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A Mera Coin­cidên­cia de Maduro.

Escrito por Abdon Mar­inho

(Mapa da América do Sul de 1805).

A Mera Coin­cidên­cia de Maduro.

Por Abdon C. Marinho*.

FAL­TAVA POUCOS dias para as eleições amer­i­canas quando um escân­dalo eclodiu em pleno Salão Oval da Casa Branca: o pres­i­dente teria “bulido” em uma menina que vis­i­tava aquela sede de governo.

Com um escân­dalo sex­ual de tamanha monta, pres­i­dente e asses­sores não vêem muita chance de reeleição. Diante disso, um dos seus asses­sores entra em con­tato com um pro­du­tor de Hol­ly­wood para que este invente uma guerra na Albâ­nia que serviria para desviar as atenções do escân­dalo e cap­i­talizar politi­ca­mente o can­didato à reeleição.

Esse é o fio con­du­tor da comé­dia Wag the Dog, de Barry Levin­son, de 1997. No elenco, mon­stros sagra­dos do cin­ema mundial, como Robert De Niro, Dustin Hoff­man, Kirsten Dunst, Woody Har­rel­son. Para abril­han­tar ainda mais a película, tem uma par­tic­i­pação do can­tor Willie Nelson.

No Brasil, o filme lançado em 1998, rece­beu o nome “Mera Coin­cidên­cia” e o foi o dileto amigo Ader­son Lago, quando nos prepará­va­mos para o embate eleitoral daquele ano que me aler­tou para o mesmo: — ah, Abdon, assisti um filme muito bom, ótimo. Tu não podes perder. Antes que tivesse tempo ou dis­posição para assi­s­tir, me recomen­dou o filme umas três vezes, quase sem­pre acres­cen­tando alguns detal­hes.

Assisti, gostei, recomendo esse clás­sico de 1997, prin­ci­pal­mente para aque­les gostam de “casar” uma comé­dia leve com a política.

Como, nas palavras de Oscar Wilde “a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida…”, o dita­dor da Venezuela, Nicolás Maduro, que no próx­imo ano (2024) pas­sará por um processo eleitoral que tín­hamos esper­ança que fosse limpo, resolveu “inven­tar” sua própria guerra. Essa guerra, entre­tanto, com ares de comé­dia pastelão não conta com o tal­ento de grandes atores, como no filme orig­i­nal – muito pelo con­trário –, e cam­inha a pas­sos lar­gos para se tornar uma tragé­dia para a América Latina.

Desde que o atual grupo político, primeiro com Hugo Chavez e depois com Nicolás Maduro assumiu o poder na Venezuela, em 1999, aquele país que já foi um dos mais ricos do mundo, graças, sobre­tudo, ao petróleo começou um processo acel­er­ado de dete­ri­o­ração con­tando hoje com quase 95% (noventa e cinco por cento) de sua pop­u­lação vivendo em situ­ação de pobreza. Isso mesmo, quase cem por cento da pop­u­lação vive em situ­ação de pobreza, grande parte deles sem con­seguir encon­trar mais nem luxo para comer, uma inflação anual que beira os qua­tro dígi­tos e uma grande parcela de sua pop­u­lação (cerca de dez por cento ou mais) tendo sido obri­gada a bus­car abrigo noutras nações, sofrendo todos os tipos de pri­vações e humil­hações que essa situ­ação impõe.

Nesse cenário des­o­lador para qual­quer um que vá dis­putar uma eleição mas sofrendo pressões de todos os países do mundo mundo civ­i­lizado para que faça eleições e que as mes­mas ten­ham acom­pan­hamento inter­na­cional, ao dita­dor restou “inven­tar” uma reivin­di­cação ter­ri­to­r­ial arbi­trada em favor da Guiana desde 1899, para “acen­der” um sen­ti­mento patriótico, desviar a atenção dos prob­le­mas reais da Venezuela, “que­brar” a oposição acusando-​a de impa­tri­ota e até imputando-​lhe crimes, como já temos visto, e de que­bra, ten­tar algum tipo de “bar­ganha” com o país viz­inho, menor, desmil­i­ta­rizado, etc.

