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Os Cal­heiros Mar­inho e o comércio.

Escrito por Abdon Mar­inho


Os Cal­heiros Mar­inho e o comércio.

Por Abdon C. Marinho*.

O COMÉR­CIO, assim como a agri­cul­tura, sem­pre estiveram entre as ativi­dades da nossa família desde que me entendo por gente – e sei, vem desde bem antes disso.

O tio Pedro, por exem­plo, teve um comér­cio que fez história no mer­cado de Pedreiras desde que foi morar por lá quando veio com a família do Rio Grande do Norte para essas ter­ras.

O tio Deolindo (“tie Dió) tinha seu comér­cio numa casa de alpen­dre numa ele­vação, tín­hamos que vencer alguns degraus na calçada de cimento queimando para chegar à quitanda.

Minha irmã Deiza e seu marido Wil­son (filho de “tie Dió) quando saíram do Cen­tro Novo para Gonçalves Dias mon­taram seu comér­cio na Rua Rui Bar­bosa, logo no iní­cio da mesma, na parte da frente da casa onde moravam. Tem­pos depois, quando fiz­eram a ampli­ação da cidade com a cri­ação do Novo Gonçalves Dia, abri­ram um segundo comér­cio por lá.

Após minha irmã ficar viúva, emb­ora estes dois pon­tos com­er­ci­ais ten­ham fechado, ela con­tin­uou na ativi­dade, primeiro com uma banca de feira, levando seus pro­du­tos de cidade em cidade, até se esta­b­ele­cer onde se encon­tra hoje em um ponto com­er­cial quase em frente a prefeitura onde tra­balha todos os dias, de sol a sol ape­sar de já ter mais de setenta anos.

O meu pai já viúvo, lá pelo final dos anos setenta, mudou-​se para Gonçalves Dias, indo morar numa casa que man­dara fazer fazer ger­mi­nada à casa da minha irmã. Por essa época decidiu colo­car um comér­cio na Rua Dr. Paulo Ramos que é a rua que segue para­lela a Rua Rui Bar­bosa, onde morávamos.

Ainda no fun­da­men­tal, fiquei encar­regado do comér­cio.

Pas­sava o dia no comér­cio – só fechando no horário do almoço e no final dia quando tinha que ir para a escola.

Naquela época os comér­cios, tam­bém chama­dos de qui­tan­das, ven­diam todo tipo coisa: café, açú­car, arroz, fei­jão, óleo, fós­foro, cig­a­rro, cachaça, fumo de rolo, etc., lidava, por isso mesmo, com todo tipo de gente: da dona de casa a “rapariga”, do tra­bal­hador aos cachaceiros.

Naquele tempo, antes do surg­i­mento do Novo Gonçalves Dias ou quando se ini­ci­ava a ocu­pação do mesmo, a Rua Dr. Paulo Ramos ainda era con­hecida como a “rua de trás”, a alguns met­ros adi­ante do “meu” comér­cio tin­ham alguns cabarés onde as “meni­nas de vida fácil” tin­ham difi­cul­dades e suavam para gan­har a vida durante a noite.

A minha viz­inha da esquerda, parede-​meia com a qui­tanda, era uma dessas “moças de vida fácil”, tinha duas fil­has que acabavam brin­cando pelo comér­cio enquanto a mãe des­cansava da labuta.

Quando ela acor­dava tam­bém ia para lá con­ver­sar, pagar alguma coisa que fiz­era fiado ou pedir fiado alguma coisa para pagar com o resul­tado da noite.

Todos sabíamos qual a “guerra” que teria que vencer para pagar o fiado no dia seguinte.

Era comum – e até ansiá­va­mos por isso –, voltar­mos da escola, quando estudá­va­mos à noite, pela “rua de trás” para ver­mos o movi­mento nos cabarés, prin­ci­pal­mente nos dias de maior movi­mento.

Não raro via a viz­inha no “ofí­cio” ten­tando gan­har o din­heiro que me pagaria no dia seguinte.

