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BREVÍS­SIMO ENSAIO SOBRE A LIBER­DADE DE SE EXPRESSAR.

Escrito por Abdon Mar­inho


BREVÍS­SIMO ENSAIO SOBRE A LIBER­DADE DE SE EXPRES­SAR.

Por Abdon C. Marinho*.

SEM­PRE que escrevo algum texto mais inciso sobre a política local recebo do querido amigo Mar­cony Farias, ex-​deputado estad­ual e um grande con­ta­dor de cau­sos, um “meme” de uma frase céle­bre de autor que descon­heço: “semeia a ver­dade e colha inimi­gos”.

Tal frase/​meme, aliás, dese­d­uca aquilo que apren­demos nas aulas de cate­cismo, pois con­sta da Bíblia cristã: “Aquilo que o homem semear, isso tam­bém cei­fará” (Gl 6:7) ou, em II Corín­tios, 9:6, que diz: “E isto afirmo: aquele que semeia pouco pouco tam­bém cei­fará, e o que semeia com far­tura com abundân­cia tam­bém cei­fará”. Essa é a lei da semeadura bíblica: quem semear o bem col­herá o bem; quem semear o mal col­herá o mal; quem semear pouco col­herá pouco; quem semear muito, muito irá col­her.

Já com meu pai, homem sim­ples de Angi­cos, RN, anal­fa­beto por parte de pai, mãe e parteira, e, por isso mesmo, sem ser letrado ou con­hece­dor da escrit­uras sagradas, dizia com inco­mum sin­ceri­dade: “aquilo que está errado é da conta de todo mundo”.

Fazia tal afir­mação no intu­ito de nos ensi­nar que aquilo que encon­trá­va­mos de errado por onde passá­va­mos dev­eríamos con­ser­tar ou cor­rigi, impedir que algo pior viesse ocor­rer em vir­tude da nossa omis­são; ou, se não nos cabia cor­ri­gir que tomásse­mos a ini­cia­tiva de aler­tar aque­les que pode­riam cor­ri­gir tal falha.

E, citava como exem­plo, imag­ine que você passé por uma das nos­sas “quin­tas” (era assim que chamá­va­mos as divisões da pro­priedade, onde colocá­va­mos os ani­mais) e encon­tre uma cerca romp­ida, você deve procu­rar cor­ri­gir ou chamar quem possa fazê-​lo, de sorte a impedir que os ani­mais fujam ou aden­tre as roças dos viz­in­hos e destruam o seu sus­tento de um ano inteiro, dizia.

Órfão desde muito cedo – de mãe aos cinco e de pai com pouco mais de vinte –, aprendi a respeitar os ensi­na­men­tos dos meus pais e a tê-​los como dog­mas, regras a serem seguidas. Por vezes imag­ino que se fos­sem vivos talvez não respeitassem tanto os ensi­na­men­tos que recebi como os respeito na ausên­cia.

O certo é que me causa pro­fundo incô­modo teste­munhar algo que sei errado ou com o qual dis­cordo e ficar cal­ado, fin­gir que não vi ou, cini­ca­mente, aplaudir.

Essa inqui­etação deixa os ami­gos pre­ocu­pa­dos, sobre­tudo, aque­les que me esti­mam e querem o meu bem ou que seja recon­hecido por fazer algo de útil para a sociedade e não como “inimigo público número um” das autori­dades.

Com tris­teza, sou forçado a recon­hecer que a pre­ocu­pação dos ami­gos tem uma razão de ser e são per­ti­nentes, pois vive­mos tem­pos em que qual­quer um que detenha um frag­mento de poder, por menor que seja, investe-​se nos poderes abso­lutis­tas de Luis XIV, como se fos­sem a própria encar­nação do Estado: “L’État c’est moi”, O Estado sou eu, na frase atribuída ao rei Luís XIV (16381715).

Ao refle­tir sobre tal quadra política, ficamos com a impressão de que o tempo, no aspecto da intol­erân­cia, da falta de respeito a opinião de diver­gente, cam­in­hou em sen­tido con­trário, como se tivésse­mos retor­nado para a Idade Média, ou para outro período da história, de tristes reg­istros em que as pes­soas eram punidas, exi­ladas, queimadas em praça pública pelo crime de dis­cor­dar.

Mas, vejam, esta­mos em pleno século XXI, com as diver­sas tec­nolo­gias ao alcance de todos, com a ciên­cia pro­lon­gando vidas, curando doenças, per­mitindo que o con­hec­i­mento seja amplo, total e irrestrito.

Ape­sar disso, é como se estivésse­mos vivendo numa espé­cie de pen­sa­mento único em que qual­quer um pode sofrer as con­se­quên­cias por dis­cor­dar. Pior que isso, são tem­pos de pes­soas sen­síveis ao extremo, tudo as “melin­dram”; e per­son­alís­ti­cas, pois tudo que se diga ou se opine, mesmo uma coisa sin­gela, “elas” levam para o lado pes­soal.