Qual­quer um com o ensino fun­da­men­tal sabe que uma das razões da esta­bil­i­dade do con­ti­nente amer­i­cano reside no fato de ter­mos fron­teiras sól­i­das e definidas há mais de um século e tais definições foram fru­tos de nego­ci­ações pací­fi­cas das diplo­ma­cias desses países.

Todos sabem tam­bém, uns mais que os out­ros, que o régime de Cara­cas não é con­fiável e a prova mais elo­quente disso é como tem se por­tado desde que se instalou e, prin­ci­pal­mente, nos últi­mos dias. Não bas­tava rea­cen­der uma dis­cussão já arbi­trada há mais de um século – e foi semel­hante a definição de fron­teiras de diver­sos out­ros países, prin­ci­pal­mente o Brasil que é o maior da América do Sul –, e para a qual não tem razão, como tam­bém, que levar o con­ti­nente todo para se envolver num front de guerra mundial anun­ciando que vai a Rús­sia em breve ten­tar o apoio para o seu pleito expan­sion­ista junto ao auto­crata Putin, que em pleno século XXI, achou de empreen­der uma expan­são de seu ter­ritório con­tra a Ucrâ­nia des­en­cade­ando uma guerra que já dura dois anos, com mil­hões de pes­soas sofrendo suas con­se­quên­cias.

Não acred­ito que a Rús­sia venha se envolver numa guerra na América, mas isso não a impede de dar força a Maduro, seja no Con­selho de Segu­rança da ONU, caso este resolva aprovar alguma res­olução con­tra a cam­panha expan­sion­ista de Maduro, seja com o fornec­i­mento de armas, homens, equipa­men­tos … será que pre­cisamos disso?

Doido é doido, já dizia meu pai. E caso esse con­flito escale, como ficam os inter­esses do Brasil? Sofr­ere­mos bom­bardeios? A base de Alcân­tara será ata­cada por alguma potên­cia? E, já estão dis­cutindo fron­teiras, nos­sas nações indí­ge­nas, sobre­tudo na região não poderão reivin­di­carem suas inde­pendên­cias em minús­cu­los ter­ritórios autônomos? Nos­sos out­ros viz­in­hos são poderão, se gov­er­na­dos por algum maluco, querer redis­cu­tir as suas fron­teiras com o Brasil?

O mapa que ilus­tra esse tex­tão é de 1805 (?) nele já con­sta a região do Esse­quibo como per­ten­cente à Guiana e não à Venezuela. Depois, na arbi­tragem de Paris, de 1895, ficou con­fir­mado que o ter­ritório ficaria com o primeiro país.

Não vejo sen­tido em se dis­cu­tir nova­mente essa questão pois isso impli­caria em “abrir” espaço para todas as demais dis­cussões rel­a­ti­vas as fron­teiras dos países sulamer­i­canos, incluindo a sobera­nia nacional sobre a Amazô­nia.

O Brasil – e prin­ci­pal­mente o atual gov­erno –, tem uma grande respon­s­abil­i­dade (e inter­esses) com o atual con­flito envol­vendo os dois viz­in­hos pois apoiou de forma “inédita” o régime de Cara­cas tendo o sen­hor Lula, muito emb­ora na condição de ex-​presidente, gravado vídeos e até par­tic­i­pado de comí­cios em favor do dita­dor Nicolás Maduro. Já no atual gov­erno, quando o régime de Maduro enfrentava iso­la­mento inter­na­cional, o gov­erno brasileiro o rece­beu e o apoiou com todas as hon­ras deferi­das não ape­nas um chefe de estado, mas, deferi­das a gov­erno amigo.

O Brasil não pode se “ofer­tar” como medi­ador de con­flito, não existe isso, o que existe é um dita­dor com um pro­jeto expan­sion­ista que ambi­ciona as riquezas do país viz­inho – que só em petróleo de qual­i­dade pos­sui reser­vas de 11 bil­hões de bar­ris, o que equiv­ale a setenta por cento das reser­vas do nosso país.

