AbdonMarinho - UMA QUESTÃO DE NÚMEROS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UMA QUESTÃO DE NÚMEROS.

UMA QUESTÃO DE NÚMEROS.

E o IBGE (Insti­tuto Brasileiro de Geografia e Estatís­ti­cas) joga um balde de água na pro­pa­ganda ufanista do atual gov­erno. Mais um dado neg­a­tivo a se jun­tar a nossa vasta coleção de tragédias.

Agora, foi divul­gado que o cidadão maran­hense pos­sui uma expec­ta­tiva de viver dez anos menos que um cidadão catari­nense. Neste que­sito, expec­ta­tiva de vida, o Maran­hão toma de volta a lanterna do estado de Alagoas.

A pro­pa­ganda acerta em dizer que o estado é de gente guer­reira. Deve ser por saber que vai viver bem menos – esta­tis­ti­ca­mente – que a média dos cidadãos brasileiros.

É ver­dade que nos últi­mos 35 anos a expeta­tiva de vida dos maran­henses evoluiu pos­i­ti­va­mente, saltou de 57,5 em 1980 para 69,7 em 2013. Ape­sar disso ainda ficou 5 anos abaixo da média nacional e 10 anos abaixo da média do Estado de Santa Cata­rina, o mel­hor colo­cado no ranking.

Em todo caso, já rep­re­senta um avanço, se con­sid­er­ar­mos que a expec­ta­tiva de vida do Maran­hão em 1980 era prati­ca­mente a mesma dos primeiros sécu­los da Era Cristã e, até, infe­rior a de muitos países durante o período con­hecido como Idade Média. Hoje, esta­mos no mesmo pata­mar de Fil­ip­inas, Guatemala, Indonésia, Iraque, Micronésia, Quir­guistão e Rússia.

A enx­ur­rada de pro­pa­ganda do gov­erno que se des­pede bem que podia esclare­cer como esses números do IBGE são tão dís­pares da real­i­dade dourada que ten­tam vender. Como é pos­sível aceitar que o Maran­hão – para onde aoor­reram mil­hares de nordes­ti­nos em busca de mel­hores dias –, esteja, em que­sito tão impor­tante, atrás de Alagoas, que, nem de longe, pos­sui riquezas como as nossas?

Há que reg­is­trar, ainda, que Alagoas mel­horou a expec­ta­tiva de vida em 14,7 anos, enquanto que no Maran­hão o aumento foi de ape­nas 12,2 anos, no mesmo período de 1980 a 2013.

A pro­pa­ganda ofi­cial trata de ocul­tar esse tipo de infor­mação assim com que, ape­nas a região met­ro­pol­i­tana de São Luís, com 1,4 mil­hões de habi­tantes, já reg­istrou, até novem­bro, 979 homicí­dios. Isso sig­nifica, segundo fontes abal­izadas, que se mata seis vezes mais aqui que na cap­i­tal de São Paulo, com 11 mil­hões de habi­tantes. Mata-​se mais, inclu­sive, que países como a Colôm­bia, que já foi sinón­imo de vio­lên­cia por conta da pro­dução de narcóticos.

A vio­lên­cia bru­tal é um dos fatores a jus­ti­ficar a baixa expec­ta­tiva de vida do maran­hense. A maio­ria dos assas­si­natos de são de jovens com menos de 20 anos. Outro dia foi assas­si­nado um com ape­nas 12 anos. O gov­erno não entende assim, acha que a vio­lên­cia é sinôn­imo de desen­volvi­mento. Vê-​se que não fala coisa com coisa.

Assim como na questão da vio­lên­cia e da baixa expec­ta­tiva de vida, os atu­ais gov­er­nantes ten­tam fat­u­rar feitos que não são seus e que tam­pouco cor­re­spon­dem a real­i­dade. Dizem, por exem­plo, que reti­raram 2 mil­hões de maran­henses da pobreza extrema. Ora, essas pes­soas sairam da estatís­ti­cas dos que pas­savam fome graças ao pro­grama do gov­erno fed­eral ‘Bolsa Família”. São pes­soas que não sairam da mis­éria, ape­nas mudaram a relação de dependên­cia. Quase todos voltaram a engrossar as fileiras dos faméli­cos caso algum dia esse pro­grama deixe de existir.

O gov­erno estad­ual, não sat­is­feito em apropriar-​se de um dado que não é seu, segue na mesma can­tilena do gov­erno fed­eral de que é pos­sível com­bater mis­éria com dis­tribuição de esmo­las. Estão equiv­o­ca­dos, só se com­bate a mis­éria com pro­dução, com a inserção destas pes­soas que vivem de bol­sas e seguros – os mais vari­a­dos –, na ger­ação de riquezas, com trabalho.

Números pos­i­tivos são tão escas­sos que pro­por­ciona situ­ações inusi­tadas. Apare­ce­ram entanto fat­u­rar os dados pos­i­tivos do acesso edu­cação, quando na ver­dade os dados eram de 2010 e referiam-​se, por óbvio, aos gov­er­nos de José Reinaldo tavares e jack­son Lago.

O gov­erno acha é um grande feito man­ter os gas­tos com pes­soal den­tro dos lim­ites esta­b­ele­ci­dos na Lei de Respon­s­abil­i­dade Fis­cal. Ora, man­ter isso é, na ver­dade, nada além de sua obri­gação e com certeza, pri­vando a pop­u­lação de serviços essen­ci­ais, não é atoa que o Maran­hão pos­sui uma dos menores con­tin­gentes poli­ci­ais do Brasil, estando bem longe da per capita con­sid­er­ada sat­is­fatória. A mesma coisa acon­tece com o número de médi­cos onde tam­bém temos uma per capita baixa, pro­fes­sores que fal­tam para inúmeras dis­ci­plinas, agrônomos e téc­ni­cos que não exis­tem para assi­s­tirem os produtores.

Em resumo, os dados pos­i­tivos que o gov­erno planta na sua mídia – de que entre­gará o estado com as con­tas em equi­líbrio –, é fruto de dis­torções admin­is­tra­ti­vas, pois fal­tam médi­cos, poli­ci­ais, pro­fes­sores, engen­heiros, téc­ni­cos e diver­sos out­ros profis­sion­ais nos quadros da admin­is­tração. