AbdonMarinho - RSS

4934 Irv­ing Place
Pond, MO 63040

+1 (555) 456 3890
info@​company.​com

A CRENÇA DE TOMÉ E O VOTO DE SARNEY.

A CRENÇA DE TOMÉ E O VOTO DE SARNEY.

No evan­gelho de João con­sta que: …”Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-​lhe, pois, os out­ros dis­cípu­los: ‘Vimos o Sen­hor’. Mas ele disse-​lhes: ‘Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão ao seu lado, de maneira nen­huma o crerei’. E oito dias depois estavam outra vez os seus dis­cípu­los den­tro, e com eles Tomé. Chegou Jesus, estando as por­tas fechadas e apresentou-​se no meio, e disse: ‘Paz seja con­vosco’. Depois disse a Tomé: ‘Põe aqui o teu dedo, e vê as min­has mãos, e chega tua mão, e põe-​na no meu lado, e não sejas incré­dulo, mas crente’. E Tomé respon­deu, e disse-​lhe: ‘Sen­hor, Deus meu’. Disse-​lhe Jesus: Porque me vistes, Tomé, crestes, bem-​aventurados os que não viram e creram\»”. Evan­gelho de João, Capit­ulo 20, ver­sícu­los 2429.

Faço essas con­sid­er­ações antes de aden­trar na questão do suposto voto do senador Sar­ney em Aécio Neves, no segundo turno das eleições, con­forme já foi ampla­mente divul­gado por diver­sos meios de comunicação.

As ima­gens que cor­reram o mundo, segundo informa um site de notí­cias, foram peri­ci­adas pelo espe­cial­ista Ricardo Molina, pro­fes­sor da Uni­camp, que atestou a veraci­dade das mes­mas e con­fir­mando que o senador teria dig­i­tado os números 4 e 5 e depois a tecla con­firma. Votando, por­tanto no can­didato oposi­cionista, Aécio Neves.

Desde que as noti­cias do suposto voto começaram a cir­cu­lar que pes­soas e asses­sores do senador se ocu­pam em negar, acusaram o vídeo de ser fraud­u­lento, que o fato não ocor­rera, que era mon­tagem, etc.

A prin­ci­pal col­una política do jor­nal “O Estado do Maran­hão”, edição do dia 31 de out­ubro último, se ocupou do assunto, dizendo trata-​se de uma fraude, o título é até neste sen­tido “Desmonte de uma fraude”, apre­senta como fun­da­mento uma suposta declar­ação da empresa TV Amapá, afil­i­ada da Rede Globo e mem­bro da Rede Amazônica de Tele­visão, onde con­staria a seguinte declar­ação: “Declaro para todos os fins que não é autên­tico o vídeo atribuído a esta emis­sora. Trata-​se, na ver­dade de uma mon­tagem fraudulenta”.

São palavras fortes e, por isso mesmo, mere­ce­do­ras de esclarecimentos.

A emis­sora diz que o vídeo que lhe é atribuído não é autên­tico. Beleza, tudo estaria per­feito se não hou­vesse uma perí­cia téc­nica ate­s­tando sua aut­en­ti­ci­dade e que não há qual­quer mon­tagem no mesmo.

Mas é com­preen­sível que a empresa não pode­ria – emb­ora con­tradizendo uma perí­cia feita por téc­nico de recon­hecida com­petên­cia –, dizer algo difer­ente do que disse, primeiro pela pressão que deve ter sofrido por parte do senador e segundo por ter cometido um crime.

O código eleitoral, em seu arte 317 é claro: \«Vio­lar ou ten­tar vio­lar o sig­ilo da urna ou dos invólu­cros. Pena — reclusão de três a cinco anos”. Caso se entenda que houve uma vio­lação ao sig­ilo da própria urna – car­ac­ter­i­zado pela gravação inde­v­ida do depósito do voto na mesma – ou do invólu­cro – caso entenda fil­mar o ato de votar estaria se violando o depósito do voto –, por parte da empresa, os respon­sáveis se sujeitam a pena esta­b­ele­cida, que con­ven­hamos, não é uma pena branda. No caso de se enten­der que ape­nas houve a vio­lação do sig­ilo do voto, isto tam­bém é crime, tip­i­fi­cado no CEL, artigo 312, a pena que é um pouco mais branda: Vio­lar ou ten­tar vio­lar o sig­ilo do voto: Pena — detenção até dois anos.

