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A grande bobagem do debate comu­nista no Brasil.

Escrito por Abdon Mar­inho

A grande bobagem do debate comu­nista no Brasil.

Por Abdon C. Marinho*.

QUANDO li o “O nome da Rosa”, magis­tral obra do ital­iano Umberto Eco, ainda em mea­dos dos anos oitenta, fi-​lo na per­spec­tiva, tão somente, de uma obra literária, era um ado­les­cente que lia tudo e com uma enorme voraci­dade, muitas vezes pegava um livro que se “punha de pé” e lia-​o de uma só assen­tada. Foi assim com a obra em referência.

Anos depois, já no final dos anos noventa ou iní­cio dos anos dois mil, deba­tia com o amigo Wal­ter Rodrigues sobre tal obra e sobre out­ras e ele me mostrou uma outra per­spec­tiva da obra. Segundo ele, a obra era uma refer­ên­cia a diver­sas out­ras obras, cada per­son­agem tinha uma razão de ser, por exem­plo, o bib­liotecário cego seria uma hom­e­nagem ao poeta, escritor e crítico literário argentino Jorge Luis Borges, o fran­cis­cano inves­ti­gador William de Baskerville, seria uma uma hom­e­nagem a obra “O Cão dos Baskervilles”, um dos livros mais famosos de Sir Arthur Conan Doyle.

Pois bem, decor­ri­dos tan­tos anos e após a con­versa com WR, peguei o livro nova­mente para ler. Deu-​se que o livro já não era o mesmo e que eu já não tam­bém o mesmo. Éramos como dois estran­hos que se encon­travam pela primeira vez.

Essa lem­brança assaltou-​me a mente diante da “pro­fusão” de debates em torno da ideia do Brasil vir a tornar-​se um país comu­nista.

Leio, inclu­sive, que uma pesquisa suposta­mente séria informa a pat­uleia que 52% (cinquenta e dois por cento) dos brasileiros acred­i­tam nessa pos­si­bil­i­dade, sendo que destes, 72%(setenta e dois por cento) são pes­soas que votaram nos can­didatos vin­cu­la­dos à oposição.

Para com­ple­tar o fes­ti­val de bobagens que tomam de conta do país o pres­i­dente da República em dis­curso recente disse da sua enorme ale­gria ao con­seguir colo­car “pela primeira vez na história desse país” um min­istro “comu­nista” na Suprema Corte.

Foi o sufi­ciente para “incen­diar” as mentes mais férteis nos dois espec­tros políti­cos que “ninguém” con­seguem fazer descer do palanque.

De um lado, os esquerdis­tas “mio­los de pote” fes­te­jando o fato de ter­mos um min­istro “comu­nista” no STF; de outro a turma dire­itista, zan­gada e esfre­gando as mãos, e dizendo: — eu não disse? Daqui a pouco o Brasil será uma Venezuela.

Como podemos teste­munhar, a tolice parece que não escolhe lado.

O nomeado (com data para tomar assento no STF a par­tir de fevereiro de 2024) tendo saído da mag­i­s­tratura em 2006 para dis­putar mandato ele­tivo enten­deu de filiar-​se no Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB, e sem­pre sus­ten­tou desde então que seria um “comu­nista, graças a Deus”. Mesmo em debates sérios, entre­vis­tas para imprensa nacional fez questão de sus­ten­tar essa con­tradição histórica de ser (ou ter sido, já que impe­dido dora­vante), um “comu­nista, graças a Deus”, indo além, por assim dizer que o comu­nismo é um “valor” cristão e tudo mais que vem no combo: Cristo seria comu­nista, que comu­nismo é viver em comunhão e tudo mais.

Todas essas bobagens primárias que de tão incon­gru­entes são como se não exis­tentes.

Sem­pre que me deparo com esse tipo de debate, de deter­mi­nadas pes­soas se dizendo que são (ou foram) comu­nistas, ainda mais quando com­ple­tam com o viés cristão, me recordo da Viúva Porcina, do clás­sico de Dias Gomes, Roque San­teiro, aquela “que era sem nunca ter sido”.

Assim, o efeito que tem ouvir deter­mi­nadas pes­soas diz­erem que são comu­nistas tem o mesmo sig­nifi­cado que teria diz­erem que são fla­men­guis­tas, vas­caí­nas ou botafoguense, etc., quando escuto respondo: — prazer, torço para o Íbis, de Per­nam­buco.

