AbdonMarinho - UM CONGRESSO DE ALUADOS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UM CON­GRESSO DE ALUADOS.

UM CON­GRESSO DE ALUADOS.

As Comis­sões Par­la­mentares de Inquérito — CPI’s são instru­men­tos colo­ca­dos à dis­posição dos par­la­mentares para estes exerçam o seu papel fis­cal­izador. O leg­is­lador con­sti­tu­inte foi muito claro ao fazer inserir em seu artigo 58, § 3º As comis­sões par­la­mentares de inquérito, que terão poderes de inves­ti­gação próprios das autori­dades judi­ci­ais, além de out­ros pre­vis­tos nos reg­i­men­tos das respec­ti­vas Casas, serão cri­adas pela Câmara dos Dep­uta­dos e pelo Senado Fed­eral, em con­junto ou sep­a­rada­mente, medi­ante requer­i­mento de um terço de seus mem­bros, para a apu­ração de fato deter­mi­nado e por prazo certo, sendo suas con­clusões, se for o caso, encam­in­hadas ao Min­istério Público, para que pro­mova a respon­s­abil­i­dade civil ou crim­i­nal dos infratores.

Desde a rede­moc­ra­ti­za­ção do Brasil, sobre­tudo, desde a edição da Carta Cidadã de 1988, o Con­gresso nacional, por suas comis­sões deram inúmeras e valiosas con­tribuições ao país, tive­mos a CPI’s mem­o­ráveis como a da Cor­rupção, a dos Anões do Orça­mento, a que inves­tigou o gov­erno Col­lor, a que inves­tigou o gov­erno FHC, a que inves­tigou o Men­salão e o Men­sal­inho, só para citar algu­mas. Todas elas indi­ciando dep­uta­dos, senadores, servi­dores, sug­erindo medi­das com óbvias reper­cussões soci­ais. O Con­gresso Nacional, usando os poderes con­feri­dos pela Con­sti­tu­ição Fed­eral ia além do que estava aparente e fazia emer­gir para a sociedade o que estava errado. Era, por assim dizer, a caixa de ressonân­cia da sociedade.

Era, o verbo está colo­cado no tempo cor­reto. Ao longo dos últi­mos anos a insti­tu­ição foi se dimin­uindo – de forma mais acel­er­ada no último gov­erno – até chegar onde chegou: uma com­posição de alien­ados, desconec­ta­dos da real­i­dade que vive o país e o mundo. Só não digo que é com­posto de autis­tas, pelo justo receio de está ofend­endo os que sofrem com a patolo­gia e que nada fiz­eram de mal a ninguém, muito menos como fazem nos­sos parlamentares.

O escân­dalo da Petro­bras não tem para­lelo na história do Brasil. Uma for­tuna incal­culável em desvios, pre­juí­zos a cerca de meio mil­hão de brasileiros (os cré­du­los que con­fi­antes no gov­erno jog­a­ram suas econo­mias em ações da empresa), dezenas de políti­cos envolvi­dos, grandes empre­it­eiras, etc. Como diz na música, um “um bando gente impor­tante envolvida\».

Bem poucos, talvez ape­nas alguns indí­ge­nas per­di­dos nos con­fins da Amazô­nia, ainda não ten­ham ouvido falar na roubal­heira ocor­rida na maior empresa de petróleo brasileira – e, se sabe, noutras empre­sas tam­bém –, entre­tanto, o Con­gresso Nacional, através do seu instru­mento próprio de inves­ti­gação, a comis­são par­la­men­tar de inquérito mista – o que a torna ainda mais forte, vez que com­posta por dep­uta­dos e senadores –, não con­seguiu encon­trar nada além de frágeis indí­cios, inca­pazes de sus­ten­tar qual­quer abor­rec­i­mento a autori­dades ou servi­dores, por­ven­tura envolvidos.

Vejam bem, tiveram quase um ano de tra­balho e não con­seguiram encon­trar coisas que estão à vista de todos, e que, com meia hora de inves­ti­gação, iria-​se muito mais a fundo nas descober­tas e no cumpri­mento do dever con­sti­tu­cional. Ape­sar disso, nos­sos par­la­mentares, com os poderes próprios das autori­dades judi­cia­rias, não chegaram a lugar algum, a encon­trar nada. Nada, nem aque­las coisas que qual­quer um cidadão do povo, lendo jor­nais e revis­tas, ouvido rádio ou vendo TV não fos­sem capazes de saber.

Quando denun­ci­ado foi denun­ci­ado pela imprensa, os gov­ernistas fiz­eram tudo que podiam – e tam­bém o que não podiam – para impedir qual­quer inves­ti­gação. Primeiro que­riam ape­nas a CPI do Senado, cor­riam da comis­são mista – que só foi insta­l­ada após árdua batalha judi­cial. Ape­sar de toda a celeuma e para o deses­pero dos cidadãos de bem que sus­tenta com seus impos­tos o Estado per­dulário brasileiro, nen­huma das comis­sões par­la­mentares pro­duzi­ram nada que se aproveite. Nada além de escân­da­los inter­nos e vex­ames. O mais grave deles: a fraude das sessões de oitava dos envolvi­dos, com per­gun­tas e respostas ensa­iadas com os depoentes e out­ras com­bi­nações pouco edificantes.

O Con­gresso Nacional do Brasil é um dos mais caros do mundo, custa muito, pro­duz pouco e sequer, como agora se sabe, con­segue cumprir sua função con­sti­tu­cional, preferindo ser sub­serviente ao Poder Exec­u­tivo. Sub­serviên­cia essa, que tam­bém custa caro ao con­tribuinte, como se deu agora com o rece­bi­mento do “sub­orno ofi­cial­izado” – o episó­dio em que a lib­er­ação de emen­das par­la­mentares foi condi­cionado a aprovação da PNL 36/​2014, tudo dire­it­inho con­forme decreto presidencial.

A con­statação que se faz diante de tais fatos é que o Con­gresso Nacional – e isso é exten­sivo às Assem­bleias Leg­isla­ti­vas e Câmaras de Vereadores –, está pouco se \«lixando\» para a sociedade, cada um dos par­la­mentares se pre­ocupa como tirar suas van­ta­gens e povo que pague a conta sem reclamar.

Até porque, não se tem a quem reclamar.

Abdon Mar­inho é advogado.