Em qual­quer dos casos uma pena, uma con­de­nação criminal.

O voto, nos ter­mos da Con­sti­tu­ição Fed­eral, é direto e secreto. Trata-​se de uma garan­tia con­sti­tu­cional a evi­tar que as pes­soas escol­ham seus rep­re­sen­tantes moti­va­dos por qual­quer coisa, que não sua von­tade livre e sober­ana, e sem rece­ber qual­quer tipo de pressão ou represália posterior.

A solução encon­trada – não fosse a con­tradição com a infor­mação téc­nica –, atende tanto ao senador que pode escapar à pecha de “traíra”, quando da empresa que escapa ao processo por vio­lação a leg­is­lação crim­i­nal eleitoral.

Ape­sar de tudo, o episó­dio tem um sen­tido pos­i­tivo. Serve para que a Justiça Eleitoral torne ainda mais indevassável as cab­ines de votação. A garan­tia do sig­ilo do voto e da urna é um pres­su­posto para a manutenção da democ­ra­cia brasileira. O voto, de ninguém, rico ou pobre, famoso ou anôn­imo, politico ou não, pode ser exposto da forma como vem sendo hoje em dia. O ato de votar é solene, for­mal e pre­cisa ser val­orizado. Não é por que se diz que a eleição é uma festa da democ­ra­cia que se possa pre­scindir dos rit­u­ais. Cada eleitor um voto. Ninguém pode votar pelo pai, mãe, amigo, viz­inho. Menos ainda divul­gar por qual­quer meio o voto, nem o próprio.Trata-se uma garan­tia con­sti­tu­cional, não podemos esque­cer disso.

Encerro dizendo que é aqui onde Sar­ney encontra-​se com Tomé. No caso de Tomé, somente vendo pas­sou a crente, no caso de Sar­ney, nem vendo ou peri­ci­ado é lic­ito acred­i­tar que votou em quem disse que que não votou.

Abdon Mar­inho é advogado.

CUIDADO, ALIADOS!

Escrito por Abdon Mar­inho

CUIDADO, ALI­A­DOS!

Certa vez – já faz um tempo –, um prefeito recém eleito procurou-​me, que­ria tro­car algu­mas ideias sobre admin­is­tração, dizia que que­ria acer­tar, fazer um bom gov­erno, etc.

Lá pelas tan­tas, indaga: – Dr. Abdon, o que faço para acer­tar na minha administração?

Respondi-​lhe: – Escolha bem os aux­il­iares e fique atento aos aliados.

Retru­cou: – Não seria ficar atento aos adver­sários, doutor?

Com­pletei: – Não. Nem um opos­i­tor pode ser mais danoso a uma admin­is­tração que alguns ali­a­dos. Os opos­i­tores, pelo con­trário, estão do outro lado, apon­tando os erros, denun­ciando. Os ali­a­dos e aux­il­iares estão den­tro da admin­is­tração, come­tendo erros, fazendo negó­cios, ten­tando tirar alguma van­tagem. Se o ali­ado ou mau aux­il­iar é par­ente, muito pior, o pre­juízo à imagem do gestor e os prob­le­mas serão sem­pre maiores. Os ali­a­dos, até mais que os aux­il­iares, se acham cre­dores da vitória do eleito. Se con­tribuiu com um tostão, cobram um milhão.Portanto, meu amigo, faça seu gov­erno sem se pre­ocu­par tanto assim com a oposição, ela até pode ser bené­fica, mas não des­cuide dos seus ali­a­dos, estes sim, serão a razão de seus dissabores.

O tempo pas­sou e a con­vicção sobre este pen­sa­mento só se con­soli­dou. Quan­tas vezes não vi gestores amar­garem a impop­u­lar­i­dade ou fazer uma gestão pífia, graças à ação desas­trosa dos aux­il­iares ou à inter­venção inter­es­seira dos ali­a­dos? Quan­tos não entre­garam suas admin­is­trações dos mais ama­dos e sofr­eram por isso? Inúmeros. Daí a con­vicção que ali­a­dos são mais danosos às admin­is­trações que os opositores.

Durante os últi­mos doze anos o gov­erno fed­eral operou sem que a oposição lhe impor­tu­nasse com nada.