Não há o que mediar diante de uma situ­ação em que um país con­voca o plebisc­ito para incor­po­rar dois terços do país viz­inho, igno­rando trata­dos inter­na­cionais sec­u­lares, que manda fazer um mapa com a região incor­po­rada a seu ter­ritório, que nomeia gov­er­nador para a provín­cia “incor­po­rada”.

O Brasil pre­cisa dizer clara­mente que dis­corda desse tipo de decisão do gov­erno Maduro, cri­ada uni­ca­mente para sat­is­fazer o próprio ego dita­to­r­ial e se agar­rar ao poder perseguindo os adver­sários.

O que existe para mediar? A Guiana vai pagar “res­gate” para ter seu ter­ritório de volta? Essa “paz” durará até o próx­imo dita­dor rea­cen­der o interesse?

O Brasil pre­cisa ter um lado, uma posição clara – que não é de mediar, pois não há o que mediar –, con­trária aos inter­esses de Maduro, entre­gando a decisão para Corte Inter­na­cional, sob pena de trazer prob­le­mas à própria con­sol­i­dação ter­ri­to­r­ial brasileira, rea­cen­dendo dis­cussões sobre a Amazô­nia, sobre autono­mia de ter­ritórios indí­ge­nas e até mesmo nos inter­esses de viz­in­hos sobre o nosso ter­ritório por acor­dos cel­e­bra­dos no pas­sado.

Ao “nor­malizarmos” o inter­esse de Maduro pela grande Venezuela dos tem­pos colo­ni­ais podemos dar lugar até para a Espanha pleit­ear o respeito ao Tratado de Torde­sil­has.

Ao ten­tar imi­tar uma comé­dia o pés­simo ator Maduro nos apre­senta uma tragé­dia.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.


(Novo mapa da Venezuela de 2023).

Líderes, lid­er­a­dos e conjuntura.

Escrito por Abdon Mar­inho


Líderes, lid­er­a­dos e con­jun­tura.

Por Abdon C. Marinho*.

AMI­GOS próx­i­mos dizem aguardar minha opinião sobre a polit­ica local diante da indi­cação do sen­hor Flávio Dino – até, então, um dos líderes incon­testes da política maran­hense –, para a vaga aberta no Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF com a aposen­ta­do­ria da min­is­tra Rosa Weber.

Essa não é uma análise fácil e difi­cil­mente ter-​se-​á uma resposta “preto no branco” para tal inda­gação.

Se amigo leitor espera uma resposta defin­i­tiva ou mesmo uma “fumac­inha” já pode ir tirando o cav­al­inho da chuva.

Acho que uma das primeiras análises a faz­er­mos é sobre a situ­ação do país.

O Brasil é hoje um país divi­dido e que se recusa a descer do palanque eleitoral.

A pop­u­lação ou pelo menos uma grande parte dela tornou-​se obcecada pelo debate politico – que nada tenho con­tra, registre-​se –, aproximando-​se, muito da irracionalidade.

Vou dar um exem­plo tolo, você abre uma matéria qual­quer sobre um assunto qual­quer, por assim dizer, triv­ial e basta olhar os comen­tários que lá você encon­tra, dos dois lados, refer­ên­cias ao Lula, ao Bol­sonaro.

Debate sobre o seca no nordeste ou a enchente no sul, apare­cem uma infinidade de “comen­taris­tas” dizendo que a culpa é de um ou do outro político.

Até nos famosos “gru­pos da família” você encon­tra esse tipo de debate ou de “enve­ne­na­mento” político.

Pior do que isso só mesmo a “cul­tura” do can­ce­la­mento.

O ator fulano de tal aparece no com­er­cial da marca tal, muito boa por sinal. Ah, mas na cam­panha eleitoral ele disse que o meu can­didato era isso ou aquilo, boicote total, ninguém com­pra mais da marca até que tirem o ator ou a atriz da cam­panha.

Por essas e por tan­tas out­ras tolices percebe-​se que o Brasil tornou-​se um país “doente”, enve­ne­nado pela política.

A esse con­texto ou, prin­ci­pal­mente, dev­ido a ele, deve­mos acres­cen­tar que o nosso con­ter­râ­neo hon­rado com a indi­cação, tornou-​se uma pes­soa con­tro­versa – e aqui não se faz qual­quer juízo de valor quanto aos posi­ciona­men­tos que o tornou “con­tro­ver­tido” –, a ponto de, pela primeira vez na história da República, a oposição fazer uma cam­panha pública, inclu­sive com man­i­fes­tações de rua em todas as cap­i­tais e/​ou grandes cen­tros urbanos con­tra uma indi­cação para o STF, e a pres­sionar por todos os meios, legí­ti­mos ou não, para que o Senado não aprove o seu nome.

Na história da República ape­nas uma vez, segundo con­sta, e, ainda, na chamada “República Velha” tive­mos uma recusa do Senado a uma indi­cação do pres­i­dente para o STF, assim mesmo sem a “cam­panha” orquestrada no seio da sociedade como se tem agora.

Mas, vive­mos tem­pos inédi­tos.

Essa deve ser uma segunda avali­ação.

Até que ponto a oposição terá força para recusar um nome indi­cado ao STF – ini­cial­mente, pen­sei que pas­sasse sem maiores alardes e margem ele­vadís­sima, até porque, como poucos, preenche os req­ui­si­tos con­sti­tu­cionais –, e, depois, até que ponto vai “vigiar” cada passo do novel min­istro?

É dizer, Dino aprovado e empos­sado min­istro STF con­tin­uará sendo vigiado 24 horas por dia, como, aliás, vem sendo out­ros min­istros da corte?

E, assim sendo, colo­cado na berlinda como “adver­sário” político do bol­sonar­ismo, não seria ten­ta­dor jogar “tudo pro alto” e voltar ao enfrenta­mento político?

Veja, aqui são digressões, por vezes, diva­gações. Como tais, per­mitem que façamos esses exer­cí­cios men­tais.

O plano de Dino – desde sem­pre –, foi ser pres­i­dente da República. Para isso, nos momen­tos de frag­ili­dade política do Lula e do petismo, colocou-​se na condição de inimigo número um do bol­sonar­ismo.

Que­ria esse pro­tag­o­nismo e seria um dos nomes a dis­putar con­tra o ex-​presidente Bol­sonaro se o ex-​presidente Lula não tivesse sido can­didato.

Eleito Lula, con­tin­uou no mesmo pro­tag­o­nismo de enfrenta­mento do bol­sonar­ismo no Min­istério da Justiça, tam­bém, na intenção de se “cred­i­bi­lizar”, como antag­o­nista de Bol­sonaro para suceder o Lula na dis­puta ao maior cargo da nação.

Como já dis­se­mos esse “pro­tag­o­nismo” atraiu dois sen­ti­men­tos: o ódio dos bol­sonar­is­tas e o ciúme dos lulis­tas.

A sua indi­cação para a Suprema Corte não desagradou ape­nas os opos­i­tores, a ponto de pro­moverem uma inédita cam­panha con­tra seu nome, mas, tam­bém, inúmeros ali­a­dos “de primeira hora” que o tinha na conta de um pos­sível quadro para suceder o Lula, em 2026 ou 2030.

Muitos destes ali­a­dos ficaram “ressen­ti­dos” com o fato dele (Dino) ter preferido seguir no bloco “eu comigo mesmo” para o Supremo.

Indi­cado ao cargo de min­istro e tendo que enfrentar uma inédita “pedreira” política até vestir a toga, Dino prom­e­teu que será seu último cargo – um casa­mento para a vida toda.

Faz todo sen­tido esse tipo de “com­pro­misso” pois ele foi um político (sem mandato, é ver­dade, não sei se fil­i­ado) que virou mag­istrado; um mag­istrado que virou político; e, agora, nova­mente, um político em vias de virar magistrado.