Encar­á­va­mos isso com nat­u­ral­i­dade. Assim como o fato de com 11 ou 12 anos servir cachaça aos que fre­quen­tavam o comér­cio.

Esse foi o meu ofí­cio dos dez aos qua­torze anos, quando me mudei para fazer o ensino médio na cap­i­tal.

Posso até dizer que come­cei antes, pois quando morava em Gov­er­nador Archer, com minha irmã Bibia, seu marido Hen­rique tinha um quiosque de madeira atrás da Igreja Adven­tista e sob umas sapu­ca­ias e muitas vezes, eu com sete ou oito anos ficava por lá “tomando de conta”.

Pois é, naquele tempo não exis­tia Con­selho Tute­lar.

Logo que teve opor­tu­nidade e con­seguiu jun­tar um din­heir­inho o meu irmão Dodô mon­tou seu comér­cio na mesma Rua Rui Bar­bosa e o man­tém até hoje.

Com o nego Goça, o irmão nascido antes de mim, não foi difer­ente, envere­dou pelo comér­cio desde cedo, com­prando e vendendo de tudo: legumes, ver­duras, carnes, etc. muita das coisas tem que bus­car noutros esta­dos e sai vendendo de feira em feira, de comér­cio em comér­cio pela região do Mearim.

Entre os famil­iares e ami­gos cos­tu­mamos dizer que se o “nego” tivesse estu­dado, com o “tino” que tem, já teria dom­i­nado o mundo.

Nos últi­mos tem­pos tenho ten­tado voltar o comér­cio através de uma das coisas que, jun­ta­mente com o dire­ito, sem­pre me encan­tou: a edu­cação. Daí que resolvi “patroci­nar” junto com ami­gos alguns pro­je­tos no segui­mento.

A véspera do feri­ado da procla­mação da República me alcançou em Timon, terra de muitos ami­gos queri­dos e um calor humano extra­ordinário (o ter­mômetro dizia que está­va­mos com 45º, na som­bra), onde fui apre­sen­tar meus pro­du­tos, vulgo, “vender meu peixe” a esses ami­gos.

Na volta, pas­sando pelo Dezes­sete, Codó, con­videi o com­pan­heiro de viagem para vis­i­tar os meus par­entes em Gov­er­nador Archer e Gonçalves Dias.

Em GA vis­itei a mana Bibia e fui para casa querido irmão Armando, onde fiz o per­noite. No dia seguinte, após a palestra do café desci para o GD.

No cam­inho ia com­par­til­hando com o com­pan­heiro de jor­nada, Ali­son Fer­nando, as lem­branças da minha primeira infân­cia no Cen­tro Novo, que fica divisa entre os dois municí­pios.

Já em Gonçalves Dias pas­sei na casa do Goça, segui até o comér­cio do Dodô onde o cumpri­mentei e fui até o comér­cio da mana mais velha, Deiza.

Já na volta parei para uma con­versa no comér­cio do Dodô.

Um amigo da família, Seu Luiz Ceci, casado com filha Antônio Padre, aparentado dos Peixo­tos, do Cen­tro dos Came­los, já avançado na casa dos oitenta anos, estava por lá e começou a con­tar um pouco dos cau­sos da nossa família desde que vieram do Rio Grande.

Pouco depois chegou o Goça e ficamos os três, além do Ali­son ouvindo alguns cau­sos.

Com o ouvido atento que só os apre­ci­adores de cau­sos, tem fui sol­vendo cada uma das lem­branças dele.

Disse-​nos que o primeiro empreendi­mento com­er­cial do meu pai foi como vende­dor de “mel de furo”, na ver­dade o melaço resul­tante da cen­trifu­gação no processo de pro­dução de açú­car e/​ou cachaça.

Ele, meu pai, ia aos engen­hos – naquela tín­hamos bas­tante no inte­rior do Maran­hão –, com­prava o mel de furo e o reven­dia pela região.

Foi graças a esse comér­cio que com­prou seu primeiro burro começou enveredar por out­ras ativi­dades como a com­pra e venda de arroz.