O grande prob­lema é mod­elo de gov­erno mon­tado pelo ex-​presidente Lula e pela pres­i­dente Dilma Rouss­eff, talvez seja o exem­plo mais per­feito do quão desas­trosa pode ser a junção da incom­petên­cia, inex­per­iên­cia, neg­ligên­cia e lotea­mento dos car­gos públi­cos. A situ­ação chegou a tal ponto que a pres­i­dente reeleita já chegou a anun­ciar que vai desmon­tar os nichos mon­ta­dos nos ministérios.

Emb­ora a cor­rupção seja uma car­ac­terís­tica indelével do estilo de gov­ernar dos atu­ais donos do poder, não resta dúvida que ela se tornou bem maior dev­ido à ação dos \\\«ali­a­dos\\\». Cada min­istério tornou-​se uma República inde­pen­dente nas mãos dos par­tidos e cada um cobrando por seus favores.

O gov­erno ao invés de se cer­car de homens público, pes­soas voltadas para defender os inter­esses do Estado, cercou-​se de uma arraia miúda pre­ocu­pada em defender os quin­hões par­tidários e os inter­esses dos par­tidos. Fiz­eram isso, claro, que seguindo o exem­plo do par­tido majoritário, o par­tido a quem foi con­fi­ado a guarda da República. Devem pen­sar: \\\«se eles que sofr­erão o des­gaste não se cansam de aprontar desati­nos, por que nós, ape­nas sócios do poder, não podemos aprontar?\\\». Este é o raciocínio que tem lev­ado o país a tanto descrédito.

Trazendo para nossa real­i­dade mais próx­ima, o exem­plo mais claro é o do prefeito da cap­i­tal. Vejam os ami­gos, que já esta­mos às por­tas do ter­ceiro ano de gov­er­nança e grade parte da sociedade ainda está com a impressão que o gov­erno não começou. Há uma espé­cie de vazio de poder. Isso quando de tempo útil, só se tem mais um ano. A par­tir de out­ubro de 2015, passa a imperar a lóg­ica per­versa de tudo pas­sar a girar em função da eleição do ano seguinte.

Não tenho qual­quer dúvida das boas intenções que pos­sui o prefeito. Acred­ito, pia­mente, que ele quer acer­tar, fazer o mel­hor pela cidade. Até por sua idade, pouco mais de trinta anos, não acred­ito que pre­tenda se aposen­tar da vida pública ao invés de gal­gar espaços mais ele­va­dos no cenário político. Ape­sar da força de von­tade, não há como escon­der que vem fazendo um gov­erno bem aquém das expec­ta­ti­vas. Claro, parte de suas difi­cul­dades pode ser cred­i­tada a crise pela qual passa os municí­pios brasileiros. Claro que pode ser cred­i­tada a falta de apoio de out­ras esfera de gov­erno. Entre­tanto, resta claro que grande parte se deve às difi­cul­dades de gestão. O prefeito for­mou uma equipe que não o tem aju­dado muito. Não se trata, nem de longe, de se dizer que há cor­rupção, quanto a isso não sabe­mos, mas de falta de ati­tude. As vezes, vendo de longe, fico com a impressão que de tanto terem medo de errar, acabam par­al­isa­dos e par­al­isando o governo.

Esque­cem que esta­mos numa cap­i­tal, com neces­si­dades mil, com prob­le­mas grandiosos a exi­girem rapi­dez, pre­sença da admin­is­tração, ousa­dia nas soluções, na cap­tação de recur­sos (ape­nas para se ter uma ideia há infor­mações que o gov­erno não vem arrecadando tudo que pode­ria ou cap­tando todos recur­sos junto aos gov­er­nos fed­eral e estadual).

Ape­sar de um mundo de exigên­cias, não faz muito, vi na página ini­cial da prefeitura, o prefeito inau­gu­rando reca­pea­mento de rua. Outro dia vi um com­er­cial de um serviço de drenagem a colo­cavam na vala escav­ada um cano bem semel­hantes a esses que usamos em casa. Me per­doem, mas essas ati­tudes pare­cem mais con­dizentes com pequenos municí­pios do inte­rior. A cap­i­tal pre­cisa de grandes obras de macro­drenagem, de vias urbanas que pos­si­bilitem o fluxo de veícu­los, de grandes hos­pi­tais (ninguém mais fala no novo hos­pi­tal de urgên­cia Dr. Jack­son Lago, prometido à exaustão na cam­panha), mod­ern­iza­ção do trans­porte (até a lic­i­tação está sendo feita na marra, se, de fato, sair), e muitas outras.

