BRANDÃO LEVANTA ÂNCORA E DESARMA OPOSIÇÃO.
Por Abdon C. Marinho.
JÁ TEM algum tempo que não converso sobre política. Muito embora seja um assunto que goste, para preservar minhas amizades, decidi que o melhor era não falar sobre o tema.
Imagine que vivemos em pleno século XXI, mas se você expõe o que pensa já corre o risco de romper uma amizade ou de virar inimigo de alguém que lhe é caro.
Como gosto de escrever, coloco no papel o que penso – muitas das vezes nem publico –, ainda assim, vez ou outra, a “patrulha ideológica” se zanga.
Diante disso, apenas escrevo e não obrigo ninguém a lê, se algum amigo, pessoalmente, puxa assunto sobre política desconverso, olho para o tempo e indago: — será que vai chover?
Os mais próximos já sabem que estou desconfortável com o papo.
Há alguns dias – cerca de um mês ou mais –, com um dos raríssimos amigos que trato de política e que tem interesse em saber o que penso, concordando ou não, fui indagado sobre o que achava da performance do atual governador e candidato à reeleição (parece-me que ele é aliado de “primeira hora” do mesmo).
Com a franqueza dispensada só aos amigos mais chegados, disse-lhe o que sempre digo: — olha, meu amigo, governo é governo e só tem três coisas na vida que se deve respeitar: a cheia dos rios, governo e p … duro.
E contei-lhe, novamente, a antiga história de Cizino.
Mas fiz-lhe uma ressalva relacionada ao quadro político, dizendo que muito embora não conhecesse os detalhes da campanha eleitoral de reeleição do governador, era-me claro que ela possuía um “calcanhar de Aquiles”, à vista de todos: a crise no sistema de ferry-boat que faz a travessia para Baixada Maranhense e para a região do alto Turi.
Ora, toda a população da região da baixada e dos municípios do Alto-Turi a partir do Município de Zé Doca se desloca para a capital, preferencialmente, pelo ferry-boat, estamos falando, seguramente de quase um terço do eleitorado maranhense – ou mais.
O sistema de ferry-boat que já vinha funcionando precariamente há quase uma década, parece que só estava esperando o atual governador assumir para entrar em colapso.
Conforme já escrevi outras vezes conheço o sistema há mais de vinte anos, se brincar, depois de tanto tempo sou capaz de reconhecer cada curva que o ferry-boat faz na ida para Cujupe e na volta para Ponta da Espera, com um pouco mais de treino, até seria capaz de pilotar uma dessas embarcações.
Dizia a este amigo que por mais que a campanha do governador se esforçasse não havia boa vontade no mundo que melhorasse o humor dos milhares de eleitores que diariamente precisam atravessar nos dois sentidos com eles (esses eleitores) tendo que ficar horas e horas nas filas de espera aguardando para atravessar e, pior que isso, ficando incomunicáveis, uma vez que dos lados da baía não se tem sistema de telefonia móvel ou internet.
Aos “eleitores” restavam um programa: filmar o caos e falar mal do governo.
Falavam mal do governo antes de sair de suas cidades, durante a viagem, no destino e durante a volta e novamente nas suas cidades. Vamos combinar, não tem marketing no mundo que resista a isso.
Aos baixadeiros dos municípios de Central, Mirinzal, Cedral, Bacuri, Cururupu, Guimarães, Serrano, Porto Rico do Maranhão, Apicum-Açu, uma dupla frustração, justo no momento que começavam a desfrutar de uma diminuição do percurso para capital de quase 100 quilômetros, por conta da ponte Bequimão-Central do Maranhão, tinham que aumentar ainda mais as distâncias de deslocamento.
Dizia, este caos funciona como uma âncora contra a campanha do candidato ao governo que pleiteia a reeleição.
Tanto assim que a oposição explorou a situação com muito afinco – e nem era necessário pois o caos falava por si –, toda hora era notícia das filas intermináveis no Cujupe ou na Ponta da Espera; dos “ferry’s” apresentando defeitos, da demora da travessia, e até, alguns mais agourentos, predizendo uma tragédia a qualquer momento.
