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A ARTE DO SILÊNCIO.

Escrito por Abdon Mar­inho

A ARTE DO SILÊNCIO.

Meu pai era um homem rude, muito sim­ples, agricul­tor, reti­rante da grande seca que mal­tra­tou o Rio Grande do Norte em mea­dos do século pas­sado. Anal­fa­beto por parte de pai, mãe, parteira e viz­in­hança, era de pou­cas, porém, sábias palavras. Sobre o fato de falar pouco cos­tu­mava dizer:\» – meu \“fii\», quem \“num\» sabe falar é \“mior\» calar.\» Na minha primeira infân­cia, lá pelos 5, 6 anos de idade, essa expressão me con­fun­dia muito, isso porque, pelo nosso sítio, exis­tia um cachorro branco e magri­cento, um típico cão vira-​lata legí­timo da mel­hor cepa nordes­tina, como destes que apare­cem na obra de Gra­cil­iano Ramos, ali­men­tado com as nos­sas sobras de refeições e que se chamava Calar. Minha cabeça infan­til não dis­tin­guia se meu pai que­ria dizer que se não sabíamos falar era mel­hor ser o nosso cachorro.

Por esses dias tenho me lem­brado muito destas rem­i­nis­cên­cias. Parte destas lem­branças se devem ao fato dos anos chegarem e ter­mos nas lem­branças nos­sas maiores ale­grias. A outra parte se deve ao can­didato Lobão Filho.

Chega a ser ina­cred­itável que alguém que propõe a admin­is­trar o estado, um senador da República, um empresário de grande sucesso – como ele mesmo faz questão de frisar –, com duas pas­sagens pelos ban­cos de fac­ul­dades – con­forme con­sta na sua biografia –, se perca tanto nas palavras, não saiba o que dizer ou, pior que isso, diga coisas tão dis­paratadas. Logo ele, um homem de comunicação.

Cir­cula na inter­net uma par­tic­i­pação sua na sabatina pro­movida pela TV Guará. Logo que vi pen­sei tratar-​se de uma mon­tagem. Tão con­ven­cido disso estava que cheguei a per­gun­tar para um amigo que tra­balha na emis­sora se aquilo que via era ver­dade, ao que ele me respon­deu de forma peremp­tória que sim, foi aquilo mesmo, não se tratando de edição ou mon­tagem. Fiquei pasmo.

A per­gunta for­mu­lada pelo jor­nal­ista, de forma respeitosa e com­pen­e­trada, era abso­lu­ta­mente per­ti­nente, com­ple­ta­mente rela­cionada ao con­texto. Qual­quer um que se can­di­date a gov­er­nador, seja do Maran­hão seja de São Paulo tem o dever de saber respon­der como pre­tende resolver os prob­le­mas do estado que pre­tende diri­gir. É ele­men­tar isso. Infe­liz­mente, o prin­ci­pal prob­lema do nosso estado é o objeto da per­gunta do jor­nal­ista e que o can­didato, descon­heço a razão, saiu-​se com aquela con­strange­dora e descabida resposta.

Ora, ninguém é obri­gado a saber tudo. Todo ser humano, até por isso, pos­sui lim­i­tações. É com­preen­sível. Acon­tece que a per­gunta for­mu­lada é primária para qual­quer can­didato. Se se propõe a diri­gir um estado tão rico como é Maran­hão faz parte do roteiro que se tenha uma pro­posta con­sis­tente para redução das desigual­dades soci­ais, diminuição da pobreza crônica, mel­ho­ria dos indi­cadores edu­ca­cionais, soci­ais, etc. O can­didato, a menos que sua can­di­datura não seja para valer, dev­e­ria saber respon­der a per­gunta for­mu­lada e quais­quer out­ras no mesmo sen­tido. A outra e mais ter­rível hipótese é que o can­didato não pos­sua pro­posta nen­huma e que, na even­tu­al­i­dade de ser eleito, vai o usar os recur­sos públi­cos para con­cen­trar ainda mais a renda, tornar os que já são ricos, em mil­ionários, bil­ionários, e o povo cada vez mais pobre. Se é assim, as palavras do can­didato, quando diz que fazer algo pelo sua gente e pelo seu estado, são fal­sas como uma nota de três reais.

O can­didato – não bas­tasse todos os desac­er­tos do seu grupo, a enorme muralha erguida con­tra si pelo sen­ti­mento de mudança que toma conta da sociedade –, parece, ele próprio, con­spirar con­tra a cam­panha. Não é aceitável que um can­didato vá a uma sabatina sem preparo para respon­der questões óbvias, muito longe de alcançar o con­strang­i­mento e a saia-​justa que tem sido aos can­didatos à presidên­cia respon­der aos ques­tion­a­men­tos feitos no JN.

