizer, repito, um estado nacional por mais razão que tenha em qual­quer de suas pre­ten­sões não pode agir como um grupo ter­ror­ista, vem aí ele nova­mente: Israel ≠ Hamas.

Infe­liz­mente, desde que essa guerra começou, com a conivên­cia de muitas nações, de muitos “cidadãos de bem”, Israel vem agindo como se não fosse difer­ente do Hamas ou como se não tivesse respon­s­abil­i­dade como nação recon­hecida que é: Israel = Hamas.

A Faixa de Gaza, o enclave ou a prisão a céu aberto onde se encon­tram “con­fi­na­dos”, apri­sion­a­dos dois mil­hões e meio de palesti­nos, tem mais da metade de sua pop­u­lação con­sti­tuída por cri­anças e ado­les­centes com menos de 18 anos, uma outra parte for­mada por mul­heres e idosos.

É sobre essas pes­soas que pesa mais o braço forte de Israel. Nas fotografias de agên­cias inter­na­cionais vemos cri­anças com sem­blante apa­vo­rado, mul­heres em deses­pero fug­indo de um lado para outro e sem encon­trar segu­rança nen­huma onde quer que vão, com os poucos per­tences em saco­las e deixando para trás suas casas, seu patrimônio e o pouco que con­seguiram ameal­har.

A maio­ria dos que pere­ce­ram nessa guerra até aqui são cri­anças e mul­heres, assim como os feri­dos que estão sendo sub­meti­dos a pro­ced­i­men­tos cirúr­gi­cos à luz de lanter­nas e sem aneste­sia.

Isso sem con­tar a fome, a falta d’água, a escuridão.

Esse é o nível de sofri­mento a que está sendo sub­metida uma pop­u­lação inocente diante dos olhos do mundo e da cumpli­ci­dade de muitos.

Não entendo como isso possa ser chamado de dire­ito de autode­fesa.

Um dos princí­pios mais caros do dire­ito é aquele que diz que pena não pode pas­sar da pes­soa do con­de­nado.

A pop­u­lação de Gaza está sendo punida, ater­ror­izada, tor­tu­rada, sobre­tudo, mul­heres, cri­anças e idosos por crimes que não come­teram. Isso é ver­gonhoso.
A humanidade que assiste a tudo isso cal­ada e na maio­ria das vezes con­cor­dando dev­e­ria ter ver­gonha de se olhar no espelho.

Cri­anças, mul­heres, idosos, doentes, defi­cientes, etc., não podem ser mas­sacra­dos por crimes que não come­teram.

Um estado nacional, recon­hecido como tal, não pode utilizar-​se da estraté­gia do ter­ror­ismo para mino­rar os efeitos de suas próprias incom­petên­cias e estratégias.

Os bons cristãos daqui e do resto mundo dev­e­riam lem­brar da história de Ló, o sobrinho de Abraão. Pois con­sta do livro do Gêne­sis que Abraão inter­cedeu a Deus pela não destru­ição das cidades gêmeas de Sodoma e Gomorra, tendo Ele dito que não as destru­iria se den­tre seus habi­tantes encon­trasse os inocentes, o que não se deu deu – salvando-​se ape­nas Ló e as fil­has, já que mul­her dele olhara para trás e virara uma está­tua de sal.

Vê-​se, cristãos, que no atual con­flito em Gaza os inocentes pere­cem bem mais que os maus, o que viola o pacto sagrado. E vós sois sabedores disso.

Um outro princí­pio básico do dire­ito é que mel­hor um cul­pado solto do que um inocente preso (ou morto).

Ape­nas os infames acham que a perda de vidas humanas, de cri­anças inocentes, de mul­heres, enfer­mos e idosos são “efeitos colat­erais da guerra”.

Não são, ainda mais quando assis­ti­mos, todos os dias, todas as horas, que estes inocentes são os alvos da guerra porque essa não está escol­hendo alvos, os civis são as víti­mas, são os alvos.

Ao dar­mos razão a isso podemos dizer que Herodes estava certo quando, para evi­tar que Cristo se tor­nasse rei dos judeus, man­dou matar todas as cri­anças nasci­das naque­les tem­pos e que tivessem até dois anos de idade.

Encerro dizendo que sob qual­quer argu­mento, ético, moral, político, reli­gioso não é jus­ti­ficável o mas­sacre de inocentes.

Ao aceitar­mos e, até mesmo, jus­ti­fi­car­mos isso é porque esta­mos per­dendo o sen­tido de humanidade.

Esta­mos dizendo que Palestina = Hamas = Israel.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.