Outro dia parei para ler o artigo de um arti­c­ulista local, pes­soa que prima por sua imor­tal rep­utação. O que mais me chamou a atenção no texto do intesti­nal de renome não foi o con­teúdo – com o qual con­cordo em grande parte –, mas, sim, o exer­cí­cio que fez seu autor “des­cul­pando” por dizer coisas tão óbvias.

Imag­ino que nem durante o régime de exceção, a longa noite da ditadura mil­i­tar que durou vinte e anos, algo semel­hante acon­te­cia.

O texto do int­elec­tual, assim me pare­ceu, foi posto como a “prova viva” do que pre­tendia expres­sar, ou seja, os males que podem causar as democ­ra­cias, os poderes hegemôni­cos. O mis­sivista, com “mil e um pedido de des­cul­pas” dire­tos, indi­re­tos e/​ou sub­lim­inares no texto, com­pro­vava tais males ou, talvez, o pior deles, o fato de ter que desculpar-​se por expor uma sim­ples ideia.

O MARAN­HÃO, terra de int­elec­tu­ais como Gonçalves Dias, Hum­berto de Cam­pos, Arthur Azevedo, Gomes Cas­tro, Coelho Neto, Silva Maia, Maria Firmina, Josué Mon­tello e tan­tos out­ros, em pleno século XXI, repito, pro­duz int­elec­tu­ais com medo de expor o seu … int­electo.

Esse mesmo estado, berço de tan­tos juris­tas ilus­tres – que me privo de nom­i­nar para não cor­rer o risco de ser injusto –, ao longo da história e que mesmo na atual quadra pos­sui nomes de grande relevo na advo­ca­cia, inclu­sive, alguns deles com assento par­la­men­tar e gozando das imu­nidades con­sti­tu­cionais, não conta com ninguém para fazer o “dis­tingue” entre o certo e o errado e que se expressem de forma clara e con­tun­dente sobre os temas de inter­esse de todos.

Não con­sigo me con­for­mar quando vejo advo­ga­dos, sobre­tudo, bons advo­ga­dos, talvez os mel­hores de uma ger­ação “fin­gindo” que não con­hecem a Con­sti­tu­ição ou, numa análise ainda pior, conhecendo-​a, como sabe­mos que a con­hecem, aqui­escerem em inter­pre­tações tor­tu­osas que não têm qual­quer outra sig­nifi­cado que não seja a burla ao desejo estatuído pelo con­sti­tu­inte orig­inário.

No ano pas­sado, em con­cor­rida solenidade pelo 209 anos do Tri­bunal de Justiça do Maran­hão, viu-​se hom­e­nagea­dos e “medal­ha­dos” repe­tirem como se um mantra fosse, a céle­bre frase de Rui Bar­bosa: “fora da lei não h’a sal­vação”. Mas, o que é a lei para tan­tos que igno­ram as regras legais, o sen­tido das nor­mas, o espírito da ética ou do decoro? O que é a norma diante de um silên­cio tão ensur­de­ce­dor?

O escritor e jor­nal­ista per­nam­bu­cano Nel­son Rodrigues (19121980) dizia que toda una­n­im­i­dade era burra. Antes de rece­ber tal frase como crítica ou agressão dever-​se-​ia bus­car o con­texto histórico do seu sig­nifi­cado. A divergên­cia não é ofensa, tem, prin­ci­pal­mente, o condão de trazer a lume um olhar difer­ente sobre aquilo que para os demais parece óbvio.

Na ane­dota o “rei nu”, foi pre­ciso que a inocên­cia de uma cri­ança fizesse a rev­e­lação daquilo que à vista de todos ninguém que­ria enx­erga, até o brado da cri­ança no meio da mul­ti­dão: — o rei está nu! Todo sabiam, todos estavam vendo. A con­veniên­cia, o medo, a covar­dia calava todos. A ninguém inter­es­sava dizer o estava óbvio: que o rei des­filava nu.

No apogeu Romano o Senado des­ig­nava alguém para repe­tir no ouvido dos imper­adores quando estes saiam nos seus des­files de vitória: “és ape­nas um homem”, “és mor­tal”, ou sen­tenças semel­hantes. Tudo isso para que o poderoso de plan­tão não perdesse a con­sciên­cia sobre a efe­meri­dade do tri­unfo.

Ditosa Roma que pos­suía tal cos­tume. Quem dera por aqui os poderosos tam­bém enten­dessem que razão para ocu­parem o poder é bem servir ao próx­imo deixando legado as futuras ger­ações pois é isso, efe­ti­va­mente, ape­nas isso, que fará a difer­ença para vida das pes­soas e que con­tará no jul­ga­mento da história. O resto não é nada. Somos ape­nas homens; somos mor­tais; logo mais ser­e­mos pó.