A fora a primeira impressão de que se tratava de uma mon­tagem per­pe­trada pelos adver­sários, ficamos com a sen­sação que o can­didato, difer­ente do que alardeia, não pos­sui um plano con­sis­tente para desen­volver o Maran­hão. Não tenha uma ideia clara a debater com a sociedade. Isso torna a cam­panha empo­bre­cida, sem o debate de ideias. Sobram as baixarias e o jogo rasteiro.

Alguns \«jor­nal­is­tas\», com todas as aspas que o caso requer, saíram elo­giando a per­for­mance do can­didato, sua argu­men­tação, sua verve irônica. Uma pena que pensem assim. Uma per­gunta séria não com­porta gracejo ou iro­nia. Não esta­mos brin­cando e não se admite que brin­quem com os eleitores. Quer­e­mos respostas sérias e palpáveis, o que não temos visto.

Na minha opinião, anal­isando o ret­ro­specto das palavras do can­didato, acho que não sabia o que dizer, que não pos­suía ou pos­sui uma pro­posta con­sis­tente, que não pos­sui condições de enfrentar um debate com os demais opo­nentes. Corre o sério risco de sair da cam­panha muito menor que entrou a cada palavra que diz. Talvez devesse seguir o ensi­na­mento do meu velho pai: \«Se não sabes falar, mel­hor calar.\»

Muitas das vezes – dizem os mais sábios –, o silên­cio faz o poeta.

Abdon Mar­inho é advogado.

PUTAS E PADEIROS.

Escrito por Abdon Mar­inho

PUTAS E PADEIROS.

Os últi­mos dias foram toma­dos por mais uma daque­las fal­sas polêmi­cas que, acho, só acon­te­cem no Maran­hão. Um dos nos­sos can­didatos declarou que só pega no batente as 9 horas da manhã. Não teria nada demais, caso o can­didato não tivesse dito que para ele isso era muito \«cedo\», quando sabe­mos que a maio­ria dos tra­bal­hadores do Brasil já estão no batente, muitas das vezes 2, 3 horas antes”, ou saíram de casa para pegar a serviço desde às 5, 6, 7 horas. Mas isso não vem ao caso, no momento.

Sem­pre cul­tivei o hábito – não sei se por neces­si­dade – de acor­dar cedo. Quando cri­ança, fiz o primário pela manhã, muito antes do U. I Castelo Branco, em Gonçalves Dias, abrir já estava na Praça Miguel Bahury esperando. O giná­sio feito no mesmo colé­gio a noite, agora chamado Colé­gio Ban­deirante, não me impediu de con­tin­uar acor­dando cedo pois tomava de conta de uma qui­tanda do meu pai. Acor­dava cedo ia para o comér­cio e só encer­rava o expe­di­ente, por volta das 5, 6 horas, já para seguir para o colé­gio de onde voltava por volta 10:30 ou 11 horas

Quando cur­sei o segundo grau no Liceu Maran­hense, a tarde, man­tive a rotina de acor­dar cedo pois lev­ava os sobrin­hos para o colégio.

A fac­ul­dade foi feita no período simultâ­neo ao tra­balho na Assem­bleia Leg­isla­tiva, como asses­sor do Dep­utado Juarez Medeiros, estu­dava a noite e tra­bal­hava o dia inteiro. O expe­di­ente na época começava um pouco mais cedo pois Juarez apre­sen­tava um pro­grama na Rádio Edu­cadora e já as 7:00 horas da manhã fazíamos a primeira reunião do dia quando ele retor­nava da emissora.

O hábito é man­tido até hoje. Quase todos os dias chego ao escritório antes das 7 horas e quase nunca depois deste horário. Por conta disso não enfrento os abor­rec­i­men­tos diários com trân­sito que tanto per­turba os demais cidadãos nesta cidade.

O silên­cio da manhã me faz muito bem. Aproveito essa tran­quil­i­dade para escr­ever, pen­sar ou con­tem­plar a graça e a arte da vida. Morando em sítio os ami­gos cos­tu­mam dizer que acordo com os pás­saros. Corrijo-​os, acordo na ver­dade antes deles. Uma meia hora depois é que eles (os pás­saros) começam o seu canto.

Como acordo muito cedo, cos­tumo dormir tam­bém cedo. Esse hábito, as vezes, é motivo de dis­cussão com muitos ami­gos que tro­cam o dia pela noite. Quan­tas vezes não ligo para algum no meio da manhã e ouço per­gun­tar o que quero aquela hora da madru­gada? São inúmeros os tro­cam o dia pela noite. Acham-​se mais pro­du­tivos no silên­cio da madru­gada, quando podem ler, estu­dar, tra­bal­har, produzir…

Um dos mais famosos por isso – e talvez, por isso, dos mais pro­du­tivos –, foi o jor­nal­ista Wal­ter Rodrigues.