Já o alcan­cei nessa fase da vida, ele com­prando o arroz “na folha” e nós indo com ele bus­car nas roças dos vende­dores, mon­ta­dos nos bur­ros. Na minha primeira infân­cia, já depois da par­tida de minha mãe, era o nosso lazer: mon­ta­dos nas can­gal­has dos bur­ros íamos pelas veredas bus­car o arroz.

Eram toneladas e toneladas de arroz trans­portadas assim das roças para os nos­sos depósitos.

Meu pai, como já disse out­ras vezes, era anal­fa­beto por parte de pai, mãe e parteira. Já minha mãe fora alfa­bet­i­zada até os primeiros anos do ensino fun­da­men­tal.

Na lida diária, quando não estavam na roça, meu pai estava cuidando de alguma coisa, debul­hando um milho, um fei­jão e minha mãe se ocu­pando na cos­tura numa antiga máquina Singer, aju­dada por minha irmã mais velha que já fazia um “emban­hado” ou pre­gava os botões. Todas as roupas da família eram feitas por elas.

Assim, quando chegava alguém para vender o arroz, meu pai gri­tava: — ô Neuza anota aí que fulano vendeu três ou qua­tro arrobas de arroz.

Segundo o seu Luiz Ceci, meu pai era um com­er­ciante nato e como bom com­er­ciante sabia importân­cia de guardar o din­heiro e as coisas. Achava que gan­hava todo din­heiro que deix­ava de gas­tar.

Dessa parte eu lem­bro bem pois ainda hoje ressoa nos meus ouvi­dos suas palavras: — guarde, meu filho, porque quem guarda tem.

Ele guar­dava bem.

Disse-​nos seu Luiz Ceci que uma vez que uma vez meu pai levou Dadido (meu irmão Adil­son) com ele para fazer umas entre­gas de alguma coisa e com­prar a feira da sem­ana. Na volta Dadido viu alguém vendendo bolo e disse: — ô pai com­pra um bolo para eu ir comendo.

Ao que meu pai respon­deu: — que nada, menino, a tua mãe já está esperando com o almoço pronto.

Outra feita, estava meu pai debul­hando o milho quando chegou alguém: — ô seu Van­delo me dê um copo d’água.

Meu pai levan­tou foi para sala ficava onde ficavam os potes. Pegou um copo de alumínio, enfiou no pote, ouviu-​se só o “tim­bum”. Voltou com o copo e entre­gou ao cidadão.

Após o cidadão beber, olhou para um cacho de bananas pen­durado na sala amadure­cendo para vender na cidade e disse: —ô seu Van­delo, eu não tenho din­heiro para com­prar essa banana, o sen­hor pode me dar uma?

Meu pai arriou-​se sobre a “runa” do milho que debul­hava e gri­tou: — ô Neuza, ô Neuza, venha cá.

Minha mãe largou a cos­tura e cor­reu pra sala: — o que foi Van­delo?

Meu pai respon­deu: — tire uma banana do cacho e dê para o rapaz.

Minha mãe disse: — mas Van­delo você acabou de lev­an­tar para dar a água para o rapaz, por que não deu a banana?

Meu pai respon­deu: — porque a banana eu não tenho cor­agem de dar, dê você.

Se os cau­sos de seu Luiz Cici são ver­dadeiros eu ou meus irmãos não temos como saber, sei ape­nas que quase me acabei de rir deles.

Depois dessa peg­amos a estrada e volta­mos para a cap­i­tal.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado e con­ta­dor de cau­sos.

Equívoco do TCE con­strange prefeitos.

Escrito por Abdon Mar­inho


Equívoco do TCE con­strange prefeitos.

Por Abdon C. Marinho*.

O ASSUNTO dos últi­mos dias nas rodas políti­cas da cap­i­tal e, prin­ci­pal­mente, nos rincões do Maran­hão onde as cam­pan­has eleitorais para as eleições do ano que vem já estão avançadas é um suposto desvio de recur­sos públi­cos do FUN­DEB pelos gestores munic­i­pais apon­tado em um suposto relatório de audi­to­ria do Tri­bunal de Con­tas do Estado — TCE/​MA.