Foi com esse pen­sa­mento na cabeça, como dito, que me assaltou a lem­brança dos dois livros “O Nome da Rosa” e dos dois “eus”, pois quando estudei, ainda no primário, sobre o Comu­nismo como dout­rina política e como mod­elo econômico, o tín­hamos como mate­ri­al­ista e diabético.

O Comu­nismo tem como obje­tivo a con­strução de uma sociedade igual­itária para alcançar esse fim passa-​se por alguns “está­gios”: o fim da pro­priedade pri­vada; a cole­tiviza­ção dos meios de pro­dução; a cole­tiviza­ção da pro­dução; o fim da luta de classes; a sociedade sem classes; a extinção do Estado; e o Inter­na­cional­ismo.

Ora, para alguém se dizer comu­nista ou para ser con­sid­er­ado um comu­nista, um defen­sor de tal ide­olo­gia é necessário que defenda, viva ou lute para a imple­men­tação dos obje­tivos acima, pois essa é a essên­cia do comu­nismo como dout­rina política ide­ológ­ica.

Se não faz nada disso não é comu­nista coisa nen­huma é ape­nas tolo.

Não con­sta em lugar nen­hum que esse ou aquele político brasileiro da atu­al­i­dade defenda tais ideias.

Essa bobagem de que o comu­nismo seria uma “ver­tente” do cris­tian­ismo é ape­nas uma tolice que já foi des­men­tida inúmeras vezes pela Igreja Católica (não sei se as protes­tantes tam­bém o fiz­eram), inclu­sive pelo Santo João Paulo II.

E nem pre­cisava.

A dout­rina comu­nista se sus­tenta no mate­ri­al­ismo histórico com todos os acon­tec­i­men­tos da história sendo deter­mi­na­dos pelos fatores econômi­cos.

Ora, o mate­ri­al­ismo é o oposto da fé cristã que recon­hece a existên­cia da alma humana aberta a transcendência.

E tanto isso é ver­dade que os seus ide­al­izadores tin­ham na fé o ópio do povo a impedir a luta de classes e a supressão do Estado com todas suas con­se­quên­cias.

Essas “incom­pat­i­bil­i­dades” de se dizer comu­nista e ao mesmo tempo cristão são bem palpáveis nos países que implan­taram o comu­nismo em suas várias ver­tentes, em todos eles, em maior ou menor escala, tive­mos a repressão a fé do povo.

Poderíamos escr­ever lau­das e lau­das sobre esse assunto, porém, entendo que não faz qual­quer sen­tido, em pleno século XXI que se retorne a esse tipo de debate no Brasil.

Cog­i­tar ou defender tais ideários não tem cabi­mento nem como debate acadêmico. Não passa de tolice, como, aliás, já disse mais de uma vez.

Ao meu sen­tir o país só perde tempo com debates inócuos de ide­ol­o­gismo tolo que não nos leva lugar nen­hum. Não con­tribui com edu­cação, com a saúde, com o cresci­mento econômico, com as políti­cas públi­cas que sir­vam para mudar a vida das pes­soas.

Abdon C. Mar­inho é advogado.

A Mera Coin­cidên­cia de Maduro.

Escrito por Abdon Mar­inho

(Mapa da América do Sul de 1805).

A Mera Coin­cidên­cia de Maduro.

Por Abdon C. Marinho*.

FAL­TAVA POUCOS dias para as eleições amer­i­canas quando um escân­dalo eclodiu em pleno Salão Oval da Casa Branca: o pres­i­dente teria “bulido” em uma menina que vis­i­tava aquela sede de governo.

Com um escân­dalo sex­ual de tamanha monta, pres­i­dente e asses­sores não vêem muita chance de reeleição. Diante disso, um dos seus asses­sores entra em con­tato com um pro­du­tor de Hol­ly­wood para que este invente uma guerra na Albâ­nia que serviria para desviar as atenções do escân­dalo e cap­i­talizar politi­ca­mente o can­didato à reeleição.