Como lia o jor­nal loco cedo, prin­ci­pal­mente nos fins de sem­ana, cos­tu­mava ligar para ele por volta das 8 ou 9 horas, para comen­tar as notí­cias do dia, muitas das vezes uma denún­cia veic­u­lada num dos seus pri­morosos tex­tos. A secretária aten­dia e, invari­avel­mente, dizia: – Dr. Abdon, o seu Wal­ter ainda está dor­mindo. Quando acor­dava e retor­nava a lig­ação, ou eu voltava a ligar, recla­mava: – Pô, Wal­ter, 9 horas e você ainda dor­mindo? Ele retru­cava: – Abdon, só fui dormir as 4 horas da manhã. Dizia: – Essa hora já estava quase lev­an­tando. Ele fechava o assunto: – Abdon, você dorme e acorda em horário de padeiro, eu durmo e acordo em horário de puta, quando padeiro está lev­an­tando para começar o expe­di­ente, a puta está encer­rando o seu. Eu não posso ir dormir em horário de puta e acor­dar em horário de padeiro.

A falsa polêmica destes dias, me lem­brou essas pas­sagens deli­ciosas da minha vida e a con­vivên­cia com os ami­gos. Lembrou-​me mais ainda, por conta de uma nota irônica, o can­didato que disse começar o expe­di­ente “cedo”, as 9 horas, se orgulha de dizer que o sucesso da sua vidas empre­sar­ial teve ini­cio com sua ativi­dade de… PADEIRO. Wal­ter deve dá sono­ras gar­gal­hadas com essa.

Abdon Mar­inho é advogado.

Casa de Ver­aneio por Aziz Santos

Escrito por Abdon Mar­inho

Casa de Veraneio

por Abde­laziz Aboud Santos

Pode ser uma opção a de vender a Casa de Ver­aneio do Gov­erno para con­struir uma unidade de saúde des­ti­nada a cri­anças com câncer. Mais um sinal da boa von­tade do futuro gov­er­nador Flávio Dino em aliviar o sofri­mento e a dor dos mais desas­sis­ti­dos do Maran­hão. Como na política pesa mais o sim­bólico, imagina-​se que seja mais uma ação con­tra uma mal assom­brada “Casa da Dinda”.

Exis­tem alter­na­ti­vas a con­sid­erar antes que isto se con­cretize. O Tesouro Estad­ual tem amplas condições de resolver a questão, basta que deixe de pagar inde­v­i­da­mente a ban­cos estrangeiros dívi­das ante­ri­or­mente quitadas pelo Estado. Este é um dos grandes absur­dos que está acon­te­cendo con­tra os inter­esses maiores do nosso povo. Em artigo pub­li­cado este ano no Jor­nal Pequeno, expliquei por­menorizada­mente a san­gria que se abate sobre os cofres públi­cos estad­u­ais com o paga­mento dessa dívida inex­is­tente, com dados irre­spondíveis pelo (des) gov­erno que aí está, com­balido e rejeitado por parce­las pon­deráveis de nossa população.

Outra pos­si­bil­i­dade conc­reta que o novo gov­erno pode lançar mão para ofer­e­cer ao Estado uma obra tão impor­tante como a unidade de saúde dese­jada é a cel­e­bração de Parce­rias Público-​Privadas. Vários Esta­dos estão lançando mão deste tipo de alter­na­tiva. Aqui, em nosso Estado, o gov­erno do Dr. Jack­son Lago preparou o Pro­grama de Parce­rias Público-​Privadas, em sub­sti­tu­ição à frágil Lei 8.437, de 2006, ense­jando a de nº 8.989, de 2009, que cria o Fundo Garan­ti­dor do Pro­grama. Entre out­ros pro­je­tos de PPP, 3 (três) hos­pi­tais de emergên­cia que iriam ser con­struí­dos (Bal­sas, Cha­pad­inha e Pedreiras) o seriam por essa via, já que os de Imper­a­triz e Pin­heiro o gov­erno injus­ta­mente deposto pela (in) Justiça cor­romp­ida por Lula/​Sarney cuidou de deposi­tar recur­sos do Tesouro para sua con­strução, recur­sos que foram seqüestra­dos pela suces­sora de Jack­son Lago.

