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O MARAN­HÃO EM MOMENTO ÚNICO.

Escrito por Abdon Mar­inho


O MARAN­HÃO EM MOMENTO ÚNICO.

Por Abdon C. Marinho.

ENQUANTO lia, com desu­sado inter­esse, a col­una do ex-​governador José Reinaldo Tavares, no Jor­nal Pequeno, da última terça-​feira, 11 de out­ubro, onde tratava sobre as poten­cial­i­dades do nordeste e, prin­ci­pal­mente, do Maran­hão, na ger­ação de com­bustíveis sus­ten­táveis, notada­mente na pro­dução de hidrogênio verde, o com­bustível do futuro, pen­sava no extra­ordinário momento que passa e sobre o futuro que aguarda o nosso estado.

A col­una do ex-​governador nos informa que o atual gov­er­nador, Car­los Brandão, que par­ticipou da reunião com cien­tis­tas e rep­re­sen­tantes de out­ros esta­dos nordes­ti­nos ficou encan­tado com as per­spec­ti­vas que se abrem para o estado nesse setor.

Ante­ri­or­mente, um dia após a reeleição, em primeiro turno, o gov­er­nador declarou ao Jor­nal Nacional, que um dos focos para o mandato a iniciar-​se em primeiro de janeiro de 2023 é o inves­ti­mento em edu­cação.

Trata-​se de uma notí­cia aus­pi­ciosa. É um imper­a­tivo para qual­quer êxito da sua gestão, uma vez que a despeito de tudo que já foi feito até aqui – e é dever recon­hecer que se investiu muito em edu­cação nos últi­mos anos –, o Maran­hão con­tinua na “rabeira” da fila dos indi­cadores que medem con­hec­i­mento.

O estado, para poder aproveitar as grandes opor­tu­nidades que se apre­sen­tam para o futuro pre­cis­ará de uma edu­cação vig­orosa que pre­pare os maran­henses para ocu­par os empre­gos que sur­girão em um futuro próximo.

Con­forme tratare­mos em um texto especí­fico, edu­cação é inves­ti­mento de longo prazo e que os insuces­sos pre­sentes não são motivos para desistên­cia, mas estí­mu­los às novas abor­da­gens e tec­nolo­gias edu­ca­cionais. Mas, como dito, este é um assunto para tratar­mos em separado.

Além do poten­cial do estado para a pro­dução do hidrogênio verde – chamado assim por ser pro­duzido a par­tir da eletrólise da água através de ener­gia limpa –, uma vez que ainda pos­sui água em abundân­cia e tem extra­ordinário poten­cial para a pro­dução de ener­gia éolica e solar, temos ainda, o pro­jeto da con­strução do Ter­mi­nal Por­tuário de Alcân­tara — TPA, que servirá de escoad­ouro da pro­dução vinda através de fer­rovia e rodovia das regiões pro­du­toras de grãos do sul do estado e da região cen­tro oeste do país; a explo­ração com­er­cial do Cen­tro de Lança­mento de Alcân­tara.

Do outro lado da baía de São Mar­cos, se impõe a neces­si­dade de ampli­ação do Ter­mi­nal Por­tuário do Itaqui para que receba a pro­dução vinda de out­ras regiões do país, através da fer­rovia do nordeste.

Um outro pro­jeto que não podemos perder de vista – ou deixar se perder –, é o que cria a Zona de Expor­tação do Maran­hão – ZEMA, con­forme dito em alguns tex­tos ante­ri­ores este, é um pro­jeto que tem tudo para tirar o estado do atraso estru­tural em que foi colo­cado ao longo das décadas.

É per­feita­mente pos­sível imag­i­n­ar­mos o Maran­hão como um grande entre­posto com­er­cial mundial, com cen­te­nas de navios car­gueiros dos dois lados da Baía de São Mar­cos trazendo e levando riquezas que serão usufruí­das pelos maran­henses e por todos os brasileiros.

Por que não? Hong Kong con­seguiu, Sin­ga­pura con­seguiu, tan­tos out­ros con­seguiram.