A com­preen­são sobre a fini­tude da qual nen­hum se livrará dev­e­ria nortear a ideia – que já foi muito pre­sente no pas­sado –, que mesmo aque­les que à mín­gua de nada terem a deixarem para as ger­ações futuras se pre­ocu­pavam em deixarem um bom exem­plo.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

O COM­BATE À DESIGUAL­DADE E AO RACISMO COMEÇA COM A EDUCAÇÃO

Escrito por Abdon Mar­inho

O COM­BATE À DESIGUAL­DADE E AO RACISMO COMEÇA COM A EDU­CAÇÃO.

Por Abdon C. Marinho*.

ALGUNS DIAS foi divul­gada uma pesquisa no jor­nal nacional, da rede globo, cujo dado prin­ci­pal apon­tava para o fato da edu­cação básica de pre­tos e par­dos encontrar-​se uma década de atraso em relação a edu­cação dos jovens bran­cos.

Já nesta sem­ana que finda, se não me falha a memória, na terça ou quarta-​feira, saíram dados do IBGE mostrando essa mesma desigual­dade ou dis­torções entre a edu­cação de cri­anças e jovens pre­tos ou par­dos em relação aos branco.

Além da notória, dis­crepân­cia, pesquisa traz out­ros dados desalen­ta­dores, como por exem­plo o fato de, ape­nas, em 2022, 40% (quarenta por cento) dos jovens deixarem o estudo por neces­si­dade de tra­bal­har; e que 7,4% dos brasileiros pre­tos e par­dos são anal­fa­betos, ou seja, segundo a pesquisa, o dobro de anal­fa­betos da pop­u­lação branca.

O dado, entre­tanto, que mais me chamou a atenção na divul­gação da pesquisa é a que trata do aban­dono esco­lar, quando temos que setenta por cento dos jovens que não com­ple­tam o ensino médio são pre­tos ou par­dos.

Uma outra pesquisa, essa de 2020 ou com dados ante­ri­ores à pan­demia, torna a situ­ação da edu­cação brasileira, sobre­tudo a edu­cação pública, ainda mais dramática – e que já tratei dela em tex­tos ante­ri­ores –, o fato da edu­cação brasileira encontrar-​se com um atraso de uma década em relação a out­ros países desen­volvi­dos ou em desen­volvi­mento. Trazendo ainda um dado bem mais alar­mante: que a cor­reção de tal dis­torção levará seis décadas.

Caso os dados con­ti­dos nos dois estu­dos cien­tí­fi­cos não sejam cumu­la­tivos, podemos dizer que a edu­cação de pes­soas pre­tas e par­das no nosso país encontra-​se duas décadas atrasada em relação aos out­ros países.

Ora, como podemos falar em mobil­i­dade social, em igual­dade entre os brasileiros e mesmo entre estes e os demais cidadãos do mundo, com tamanha dis­crepân­cia naquela que seria o motor propul­sor da ascen­são social?

A edu­cação, sabe­mos desde sem­pre, exceto por alguma rara exceção, é uma das pou­cas, senão a única fer­ra­menta capaz de per­mi­tir a ascen­são social de qual­quer cidadão pos­si­bil­i­tando que no exer­cí­cio profis­sional ou de suas vidas este­jam em condições de igual­dade com os demais cidadãos inde­pen­dente de cor, raça, etnia ou quais­quer out­ras condições.

Logo, para com­bat­er­mos os out­ros males que “assom­bram” a sociedade nos nos­sos dias, temos que começar pela edu­cação.

Somente ela é capaz de pro­mover a igual­dade de trata­mento e opor­tu­nidades a quem vida deu ori­gens e cam­in­hos dis­tin­tos.

O que essas pesquisas rev­e­lam não é nada difer­ente do venho afir­mando há quase quarenta anos – há cerca de uma década mate­ri­al­izando em tex­tos escritos para a pos­teri­dade.

Outro dia, em uma palestra a um par­tido político, dizia que desde que cheguei a ilha do Maran­hão, jus­ta­mente atrás de mel­hores condições de edu­ca­cionais – naquele período o inte­rior onde morava na pos­suía ensino médio –, que “brig­amos” em torno das mes­mas pau­tas: mel­ho­rias no ensino, na saúde, nas condições habita­cionais, no trans­porte, na urban­iza­ção, etc. e, não avançamos, ou avançamos muito pouco, em cada uma das pau­tas, a ponto de cheg­amos hoje, só no que­sito edu­cação, osten­tando a dis­crepân­cia reg­istrada nas pesquisas.

E vejam que nem pre­cis­aríamos de pesquisas pra ates­tar­mos isso.