A cidade merece um gov­erno ousado, mod­erno, em sin­to­nia com os avanços tec­nológi­cos dos nos­sos dias, como, aliás, foi prometido.

A situ­ação chega a ser dramática quando vemos que até tendo tudo para deslan­char acaba sofrendo jus­tas críti­cas da população.

Um dos exem­p­los mais claros disso é a ben­dita obra de drenagem da Vila Luizão – por onde passo duas vezes ao dia. Trata-​se de uma obra cara – quase 17 mil­hões –, ban­cada pelo gov­erno fed­eral, necessária e urgente. O que faz a admin­is­tração? Não con­segue exe­cu­tar com rapi­dez, efi­ciên­cia, cau­sando enorme transtorno aos munícipes.

Não bas­tasse apan­har pelo que não faz, apanha tam­bém pelo que faz.

A exe­cução da obra, não sei como, ficou ao encargo de uma empresa que, até aqui, não tem mostrado a menor capaci­dade téc­nica, até parece uma empresa de fundo de quin­tal. Acho que já pas­sam de três meses e não con­seguiram pas­sar com as manil­has de drenagem pela Avenida dos Holan­deses, umas das mais impor­tantes e caras da cidade. Pior, a obra é de visível má qual­i­dade, não se vê uma boca de lobo, um poço de visita, a recom­posição do solo é sofrível, sem con­tar que o tempo, um serviço que sendo pes­simis­tas não levaria uma sem­ana, estão chegando aos noventa dias, se já não pas­saram disso. Todos os dias, pela manhã, pela tarde e noite a pop­u­lação demon­stra sua insat­is­fação, protesta e até xinga o prefeito. E ele está com sorte, se o inverno chegar e a obra con­tin­uar como está, vai ficar pior. Se é que pode pio­rar depois que morte e aci­dentes graves já foram registrados.

O prefeito caiu na velha espar­rela de que com­pan­heiros que servem para gan­har a eleição servem para gov­ernar. Nem sem­pre servem. Outra coisa que parece ter sido negli­cen­ci­ada, até aqui, é a vig­ilân­cia à infer­ên­cia dos aliados.

Os novos gov­er­nantes, que assumirão a par­tir de janeiro vin­douro, pre­cisam ficar aten­tos aos equívo­cos já cometi­dos. É a mel­hor forma de evitá-​los.

Abdon Mar­inho é advogado.

A REPÚBLICA DO PIOCERÃO.

Escrito por Abdon Mar­inho

A REPÚBLICA DO PIOCERÃO.

Volta e meia, prin­ci­pal­mente após as eleições, ressurgem os debates seces­sion­istas. Colo­cam com nat­u­ral­i­dade a ideia de dividirmos o nosso povo, por local­iza­ção geográ­fica, por raça, cor, situ­ação econômica. Nada mais tolo, nada mais absurdo. O Brasil é um só, demorou para que o con­struísse­mos assim e o cam­inho que temos é a união de todos os homens de bem em torno de um pro­jeto comum.

Os esta­dos ricos pre­cisam tra­bal­har no sen­tido de exi­girem do poder cen­tral que os esta­dos menos desen­volvi­dos alcancem o mesmo grau de desen­volvi­mento e as suas pop­u­lações o mesmo nível de acesso aos serviços públicos.

As regiões norte e nordeste sem­pre pade­ce­ram dos piores tipos de explo­ração política. Ainda durante a ditadura, enquanto os esta­dos do centro-​sul, sud­este e sul, iam as ruas pedindo o fim do régime, ou já a par­tir de de 1974 garan­tia a eleição de rep­re­sen­tantes oposi­cionistas nas direções dos seus esta­dos e uma boa rep­re­sen­tação no Con­gresso nacional, nos esta­dos do norte e nordeste as vel­has oli­gar­quias davam as car­tas. Já naquela época se falava em secessão.

Em 1976, para evi­tar uma acacha­paste der­rota nas urnas para a oposição, a ditadura lançou mão do pacote de abril, criando as sub­le­gen­das, aumen­tando em um terço a rep­re­sen­tação do Senado da República e mais out­ras medi­das ten­dentes a lim­i­tar o avanço dos opositores.

