CARTA A FLÁVIO DINO
São José de Ribamar (MA), 05 de outubro de 2014.
Meu Caro Flávio,
Tomei a iniciativa de escrever-te essa carta após assistir teu último programa de televisão desta campanha que chega ao fim com a sua eleição.
Nele, chegava a sua casa centenas de cartas dos maranhenses de todos os canto do estado e até de outras plagas. A leitura delas, entrecortadas com outras, falavam de sonhos e esperanças. Não sei se aquelas cartas exibidas no programa eleitoral eram de verdade ou se era apenas um recurso de marketing, no momento não importa. O que sei, e que não era nenhum recurso da propaganda, eram os olhos marejados pelas lágrimas de dezenas de cidadãos que apareceram no mesmo programa. Aquelas pessoas não eram atores, aquelas lágrimas, aquela emoção era verdadeira.
Em nome daqueles cidadãos anônimos que depositaram toda a fé e esperança em você é que também escrevo essas singelas linhas.
Bem sei que terás grandes desafios para não decepcionar aquelas pessoas, sobretudo, as mais humildes, aquelas que enxergam na tua eleição a chance de mudarem de vida, se não para elas mesmas, para os seus filhos e netos. Tornastes assim, o depositário de toda essa esperança, credor de todos os sonhos. Essa que era para ser apenas uma eleição torno-se o divisor de água de milhares de vidas.
Acredito que as pessoas olharam para ti e sentiram que poderiam confiram em tuas palavras, veja a imensa responsabilidade que tens. Se eras apenas mais um candidato, deixou de ser para tornaste o fanal de um povo.
O exercício de um mandato não é fácil, são muitos interesses. A primeira coisa que te digo é que não troques as tuas convicções por quaisquer conveniências. Não cedas, por um minuto que seja, às palavras adocicadas dos aduladores e dos estelionatários que cercam o poder. Espero que saibas identificá-los. Eles, ao farejarem uma possível vitória, já começaram a se aproximar, com suas mensuras e interesses mesquinhos, querendo abocanhar um naco de poder para si. Ficas atento as gentilezas e aos favores que fitem prestar.
O seu slogan de campanha diz: “50 anos cansou”. Essa é uma verdade. Mostre que não vais coonestar com as velhas práticas desde o começo. É aquilo que ensina o caboclo lá do meu sertão, por onde passastes, “que se deve matar o galo no primeiro dia”, senão, ainda segundo ele, não funciona.
No seu caso, acredito, deves matar o galo até antes do primeiro dia, na escolha dos auxiliares. Lembra-te, por mais que muitos aleguem tê-lo ajudado, não são eles os credores da vitória. Essa é a vitória do povo cansado de tantos anos de um governo de poucos e para poucos. Não começas por formar o teu governo com aquelas pessoas que antes de terem compromisso com a causa pública, têm interesses pessoais a serem satisfeitos. Repito: Não são difíceis de serem identificados. São os mesmos de sempre. Procuras te cercar de bons conselheiros, que não tenham receio de perder uma “boquinha\» no governo caso diga algo que te desagrades. Procuras pessoas que tenham nas ambição pessoal o interesse de bem servir a comunidade, que antes de tudo acreditam no grande potencial do estado e sonham com um futuro melhor para ele.
Ao longo das décadas o que assistimos foi um pequeno grupo ficar rico, muito rico, mas o conjunto da sociedade ficando pobre. A riqueza que serve para alimentar a propaganda oficial do governo não chega a todos. O que chega são as esmolas para manter parte da população calada e resignada.
As oportunidades de trabalho, em quase todas as áreas do estado, existem para bem poucos, para os amigos e apaniguados. A eles tudo é devido. Não importa a área do conhecimento ou trabalho a ser desenvolvido, se rende alguma coisa, fica com a casta dos eleitos. Não tem que ser assim, não pode mais continuar assim. O alimento desde modelo é a corrupção enraizada em todo os poderes do Estado, que de tão presente é reconhecida por todos como algo normal. Não é.
O gasto com a folha de pessoal que compromete grande parcela do orçamento do Maranhão é constituído por milhares de sinecuras perpetuadas entre algumas famílias. Acredito que só acabando com elas, dando trabalho a quem de fato, quer fazer algo relevante, e eliminando os excessos, já se tem uma boa economia. Muitos dos que estão nestas sinecuras, segundo dizem, sequer sabem onde é a sua lotação. Acredito que uma das primeiras medidas a serem adotadas é recadastramento e uma reforma administrativa que torne a máquina pública mais leve e funcional.
Deves ter especial atenção com as obras públicas. Este é um setor onde faz muito tempo que deixa a desejar. Nossas obras são caras e mal feitas, basta ver as condições das estradas por onde passastes. A fiscalização estatal não acompanha a execução das obras, como resultado, muitas vezes a obra se torna uma fonte inesgotável da sangria de recursos. Muitas, antes da inauguração, já carecem de consertos e reparos. É necessário que estruture o setor de fiscalização e acompanhamento, que se exija nos contratos clausulas de durabilidade e que se cobre isso com veemência.