O excesso de “supos­tos” em um mesmo con­texto será “destrin­chado” ao longo do texto.

A divul­gação do tal relatório suposta­mente apon­tando a existên­cia de esco­las públi­cas de tempo inte­gral e uma infinidade de alunos nelas matric­u­la­dos era o que fal­tava para incen­diar de vez as eleições munic­i­pais com os pré can­didatos adver­sários e mesmo as mais vari­adas milí­cias dig­i­tais pro­moverem toda sorte de ilação, acusação e explo­ração política.

Enquanto isso, “do lado” dos prefeitos, mesmo da parte da enti­dade que os rep­re­sen­tam não se viu man­i­fes­tação enfática no sen­tido de defendê-​los ou de pelo menos ten­tar esclare­cer o que, de fato ocor­ria – pelo menos, eu, pes­soal­mente, não vi –, se houve, aceitem min­has escusas.

Foi como se dizia lá no meu sertão: em tempo de murici é cada um por si.

Sem con­hecer as pecu­liari­dades de cada caso ou do que se deu em cada um dos municí­pio, não arrisco fazer um texto defendendo-​os cega­mente – longe de mim colo­car a min­has mãos no fogo –, mas acred­ito que toda essa celeuma em grande parte se deve à forma como o TCE/​MA tem inter­pre­tado as nor­mas legais que regem a política nacional de educação.

Aqui é opor­tuno abrir­mos um parên­te­ses, inclu­sive, para ques­tionar a legit­im­i­dade da corte de con­tas estad­ual para fazer e emi­tir os pare­ceres que emi­tiu sobre o assunto.

Muito emb­ora, como dizia que pai, anal­fa­beto por parte de pai, mãe a parteira, que o “errado” é da “conta de todo mundo”, acred­ito que mel­hor teria feito o TCE se, após apu­rado o que apurou, ao invés de levar para a imprensa tivesse lev­ado ao con­hec­i­mento do FNDE, do MEC, da CGU ou do Tri­bunal de Con­tas da União — TCU, que, na minha opinião, pos­suem mais iden­ti­dade e respon­s­abil­i­dade sobre o assunto.

Fechado o parên­te­ses, volte­mos ao assunto que nos traz hoje aqui.

A edu­cação é um tema que sem­pre me fas­ci­nou e, por dever do ofí­cio, sobre­tudo nos últi­mos anos, tenho estu­dado muito sobre o ela e, tam­bém, escrito sobre os seus mais vari­a­dos aspectos.

Um dos últi­mos tex­tos sobre a edu­cação, anal­isando os dados pop­u­la­cionais apre­sen­ta­dos pelo IBGE no último censo, dizia sobre as estraté­gias que dev­e­riam ado­tar os municí­pios para finan­ciar a edu­cação diante de um quadro em que a pop­u­lação brasileira não cresceu como esper­ado e que as despe­sas aumen­tado como nunca.

Dizia aos gestores que uma das estraté­gias para que con­seguirem pagar as fol­has de pes­soal e garan­ti­rem um mín­imo de inves­ti­mento e mel­ho­ria na edu­cação pública era apos­tar nas ativi­dades com­ple­mentares, que rep­re­sen­tam cerca de trinta por cento de incre­mento nas receitas públi­cas e/​ou na edu­cação de tempo inte­gral que rep­re­senta cem por cento de incre­mento na receita do FUN­DEB.

Ora, a maio­ria dos municí­pios brasileiros, sobre­tudo, maran­henses, a receita do FUN­DEB mal é sufi­ciente para o paga­mento das despe­sas com pes­soal, sendo que a própria Con­sti­tu­ição Fed­eral impõe um gasto mín­imo de setenta por cento das receitas com tal rubrica.

Dizia mais, que o seg­redo para o incre­mento legal das receitas da edu­cação pública era o aumento do número de alunos em ativi­dades com­ple­mentares dev­i­da­mente infor­madas ao MEC através dos cen­sos esco­lares, como pre­cur­so­ras da edu­cação básica inte­gral que é o grande desafio da edu­cação brasileira.