Esse é o fio con­du­tor da comé­dia Wag the Dog, de Barry Levin­son, de 1997. No elenco, mon­stros sagra­dos do cin­ema mundial, como Robert De Niro, Dustin Hoff­man, Kirsten Dunst, Woody Har­rel­son. Para abril­han­tar ainda mais a película, tem uma par­tic­i­pação do can­tor Willie Nelson.

No Brasil, o filme lançado em 1998, rece­beu o nome “Mera Coin­cidên­cia” e o foi o dileto amigo Ader­son Lago, quando nos prepará­va­mos para o embate eleitoral daquele ano que me aler­tou para o mesmo: — ah, Abdon, assisti um filme muito bom, ótimo. Tu não podes perder. Antes que tivesse tempo ou dis­posição para assi­s­tir, me recomen­dou o filme umas três vezes, quase sem­pre acres­cen­tando alguns detal­hes.

Assisti, gostei, recomendo esse clás­sico de 1997, prin­ci­pal­mente para aque­les gostam de “casar” uma comé­dia leve com a política.

Como, nas palavras de Oscar Wilde “a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida…”, o dita­dor da Venezuela, Nicolás Maduro, que no próx­imo ano (2024) pas­sará por um processo eleitoral que tín­hamos esper­ança que fosse limpo, resolveu “inven­tar” sua própria guerra. Essa guerra, entre­tanto, com ares de comé­dia pastelão não conta com o tal­ento de grandes atores, como no filme orig­i­nal – muito pelo con­trário –, e cam­inha a pas­sos lar­gos para se tornar uma tragé­dia para a América Latina.

Desde que o atual grupo político, primeiro com Hugo Chavez e depois com Nicolás Maduro assumiu o poder na Venezuela, em 1999, aquele país que já foi um dos mais ricos do mundo, graças, sobre­tudo, ao petróleo começou um processo acel­er­ado de dete­ri­o­ração con­tando hoje com quase 95% (noventa e cinco por cento) de sua pop­u­lação vivendo em situ­ação de pobreza. Isso mesmo, quase cem por cento da pop­u­lação vive em situ­ação de pobreza, grande parte deles sem con­seguir encon­trar mais nem luxo para comer, uma inflação anual que beira os qua­tro dígi­tos e uma grande parcela de sua pop­u­lação (cerca de dez por cento ou mais) tendo sido obri­gada a bus­car abrigo noutras nações, sofrendo todos os tipos de pri­vações e humil­hações que essa situ­ação impõe.

Nesse cenário des­o­lador para qual­quer um que vá dis­putar uma eleição mas sofrendo pressões de todos os países do mundo mundo civ­i­lizado para que faça eleições e que as mes­mas ten­ham acom­pan­hamento inter­na­cional, ao dita­dor restou “inven­tar” uma reivin­di­cação ter­ri­to­r­ial arbi­trada em favor da Guiana desde 1899, para “acen­der” um sen­ti­mento patriótico, desviar a atenção dos prob­le­mas reais da Venezuela, “que­brar” a oposição acusando-​a de impa­tri­ota e até imputando-​lhe crimes, como já temos visto, e de que­bra, ten­tar algum tipo de “bar­ganha” com o país viz­inho, menor, desmil­i­ta­rizado, etc.

Qual­quer um com o ensino fun­da­men­tal sabe que uma das razões da esta­bil­i­dade do con­ti­nente amer­i­cano reside no fato de ter­mos fron­teiras sól­i­das e definidas há mais de um século e tais definições foram fru­tos de nego­ci­ações pací­fi­cas das diplo­ma­cias desses países.

Todos sabem tam­bém, uns mais que os out­ros, que o régime de Cara­cas não é con­fiável e a prova mais elo­quente disso é como tem se por­tado desde que se instalou e, prin­ci­pal­mente, nos últi­mos dias. Não bas­tava rea­cen­der uma dis­cussão já arbi­trada há mais de um século – e foi semel­hante a definição de fron­teiras de diver­sos out­ros países, prin­ci­pal­mente o Brasil que é o maior da América do Sul –, e para a qual não tem razão, como tam­bém, que levar o con­ti­nente todo para se envolver num front de guerra mundial anun­ciando que vai a Rús­sia em breve ten­tar o apoio para o seu pleito expan­sion­ista junto ao auto­crata Putin, que em pleno século XXI, achou de empreen­der uma expan­são de seu ter­ritório con­tra a Ucrâ­nia des­en­cade­ando uma guerra que já dura dois anos, com mil­hões de pes­soas sofrendo suas con­se­quên­cias.