Ape­sar de tudo isso, em 76, 78 e 82, conseguiu-​se avançar e com a eleição de Tan­credo Neves, 1985, iniciar-​se um novo ciclo político.

Esse breve ret­ro­specto serve para mostrar que as ideias tolas não vem de hoje, o que temos de difer­ente são os personagens.

A maio­ria dos anal­is­tas apon­tam a última eleição como sendo a mais semel­hante com a batalha de 1989. A primeira eleição direta para pres­i­dente da República após a ditadura. Em relações aos sen­ti­men­tos, posso dizer que sim. Havia toda uma mís­tica entre o entendíamos o novo, o desco­lado, um tra­bal­hador no poder, rep­re­sen­tado pelo Lula e o can­didato rep­re­sen­tante das vel­has oli­gar­quias rurais do nordeste, dono do império de comu­ni­cação, Fer­nando Col­lor de Melo.

Como na atual cam­panha tín­hamos que desmisti­ficar as men­ti­ras dis­sem­i­nadas con­tra o Lula. Que ele iria tomar as ter­ras das pes­soas; que se você tivesse uma gal­inha teria que dividi-​la em duas e dar-​lhe uma banda; que iria tomar as mul­heres, pros­ti­tuir as cri­anças; que ele ten­tara obri­gar uma ex-​namorada a come­ter aborto; que era vio­lento con­tra as mulheres.

Eu, prati­ca­mente, um menino, ainda estu­dando para prestar vestibu­lar, ves­tia a camisa de mil­i­tante. Primeiro voto para presidente.

Lem­bro da enorme frus­tração, sen­ti­mento de vazio que senti quando as urnas apon­taram para a vitória de Collor.

Os votos de Lula, ori­un­dos, prin­ci­pal­mente dos grandes cen­tros urbanos das regiões sud­este, sul e centro-​oeste já o adver­sário pon­tif­i­cava como grande vito­rioso nos rincões mais atrasa­dos do norte, nordeste. São Paulo, que tam­bém deu vitória a Col­lor, dizia-​se que essa era dev­ida a grande colô­nia nordes­tina no estado.

Naque­les dias, os próceres do petismo, da chamada esquerda desco­lada, propalou os bor­dões de que o nordeste atrasava o Brasil. É isso mesmo, a “com­pan­heirada\» daquela época prop­unha o mesmo dis­curso tosco do divi­sion­ismo, do ódio con­tra o nordeste, etc. Essa mesma irres­ig­nação que vemos hoje con­tra a vitória de Dilma Rouss­eff viven­ci­amos con­tra a vitória de Collor.

A mesma coisa foi feita nas demais eleições per­di­das pelo Lula. Basta ver seus dis­cur­sos dele con­tra os pro­gra­mas de dis­tribuição de renda do gov­erno fed­eral na gestão de FHC. Dizia com todas as letras que os pobres do Brasil votavam com a bar­riga e não com a cabeça.

Com a chegada do Lula ao poder, em 2002 – após três der­ro­tas seguidas –, ele nada fez para prop­i­ciar as condições de desen­volvi­mento das regiões eco­nomi­ca­mente mais frágeis do Brasil, pelo con­trário, tra­tou de aumen­tar o assis­ten­cial­ismo, que tan­tas vezes o der­ro­tou e que tan­tas vezes com­bateu nas eleições.

O gov­erno Lula pas­sou a encar­nar o papel ante­ri­or­mente desem­pen­hado pelas vel­has oli­gar­quias estad­u­ais. Man­teve as vel­has estru­turas e colocou-​se acima delas. como prove­dor da política de esmolas.

É ilusório dizer que o nordeste cresce mais que as out­ras regiões. Na ver­dade, a pobreza é tamanha que qual­quer incen­tivo econômico aparece, como é o caso da injeção dos mil­hões men­sais dis­tribuí­dos nos pro­gra­mas de trans­fer­ên­cia de renda.

Não é pos­sível que aceite que se reduziu a mis­éria, quando se con­stata que só no “Bolsa Família” temos cerca de 55 mil­hões de ben­e­fi­ci­a­dos, sem con­tar os out­ros pro­gra­mas. Não se trata de uma política de Estado de redução da mis­éria, se assim fosse, par­tiríamos de um número ele­vado de bene­fí­cios e iríamos reduzindo ao longo dos anos. O que está acon­te­cendo é que a cada ano temos é mais gente sendo inscritas nestes programas.