Já nos anos oitenta, noventa, e sem­pre, bastá­va­mos olhar as relações de aprova­dos nos vestibu­lares.

Os jovens ori­un­dos dos mel­hores colé­gios pri­va­dos, encabeçavam as lista­gens dos aprova­dos nos cur­sos mais con­cor­ri­dos, como med­i­c­ina, dire­ito, engen­haria, ciên­cias da com­putação, con­tábeis, e out­ros.

Quando alguém ori­undo da escola pública con­seguia pas­sar em um desses cur­sos ou mesmo quais­quer out­ros, era motivo de comem­o­ração na escola e/​ou no bairro onde morava. E tín­hamos razão para comem­o­rar, pois aquele acesso, aquela pequena vitória era o coroa­mento, o fruto de horas e horas de esforço indi­vid­ual. Enquanto os jovens das mel­hores esco­las pri­vadas “pas­savam direto” do ensino médio para a fac­ul­dade, os seus con­gêneres das esco­las públi­cas pas­savam (e ainda pas­sam) meses, anos, fazendo cursin­hos pré-​vestibulares para alcançar a tão dese­jada vaga na fac­ul­dade.

A nossa falta de con­sciên­cia crítica era tamanha (e ainda é), que achá­va­mos nor­mal que aque­les jovens que tiveram condições de estu­darem a “vida toda” nas mel­hores esco­las pri­vadas ocu­passem as mel­hores vagas, nos cur­sos mais con­cor­ri­dos na fac­ul­dade pública.

E aqui não vai nen­huma crítica ao acesso de pes­soas ricas ou em mel­hores condições finan­ceiras aos mel­hores cur­sos das fac­ul­dades públi­cas, a crítica que se faz, e com veemên­cia, é ao fato do Estado não garan­tir as mes­mas condições de ensino a todos para que “todos” dis­putem em condições de igual­dade as mes­mas vagas.

Achá­va­mos – e ainda achamos –, nor­mal situ­ações de desigual­dade social entre os brasileiros e, tam­bém por isso, jamais ser­e­mos uma nação de cidadãos iguais.

Não lem­bro de algum dia ter visto algum daque­les ricos, bem nasci­dos que pas­saram “de primeira” nos vestibu­lares das uni­ver­si­dades públi­cas se ques­tio­nando ou ques­tio­nando a razão dele estar na fac­ul­dade pública enquanto aquele outro jovem ori­undo da escola pública teria que pas­sar mais alguns anos para ingres­sar naquela mesma fac­ul­dade, em um curso qual­quer, se não desis­tisse antes se achando “burro” ou tangido pela neces­si­dade de tra­bal­har, como ainda hoje apon­tam os dados do IBGE.

E, quan­tas vezes, nós mes­mos, na outra ponta da corda, não achamos “nor­mal” que aque­les jovens cidadãos que tiveram opor­tu­nidades que jamais son­hamos em ter, pas­sas­sem “de primeira” nos vestibu­lares das fac­ul­dades públi­cas, enquanto tín­hamos que esperar? E, ainda dizíamos: — fulano de tal é muito inteligente, é um gênio, etc.

Pois é, aque­les cidadãos, anos depois “viraram” os gov­er­nantes brasileiros e con­tin­uaram achando nor­mal a desigual­dade social, onde os ricos, os bem nasci­dos, tivessem mais dire­itos que os demais.

Com a mesma ignorân­cia que tin­ham na juven­tude, con­tin­uam sem saber de onde vem o racismo estru­tural, de onde vem a vio­lên­cia, de onde vem a pobreza dos cidadãos e dos esta­dos.

Não sabem, por exem­plo, que a grande maio­ria do público das esco­las públi­cas brasileiras é com­posta por pre­tos e par­dos e que, ao negar­mos um ensino de qual­i­dade na base, nos anos ini­ci­ais da vida esco­lar, essas cri­anças nunca terão, salvo as exceções, chance alguma de ascen­der social­mente, de serem grandes profis­sion­ais, de serem agentes públi­cos, etc.

Ao negar­mos, ainda nos primeiros anos de vida, que cri­anças pre­tas, par­das, pobres, ten­ham chance de ascen­der social­mente, pois os esta­men­tos soci­ais não per­mitem, esta­mos prat­i­cando aquilo que con­de­n­amos “da boca pra fora”, o racismo.

O jogador de fute­bol Vini­cius Júnior tem mobi­lizado o mundo con­tra o racismo. Esse jovem jogador ao par­tir para o enfrenta­mento con­tra os racis­tas e pre­con­ceitu­osos de todos os naipes presta um grande serviço à sociedade mundial. Temos vis­tos autori­dades de todo mundo con­de­nando o racismo no futebol.