Por que não con­seguiríamos tam­bém com tan­tas condições favoráveis?

Não menos impor­tante é a ban­cada do estado se mobi­lizar para tirar do papel a rodovia transli­torânea, a BR 308, lig­ando por terra, pelo litoral norte, a cap­i­tal do Maran­hão a Belém, cap­i­tal do Pará, aca­bando com a ideia de que aqui é o “fim do mundo”.

Tal rodovia implica na solução de um outro prob­lema de mobil­i­dade: a dependên­cia única do sis­tema de ferry-​boat.

A nova rodovia impli­caria na con­strução de pontes lig­ando São Luís à baix­ada via Ilha dos Carangue­jos, Cajapió.

Chegando a tal municí­pio ter-​se-​ia duas alter­na­ti­vas: o acesso para o litoral norte por Bacu­rituba, São Bento, Peri-​Mirim e Bequimão – que já diminuiu muito a dis­tân­cia com a con­strução da ponte Bequimão/​Central do Maran­hão e o asfal­ta­mento da MA/​BR 308, no tre­cho –, e o acesso para os demais municí­pios da baix­ada via São João Batista, através do qual se chegará a São Vicente Fer­rer, Olinda Nova, Mat­inha, Viana, Penalva, Cajari, etc.

Uma outra forma de mel­ho­rar a mobil­i­dade no estado e colo­car­mos com­posições para o trans­porte de pas­sageiros, aprovei­tando a estrada de ferro São Luís/​Teresina, pelo menos de Bacabaira para cap­i­tal, mas podendo ter um per­curso ainda maior, quem sabe até Itapecuru-​Mirim.

A fer­rovia encontra-​se subu­ti­lizada enquanto a BR 135 exper­i­menta lon­gos tre­chos de “engar­rafa­men­tos”, sobre­tudo, nos horários de pico.

São proposições que somadas a tan­tas out­ras, têm o condão de desen­volver o estado como um todo, de norte a sul, de leste a oeste, rompendo, repito, com o ciclo de atraso estru­tural que sem­pre nos perseguiu.

O atual gov­erno acer­tou em cheio quando criou uma Sec­re­taria de Estado voltada para os pro­je­tos espe­ci­ais e mar­cou um gol de placa quando entre­gou ao ex-​governador José Reinaldo Tavares a mis­são de comandá-​la.

Con­forme venho dizendo há mais de uma década, o ex-​governador é, dos políti­cos vivos do Maran­hão, o que pos­sui maior con­hec­i­mento e visão de con­junto para desen­volver o estado.

Isso é facil­mente com­pro­vado com a leitura dos seus tex­tos pub­li­ca­dos às terças-​feiras no Jor­nal Pequeno.

Zé Reinaldo pos­sui, como poucos, uma visão geral do estado e, a despeito de já ter cruzado a fron­teira dos oitenta anos, pos­sui uma mente mar­avil­hosa­mente ante­nada com o futuro.

Essa é a razão de haver dito do título do texto que o Maran­hão se encon­tra em um momento único.

Temos diver­sas poten­cial­i­dades em plena ges­tação, um gov­er­nador que declara-​se com­pro­metido com a edu­cação e no comando da sec­re­taria de pro­je­tos espe­ci­ais uma pes­soa extrema­mente preparada e visionária sobre con­junto de medi­das que pre­cisamos empreen­der para o estado ocu­par seu ver­dadeiro lugar no cenário econômico nacional e mundial.

Claro que isso não acon­tece da noite para o dia; claro que pre­cis­are­mos con­tar com recur­sos, inves­ti­men­tos, ampli­ação da sec­re­taria de pro­je­tos espe­ci­ais com novos téc­ni­cos que tam­bém pos­suam uma visão geral do estado; claro que pre­cis­are­mos con­tar com o com­pro­me­ti­mento da classe política local e dos rep­re­sen­tantes do estado no Con­gresso Nacional.