Caso não ocorra o impen­sável e ele se sagre min­istro do STF, alguns ques­tion­a­men­tos per­manecerão pre­sentes e vivos: o bol­sonar­ismo o man­terá na condição de “inimigo número um”, junto com o min­istro Alexan­dre de Moraes? Ele vai “aguen­tar” cal­ado todo tipo de dis­curso con­tra ele ou voltará para o embate político? Em quanto tempo?

Mesmo que fique as duas décadas no STF, com setenta e cinco anos e com os adver­sários fazendo sua cam­panha diu­tur­na­mente, não será estranho se ainda vier a dis­putar uma eleição pres­i­den­cial.

Como os ami­gos podem perce­ber, não se trata de uma análise de con­jun­tura fácil de se fazer. Depende de muitas var­iáveis: desde a saúde de Lula a dis­cussão de mandatos para min­istros do STF – que é debate que ocorre em vários países do mundo.

A Dino talvez seja mais “inter­es­sante” dizer que foi min­istro do STF do que dizer que aposentou-​se como min­istro do STF.

Em relação a política local é certo dizer que o din­ismo não se assenta numa estru­tura hier­ar­quizada – até existe uma certa ojer­iza em relação aos políti­cos tradi­cionais –, se assim fosse, bas­taria dizer que o “número dois” assumiria daqui pra frente.

A lig­ação do din­ismo é com o próprio Dino, mesmo aque­les, que, cer­ta­mente, teriam alguma influên­cia sobre ele, não se “can­di­datam” a sucedê-​lo ou insin­uam pos­suir tal desejo. Ainda que pos­suam não se man­i­fes­taram.

Querem ocu­par um espaço que não sabem se se encon­tra vazio ou não mas sem esse com­pro­misso da sucessão.

Orbitam em torno do din­ismo três par­tidos prin­ci­pais: o PSB, ao qual esteve (ou ainda estar fil­i­ado); o PCdoB, para onde foi quando retornou a política, em 2006; e o PT, par­tido onde mil­i­tou na primeira fase política e de onde nunca se afas­tou afe­ti­va­mente, basta dizer que em 2003, na esteira da eleição de Lula, no ano ante­rior, surgiu um movi­mento den­tro desse par­tido para fazer Dino can­didato a prefeito de São Luís em 2004, o movi­mento acabou por fra­cas­sar e o retorno de Dino à política, pelas mãos de Zé Reinaldo, só veio ocor­rer em 2006, quando se elegeu dep­utado fed­eral.

Para saber­mos o “impacto” da indi­cação de Dino para STF terá na política local, partindo do pres­su­posto que a mesma será con­fir­mada pelo Senado, como é nor­mal que ocorra, uma das primeiras questões a serem lev­an­tadas é a questão da “defin­i­tivi­dade”.

O que isso sig­nifica? Sig­nifica saber se ele estará de “fato e de dire­ito” fora da política para todo o sem­pre, sem qual­quer pre­ten­são de retorno, no curto, médio prazo ou mesmo depois de aposentar-​se, o que, nas regras atu­ais acon­te­cerá daqui a vinte anos.

Se a saída da política é defin­i­tiva e sem qual­quer chance de retorno, a “coisa” muda de figura.

Cada um dos políti­cos e mesmo os par­tidos, bus­carão out­ros pro­je­tos.

Sem a “defin­i­tivi­dade” resolvida, em torno de qual pro­jeto político o grupo se man­terá unido e coman­dado por quem?

A questão do “comando” é rel­e­vante e pre­cisa ser bem ajus­tada porque sem poder “dá pitaco”, exceto, muito reser­vado, have­ria rebe­liões diver­sas.

Uma das regras mais ele­mentares do jogo do poder é aquela que diz não haver espaço vazio na política ou, o velho “rei morto, rei posto”.

A saída de Dino do “jogo” movi­menta diver­sas pedras do xadrez.

Sem Dino no con­texto político e como “fiador” dos espaços políti­cos que seus ali­a­dos ocu­pam no poder estad­ual, que tipo de com­pro­mis­sos o atual gov­er­nador se sen­tirá “obri­gado” a man­ter? Outra, se vai man­ter. E, volta­mos a questão do comando, quem terá a “legit­im­i­dade” para cobrar?