As autori­dades brasileiras – tam­bém para tirar suas van­ta­gens –, têm avi­ado protestos diver­sos con­tra a situ­ação.

Acon­tece que o racismo sofrido pelo Vini­cius Júnior é ape­nas a face mais grotesca e escan­car­ada do racismo, a mais boçal e que tam­bém deve ser com­bat­ida e que ele, como um jogador de renome inter­na­cional tem feito um exce­lente tra­balho.

Por outro lado, não podemos esque­cer ou fin­gir que não sabe­mos do outro racismo estam­pado em números nas planil­has do IBGE.

Enquanto o hor­rendo racismo que vitima o Vini­cius Júnior ocorre durante as par­tidas de fute­bol, esse outro racismo que nos mostra o IBGE vitima mil­hões de brasileiros todos os dias, por anos, por décadas, por toda vida.

O com­bate ao racismo não se faz com revi­sion­ismo de obras literárias, de nov­e­las ou mesmo com o apoio e sol­i­dariedade de “cele­bri­dades” a jogadores de fute­bol ou de out­ros esportes víti­mas de racismo.

O ver­dadeiro com­bate ao racismo somente acon­te­cerá no Brasil e no mundo quando con­seguirmos ofer­tar as mes­mas condições edu­ca­cionais a todas as cri­anças.

Edu­cação de qual­i­dade, edu­cação igual­itária para todos é a chave para com­bat­er­mos o racismo e as desigual­dades soci­ais.

*Abdon C. Mar­inho é advogado.

O AMIGO BEALQUANDO NOS DEIXA O MEL­HOR AMIGO DA INFÂNCIA.

Escrito por Abdon Mar­inho


O AMIGO BEALQUANDO NOS DEIXA O MEL­HOR AMIGO DA INFÂNCIA.

Por Abdon C. Mar­inho.

A MANHÃ chu­vosa na ilha do Maran­hão veio, tam­bém, com uma nota de tris­teza: a morte de um amigo de infân­cia.

Em deter­mi­nado momento daque­les saudosos e doura­dos anos, do mel­hor amigo da minha infân­cia.

Foi o meu sobrinho-​neto, Ruy­lon Peixoto, filho de minha sobrinha mais velha e de um outro grande amigo de infân­cia, Ger­son Peixoto, que, tam­bém já nos deixou há muitos anos, que trouxe a triste notí­cia.

Repro­duziu a infor­mação de uma página de notí­cias da nossa cidade e escreveu uma leg­enda: — fale­ceu, que triste.

Na sexta-​feira, quando estava a cam­inho de Mor­ros, já havia man­dado a noti­cia de que ele não estava bem, estaria inter­nado em uma UTI em Teresina. Não cheguei a vê a infor­mação, por algum motivo quando fui abrir apare­ceu que estava indisponível. Pen­sei que fosse alguma bobagem ou que se arrepen­dera de man­dar. Só a noite, já em casa, tomei con­hec­i­mento de que meu amigo de infân­cia não estava bem e que uma irmã estava fazendo uma cam­panha para ajudá-​lo no custeio das despe­sas com o trata­mento.

Pela manhã, logo nas primeiras horas, a notí­cia acima. Com pouco mais de cinquenta anos, o meu amigo de infân­cia, Beal, deix­ava esse plano.

Após estu­dar um ou dois anos em Gov­er­nador Archer, no Alde­nora Belo, primeiro morando na Rua do Sossego, em casa alu­gada e depois com a minha irmã Bibia, na Rua Sete de Setem­bro, fui morar em Gonçalves Dias. Meu pai havia con­struído uma casa lá, entre uma casa/​comércio de minha Deiza e a usina de “pilar” arroz dos pais de Beal.

Foi naquela usina que con­heci Beal e sua mãe, D. Irene. Íamos estu­dar na mesma sala, acho a ter­ceira série.

Por algum motivo tinha ido a usina e lá encon­trei com eles.

Como “pare­cia” gostar de estu­dar, sua mãe disse que dev­eríamos estu­dar jun­tos e que ele dev­e­ria ser como eu.

A par­tir daquele dia ficamos ami­gos. Não o chamava pelo apelido, sim pelo nome, Ruber­val; quase sem­pre pelo nome com­pleto, Ruber­val Bruno Dias. Achava curioso, pois o “Bruno” era o sobrenome da mãe.

Morava umas três ou qua­tro casas depois da minha. Desde cedo acos­tu­mado a me “virar” soz­inho – fiquei órfão com cinco anos –, na hora que cla­reava, já lev­an­tava, me arru­mava e seguia para a escola. Nem lem­bro se tomava café, ou mesmo se exis­tia café para tomar.

Todos os dias, é certo, pas­sava na casa de Beal para desce­mos jun­tos para a escola, a Unidade Integrada Castelo Branco.