São todas vari­antes que pre­cisam ser tra­bal­hadas pelo gov­erno que se insta­lará a par­tir de 2023. Faz-​se necessário que ten­hamos foco nas medi­das macro de desen­volvi­mento.

Como disse ante­ri­or­mente, vis­lum­bro que esta­mos no cam­inho certo.

O Maran­hão, dizia este que vos fala, há quase uma década, é, dos esta­dos da fed­er­ação, o que pos­sui maior poten­cial de desen­volvi­mento econômico, depen­dendo do que façamos tal desen­volvi­mento chegará para nós, nos­sos fil­hos, netos ou para as ger­ações futuras, mas estou certo que virá.

O Maran­hão encontra-​se con­de­nado ao desen­volvi­mento, se agora ou no futuro, depende de nós e do que fare­mos nos próx­i­mos meses.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

Salve­mos Deus do inferno eleitoral.

Escrito por Abdon Mar­inho


SALVE­MOS DEUS DO INFERNO ELEITORAL.

Por Abdon C. Marinho.

— Por que me exper­i­men­tais, hipócritas? Mostrai-​me uma moeda de trib­uto. Trouxeram-​lhe um denário.

Ele per­gun­tou: — De quem é esta efígie e inscrição?

Respon­deram: — De César.

Então lhes disse Jesus: — Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.

A frase acima, que, com alguma vari­ação con­sta de três evan­gel­hos (Mateus, Mar­cos e Lucas) – aqui usamos o de Mateus –, e narra a ten­ta­tiva de fariseus em ten­tar apan­har Jesus Cristo em alguma “falta” ou impor-​lhe a pecha de insur­gentes.

Narra o evan­gelho: “Então os fariseus se reti­raram e con­sul­taram como apan­hariam a Jesus em alguma palavra. Enviaram os seus dis­cípu­los, jun­ta­mente com os hero­di­anos, a per­gun­tar: Mestre, sabe­mos que és ver­dadeiro e que ensi­nas o cam­inho de Deus segundo a ver­dade, e não se te dá de ninguém, porque não te deixas levar de respeitos humanos; dize-​nos, pois, qual é o teu pare­cer; é líc­ito ou não pagar o trib­uto a César?”.

Mas Cristo percebendo a malí­cia os admoestou, chamando-​os de hipócritas e per­gun­tando porque o exper­i­men­tavam.

Em um outro episó­dio, de todos con­hecido, e nar­rado nos qua­tro evan­gel­hos canôni­cos do Novo Tes­ta­mento, Jesus viaja a Jerusalém para a Pás­coa e lá chegando encon­tra o Tem­plo tomado por cam­bis­tas e vendil­hões.

Neste episó­dio, o único que se tem notí­cia de Cristo usando a força física, Ele os expulsa, acusando-​os de tornar o local sagrado em uma cova de ladrões através de suas ativi­dades com­er­ci­ais.

No Evan­gelho de João, Jesus se ref­ere ao Tem­plo como “casa de meu Pai”.

Neste feri­ado ded­i­cado a Nossa Sen­hora da Con­ceição Apare­cida, enquanto revia tais nar­ra­ti­vas bíbli­cas, pus-​me a pen­sar em quan­tos fal­sos cristãos nos cer­cam e ten­tam per­verter os ensi­na­men­tos de Cristo Jesus para ten­tar col­her div­i­den­dos políti­cos eleitorais.

Políti­cos que, pela manhã estão na igreja católica, a tarde no tem­plo evangélico e à noite nos ter­reiros de alguma religião de matriz africana.

Não nos ilu­damos, estes não pos­suem qual­quer fé ou respeito pela fé alheia, ape­nas ten­tam, usando a fé dos out­ros tirar proveito mesquinho.

São os vendil­hões do tem­plo, que no princí­pio, o próprio Cristo, expul­sou da Casa do Pai.

Nova­mente, não nos ilu­damos, estes não são os piores, muito emb­ora anti-​Cristo, piores do que eles são aque­les que de den­tro do Tem­plo nego­ciam a fé dos seus irmãos e lid­er­a­dos. Para estes não haverá qual­quer salvação.