O que já can­sei de assi­s­tir são municí­pios inve­stirem em diver­sas ativi­dades que pode­riam ser enquadradas como ativi­dade com­ple­men­tar e não infor­marem ao censo esco­lar, tais como, esportes, artes, músi­cas, reforços, etc., e com isso perderem recur­sos.

Não digo com isso que o oposto tam­bém não ocorra, a dis­cussão não é essa.

Os municí­pios não só podem como devem infor­mar ativi­dades com­ple­mentares e, claro, exe­cutarem tais ativi­dades sem estarem fazendo nada de errado, muito pelo con­trário, ao infor­marem no censo tais ativi­dades e as exe­cutarem, além de estarem fazendo um bem enorme a essas cri­anças ainda estão trazendo mais recur­sos para os municí­pios e remu­nerando mel­hor os profis­sion­ais do setor.

Para que os municí­pios exe­cutem ativi­dades com­ple­mentares e façam jus ao incre­mento de suas receitas, o que é recomen­dado, não é necessário pos­suir escola de tempo inte­gral, basta que o aluno retorne no con­traturno por mais três horas para as out­ras ativi­dades que podem ser a escol­inha de fute­bol, de artes, de música, reforço esco­lar, lín­guas, etc.

Acred­ito que o TCE tenha se equiv­o­cado ao con­fundir inscrição de alunos em ativi­dades com­ple­mentares com alunos matric­u­la­dos em esco­las de tempo inte­gral, estas ainda quase inex­is­tentes no Brasil.

Pela planilha do relatório do TCE pude perce­ber que a maio­ria do incre­mento se ref­ere a alunos inscritos em ativi­dades com­ple­mentares e não em esco­las inte­grais, tanto o acréscimo de receita tem sido de trinta por cento.

Milita, ainda, con­tra o equívoco cometido pelo TCE ao “mis­tu­rar” ativi­dade com­ple­men­tar com ensino inte­gral a edição da lei 14.640, de 31 de julho de 2023, que insti­tuiu o pro­grama de escola em tempo integral.

Essa lei, prati­ca­mente, sobrepôs o que muitos municí­pios já vin­ham fazendo como ativi­dades com­ple­mentares com a definição de ensino inte­gral, senão vejamos:

Art. 3º A União é autor­izada a trans­ferir os recur­sos aos Esta­dos, ao Dis­trito Fed­eral e aos Municí­pios para fomen­tar a cri­ação de matrícu­las na edu­cação básica em tempo inte­gral, con­forme disponi­bil­i­dade orça­men­tária.

§ 1º Para os fins do dis­posto nesta Lei, consideram-​se matrícu­las em tempo inte­gral aque­las em que o estu­dante per­manece na escola ou em ativi­dades esco­lares por tempo igual ou supe­rior a 7 (sete) horas diárias ou a 35 (trinta e cinco) horas sem­anais, em 2 (dois) turnos, desde que não haja sobreposição entre os turnos, durante todo o período letivo”.

Veja que a lei con­sid­era matrícula em tempo inte­gral aque­las que o estu­dante per­manece na escola ou em “ativi­dades esco­lares” por um tempo igual ou supe­rior a 7 (sete) horas diárias ou a 35 (trinta e cinco) horas sem­anais, em dois turnos.

Ora, é per­feita­mente com­preen­sível que os municí­pios ante a per­spec­tiva de já aces­sarem os recur­sos a que fariam jus no próx­imo com a infor­mação ao censo esco­lar por ativi­dades com­ple­mentares que já vin­ham exe­cu­tando, à luz do man­da­mento legal ten­ham infor­mado ensino inte­gral para aces­sarem neste exer­cí­cio.

A lei não os obrigam a terem esco­las em tempo inte­gral para que informem matrícu­las em tempo inte­gral, basta colo­car os alunos em “ativi­dade esco­lar”. Essa ativi­dade pode ser no campo, na quadra de esportes, nas aulas de artes, de música, de lín­gua estrangeira, etc. tenho, dúvi­das (mas vou apro­fun­dar) se não con­tariam ativi­dades esco­lares à dis­tân­cia.

Essa sutileza, talvez, tenha pas­sado desaperce­bida.

Entendo, sem fazer a defesa “cega” de ninguém, que o TCE pode não ter dado a inter­pre­tação mais cor­reta a leg­is­lação sobre o tema e com isso cau­sado sérios pre­juí­zos à imagem dos gestores munic­i­pais às vésperas das eleições e com muitos bus­cando a ren­o­vação de seus mandatos.

Entendo, ainda, que a FAMEM, mesmo sem “meter a mão no fogo” por seus fil­i­a­dos poderia/​deveria ter um com­por­ta­mento mais assertivo nesse episó­dio.

Acred­ito que nos próx­i­mos dias, con­forme os des­do­bra­men­tos, voltare­mos a esse assunto.

Abdon C.Marinho é advo­gado, escritor, cronista.

A vitória já é do HAMAS.

Escrito por Abdon Mar­inho


A vitória já é do HAMAS.

Por Abdon C. Marinho*.

CER­TA­MENTE não é pos­sível dimen­sionar toda a tragé­dia humana da atual guerra no Ori­ente Médio que tem como pro­tag­o­nistas o Estado de Israel e o grupo ter­ror­ista HAMAS, acrôn­imo de Harakat al-​Muqāwamah al-​ʾIslāmiyyah ou, na tradução aprox­i­mada, Movi­mento de Resistên­cia Islâmica (fique conosco, Abdon Mar­inho é cul­tura, rsrs), entre­tanto, a minha avali­ação é que essa guerra, já tem como vence­dor o grupo ter­ror­ista.

Nos pará­grafos abaixo expli­carei meu posi­ciona­mento e as razões pelas quais acho que a guerra já tem um vence­dor e porque esse vence­dor é o HAMAS, der­rotando Israel, Esta­dos Unidos (prin­ci­pal­mente estes) e diver­sos out­ros países.

Quando, em 07 de out­ubro de 2023, o grupo ter­ror­ista deu um “passa moleque” nas forças de segu­rança de Israel e provo­cou o ter­ror come­tendo todo tipo de atro­ci­dades con­tra os israe­lenses e mesmo cidadãos de out­ras nacional­i­dades, inclu­sive, levando con­sigo mais de duas cen­te­nas de pes­soas como sequestra­dos para pos­te­ri­or­mente utilizá-​las como moeda de troca, tinha como obje­tivo prin­ci­pal causar a reação que cau­sou no estado israelense.

Fico per­plexo quando vejo supos­tos espe­cial­is­tas afir­marem que o HAMAS quer a o fim ou a destru­ição do Estado de Israel na leitura da guerra atual.

Um absurdo imag­i­nar ou colo­car como ponto de dis­cussão a pre­missa que um grupo ter­ror­ista com o número esti­mado de 20 mil inte­grantes seja capaz de elim­i­nar um Estado Nacional como o de Israel que conta com o apoio “incondi­cional” dos Esta­dos Unidos (falare­mos disso mais à frente) e que pos­sui as mais mod­er­nas armas de com­bate do mundo, sem con­tar o exército reg­u­lar e os reservis­tas em números infini­ta­mente supe­ri­ores.

Chamar a atenção para o fato do grupo ter­ror­ista “querer” o fim de Israel é ape­nas uma bobagem, pois não seria com aquele ataque que iria con­seguir isso – muito pelo con­trário. Eu, por exem­plo, todo final de ano “quero” acer­tar soz­inho as dezenas da mega sena da virada, nunca con­segui.

É dizer, muito emb­ora tal assertiva con­ste do seu ideário ou “estatuto” não foi isso que os moveu nos ataques ter­ror­is­tas que deram iní­cio a atual guerra.

Não foi uma ação visando a “destru­ição” do Estado de Israel como muitos divul­gam e até trazem para supos­tos debates “sérios”.

O que os moveu foi provo­carem a reação que provo­caram nos diri­gentes israe­lenses. Uma reação tão vio­lenta quanto inócua.