É fato que o atual gov­er­nador e o seu entorno político se con­sol­i­daram como uma nova força política no estado inde­pen­dente de qual­quer apoio político do ante­ces­sor – as diver­sas “cos­turas” que fez e mesmo o apoio pop­u­lar que man­tém ape­sar da crise econômica que atrav­essa o estado, mostram isso.

Intra­muros e mesmo com Dino “ativo” na política, ali­a­dos próx­i­mos do ex e do atual gov­er­nador já dis­cu­tiam – ou defendiam –, uma rup­tura no pacto de poder que os man­tinham unidos antes da indi­cação.

Com Dino “ina­tivo”, qual será a estraté­gia: ten­tar assumir o comando total do grupo – e isso impli­caria em abrir mais espaços de poder –, ou “apos­tar” no seu ocaso? No caso da primeira hipótese, o din­ismo, sem Dino, aceitaria? E em que bases?

Exis­tem out­ras forças políti­cas à espre­ita do possa vir acontecer.

Existe um grupo de dire­ita no estado – muito emb­ora poucos saibam o que seja isso –, que cresceu e se con­soli­dou como opos­i­tores ao din­ismo – e que ficaram em segundo lugar nas eleições de 2022 –, con­tin­uará forte sem o prin­ci­pal antag­o­nista ou voltará à antiga expressão política?

Existe o grupo político vin­cu­lado ao senador Wev­er­ton Rocha que ficou em ter­ceiro lugar na última dis­puta de gov­erno – “her­dará” parte desse eleitorado din­ista a ponto de se via­bi­lizar para a próx­ima eleição majoritária como gov­er­nador ou para man­ter o cargo de senador?

Exis­tem ainda, à dire­ita e à esquerda, diver­sas forças e per­son­agens aguardando o próx­imo lance político para tirarem, para si, os mel­hores div­i­den­dos.

O tempo, em todo caso, é o sen­hor razão, é aguardar para con­ferir.

Ou, como dizia um antigo político maran­hense: quem viver verá.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado, escritor, cro­nista.

Vin­cu­lação de Dino ao crime orga­ni­zado é absurda.

Escrito por Abdon Mar­inho

Vincu­lação de Dino ao crime orga­ni­zado é absurda.

Por Abdon C. Marinho*.

O AMIGO Nedil­son Bar­bosa Coelho, político lá de Cedral e meu amigo de uma vida, esteve no escritório e me abor­dou:

— Abdon, viste esses “memes” de Flávio Dino com o crime organizado?

Respondi-​lhe com a ver­dade:

— Não, não vi.

— Ah, tem um monte, não “falam de outra coisa”, tem uma infinidade de mon­ta­gens, memes, etc.

Como já sabem os mais próx­i­mos, rara­mente par­ticipo de debates de gru­pos e as ocu­pações diárias não me per­mitem acom­pan­har as pub­li­cações, e se me man­dam, não sendo pes­soas bem con­heci­das não abro. Muitas vezes nem mesmo dessas me dou o tra­balho de olhar.

Essa minha “ojer­iza” a abrir áudios, vídeos, memes, já até me ren­deu um “meme” próprio: aquele da pes­soa que não sabe o que está acon­te­cendo porque não abre as men­sagens que lhe man­dam.

Em relação a esse episó­dio tão comen­tado, imag­ino que foi o que acon­te­ceu.

Acho que bem poucos cidadãos, políti­cos adver­sários ou ali­a­dos, jor­nal­is­tas alin­hados ou de oposição apon­taram os acer­tos e, prin­ci­pal­mente, os desac­er­tos do gov­erno Flávio Dino (2015÷2022) quanto eu.

Qual­quer um que dig­ite seu nome no meu site encon­trará uma “enx­ur­rada” de tex­tos a grande maio­ria com críti­cas ao seu gov­erno e ao seu estilo de governar.

Como, sem­pre que posso, evito citar os nomes próprios – acho que deve­mos falar de fatos, não de pes­soas –, a quan­ti­dade de tex­tos com refer­ên­cias aos desac­er­tos gov­er­na­men­tais são ainda mais abun­dantes e diversos.