Ora, foi o próprio Jesus Cristo que sep­a­rou a igreja da política.

Ao dizer: “a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”, o Deus-​vivo deix­ava claro que os assun­tos mun­danos (a política) não dev­e­riam cam­in­har jun­tos aos assun­tos da fé.

O que é de César é de César – o din­heiro, o poder, a política –, o que é de Deus é de Deus – a fé, a sal­vação da alma.

Imag­inem que Jesus Cristo, no único episó­dio que nos narra a Bíblia em que apelou a vio­lên­cia física, foi para expul­sar os vendil­hões do tem­plo. Daí percebe­mos a sua enorme con­trariedade com a uti­liza­ção da “Casa do seu Pai” para out­ros assun­tos que não fos­sem os assun­tos de Deus.

E o que assis­ti­mos hoje? Fal­sos cristãos entre­gando “as chaves dos tem­p­los” aos anti-​Cristo; os púl­pi­tos das igre­jas trans­for­ma­dos em palan­ques eleitorais; os fiéis e obreiros das igre­jas con­ver­tidos em cabos eleitorais, em busca de votos como os cole­tores de impos­tos de César inva­diam as casas das pes­soas em busca dos seus denários.

Não vejo os “bons cristãos” irem às casas levar a Palavra ou cuidar dos assun­tos de Deus. Estão indo, sim, bus­car os denários (votos), cuidando dos assun­tos de César (dos políticos).

Que sal­vação terá aquele que se prevalece da sua autori­dade reli­giosa para per­verter de tal maneira os ensi­na­men­tos de Cristo?

Que sal­vação terão aque­les que “venderam” os tem­p­los e os reban­hos de Deus como os cordeiros para o sacrifício?

Li ou vi em algum lugar que aos fiéis tem sido negado acesso aos tem­p­los por estes vestirem roupas em cores atribuí­das a esta ou aquela facção política.

Mas Cristo fez tal dis­tinção entre os fiéis? Cer­ta­mente que não. Na Casa do seu Pai sem­pre teve lugar e acol­hi­mento para todos os que bus­caram a sal­vação.

Imag­inem Cristo negando a cura ou a sal­vação a alguém por que este ves­tia um manto ver­melho, azul ou amarelo.

Não faz sen­tido. Não faz nen­hum sen­tido.

Então como podem se diz­erem cristãos se negam acesso aos tem­p­los aos fiéis pelas cores de seus tra­jes? Se uti­lizam os fiéis não para aumentarem o rebanho do Sen­hor ou salvar-​lhes as almas, mas para fun­cionarem como cole­tores de César?

Como podem usar fiéis como cole­tores de impos­tos de César? Como podem usar os tem­p­los em nego­ci­atas de cor­rupção? Como podem vender a Palavra e diz­erem que falam em nome de Deus?

Se desafiam a fé e os ensi­na­men­tos de Cristo, como podem dizer que falam em seu nome?

Na ver­dade são fal­sos pro­fe­tas, igno­rantes dos ensi­na­men­tos de Cristo e seguidores de fal­sos Mes­sias dos quais nos aler­tou a própria Bíblia.

Os ver­dadeiros cristãos pre­cisam ficar aten­tos aos que dizem falar em nome de Deus e aque­les que efe­ti­va­mente seguem o pro­fes­sam os ensi­na­men­tos de Cristo Jesus.

Aos ver­dadeiros cristãos não é dado o dire­ito de omis­são diante de taman­has blasfêmias.

E foi o próprio Jesus que nos aler­tou: — Pois muitos são chama­dos, mas poucos escolhidos.

No Dia todos serão chama­dos a prestarem con­tas dos seus atos.

Essa a certeza que nos ori­enta a nossa fé.

Até lá, salve­mos Deus do inferno eleitoral.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

FAKE NEWS, PRE­CON­CEITO E SILÊNCIO

Escrito por Abdon Mar­inho


FAKE NEWS, PRE­CON­CEITO E SILÊNCIO.

Por Abdon Marinho.

O ASSUNTO mais comen­tado na última sem­ana no estado, pelo menos pelas redes soci­ais e gru­pos de What­sApp é uma men­tira ou, como se diz atual­mente, uma fake news.

Trata-​se de uma lei san­cionada pelo gov­er­nador do estado recém eleito, Car­los Brandão, obri­g­ando os esta­b­elec­i­men­tos com­er­ci­ais, bares, restau­rantes, espaços de lazer e órgãos públi­cos a fixarem em local visível ao público, no local externo ou na entrada, pla­cas infor­ma­ti­vas, proibindo a dis­crim­i­nação em razão de ori­en­tação sex­ual ou iden­ti­dade de gênero.

A lei tem ape­nas um artigo de con­teúdo, mas foi o que bas­tou para, de norte a sul do país, espalhar-​se que a “destru­ição da família brasileira” estava começando pelo Maran­hão. O estado era a nova Sodoma e Gomorra de que trata a Bíblia e hor­das de pedó­fi­los e desajus­ta­dos sex­u­ais estariam à espre­ita nos ban­heiros de meni­nos e meni­nas para abusar sex­ual­mente deles.

Tiaz­in­has e tioz­in­hos dos gru­pos de aplica­tivos começaram a dis­sem­i­nar áudios vir­u­len­tos con­tra esse novo apoc­alipse anun­ci­ado para o hor­i­zonte do país.

Empurrado para o “canto do ringue” pelos ataques vindo de todos os lados, o gov­er­nador ficou “sem ação”, ape­nas emitindo nas redes soci­ais um esclarec­i­mento de que a lei san­cionada na tratava da uti­liza­ção de ban­heiros.

A comu­ni­cação pública fal­hou mis­er­av­el­mente no enfrenta­mento da fake news dis­sem­i­nada. E mesmo a rede de blogues e inte­grantes da mídia pala­ciana não quis dar-​se ao tra­balho de defender o gov­er­nador.

Em uma sem­ana de ressaca eleitoral pós primeiro turno esse foi um dos motes para começarem a cam­panha eleitoral num nível próx­imo a 8 cen­tímet­ros – a altura da sar­jeta das ruas –, o que nos leva a acred­i­tar que até 30 de out­ubro, o “cidadão de bem” ainda vai dis­sem­i­nar muitas men­ti­ras e ataques para ten­tar impor sua von­tade nas urnas.

Con­trar­iando muitos ami­gos queri­dos, come­cei a escr­ever em 2010, após a pas­sagem do saudoso jor­nal­ista Wal­ter Rodrigues.

Com a ausên­cia de WR senti a falta de uma análise política, social que inves­ti­gasse os fatos e ori­en­tasse o com­por­ta­mento ou colo­casse à dis­posição da sociedade civil um outro olhar sobre os acon­tec­i­men­tos até então desaperce­bido.

Doze anos depois con­tin­u­amos na mesma orfan­dade.

Em tem­pos de fake news e comu­ni­cação instan­tânea as men­ti­ras se tor­nam ver­dades antes mesmo que se tenha tempo de rea­gir ou de se dizer que as coisas não são como ditas ou que a inter­pre­tação dos fatos estão sendo dis­tor­ci­dos para aten­der a este ou aquele inter­esse político. Sem con­tar que muitas das vezes o silên­cio, a omis­são ou o “cala boca” ocorre pelo descom­pro­misso com o público ou são decor­rentes dos próprios pre­con­ceitos e inter­esses.

Tinha diver­sos assun­tos para tratar neste domingo.

Escol­he­ria um e adi­aria os demais. Na pauta, análise sobre os resul­ta­dos das eleições – que tratei em diver­sos tex­tos e que foram con­fir­ma­dos pelas urnas –, a eterna vio­lên­cia e pre­con­ceito con­tra o Nordeste e con­tra os nordes­ti­nos, a mer­can­tiliza­ção da fé como moeda de troca eleitoral, e por aí vai.