Não acred­ito que a Rús­sia venha se envolver numa guerra na América, mas isso não a impede de dar força a Maduro, seja no Con­selho de Segu­rança da ONU, caso este resolva aprovar alguma res­olução con­tra a cam­panha expan­sion­ista de Maduro, seja com o fornec­i­mento de armas, homens, equipa­men­tos … será que pre­cisamos disso?

Doido é doido, já dizia meu pai. E caso esse con­flito escale, como ficam os inter­esses do Brasil? Sofr­ere­mos bom­bardeios? A base de Alcân­tara será ata­cada por alguma potên­cia? E, já estão dis­cutindo fron­teiras, nos­sas nações indí­ge­nas, sobre­tudo na região não poderão reivin­di­carem suas inde­pendên­cias em minús­cu­los ter­ritórios autônomos? Nos­sos out­ros viz­in­hos são poderão, se gov­er­na­dos por algum maluco, querer redis­cu­tir as suas fron­teiras com o Brasil?

O mapa que ilus­tra esse tex­tão é de 1805 (?) nele já con­sta a região do Esse­quibo como per­ten­cente à Guiana e não à Venezuela. Depois, na arbi­tragem de Paris, de 1895, ficou con­fir­mado que o ter­ritório ficaria com o primeiro país.

Não vejo sen­tido em se dis­cu­tir nova­mente essa questão pois isso impli­caria em “abrir” espaço para todas as demais dis­cussões rel­a­ti­vas as fron­teiras dos países sulamer­i­canos, incluindo a sobera­nia nacional sobre a Amazô­nia.

O Brasil – e prin­ci­pal­mente o atual gov­erno –, tem uma grande respon­s­abil­i­dade (e inter­esses) com o atual con­flito envol­vendo os dois viz­in­hos pois apoiou de forma “inédita” o régime de Cara­cas tendo o sen­hor Lula, muito emb­ora na condição de ex-​presidente, gravado vídeos e até par­tic­i­pado de comí­cios em favor do dita­dor Nicolás Maduro. Já no atual gov­erno, quando o régime de Maduro enfrentava iso­la­mento inter­na­cional, o gov­erno brasileiro o rece­beu e o apoiou com todas as hon­ras deferi­das não ape­nas um chefe de estado, mas, deferi­das a gov­erno amigo.

O Brasil não pode se “ofer­tar” como medi­ador de con­flito, não existe isso, o que existe é um dita­dor com um pro­jeto expan­sion­ista que ambi­ciona as riquezas do país viz­inho – que só em petróleo de qual­i­dade pos­sui reser­vas de 11 bil­hões de bar­ris, o que equiv­ale a setenta por cento das reser­vas do nosso país.

Não há o que mediar diante de uma situ­ação em que um país con­voca o plebisc­ito para incor­po­rar dois terços do país viz­inho, igno­rando trata­dos inter­na­cionais sec­u­lares, que manda fazer um mapa com a região incor­po­rada a seu ter­ritório, que nomeia gov­er­nador para a provín­cia “incor­po­rada”.

O Brasil pre­cisa dizer clara­mente que dis­corda desse tipo de decisão do gov­erno Maduro, cri­ada uni­ca­mente para sat­is­fazer o próprio ego dita­to­r­ial e se agar­rar ao poder perseguindo os adver­sários.

O que existe para mediar? A Guiana vai pagar “res­gate” para ter seu ter­ritório de volta? Essa “paz” durará até o próx­imo dita­dor rea­cen­der o interesse?

O Brasil pre­cisa ter um lado, uma posição clara – que não é de mediar, pois não há o que mediar –, con­trária aos inter­esses de Maduro, entre­gando a decisão para Corte Inter­na­cional, sob pena de trazer prob­le­mas à própria con­sol­i­dação ter­ri­to­r­ial brasileira, rea­cen­dendo dis­cussões sobre a Amazô­nia, sobre autono­mia de ter­ritórios indí­ge­nas e até mesmo nos inter­esses de viz­in­hos sobre o nosso ter­ritório por acor­dos cel­e­bra­dos no pas­sado.