Quem apos­tava numa “rev­olução” gov­er­na­men­tal que tirasse o Maran­hão do atraso como eu, só gan­hou decepção.

Ainda no dia da eleição de 2014 fiz uma carta-​aberta ao can­didato mostrando pon­tos que dev­e­riam ser obje­tos de pre­ocu­pação e por onde dev­e­ria começar para fazer um gov­erno efe­ti­va­mente difer­ente – o nosso balu­arte da imprensa, o Jor­nal Pequeno, pub­li­cou a missiva.

Ainda antes da posse mais um tex­tão dizendo que a eleição dele se devia ao desejo de mudança do povo, de alternân­cia ao antigo régime e que ele dev­e­ria implan­tar as mudanças de ime­di­ato, isso foi no texto “recado ao Dino: mate o galo na primeira noite”.

Por ocasião falei-​lhe que todo aquele povo ali na praça alguns chorando era por acred­i­tar em um Maran­hão difer­ente e que aque­las eram lágri­mas de esper­ança.

Ape­sar de todos meus comen­tários e con­sel­hos serem igno­ra­dos, con­tin­uei pon­tuando o que achava inad­e­quado, o fato de não se cer­car de bons con­sel­heiros, preferindo o con­sór­cio de devo­tos e adu­ladores; do desprezo à exper­iên­cia e visão de Zé Reinaldo, que o trouxe para a política; o fato de ir deixando quem o aju­dou pelo caminho.

Em momen­tos dis­tin­tos escrevi dois tex­tos refletindo a solidão do gov­er­nante: “o menino só” e “ami­gos pelo caminho”.

Reclamei da perseguição pes­soal e insti­tu­cional aos jor­nal­is­tas e blogueiros; da uti­liza­ção do poder estatal con­tra adversários.

E não foram poucos os tex­tos mostrando que o estado não cam­in­hava para o futuro son­hado e dese­jado pelo povo. Falei sobre o acordo com grupo Sar­ney pon­tuando que enter­rara os cinquenta anos de atraso e sobre a junção política de ambos no união que não ousava o nome.

Se não me falha a memória, a última análise que fiz do gov­erno do sen­hor Dino, às vésperas ou logo depois de sua saída foi no texto “O fra­casso da ger­ação Pira­pora”, uma análise do fra­casso da nossa ger­ação à frente do gov­erno depois te tan­tos anos crit­i­cando o “antigo régime” e legando indi­cadores ainda piores e fes­te­jando as reit­er­adas inau­gu­rações de restau­rantes pop­u­lares quando o seu sig­nifi­cado é sem­pre o oposto do que deseja para um estado desen­volvido.

Pois bem, faço essas breves digressões para dizer que são com­ple­ta­mente absur­das essas ten­ta­ti­vas de vin­cu­lação do atual min­istro ao crime orga­ni­zado.

É dizer, me parece tão deli­rante esse tipo de pauta que a minha impressão é que trata de uma cortina de fumaça colo­cada pela própria vítima para desviar a atenção de alguma coisa.

O cin­ema já explorou o tema algu­mas vezes.

Fun­ciona assim: você faz uma “lam­bança” inde­fen­sável, não tem como defender e aí, para desviar a atenção daquilo que é real, você insu­fla uma falsa acusação de algo bem mais grave, com­plexo, muitas vezes com con­teúdo sex­ual, etc… E o que acon­tece? As pes­soas acabam “per­dendo tempo” com a falsa acusação ao invés de ir atrás do fato real para o qual não tem des­cul­pas.

Após o alerta de Nedil­son, fui ver­i­ficar min­has caixas de men­sagens ou mesmo de gru­pos e vi que nos últi­mos dias me chegaram infini­tas matérias de blogues obscuros e até da imprensa séria com esse tipo de infor­mação, que o min­istro da justiça estaria “vin­cu­lado”, em “con­chavo” com o crime organizado.