Chegava lá muito cedo, como a família dele tinha o hábito de “tro­car o dia pela noite”, ainda os encon­trava dor­mindo por qual­quer canto, redes, camas, em lençóis pelo chão, era algo muito inco­mum aos meus olhos. Geral­mente, aguar­dava ele se arru­mar e tomar café e sair­mos para a escola, indo as vezes pela nossa própria rua, a Rua Rui Bar­bosa ou seguindo pela Rua Almir Assis, aguardando na Praça Miguel Bahury, em frente, que tocassem a cam­painha ou já ficá­va­mos mesmo lá na porta aguardando a hora de “for­mar” para entrar­mos no pré­dio.

Só andá­va­mos jun­tos, onde estava um, estava o outro.

Essa prox­im­i­dade valeu-​nos o apelido de “o Gordo e o magro”, pois Beal era bem gordinho quando cri­ança, enquanto eu era magro como uma tripa.

Nosso ciclo mais próx­imo na primeira infân­cia tinha out­ros cole­gas, Kaion Peixoto, Gec­i­mon Pereira, Bento Chaves Neto, e tan­tos out­ros. Mas com Beal a prox­im­i­dade era maior pois sem­pre está­va­mos jun­tos.

Quando ini­ci­amos o “giná­sio”, o equiv­a­lente hoje aos anos finais do fun­da­men­tal, tín­hamos que estu­dar a noite, pois só nesse horário havia esse ensino.

Seguíamos a rotina de antes, final da tarde pas­sava na casa dele e descíamos para o “Ban­deirantes” – era a mesma escola, só que a noite, tinha outro nome.

O que mudava tam­bém era o retorno para casa.

O amigo Beal, muito pre­coce para assun­tos sex­u­ais, todas as noites que­ria voltar pela rua onde ficavam os “cabarés” da cidade, na maio­ria das vezes só mesmo para olhar as “meni­nas”. Naquele tempo, com doze, treze anos, já era para estar­mos nas sacan­a­gens da vida. Com mais grana que nós, nessa fase, sem­pre que podia, Beal estava com uma ou outra. E tinha um fôlego inve­jável.

Acho que foi pelo final da sexta ou começo da sétima série que começamos a nos dis­tan­ciar. Nesse período, Beal teve um prob­lema de saúde, se não me falha a memória, uma apen­dicite, e não voltou mais para a escola – ainda ten­tei que voltasse, sua mãe, tam­bém, mas não teve jeito, não voltou e começamos a seguir cam­in­hos dis­tin­tos.

Com isso, acabou a nossa rotina de estar­mos sem­pre jun­tos. Pouco depois mudaram-​se para outra casa, na mesma rua, mas no “cen­tro” da cidade e pas­samos a quase não nos ver­mos.

Foi por esse tempo que meu pai “botou” um comér­cio na Rua Dr. Paulo Ramos, onde eu pas­sava o dia inteiro, tomando de con­tas, até a hora de ir para o colé­gio. Às vezes quem pas­sava pelo comér­cio era Gec­i­mon para ficar um tempo comigo, bater­mos um papo ou ver­mos alguma coisa das aulas.

Quando ter­minei o giná­sio a neces­si­dade de con­tin­uar os estu­dos me troux­eram para cap­i­tal para fazer o ensino médio no Liceu Maran­hense. Aí a dis­tân­cia com os ami­gos de infân­cia pas­sou a ser tam­bém espa­cial. Pou­cas vezes voltei a Gonçalves Dias ou a Gov­er­nador Archer e as noti­cias dos ami­gos de infân­cia se tornaram mais esparsas, muito emb­ora sem­pre que encon­tre com alguém de casa sem­pre per­gunte: — como vai fulano? E Sicrano?

Já estava morando em São Luís quando soube que seu irmão mais velho, tam­bém é que casou-​se com outra amiga de infân­cia veio a mor­rer de forma bem pre­coce.

Acho que uma ou duas vezes, falei com o seu irmão mais novo Remy, com Sil­vana, outra irmã, falei uma ou duas vezes pelas redes soci­ais, já o irmão Rogério, o caçula, daquela época, nunca tive notí­cias.

Anos depois, fui infor­mado que o amigo Beal se tornara vereador de Gonçalves Dias, fiquei feliz com a notí­cia, muito emb­ora nunca tenha tido a opor­tu­nidade de expres­sar tal ale­gria pes­soal­mente a ele. Nas pou­cas vezes que fui a nossa GD, não o encon­trei, não acom­pan­hei sua vida pes­soal, seus rela­ciona­men­tos, seus casa­men­tos, fil­hos, etc.

Na fotografia – de uma página ou site da nossa cidade e que ilus­tra esse texto –, não recon­heci o meu mel­hor amigo de infân­cia.

