AbdonMarinho - PRESENTE GREGO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

PRE­SENTE GREGO.

PRESENTE GREGO.

Convencionou-​se dizer tratar-​se de um pre­sente grego, aque­les que, emb­ora agrade ao des­ti­natário, revela-​se danosos no momento seguinte. Tem por origem a mitológ­ica Guerra de Tróia, nar­rada por diver­sos autores da antigu­idade, tendo-​a, uns como evento mitológico, out­ros como histórico. Na parte que nos inter­essa para o texto, diz-​se que os gre­gos fin­gindo uma reti­rada do cerco à Tróia, deixaram-​lhes um enorme e lindo cav­alo em madeira, que os troianos enten­deram tratar-​se de um pre­sente, levando-​o para den­tro dos muros da cidadela. O cav­alo, na ver­dade, escon­dia diver­sos guer­reiros gre­gos e, uma vez den­tro da cidade, trataram de facil­i­tar o acesso dos demais solta­dos e travar uma batalha intra­muros, ven­cida pelos gregos.

A mídia do Maran­hão, numa das maiores e mais caras cam­pan­has pub­lic­itárias da história do estado e do Brasil, não cessa de vender os feitos da gov­er­nadora que deixa o cargo em 31 de dezem­bro, Roseana Sar­ney. Sua excelên­cia, ape­nas para efeitos com­par­a­tivos, tem mais divul­gação no atual momento que Helena, pivô da guerra entre gre­gos e troianos em mais de 3 mil anos. Seus feitos são can­ta­dos em prosa e ver­sos em TV’s, rádios, inter­net e capas de jor­nais. Falam das inúmeras rodovias, que dizem ligar todos as sedes dos municí­pios (sabe­mos que não é ver­dade); das dezenas de hos­pi­tais (alguns fun­cionam, out­ros, não, parte em con­strução); obras de infraestru­tura na cap­i­tal, viadu­tos, pontes e ele­va­dos (quase nen­hum com recur­sos próprios do estado, grande parte mal feitos); mas vamos em frente.

Outro dia tive que ir ao fórum em São José de Riba­mar, como con­se­quên­cia, me atra­sei na chegada ao escritório. Além do atraso cau­sado por ter ido ao fórum, outra coisa motivou meu retardo: na volta havia um protesto de moradores do bairro Araçagy con­tra as obras de dupli­cação da Avenida dos Holandeses.

Enquanto esper­ava a des­ob­strução da pista fiquei sabendo que os moradores protes­tavam, com razão, con­tra a forma como a obra está sendo feita. Dizem que enquanto fal­tam pis­tas, sobram postes e can­teiros, há, ainda, a notí­cia de que ele­vado pro­je­tado não será feito como estava no pro­jeto orig­i­nal, além é claro do sum­iço de diver­sos out­ros mecan­is­mos de mobil­i­dade, como baias para ônibus, a largura das pis­tas (em muitos lugares não per­mitem a pas­sagem de dois car­ros simultâ­neos, etc).

Os moradores acor­daram que entre­garão \\\«gato por lebre\\\», como diz o dito pop­u­lar. Essa a razão de protestarem con­tra uma obra impor­tante, necessária e urgente para a Ilha de São Luís.

Pego esse exem­plo ape­nas para sin­te­ti­zar o que vem acon­te­cendo no Maran­hão. A obra de dupli­cação da Avenida dos Holan­deses é, pelo vol­ume de serviços apre­sen­ta­dos, uma das mais caras que tenho notí­cia. São menos de 3 km que cus­tarão a bagatela de R$ 30 mil­hões de reais. Denun­cio o valor absurdo da obra desde que colo­caram as pla­cas avisando sua exe­cução. Agora, quando se aprox­ima o momento da entrega, com­provo que tinha razão: a exceção das pis­tas para ciclis­tas, a obra não apre­senta qual­quer difer­en­cial capaz de jus­ti­ficar tanta gas­tança; as pis­tas de rola­mento, como disse, são estre­itas, se um ônibus ou veiculo maior parar, outro veículo não con­seguirá pas­sar sem esforço, isso é certo acon­te­cerá inúmeras vezes por conta de outra sen­tida ausên­cia: não con­struíram pon­tos de recuos para as paradas de ônibus; a camada asfáltica está é longe de aten­der ao mín­imo de 12 cen­tímet­ros de que trata a norma téc­nica; como a com­pactação foi mal feita, assim como todo o serviço de con­strução a pista já apre­senta alguns pon­tos de defeitos, que emb­ora, cor­rigi­dos para inau­gu­ração, ressur­girão em seguida.

Pois é, na obra falta qual­i­dade e sobram postes a enfear a obra.

Ora, se o pro­longa­mento da Avenida dos Holan­deses que é via mais cara da ilha, com a quan­ti­dade de recur­sos alo­ca­dos para a obra, fazem um serviço de amadores, dá para imag­i­nar o que estão fazendo pelo resto do estado.

Não per­camos de vista que esta­mos na cap­i­tal, e essa via é per­cor­rida pelas maiores autori­dades do públi­cas quando se dirigem para suas pro­priedades de campo, costeira ou para pegarem seus aviões e helicópteros par­tic­u­lares no aero­porto de Paço do Lumiar. Assim, custo a acred­i­tar que não perce­bam o quanto a obra é mal arran­jada, mal feita e feia. Ape­nas para fazer um com­par­a­tivo histórico, a obra que mais se assemelha a essa foi a obra de urban­iza­ção do bairro Cidade Operária, feita com mais qual­i­dade, mas com os mes­mos defeitos, pis­tas estre­itas e can­teiros lar­gos. As sep­a­ram, os trinta anos entre uma e outra.

Usei a obra da Holan­deses como exem­plo, mas o vício das obras mal feitas con­t­a­m­ina out­ras, aqui mesmo na cap­i­tal. A Via Expressa, que prom­e­tem entre­gar por esses dias, pos­sui inúmeros defeitos, inclu­sive nas pontes, onde os desníveis são um risco; a IV Cen­tenário, segundo os engen­heiros que con­sul­tei, é um acinte à engen­haria, entre out­ros defeitos, a alça que desce na Avenida dos France­ses, só tem solução para uso, se for der­rubada e reconstruída.

Dizia outro dia a um amigo que não me pre­ocupo quando Roseana pega o vio­lão e começa tirar um som, quando faz isso – não con­heço seu tal­ento musi­cal –, o máx­imo que pode sair é uma ou outra nota desa­fi­nada, um erro de letra, já, quando se mete com obras, não ten­ham dúvi­das, o risco é bem maior, tanto para os usuários quanto para as finanças públicas.

Como já disse reit­er­adas vezes, e agora repito, em pese a importân­cia destas obras para as pop­u­lações envolvi­das, a forma como são exe­cu­tadas e fis­cal­izadas pelo poder público, faz com que não passem de pre­sentes de grego para o futuro governo.

Abdon Mar­inho é advogado.