O “pule de dez” para o delírio cole­tivo final teria sido o fato de uma sen­hora, esposa de um traf­i­cante con­de­nado e preso – e ela tam­bém con­de­nada, mas recor­rendo em liber­dade –, ter se “infil­trado” numa comis­são qual­quer do Ama­zonas e ter ido tratar de pau­tas den­tro do Min­istério da Justiça.

O fato gan­hou tanta reper­cussão e explo­ração política que todos os canais de tele­visão, blogues, canais de inter­net divul­garam e tornaram o rosto da apel­i­dada “dama do trá­fico” um dos mais con­heci­dos da mídia – talvez ela passé a ser uma “influencer”.

E, tam­bém, por conta disso, o min­istro virou “ali­ado” de alguma das facções crim­i­nosas que infes­tam o país.

A situ­ação é tão “inusi­tada” que o pres­i­dente, gov­er­nador, dep­uta­dos e tan­tos out­ros políti­cos, chegaram a se “sol­i­darizar” com o min­istro com dire­ito a divul­gação na mídia.

Ora, o absurdo de tal vin­cu­lação é tão desproposi­tado que não caberia as autori­dades ou quem quer que seja hipote­car sol­i­dariedade ao min­istro.

Muito menos que ele fosse agrade­cer.

A única coisa razoável a se fazer seria igno­rar a “não” notí­cia.

Pelo que percebo, grande parte das “não notí­cias” têm par­tido de redes “vin­cu­ladas” ao bol­sonar­ismo – pelo menos me chegaram em maior pro­porção as vin­das deste segui­mento.

Por outro, lado sou infor­mado que os “cole­gas” de dis­puta pela cobiçada vaga de min­istro do STF (que juraram amizade eterna) tam­bém estariam por trás da patranha – ou pelo menos ten­tado tirar uma “casquinha” da história.

O “hábito” do min­istro de ter se colo­cado – desde a cam­panha eleitoral de 2022 e, prin­ci­pal­mente, depois de insta­l­ado o novo/​velho gov­erno petista –, na condição de ser mais real­ista que o rei fez com que atraísse con­tra si todos os ódios dos adver­sários e todos os ciúmes “dos ali­a­dos”, que pas­saram a ter nele o inimigo a ser batido.

Com isso, repetem uma velha manchete de um antigo jor­nal por­tuguês que dizia: “Dire­ita e esquerda do mesmo lado”. No caso, do mesmo lado, con­tra o min­istro pos­tu­lante a vaga no STF.

No pre­sente episó­dio, entre­tanto, parece-​me que erraram o ponto ou se enga­naram no excesso, de tal sorte que a ilação, a notí­cia, os ares de escân­dalo, de tão absur­dos, mais aju­dam do que atra­pal­ham o sen­hor Dino.

O con­sór­cio lulo-​bolsonarista, dire­ita e esquerda, do mesmo lado, escan­dal­izam uma acusação boba, sem pé nem cabeça ao invés de, se fosse o caso, apontarem fal­has reais, insuces­sos con­cre­tos, etc., do min­istro.

Ninguém sério acred­ita nessa bobagem de que o min­istro da justiça tem vin­cu­lação com o crime orga­ni­zado.

Trata-​se de uma pes­soa que desde muito cedo leva uma vida “pública” – mesmo antes disso exi­s­tir –, mil­itân­cia política, tem desde os tem­pos da cam­panha pelas “Dire­tas Já”, quando tinha de treze para qua­torze anos.

Eu mesmo o con­heço desde essa época, quando ele estu­dava no Maris­tas e eu chegava no Liceu Maran­hense, em mea­dos dos anos oitenta.

Já se vão quase quarenta anos e nunca se ouviu ou se teve notí­cias de qual­quer coisa do tipo.

Ao meu sen­tir, trata-​se de algo tão absurdo que se tivesse sido plane­jado por ele para colo­car dire­ita e esquerda tra­bal­hando a seu favor não teria saído tão per­feito.

Essa total “falta de absurdo”, como dizia um político com quem tra­bal­hei anos atrás, acabam por aju­dar as pre­ten­sões do min­istro – na ver­dade as segun­das pre­ten­sões, já que a primeira seria a presidên­cia.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.