A CRISE NECESSÁRIA.
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- Criado: Sábado, 15 Novembro 2014 17:40
A CRISE NECESSÁRIA.
Os dias próximos dias não serão fáceis para os atuais donos do poder, sobretudo, para aqueles que, ignorando todas as regras que juraram solenemente respeitar, como o zelo as leis, o respeito às instituições, e a probidade administrativa, passaram a usar os recursos públicos como seus e tornaram do estatais um trampolim para o enriquecimento pessoal.
Em mais um desdobramento da Operação Lava Jato da Polícia Federal, vimos, outrora, tidos por respeitáveis empresários, envergando seus ternos caros e com suas malas de grife, sendo conduzidos por agentes policiais, altos executivos públicos e privados, sendo conduzidos.
Acredito, pelo que lembro e acompanho da política nacional, estamos diante da maior crise política e econômica desde a redemocratização do país. A operação coloca no olho do furacão da crise empresas que povoaram nosso imaginário como a Camargo Corrêa, Mendes Junior, Odebrecht e Andrade Gutierrez. Outras, menos icônicas, mas nem por isso menos poderosas, como UTC, Promon, MPE, Toyo-SOG, entre outras menores. A meta de todas e sob o comando do partido que assumiu o governo, há doze anos, com a promessa de implementar um choque ético na gestão pública, sangrar a maior empresa, como fizeram.
Os números, ainda preliminares, já divulgados, dão conta que nunca na história deste país, tantos empresários se uniram a políticos para roubarem, em consórcio, tanto dinheiro de uma empresa brasileira.
A Petrobras já perdeu mais da metade do seu valor de mercado. No momento sofre investigação internacional, vê suas ações derreterem e corre o risco de desvalorizar-se ainda mais e, até, em último caso, vê-se impedida de negociar ações. Pela primeira vez (pelo que me recordo) atrasou a divulgação de seu balanço trimestral. A auditoria externa contratada não quis e não quer se arriscar a endossar números que poderão ser desmentidos pelos fatos. A próxima data para divulgação será daqui há trinta dias. Ninguém diz, mas essa demora, serve para saber como a empresa se comportará aos próximos desdobramentos do escândalo.
Se a Petrobras e seus milhares de acionistas – aqueles cidadãos que confiaram no governo anterior e sacaram seus fundos de garantias, suas poupanças, suas economias, que venderam seus bens para comprar ações, na crença que o lucro era certo –, sofrem com estes fatos, a consequência, também não será menos danosa para as empresas pilhadas no flagrante explicito de corrupção. Estas, sobretudo, as que operam no exterior, passarão a sofrer restrições – ninguém quer se vincular ou contratar com um empresa sob investigação de autoridades policiais e judiciais e que tem executivos presos, bens indisponíveis e etc. – , perderão mercado e serão desvalorizadas. É essa é a regra do jogo, é a regra da vida. As pessoas fazem vistas grossas aos malfeitos alheios, entretanto, se tais deslizes vêm a público de forma incontornável, passam a ser tratados como eram tratado, no passado, os leprosos. Todas deverão perder valor e trabalhos.
Caso a crise ficasse circunscrita aos fatos já expostos, apenas envolvendo a maior empresa do país e as maiores empreiteiras, já seria suficiente para um grande sismo no país. Só que ela irá muito além, com as delações teremos comprometido quase todo o governo, os partidos que lhe dão sustentação e expressiva parcela do Congresso Nacional, será muito mais aguda.
Estamos, como disse no início, diante de uma crise sem precedentes. Até mesmo os fatos que culminaram na cassação de Color, o primeiro presidente eleito após a redemocratização, sequer chegou perto do momento que vivemos, muito pelo contrário, as motivações que o levaram a perda do mandato, vistas com os olhos de hoje, comparadas com os atuais fatos, fazem aqueles parecerem travessuras de moleques, crianças que nunca tendo comido melado, lambuzaram-se ao comer.
Apesar das consequências imprevisíveis do atual momento, caso nossas instituições democráticas consigam superar o momento, com a polícia investigando e apontando todos responsáveis, com o Ministério Público denunciando, o Poder Judiciário e o Congresso Nacional (o que sobrar dele), punindo com rigor os culpados, acredito que sairemos bem mais fortalecidos. O Brasil conseguirá sair-se aos olhos do mundo como um país com instituições sólidas e capaz de responder como deve ser respondido aos malfeitores e salteadores do poder. Será a vitória do Brasil decente, da maior parcela da população brasileira que não coonesta com a corrupção e que já está cansada de assistir os recursos públicos, que deveriam está sendo empregados em beneficio da saciedade, na melhoria da saúde, da educação e da infra-estrutura, estarem sendo drenados para contas secretas – principalmente no exterior –, de políticos e empresários corruptos.
Embora, nunca tenha desejado ver o meu país passar por tantos constragimentos aos olhos do mundo, acho que a atual crise é necessária para consolidar as nossas instituições. Trata-se, por assim dizer, de uma crise necessária a amadurecimento do nação. Lembro que não tínhamos completado vinte anos do fim da ditadura militar quando o primeiro presidente eleito foi cassado, o Brasil passou por tal momento sem maiores conturbações. Não será agora que irá ruir caso fatos semelhantes venham a acontecer. O Brasil é maior que qualquer dos seus cidadãos. E é assim que tem que ser.
Questionado pelos mais famosos filólogos, convencionou-se dizer que o termo crise, em chinês, é composto por dois caracteres, significando o primeiro perigo e o segundo oportunidade. Embora sem endossar quaisquer dos entendimentos, talvez o perigo que passa o Brasil e suas instituições seja o que falta para consolidarmos a oportunidade de construir um país bem melhor.
Abdon Marinho é advogado.