Ao “nor­malizarmos” o inter­esse de Maduro pela grande Venezuela dos tem­pos colo­ni­ais podemos dar lugar até para a Espanha pleit­ear o respeito ao Tratado de Torde­sil­has.

Ao ten­tar imi­tar uma comé­dia o pés­simo ator Maduro nos apre­senta uma tragé­dia.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.


(Novo mapa da Venezuela de 2023).

Líderes, lid­er­a­dos e conjuntura.

Escrito por Abdon Mar­inho


Líderes, lid­er­a­dos e con­jun­tura.

Por Abdon C. Marinho*.

AMI­GOS próx­i­mos dizem aguardar minha opinião sobre a polit­ica local diante da indi­cação do sen­hor Flávio Dino – até, então, um dos líderes incon­testes da política maran­hense –, para a vaga aberta no Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF com a aposen­ta­do­ria da min­is­tra Rosa Weber.

Essa não é uma análise fácil e difi­cil­mente ter-​se-​á uma resposta “preto no branco” para tal inda­gação.

Se amigo leitor espera uma resposta defin­i­tiva ou mesmo uma “fumac­inha” já pode ir tirando o cav­al­inho da chuva.

Acho que uma das primeiras análises a faz­er­mos é sobre a situ­ação do país.

O Brasil é hoje um país divi­dido e que se recusa a descer do palanque eleitoral.

A pop­u­lação ou pelo menos uma grande parte dela tornou-​se obcecada pelo debate politico – que nada tenho con­tra, registre-​se –, aproximando-​se, muito da irracionalidade.

Vou dar um exem­plo tolo, você abre uma matéria qual­quer sobre um assunto qual­quer, por assim dizer, triv­ial e basta olhar os comen­tários que lá você encon­tra, dos dois lados, refer­ên­cias ao Lula, ao Bol­sonaro.

Debate sobre o seca no nordeste ou a enchente no sul, apare­cem uma infinidade de “comen­taris­tas” dizendo que a culpa é de um ou do outro político.

Até nos famosos “gru­pos da família” você encon­tra esse tipo de debate ou de “enve­ne­na­mento” político.

Pior do que isso só mesmo a “cul­tura” do can­ce­la­mento.

O ator fulano de tal aparece no com­er­cial da marca tal, muito boa por sinal. Ah, mas na cam­panha eleitoral ele disse que o meu can­didato era isso ou aquilo, boicote total, ninguém com­pra mais da marca até que tirem o ator ou a atriz da cam­panha.

Por essas e por tan­tas out­ras tolices percebe-​se que o Brasil tornou-​se um país “doente”, enve­ne­nado pela política.

A esse con­texto ou, prin­ci­pal­mente, dev­ido a ele, deve­mos acres­cen­tar que o nosso con­ter­râ­neo hon­rado com a indi­cação, tornou-​se uma pes­soa con­tro­versa – e aqui não se faz qual­quer juízo de valor quanto aos posi­ciona­men­tos que o tornou “con­tro­ver­tido” –, a ponto de, pela primeira vez na história da República, a oposição fazer uma cam­panha pública, inclu­sive com man­i­fes­tações de rua em todas as cap­i­tais e/​ou grandes cen­tros urbanos con­tra uma indi­cação para o STF, e a pres­sionar por todos os meios, legí­ti­mos ou não, para que o Senado não aprove o seu nome.

Na história da República ape­nas uma vez, segundo con­sta, e, ainda, na chamada “República Velha” tive­mos uma recusa do Senado a uma indi­cação do pres­i­dente para o STF, assim mesmo sem a “cam­panha” orquestrada no seio da sociedade como se tem agora.

Mas, vive­mos tem­pos inédi­tos.

Essa deve ser uma segunda avali­ação.

Até que ponto a oposição terá força para recusar um nome indi­cado ao STF – ini­cial­mente, pen­sei que pas­sasse sem maiores alardes e margem ele­vadís­sima, até porque, como poucos, preenche os req­ui­si­tos con­sti­tu­cionais –, e, depois, até que ponto vai “vigiar” cada passo do novel min­istro?

É dizer, Dino aprovado e empos­sado min­istro STF con­tin­uará sendo vigiado 24 horas por dia, como, aliás, vem sendo out­ros min­istros da corte?