O difí­cil de um hos­pi­tal não é sua con­strução e a con­se­qüente aquisição dos seus equipa­men­tos, cujos preços alcançam val­ores muito acima do que se pode auferir com a venda da Casa de Ver­aneio. O difí­cil é sua manutenção. Por isso mesmo, os hos­pi­tais que estão sendo con­struí­dos (não sei quan­tos do total de 72 anun­ci­a­dos) devem ter sua manutenção custeada pelos municí­pios. O Gov­erno inau­gura, faz a festa, poli­tiza a questão e passa para os municí­pios a respon­s­abil­i­dade do custeio, que é sabida­mente elevada.

Por­tanto, é bom que a Casa de Ver­aneio seja poupada, se enten­der­mos que ela não é de um gov­er­nador ou gov­er­nadora de ocasião, mas do Estado. Não serve ape­nas para fes­tas. Serve para rece­ber autori­dades nacionais ou de out­ros países em dia não útil; serve para reuniões em dias de feri­ado, sábado e domingo com aux­il­iares do gov­erno; serve como espaço de reflexão do primeiro man­datário do Estado, quando ele pre­cisa retirar-​se para pen­sar sobre questões de alta relevân­cia incom­patíveis com a tur­bulên­cia do dia-​a-​dia; serve, afi­nal para o des­canso legí­timo do gov­er­nador, quando isto se faz necessário.

Por tudo isso, é de se supor que a Casa de Ver­aneio do Gov­erno rep­re­sente um patrimônio já incor­po­rado aos bens do Estado, com funções próprias, exis­tente há mais de meio século e situ­ada em área para esse fim erigida. Se o Gov­erno enten­der que deve desafe­tara área para vendê-​la em processo apro­pri­ado de lic­i­tação, ali cer­ta­mente será edi­fi­cado um pré­dio de 15 (quinze) andares pelo vence­dor da com­petição, que, além de em nada con­tribuir para a pais­agem da cidade, vai con­sol­i­dar um absurdo legal ini­ci­ado pelos pré­dios viz­in­hos, todos inde­v­i­da­mente con­struí­dos, posto que à rev­elia do artigo 189 da Lei Orgânica do Municí­pio de São Luís, que assim especi­fica: “Fica proibida a con­strução de edifí­cios de aparta­men­tos famil­iares e com­er­ci­ais na orla marí­tima de São Luís, numa dis­tân­cia de até quin­hen­tos met­ros da mais alta maré das pra­ias de São Luís”.

Como foi pos­sível tal excrescên­cia? Explico: ao tempo em que a Con­ceição Andrade era prefeita da Cap­i­tal, aí pelo iní­cio de 1993, fiz­eram pub­licar no Diário Ofi­cial do Municí­pio uma “Lei Ordinária” mod­i­f­i­cando o pré-​citado artigo da Lei Orgânica, mas PAS­MEM os leitores: “lei” que não rece­beu a aprovação da Câmara de Vereadores, mesmo porque naquele Par­la­mento ela jamais tran­si­tou, além de que uma lei ordinária não tem poderes de mod­i­ficar uma lei orgânica. Como? Pois é, muito provavel­mente “moti­va­dos” por empresários do setor da con­strução com inter­esse na área, diri­gentes munic­i­pais de então man­daram irre­spon­savel­mente para pub­li­cação no DOM a fatídica “lei” que até hoje dá guar­ida irreg­u­lar a essa aber­ração de pré­dios ao lado do Hotel Luzeiros,este tam­bém con­struído irreg­u­lar­mente. Expliquei isto aos ex-​prefeitos Castelo e Tadeu Palá­cio. Como era de se esperar, nen­hum dos dois moveu uma palha sequer para sanar a irreg­u­lar­i­dade, posto que ambos têm muito em comum. Oxalá o Prefeito Edvaldo Holanda tome conta desta questão.

E o Min­istério Público Estad­ual? Tomou con­hec­i­mento desse abuso legal? Claro que sim. O que fez? Nada, pelo menos que eu saiba. Por quê nada fez? Mis­tério, esta ilha é cheia de mis­térios, de São Sebastião, de ser­pentes, de fal­si­fi­cações, de men­ti­ras, enfim, o Padre Anto­nio Vieira já nos aler­tava sobre isso sécu­los atrás, quando proclamou que aqui se insta­lara o reino da mentira.

Implo­dida ou não a Casa de Ver­aneio con­tin­uará abrindo baús de ossos sepul­ta­dos pelos que querem o esquec­i­mento da real­i­dade. Mesmo que seja mais um, den­tre os inúmeros cadáveres enfeita­dos, na cria­tiva expressão de Muniz Sodré sobre a mod­ernidade sem con­teúdo, pre­sente na cul­tura do país, a provo­cação de Dino aponta para a inadiável neces­si­dade de se colo­car o Maran­hão a limpo.