Trata-​se de um crime con­tra essas pes­soas que não estão se lib­er­tando da mis­éria e sim ape­nas tro­cando de sen­hores. Acres­cento que com desvan­ta­gens para elas e para o país. As famílias mais pobres, cuja a taxa de natal­i­dade vinha em declínio, pas­sou a aumen­tar pois a cada filho se recebe um ben­efi­cio a mais. Maldizendo, a situ­ação se assemelha, em muito, aque­les idos do colo­nial­ismo, em que os sen­hores incen­ti­vavam o cresci­mento da pop­u­lação cativa para terem mais mão-​de-​obra. No caso, aqui, busca-​se o eleitorado cativo.

Nas últi­mas eleições, como no coro­nelismo de out­rora, os donos do poder fazem questão de ameaçar, difundir todo tipo de temor aos mais frag­iliza­dos. São basi­ca­mente as mes­mas ameaças que faziam os coro­néis, os mil­itares e que fez o Col­lor, na eleição de 1989. Só mudaram de lado os ameaçadores, os ameaça­dos per­manece­ram os mesmos.

A votação da pres­i­dente na sua local­iza­ção geográ­fica é o reflexo disso. Numa estranha coin­cidên­cia os seus mais 54 mil­hões de votos quase que cor­re­spon­dem ao número de ben­e­fi­ci­a­dos pelo Bolsa Família. Basta com­parar o mapa de ben­efi­ciários do Bolsa Família com o mapa de votação da pres­i­dente eleita e ver­e­mos que não há dis­tinção entre eles.

Numa outra coin­cidên­cia, os esta­dos do Piauí, Ceará e Maran­hão são onde há mais famílias são ben­e­fi­ci­adas, com dois, Piauí e Maran­hão, tendo mais de 50% (cinquenta por cento) das suas pop­u­lações inscritas nos pro­gra­mas soci­ais. Maran­hão, Piauí e Ceará lid­er­aram a votação em favor da can­di­data ofi­cial, dando a pres­i­dente eleita mais de 76% (setenta e seis por cento) dos votos.

O Maran­hão que tem mais de trinta municí­pios entre os cem mais depen­dentes a votação alcançou quase 80% (oitenta por cento). As pes­soas temerosas votam no inter­esse mais ime­di­ato: no din­heiro que lhe cai nas suas con­tas todo fim de mês.

Um dos casos mais emblemáti­cos de sub­mis­são política que lem­bro, é o caso de Bacabeira no Maran­hão. Aos que não lem­bram, no começo de 2010, o pres­i­dente da República, Sr. Lula, com pres­i­dente do Senado, Sr. Sar­ney, acom­pan­hados da min­is­tra da Casa Civil, Dilma Rouss­eff, do min­istro de Minas e Ener­gia, Sr. Edi­son Lobão, da gov­er­nadora do Maran­hão, Sra. Roseana Sar­ney e mais dezenas de políti­cos e adu­ladores de todos os naipes, foram àquele municí­pio lançar a pedra fun­da­men­tal da Refi­naria Pre­mi­nun de Bacabaira, qua­tro anos e quase dois bil­hões depois, o que era para ser uma refi­naria, virou um descam­pado, dezenas de famílias e comu­nidades de anti­gos quilom­bos deslo­cadas, dezenas de empresários que­bra­dos, a refi­naria, sim­ples­mente, foi para as cal­en­das, na atual crise pela qual passa a empresa, não se sabe nem mais se voltará a fazer parte dos seus planos de inves­ti­men­tos. Diante disso, do maior este­lion­ato eleitoral da história do país iria se imag­i­nar que os eleitores estivessem revolta­dos com quem os enganou, não? Em qual­quer outro lugar, sim, em Bacabeira a can­di­data que pro­moveu o engodo em 2010, con­seguiu 88,43% dos votos.

Esse é o retrato da República do Pio­cerão: os cidadãos não estão nem aí para nada, não lem­bram o dia de ontem desde que pos­sam sacar seu bene­fí­cio no fim do mês.

Abdon Mar­inho é advogado.