E, assim sendo, colo­cado na berlinda como “adver­sário” político do bol­sonar­ismo, não seria ten­ta­dor jogar “tudo pro alto” e voltar ao enfrenta­mento político?

Veja, aqui são digressões, por vezes, diva­gações. Como tais, per­mitem que façamos esses exer­cí­cios men­tais.

O plano de Dino – desde sem­pre –, foi ser pres­i­dente da República. Para isso, nos momen­tos de frag­ili­dade política do Lula e do petismo, colocou-​se na condição de inimigo número um do bol­sonar­ismo.

Que­ria esse pro­tag­o­nismo e seria um dos nomes a dis­putar con­tra o ex-​presidente Bol­sonaro se o ex-​presidente Lula não tivesse sido can­didato.

Eleito Lula, con­tin­uou no mesmo pro­tag­o­nismo de enfrenta­mento do bol­sonar­ismo no Min­istério da Justiça, tam­bém, na intenção de se “cred­i­bi­lizar”, como antag­o­nista de Bol­sonaro para suceder o Lula na dis­puta ao maior cargo da nação.

Como já dis­se­mos esse “pro­tag­o­nismo” atraiu dois sen­ti­men­tos: o ódio dos bol­sonar­is­tas e o ciúme dos lulis­tas.

A sua indi­cação para a Suprema Corte não desagradou ape­nas os opos­i­tores, a ponto de pro­moverem uma inédita cam­panha con­tra seu nome, mas, tam­bém, inúmeros ali­a­dos “de primeira hora” que o tinha na conta de um pos­sível quadro para suceder o Lula, em 2026 ou 2030.

Muitos destes ali­a­dos ficaram “ressen­ti­dos” com o fato dele (Dino) ter preferido seguir no bloco “eu comigo mesmo” para o Supremo.

Indi­cado ao cargo de min­istro e tendo que enfrentar uma inédita “pedreira” política até vestir a toga, Dino prom­e­teu que será seu último cargo – um casa­mento para a vida toda.

Faz todo sen­tido esse tipo de “com­pro­misso” pois ele foi um político (sem mandato, é ver­dade, não sei se fil­i­ado) que virou mag­istrado; um mag­istrado que virou político; e, agora, nova­mente, um político em vias de virar magistrado.

Caso não ocorra o impen­sável e ele se sagre min­istro do STF, alguns ques­tion­a­men­tos per­manecerão pre­sentes e vivos: o bol­sonar­ismo o man­terá na condição de “inimigo número um”, junto com o min­istro Alexan­dre de Moraes? Ele vai “aguen­tar” cal­ado todo tipo de dis­curso con­tra ele ou voltará para o embate político? Em quanto tempo?

Mesmo que fique as duas décadas no STF, com setenta e cinco anos e com os adver­sários fazendo sua cam­panha diu­tur­na­mente, não será estranho se ainda vier a dis­putar uma eleição pres­i­den­cial.

Como os ami­gos podem perce­ber, não se trata de uma análise de con­jun­tura fácil de se fazer. Depende de muitas var­iáveis: desde a saúde de Lula a dis­cussão de mandatos para min­istros do STF – que é debate que ocorre em vários países do mundo.

A Dino talvez seja mais “inter­es­sante” dizer que foi min­istro do STF do que dizer que aposentou-​se como min­istro do STF.

Em relação a política local é certo dizer que o din­ismo não se assenta numa estru­tura hier­ar­quizada – até existe uma certa ojer­iza em relação aos políti­cos tradi­cionais –, se assim fosse, bas­taria dizer que o “número dois” assumiria daqui pra frente.

A lig­ação do din­ismo é com o próprio Dino, mesmo aque­les, que, cer­ta­mente, teriam alguma influên­cia sobre ele, não se “can­di­datam” a sucedê-​lo ou insin­uam pos­suir tal desejo. Ainda que pos­suam não se man­i­fes­taram.

Querem ocu­par um espaço que não sabem se se encon­tra vazio ou não mas sem esse com­pro­misso da sucessão.