Aí surge essa tolice, ver­i­fico na imprensa e deparo-​me com o silên­cio ou com a con­veniên­cia de não se anal­isar os fatos como são e me vejo na obri­gação de esclare­cer a sociedade sobre a lou­cura que estão dis­sem­i­nando por inter­esses escu­sos, eleitorais ou por ignorância.

A primeira ver­dade óbvia que se deve esclare­cer é que a família brasileira por mais frag­ilizada que esteja ela jamais será “destruída” por uma lei de um artigo.

Dito isso, vamos a lei:

LEI11.827, DE 28 DE SETEM­BRO DE 2022

Esta­b­elece a obri­ga­to­riedade de fix­ação de pla­cas infor­ma­ti­vas, proibindo a dis­crim­i­nação em razão de ori­en­tação sex­ual ou iden­ti­dade de gênero

O GOV­ER­NADOR DO ESTADO DO MARANHÃO,

Faço saber a todos os seus habi­tantes que a Assem­bleia Leg­isla­tiva do Estado decre­tou e eu san­ciono a seguinte Lei:

Art. 1° Ficam os esta­b­elec­i­men­tos com­er­ci­ais, bares, restau­rantes, espaços de lazer e órgãos públi­cos da Admin­is­tração Direta e Indi­reta do Estado do Maran­hão, obri­ga­dos a fixar em local visível ao público, no lado externo ou em uma de suas entradas, pla­cas infor­ma­ti­vas, proibindo a dis­crim­i­nação em razão de ori­en­tação sex­ual ou iden­ti­dade de gênero.

Pará­grafo único. A placa dev­erá ser afix­ada em visível e con­fec­cionada no tamanho mín­imo de 50 cm (cinquenta cen­tímet­ros) de largura por 50 cm (cinquenta cen­tímet­ros) de altura e con­ter os seguintes dizeres:

«É expres­sa­mente proibida a prática de dis­crim­i­nação por ori­en­tação sex­ual ou iden­ti­dade de gênero».

Art. 2° Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação”.

Li e reli a lei e não encon­trei no texto qual­quer ameaça comu­nista, hedo­nista ou à propa­gação de ideias visando a destru­ição da família.

A lei diz que nos locais referi­dos serão fix­adas pla­cas dizendo que “É expres­sa­mente proibida a prática de dis­crim­i­nação por ori­en­tação sex­ual ou iden­ti­dade de gênero”.

Isso ofende a família brasileira? Rep­re­senta uma ameaça às famílias? As moças, rapazes, jovens, cri­anças?

Cer­ta­mente que não. Pelo con­trário, esses jovens e ado­les­centes, nasci­dos a par­tir do ano 2000, con­vivem muito bem com a diver­si­dade.

O con­teúdo da lei e da placa é emi­nen­te­mente educa­tivo e não dev­e­ria ser motivo de polêmica da parte de ninguém, nem mesmo dos com­er­ciantes e seus defen­sores que recla­mam desta nova despesa.

Não creio que uma placa educa­tiva vá “que­brar” algum com­er­ciante, pelo con­trário, vai é aumen­tar a sua fregue­sia ao mostrar que o esta­b­elec­i­mento não é tol­er­ante e conivente com práti­cas dis­crim­i­natórias.

Cabe esclare­cer que a lei estad­ual ape­nas repro­duz o espírito e o texto da Con­sti­tu­ição de 1988, que fez 34 anos na mesma sem­ana da falsa polêmica.

O preâm­bulo da Carta já esta­b­elece: “Nós, rep­re­sen­tantes do povo brasileiro, reunidos em Assem­bléia Nacional Con­sti­tu­inte para insti­tuir um Estado Democrático, des­ti­nado a asse­gu­rar o exer­cí­cio dos dire­itos soci­ais e indi­vid­u­ais, a liber­dade, a segu­rança, o bem-​estar, o desen­volvi­mento, a igual­dade e a justiça como val­ores supre­mos de uma sociedade fra­terna, plu­ral­ista e sem pre­con­ceitos, fun­dada na har­mo­nia social e com­pro­metida, na ordem interna e inter­na­cional, com a solução pací­fica das con­tro­vér­sias, pro­mul­g­amos, sob a pro­teção de Deus, a seguinte CON­STI­TU­IÇÃO DA REPÚBLICA FED­ER­A­TIVA DO BRASIL”.