Acabamos adiando as coisas na nossa vida. Deix­amos para vis­i­tar o amigo numa outra opor­tu­nidade, de tele­fonar para um par­ente outro dia.

E, vamos sem­pre adiando, até o dia em que não ter­e­mos mais a opor­tu­nidade de faz­er­mos nada do que plane­jamos.

Muitas vezes plane­jei ir a Gonçalves Dias ou a Gov­er­nador Archer para reen­con­trar os ami­gos de infân­cia, sem­pre adiando. Na pan­demia perdi o amigo Gec­i­mon, agora o amigo Beal.

A vida vai pas­sando e não nos damos conta que somos ape­nas pas­sageiros.

Vai com Deus, amigo. Saudades eter­nas de tudo que vive­mos naque­les anos da nossa infân­cia.

Abdon C. Mar­inho.

O AMIGO BEALQUANDO NOS DEIXA O MEL­HOR AMIGO DA INFÂN­CIA

Por Abdon C. Mar­inho.

A MANHÃ chu­vosa na ilha do Maran­hão veio, tam­bém, com uma nota de tris­teza: a morte de um amigo de infân­cia.

Em deter­mi­nado momento daque­les saudosos e doura­dos anos, do mel­hor amigo da minha infân­cia.

Foi o meu sobrinho-​neto, Ruy­lon Peixoto, filho de minha sobrinha mais velha e de um outro grande amigo de infân­cia, Ger­son Peixoto, que, tam­bém já nos deixou há muitos anos, que trouxe a triste notí­cia.

Repro­duziu a infor­mação de uma página de notí­cias da nossa cidade e escreveu uma leg­enda: — fale­ceu, que triste.

Na sexta-​feira, quando estava a cam­inho de Mor­ros, já havia man­dado a noti­cia de que ele não estava bem, estaria inter­nado em uma UTI em Teresina. Não cheguei a vê a infor­mação, por algum motivo quando fui abrir apare­ceu que estava indisponível. Pen­sei que fosse alguma bobagem ou que se arrepen­dera de man­dar. Só a noite, já em casa, tomei con­hec­i­mento de que meu amigo de infân­cia não estava bem e que uma irmã estava fazendo uma cam­panha para ajudá-​lo no custeio das despe­sas com o trata­mento.

Pela manhã, logo nas primeiras horas, a notí­cia acima. Com pouco mais de cinquenta anos, o meu amigo de infân­cia, Beal, deix­ava esse plano.

Após estu­dar um ou dois anos em Gov­er­nador Archer, no Alde­nora Belo, primeiro morando na Rua do Sossego, em casa alu­gada e depois com a minha irmã Bibia, na Rua Sete de Setem­bro, fui morar em Gonçalves Dias. Meu pai havia con­struído uma casa lá, entre uma casa/​comércio de minha Deiza e a usina de “pilar” arroz dos pais de Beal.

Foi naquela usina que con­heci Beal e sua mãe, D. Irene. Íamos estu­dar na mesma sala, acho a ter­ceira série.

Por algum motivo tinha ido a usina e lá encon­trei com eles.

Como “pare­cia” gostar de estu­dar, sua mãe disse que dev­eríamos estu­dar jun­tos e que ele dev­e­ria ser como eu.

A par­tir daquele dia ficamos ami­gos. Não o chamava pelo apelido, sim pelo nome, Ruber­val; quase sem­pre pelo nome com­pleto, Ruber­val Bruno Dias. Achava curioso, pois o “Bruno” era o sobrenome da mãe.

Morava umas três ou qua­tro casas depois da minha. Desde cedo acos­tu­mado a me “virar” soz­inho – fiquei órfão com cinco anos –, na hora que cla­reava, já lev­an­tava, me arru­mava e seguia para a escola. Nem lem­bro se tomava café, ou mesmo se exis­tia café para tomar.

Todos os dias, é certo, pas­sava na casa de Beal para desce­mos jun­tos para a escola, a Unidade Integrada Castelo Branco.

Chegava lá muito cedo, como a família dele tinha o hábito de “tro­car o dia pela noite”, ainda os encon­trava dor­mindo por qual­quer canto, redes, camas, em lençóis pelo chão, era algo muito inco­mum aos meus olhos. Geral­mente, aguar­dava ele se arru­mar e tomar café e sair­mos para a escola, indo as vezes pela nossa própria rua, a Rua Rui Bar­bosa ou seguindo pela Rua Almir Assis, aguardando na Praça Miguel Bahury, em frente, que tocassem a cam­painha ou já ficá­va­mos mesmo lá na porta aguardando a hora de “for­mar” para entrar­mos no pré­dio.

Só andá­va­mos jun­tos, onde estava um, estava o outro.