As forças de segu­rança de Israel, por mais que digam, não tem condições de elim­i­nar o HAMAS, seus mil­i­tantes, além da Faixa de Gaza, onde travam com­bates con­tra os sol­da­dos israe­lenses, estão espal­ha­dos por todos os países da região com seus prin­ci­pais diri­gentes com­ple­ta­mente a salvo em alguns deles.

Logo, o que as forças israe­lenses vem fazendo é exercer o “dire­ito de vin­gança” con­tra a pop­u­lação palestina, majori­tari­a­mente de mul­heres, cri­anças e idosos.

Quan­tos inocentes não já pere­ce­ram para cada suposto ter­ror­ista elim­i­nado? Como um exército que se van­glo­ria de ser um dos mais prepara­dos do mundo prat­ica uma guerra de terra arrasada com a morte de mil­hares de pes­soas sob o argu­mento de elim­i­nar um ou outro mem­bro do grupo ter­ror­ista que os ata­cou?

A estraté­gia é burra até porque os ver­dadeiros diri­gentes do HAMAS, como dito ante­ri­or­mente, estão a quilômet­ros de dis­tân­cia dos locais onde Israel despeja mil­hares de bom­bas diariamente.

Inde­pen­dente do ataque ter­ror­ista do HAMAS – hor­rendo, ter­rível, cruel e todas as demais adje­ti­vações pos­síveis –, a reação Israe­lense não pode­ria (e não pode) ser na mesma moeda ou no mesmo for­mato, por uma razão que já expli­camos em um texto ante­rior, e que o próprio Estado de Israel e seus ali­a­dos fazem questão de ressaltar: o grupo HAMAS é um grupo ter­ror­ista.

Já o Estado de Israel é um estado nacional legí­timo e recon­hecido por quase todos os países do mundo.

Um estado nacional legí­timo – não sei porque temos que repe­tir isso já que é óbvio –, não pode agir como um grupo ter­ror­ista.

O HAMAS venceu a guerra quando fez Israel uti­lizar suas estraté­gias para o com­bate: o ter­ror­ismo indis­crim­i­nado con­tra civis inocentes, com o agra­vante de pos­suir um poten­cial de letal­i­dade e de sofri­mento infini­ta­mente supe­rior aos dele.

Em todas as nações do mundo as pes­soas sen­sa­tas, muito emb­ora con­denem o ato ter­ror­ista do HAMAS, con­de­nam, com muito mais veemên­cia, a reação israe­lense.

Em todos os grandes cen­tros do mundo, sem­anal­mente, exis­tem mon­u­men­tais protestos con­tra as ações de Israel na Faixa de Gaza.

Ninguém con­segue ficar indifer­ente às crat­eras aber­tas pelas bom­bas que são jogadas à cada min­uto, à destru­ição de hos­pi­tais, esco­las, cam­pos de refu­gia­dos e, prin­ci­pal­mente, a imagem de cri­anças trê­mu­las de pavor ou mor­tas.

O HAMAS venceu porque em todo o mundo já se dis­cute que a Faixa de Gaza é uma prisão a céu aberto onde estão con­fi­na­dos mais de dois mil­hões de pes­soas pas­sando todo tipo de pri­vações e sofrendo com as humil­hações mais diver­sas.

Imag­inem um europeu, que pode se deslo­car por todos os países do mundo, saber que na Faixa de Gaza ou mesmo na Cisjordâ­nia os palesti­nos não podem se loco­moverem livre­mente e que até mesmo para fugir da guerra Israel tem que per­mi­tir.

O HAMAS venceu a guerra porque em todos países ou fóruns globais estão dis­cutindo a neces­si­dade e urgên­cia de um estado palestino sober­ano e estão se debruçando para a real­i­dade de que Israel, desde que venceu a guerra de sua cri­ação, em 1948, e as guer­ras seguintes, vem, sis­tem­ati­ca­mente, avançando sobre os ter­ritórios que na par­tilha feita pela ONU, em 1947, caberia aos palesti­nos.