O Maranhão, informa a propaganda oficial, festeja mais um recorde na produção de grãos. Comemora-se que a nossa produção chegou a dois por cento da produção de grãos do Brasil. É um dado que não nos serve, nem como piada. Não aceitável que um estado com tantos recursos hídricos, tão extenso, com tantas áreas agricultáveis produza tão pouco. Não sei sabes, ao longo dos anos foi destruída a assistência técnica ao homem do campo. Isso, aliado a uma política predatória de assistencialismo tem produzido, não produtos agrícolas, mas homens preguiçosos, cidadãos que entra dia sai dia, vivendo de esmolas. O Maranhão não pode continuar a ser uma terra onde a maioria da população viva de esmolas. Meu pai, com sua sabedoria de analfabeto, costumava dizer que esmolas só eram devidas a quem não tinha condições de trabalhar, aos que eram cegos ou aleijados. Hoje, a esmola é devida a todos, é a primeira opção do cidadão. Precisamos devolver ao homem o amor pelo trabalho, à satisfação de ganhar o próprio sustento, a não depender ninguém, a ser livre. Essa é a palavra, precisamos devolver ao homem a sua liberdade cidadã.
A segurança tornou-se um dos maiores desafios. O Maranhão tornou-se motivo de piada para os seus concidadãos e além-fronteiras, todos dizendo que o poder estatal mudou do Palácio dos Leões para a penitenciária de Pedrinhas. Ë necessário que se restabeleça ordem nesse caos, que se mostre que o estado não capitula diante do crime e que as famílias poderão ter segurança para sair às ruas. É possível combater o crime, outros países combateram e venceram essa guerra. A falta de políticas sociais não é desculpa para que se passé a mão em cabeça de bandido, em detrimento da sociedade.
Acredito que tudo começa com a educação. Esse é um desafio sério. Não passa um ano em que os indicadores sociais não apresentem os dados da nossa educação como desfavoráveis. As dificuldades são de toda ordem, escolas sem condições, professores desmotivados, fora de suas disciplinas, a violência dentro de seus muros. Grande parte dos professores da rede estadual são remanescentes do governo Castelo. Não se aposentaram ainda porque não tiveram garantidas suas progressões. Minha sugestão é faças, no curso do recadastramento, um levantamento criterioso disso. Após, faça concurso, garanta as promoções e aposente esses professores. Aos que ficarem e aos novos, cobre resultados. Sugiro, ainda, que veja algumas medidas exitosas em alguns municípios, alie-se a elas e as amplie para o resto do estado. Somando-se a isso, com as escolas evoluindo junto com as avanços tecnológicos, iremos sair das últimas posições.
Na saúde deves manter a rede que está feita ampliando-a para os demais municípios que não foram contemplados, organizando-a para funcione no Sistema Único de Saúde — SUS, junto a isso deves se voltar para a prevenção de doenças, com saneamento básico. A maioria dos nossos municípios não tem um palmo de rede esgoto, tudo que produzem vão para fossas, quando não para os rios. Até mesmo na capital do estado é essa a prática mais comum. A Ilha de São Luís, outrora tão rica em recursos hídricos, não possui mais um rio que esteja contaminado por esgoto. É urgente que se enfrente esse problema, que se consiga aliar o crescimento urbano com a preservação do meio ambiente. Não é por que precisamos de um condomínio que devemos matar o rio.
Ainda na saúde, deves buscar junto ao Ministério da Saúde, a per capita/paciente que é devida aos pacientes maranhenses e que atualmente está R$ 50,00 (cinquenta reais) abaixo da média. Os recursos dessa per capita/paciente ajudará em muito na manutenção dos hospitais da rede pública.
Muitos são os assuntos a serem tratados. Tantos, que uma carta não seria suficiente. Mas tem um que não posso deixar de tratar nessa missiva: A corrupção.
Ao longo dos anos, a honestidade tem sido tratada como qualidade, como um diferencial. Não é, a honestidade é dever de todos, sobretudo dos governantes, daqueles que tem sob sua responsabilidade a guarda dos recursos públicos. Deves ficar atento a isso já na formação do governo. Escolher pessoas que não pensem ser a honestidade uma qualidade e sim dever, que tratem o recurso público com zelo, que entendam as necessidades do estado e do povo e a importância de economizar cada centavo. Ainda assim deves ter o cuidado de escolher dentre esses, os que sejam fortes de personalidade, que não se deixem deslumbrar pelos falsos encantos do poder e que não sejam covardes, traidores ou pusilânimes. Façam com entendam que nada mais são que servidores públicos, e com uma desvantagem em relação aos de carreira, pois já vêm com prazo de validade.
Encerro esta carta por aqui, desejando, de todo coração, que tenhas sucesso nesta nova empreitada, que consigas devolver a esperança que desde muito foi retirada do nosso povo, o seu amor próprio e a certeza que podemos ter um futuro diferente e melhor.
Esta colocação me remete novamente aos olhos marejados e as lágrimas que vi vertidas em seu último programa. Lágrimas que só entendi o significado depois de uma vez que há muito tempo não as via, pois eram,ca aquelas, lágrimas de esperança.
Atenciosamente,
Abdon Marinho.