Já no artigo 1º, coloca como fun­da­men­tos da república a cidada­nia e a dig­nidade da pes­soa humana.

E no artigo 5º, diz: “Todos são iguais per­ante a lei, sem dis­tinção de qual­quer natureza, garantindo-​se aos brasileiros e aos estrangeiros res­i­dentes no País a invi­o­la­bil­i­dade do dire­ito à vida, à liber­dade, à igual­dade, à segu­rança e à pro­priedade, nos ter­mos seguintes: …”.

Ora, trinta e qua­tro anos depois da pro­mul­gação da Con­sti­tu­ição que esta­b­ele­ceu que seríamos uma sociedade fra­terna, plu­ral­ista e sem pre­con­ceitos; onde teríamos como fun­da­men­tos, a cidada­nia e a dig­nidade da pes­soa humana; e que todos seriam iguais per­ante a lei sem dis­tinção de qual­quer natureza, ainda são assas­si­nadas, espan­cadas e/​ou vio­len­tadas pes­soas pelo sim­ples fato de out­ros dis­cor­darem de com quem elas vão para cama ou fazem sexo.

Mais de três décadas depois de todas essas garan­tias que estão na Con­sti­tu­ição, causa polêmica uma lei que manda afixar pla­cas em esta­b­elec­i­men­tos com­er­ci­ais e logradouros públi­cos dizendo que é proibida a dis­crim­i­nação por ori­en­tação sex­ual ou iden­ti­dade de gênero.

Tudo isso por conta de uma infamante cam­panha eleitoral, pois estou quase certo que leis de con­teúdo idên­tico ou assemel­hado já exis­tem em out­ros esta­dos ou municí­pios sem que tenha des­per­tado qual­quer polêmica.

A ideia da dis­sem­i­nação da fake news, parece-​nos ter sido para vin­cu­lar o gov­er­nador, que é de um par­tido político de esquerda, o PSB, a uma pauta de “destru­ição da família” e com isso atacar o can­didato pres­i­den­cial que ele apoia. Diante disso vale tudo.

Com isso igno­raram até que lei foi uma ini­cia­tiva da Assem­bleia Leg­isla­tiva que dis­cu­tiu em todos seus por­menores e aprovou o pro­jeto de lei de um dos seus mem­bros; depois de aprovado o pro­jeto lei foi ao Poder Exec­u­tivo que o sub­me­teu, mais uma vez, ao con­t­role de con­sti­tu­cional­i­dade e vendo que o mesmo não feria qual­quer dis­pos­i­tivo con­sti­tu­cional, levou a sanção do gov­er­nador, que o san­cio­nou e trans­for­mou em lei. E fez bem.

O Brasil pre­cisa sair deste obscu­ran­tismo, desta idade da trevas, onde uma lei que diz ser proibido dis­crim­i­nar pes­soas – muito emb­ora tal garan­tia já esteja esta­b­ele­cida na Con­sti­tu­ição –, seja objeto de polêmica.

Todos os que com­põem a sigla LGBTQIA + são brasileiros (ou estrangeiros res­i­dentes) e devem gozar das mes­mas garan­tias que os demais. Todos são país, mães, fil­hos, irmãos, ami­gos, sobrin­hos, par­entes e/​ou ami­gos de alguém, o mal que lhes é feito atinge a eles, suas famílias, os ami­gos e as pes­soas que os amam. Todos são eleitores e como tal, tanto eles quanto suas famílias e ami­gos, dev­e­riam aproveitar e respon­der nas urnas os pre­con­ceitos e dis­crim­i­nações sofridas.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.