Muito emb­ora con­de­nando o ataque ter­ror­ista do HAMAS, o secretário-​geral da ONU, Anto­nio Guter­res, em declar­ação recente – que cau­sou revolta aos israe­lenses –, pon­tuou algu­mas ver­dades, den­tre as quais que o (injus­ti­ficável) ataque ter­ror­ista não ocor­reu no vácuo; e que ao longo dos anos os palesti­nos veem sofrendo infini­ta­mente com a perda de seus dire­itos.

Foi como se dissesse: — olha eles agi­ram errado ao “meter o bicho como meteram”, mas ao longo dos anos vocês provo­caram tal situ­ação.

O HAMAS já venceu a guerra con­tra Israel pois a sua ação ter­ror­ista por mais abom­inável que tenha sido (e foi) parece infini­ta­mente (e é) menos gravosa do que vem sendo a reação israe­lense na Faixa de Gaza onde joga bom­bas inces­san­te­mente con­tra os civis.

Ora, o ataque ter­ror­ista matou mil e qua­tro­cen­tas pes­soas inocentes que se diver­tiam ou estavam em suas casas, os ataques de Israel, em menos de um mês, tirou mais de dez mil vidas inocentes, com a des­culpa de ter elim­i­nado um, dois, uma dúzia de ter­ror­is­tas.

Tem jus­ti­fica­tiva que se faça assim? Então para se tirar um cisto é cor­reto que se mate o paciente?

As pes­soas sen­sa­tas e mesmo as nações, enten­dem que não.

A reação de Israel ao ataque ter­ror­ista tem cau­sado um efeito reverso, mesmo os palesti­nos (e out­ros árabes) que nunca apoiaram HAMAS pas­saram a apoiá-​lo.

O apoio, registre-​se, não é apoio ao ato ter­ror­ista, mas con­tra a reação Israe­lense, con­tra o mor­ticínio de civis, con­tra as prisões arbi­trárias, con­tra os deslo­ca­men­tos força­dos, con­tra as pri­vações impostas.

Essas pes­soas – se algum dia voltarem as eleições em Gaza e/​ou na Cisjordâ­nia –, votarão nos can­didatos do HAMAS.

Essa é outra der­rota de Israel.

O mundo assiste estar­recido a uma guerra assimétrica (ou seja onde Israel é muito mais forte) com mil­hões de inocentes, sobre­tudo, cri­anças sofrendo seus impactos mais dev­as­ta­dores.

A vitória é do HAMAS porque o apoio a cam­panha israe­lense vai reduzir-​se ainda mais à medida que o sofri­mento dos palesti­nos vai aumen­tando.

O próprio Joe Biden avaliando a impli­cação do seu “apoio incondi­cional”, já man­dou o Secretário de Estado pedir mod­er­ação.

Ele sabe que, muito emb­ora haja um apoio sig­ni­fica­tivo ao povo judeu nos EUA, mesmo os segui­men­tos mais orto­doxos já vêem com pre­ocu­pação os exces­sos cometi­dos. Biden sabe que, se a sua reeleição em 2024 já era uma incóg­nita, esse apoio incondi­cional a Netanyahu pode tornar a der­rota nas urnas uma certeza.

O pre­mier israe­lense que será cat­a­pul­tado do poder na hora que a guerra acabar, pode estar dando o seu último “abraço de afo­gado” no pres­i­dente amer­i­cano.

A única solução de paz pos­sível – que acred­ito possa ser aceito pelos palesti­nos e pela comu­nidade inter­na­cional –, é o esta­b­elec­i­mento dos dois países sober­a­nos e inde­pen­dentes nos ter­mos esta­b­ele­ci­dos pela ONU em 1947.

Em todos os cenários, a vitória é do HAMAS.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado, escritor e cro­nista.

P.S. — Após con­cluir o texto tomei con­hec­i­mento que um min­istro israe­lense propôs o lança­mento de uma bomba atômica con­tra a Faixa de Gaza por conta disso teria sido sus­penso. A lou­cura parece-​me descon­hecer limites.