Em mais de vinte anos, não lembrava de um momento – talvez só lá pelos anos noventa –, em que a venda de passagens de ferry-boat tenha sido suspensa e estávamos vivendo tal situação às vésperas das eleições, com os cidadãos/eleitores tendo que amargar até doze horas na fila de espera, com fome, sem comunicação ou optar por rodar mais de uma centena de quilômetros para fugir de tal humilhação e, às vezes, com apenas uma embarcação fazendo a travessia.
Pior mesmo, só a situação dos enfermos, pessoas com consultas, exames urgentes, etc.
A travessia tornou-se uma “operação de guerra”. Uns chegavam em um dos lados alegando supostas preferências, tais como médicos, enfermeiros, agentes de segurança em serviço e outras funções; outros tentavam todo tipo de jeitinho para conseguir atravessar.
Disse, certa vez, que a maior autoridade do estado era aquela que conseguia uma vaga para fugir da fila de espera e conseguir atravessar.
As informações que me chegaram era que para se conseguir atravessar sem ficar na fila ao “Deus dará” estava mais “complexo” que uma operação para comprar drogas, era preciso falar com alguém que conhecia outro alguém que tinha um amigo que era primo de fulano que poderia tentar colocar o cidadão na fila de prioridades.
Quando soube da suspensão da venda de passagens resolvi aguardar a situação normalizar para voltar a viajar.
Até que surgiu uma necessidade de ir a Bequimão. Um bom cliente me pediu: — Abdon, tens que ir a Bequimão dia 22⁄08.
O pedido feito na semana anterior e já com outra viagem agendada para a segunda-feira seguinte, dia 29/08, para Luis Domingues.
No final da tarde de domingo, 21, a resposta: nenhum dos contatos conseguira a sonhada passagem.
Avisei ao cliente que não poderia ir. Você ir a Bequimão por terra, ficando o município do outro lado da Baía de São Marcos, é algo que não faz sentido.
Para a viagem do dia 29, também inadiável, já fui preparado psicologicamente: se não conseguir com uma prioridade, já volto pelo Maracanã e pego a estrada rumo a Carutapera e Luís Domingues.
Já deixei prevenidos os colegas de viagem: seria uma aventura.
Para nossa surpresa, talvez devido às muitas desistências, em plena segunda-feira, conseguimos embarcar sem maiores percalços.
Em Luis Domingues, no dia 30 ou 31, fomos avisados por um amigo que o sistema de ferry-boat havia voltado ao normal, ou melhor, que estaria melhor que o normal, pois já tinha embarcação para a travessia de hora em hora.
Em Bequimão – finalmente, consegui ir atender ao cliente –, procurei saber como estava a travessia já que tentaria retornar no fim do dia ou quando desocupasse dos compromissos.
Um cidadão que estava na sala respondeu: — ah, doutor, “tá bom demais”, agora toda hora tem ferry, ontem quando voltei de São Luís até estranhei um certo barulho, parecia umas panelas de pressão fervendo, mas quando virei para o lado para vê do que se tratava era só uma “ruma” de paraenses conversando.
Ri do chiste e já fiquei mais contente com a possibilidade de não ter que ficar na fila por intermináveis horas.
Terminada a “missão” em Bequimão pelo horário do almoço, só pegamos a “bóia” no Brisamar e fomos para Cujupe. Chegamos a tempo de pegar a embarcação das 14 horas, como não tinha fila de espera, já nos dirigimos para o ponto de embarque, o que conseguimos fazer sem maiores dificuldades.
No terminal do Cujupe, onde fomos pegar umas informações sobre o embarque, ouvimos elogios ao fim das longas filas.
Embora o ferry-boat tenha atrasado um pouco, chegamos em casa bem antes do horário que tínhamos imaginado chegar.
Como disse anteriormente não conheço a campanha do atual governador e por quais “perrengues” passa, mas, pelo menos uma âncora pesada conseguiu “levantar” e de “quebra” ainda “desarmou” os opositores, que passaram a reclamar dos “congestionamento” de ferry’s nos dois lados da baía.
É, como já dizia Cizino: “governo é governo”.
Abdon C. Marinho é advogado.