Essa prox­im­i­dade valeu-​nos o apelido de “o Gordo e o magro”, pois Beal era bem gordinho quando cri­ança, enquanto eu era magro como uma tripa.

Nosso ciclo mais próx­imo na primeira infân­cia tinha out­ros cole­gas, Kaion Peixoto, Gec­i­mon Pereira, Bento Chaves Neto, e tan­tos out­ros. Mas com Beal a prox­im­i­dade era maior pois sem­pre está­va­mos jun­tos.

Quando ini­ci­amos o “giná­sio”, o equiv­a­lente hoje aos anos finais do fun­da­men­tal, tín­hamos que estu­dar a noite, pois só nesse horário havia esse ensino.

Seguíamos a rotina de antes, final da tarde pas­sava na casa dele e descíamos para o “Ban­deirantes” – era a mesma escola, só que a noite, tinha outro nome.

O que mudava tam­bém era o retorno para casa.

O amigo Beal, muito pre­coce para assun­tos sex­u­ais, todas as noites que­ria voltar pela rua onde ficavam os “cabarés” da cidade, na maio­ria das vezes só mesmo para olhar as “meni­nas”. Naquele tempo, com doze, treze anos, já era para estar­mos nas sacan­a­gens da vida. Com mais grana que nós, nessa fase, sem­pre que podia, Beal estava com uma ou outra. E tinha um fôlego inve­jável.

Acho que foi pelo final da sexta ou começo da sétima série que começamos a nos dis­tan­ciar. Nesse período, Beal teve um prob­lema de saúde, se não me falha a memória, uma apen­dicite, e não voltou mais para a escola – ainda ten­tei que voltasse, sua mãe, tam­bém, mas não teve jeito, não voltou e começamos a seguir cam­in­hos dis­tin­tos.

Com isso, acabou a nossa rotina de estar­mos sem­pre jun­tos. Pouco depois mudaram-​se para outra casa, na mesma rua, mas no “cen­tro” da cidade e pas­samos a quase não nos ver­mos.

Foi por esse tempo que meu pai “botou” um comér­cio na Rua Dr. Paulo Ramos, onde eu pas­sava o dia inteiro, tomando de con­tas, até a hora de ir para o colé­gio. Às vezes quem pas­sava pelo comér­cio era Gec­i­mon para ficar um tempo comigo, bater­mos um papo ou ver­mos alguma coisa das aulas.

Quando ter­minei o giná­sio a neces­si­dade de con­tin­uar os estu­dos me troux­eram para cap­i­tal para fazer o ensino médio no Liceu Maran­hense. Aí a dis­tân­cia com os ami­gos de infân­cia pas­sou a ser tam­bém espa­cial. Pou­cas vezes voltei a Gonçalves Dias ou a Gov­er­nador Archer e as noti­cias dos ami­gos de infân­cia se tornaram mais esparsas, muito emb­ora sem­pre que encon­tre com alguém de casa sem­pre per­gunte: — como vai fulano? E Sicrano?

Já estava morando em São Luís quando soube que seu irmão mais velho, tam­bém é que casou-​se com outra amiga de infân­cia veio a mor­rer de forma bem pre­coce.

Acho que uma ou duas vezes, falei com o seu irmão mais novo Remy, com Sil­vana, outra irmã, falei uma ou duas vezes pelas redes soci­ais, já o irmão Rogério, o caçula, daquela época, nunca tive notí­cias.

Anos depois, fui infor­mado que o amigo Beal se tornara vereador de Gonçalves Dias, fiquei feliz com a notí­cia, muito emb­ora nunca tenha tido a opor­tu­nidade de expres­sar tal ale­gria pes­soal­mente a ele. Nas pou­cas vezes que fui a nossa GD, não o encon­trei, não acom­pan­hei sua vida pes­soal, seus rela­ciona­men­tos, seus casa­men­tos, fil­hos, etc.

Na fotografia – de uma página ou site da nossa cidade e que ilus­tra esse texto –, não recon­heci o meu mel­hor amigo de infân­cia.

Acabamos adiando as coisas na nossa vida. Deix­amos para vis­i­tar o amigo numa outra opor­tu­nidade, de tele­fonar para um par­ente outro dia.

E, vamos sem­pre adiando, até o dia em que não ter­e­mos mais a opor­tu­nidade de faz­er­mos nada do que plane­jamos.

Muitas vezes plane­jei ir a Gonçalves Dias ou a Gov­er­nador Archer para reen­con­trar os ami­gos de infân­cia, sem­pre adiando. Na pan­demia perdi o amigo Gec­i­mon, agora o amigo Beal.

A vida vai pas­sando e não nos damos conta que somos ape­nas pas­sageiros.

Vai com Deus, amigo. Saudades eter­nas de tudo que vive­mos naque­les anos da nossa infân­cia.

Abdon C. Mar­inho.