Orbitam em torno do din­ismo três par­tidos prin­ci­pais: o PSB, ao qual esteve (ou ainda estar fil­i­ado); o PCdoB, para onde foi quando retornou a política, em 2006; e o PT, par­tido onde mil­i­tou na primeira fase política e de onde nunca se afas­tou afe­ti­va­mente, basta dizer que em 2003, na esteira da eleição de Lula, no ano ante­rior, surgiu um movi­mento den­tro desse par­tido para fazer Dino can­didato a prefeito de São Luís em 2004, o movi­mento acabou por fra­cas­sar e o retorno de Dino à política, pelas mãos de Zé Reinaldo, só veio ocor­rer em 2006, quando se elegeu dep­utado fed­eral.

Para saber­mos o “impacto” da indi­cação de Dino para STF terá na política local, partindo do pres­su­posto que a mesma será con­fir­mada pelo Senado, como é nor­mal que ocorra, uma das primeiras questões a serem lev­an­tadas é a questão da “defin­i­tivi­dade”.

O que isso sig­nifica? Sig­nifica saber se ele estará de “fato e de dire­ito” fora da política para todo o sem­pre, sem qual­quer pre­ten­são de retorno, no curto, médio prazo ou mesmo depois de aposentar-​se, o que, nas regras atu­ais acon­te­cerá daqui a vinte anos.

Se a saída da política é defin­i­tiva e sem qual­quer chance de retorno, a “coisa” muda de figura.

Cada um dos políti­cos e mesmo os par­tidos, bus­carão out­ros pro­je­tos.

Sem a “defin­i­tivi­dade” resolvida, em torno de qual pro­jeto político o grupo se man­terá unido e coman­dado por quem?

A questão do “comando” é rel­e­vante e pre­cisa ser bem ajus­tada porque sem poder “dá pitaco”, exceto, muito reser­vado, have­ria rebe­liões diver­sas.

Uma das regras mais ele­mentares do jogo do poder é aquela que diz não haver espaço vazio na política ou, o velho “rei morto, rei posto”.

A saída de Dino do “jogo” movi­menta diver­sas pedras do xadrez.

Sem Dino no con­texto político e como “fiador” dos espaços políti­cos que seus ali­a­dos ocu­pam no poder estad­ual, que tipo de com­pro­mis­sos o atual gov­er­nador se sen­tirá “obri­gado” a man­ter? Outra, se vai man­ter. E, volta­mos a questão do comando, quem terá a “legit­im­i­dade” para cobrar?

É fato que o atual gov­er­nador e o seu entorno político se con­sol­i­daram como uma nova força política no estado inde­pen­dente de qual­quer apoio político do ante­ces­sor – as diver­sas “cos­turas” que fez e mesmo o apoio pop­u­lar que man­tém ape­sar da crise econômica que atrav­essa o estado, mostram isso.

Intra­muros e mesmo com Dino “ativo” na política, ali­a­dos próx­i­mos do ex e do atual gov­er­nador já dis­cu­tiam – ou defendiam –, uma rup­tura no pacto de poder que os man­tinham unidos antes da indi­cação.

Com Dino “ina­tivo”, qual será a estraté­gia: ten­tar assumir o comando total do grupo – e isso impli­caria em abrir mais espaços de poder –, ou “apos­tar” no seu ocaso? No caso da primeira hipótese, o din­ismo, sem Dino, aceitaria? E em que bases?

Exis­tem out­ras forças políti­cas à espre­ita do possa vir acontecer.

Existe um grupo de dire­ita no estado – muito emb­ora poucos saibam o que seja isso –, que cresceu e se con­soli­dou como opos­i­tores ao din­ismo – e que ficaram em segundo lugar nas eleições de 2022 –, con­tin­uará forte sem o prin­ci­pal antag­o­nista ou voltará à antiga expressão política?

Existe o grupo político vin­cu­lado ao senador Wev­er­ton Rocha que ficou em ter­ceiro lugar na última dis­puta de gov­erno – “her­dará” parte desse eleitorado din­ista a ponto de se via­bi­lizar para a próx­ima eleição majoritária como gov­er­nador ou para man­ter o cargo de senador?

Exis­tem ainda, à dire­ita e à esquerda, diver­sas forças e per­son­agens aguardando o próx­imo lance político para tirarem, para si, os mel­hores div­i­den­dos.

O tempo, em todo caso, é o sen­hor razão, é aguardar para con­ferir.

Ou, como dizia um antigo político maran­hense: quem viver verá.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado, escritor, cro­nista.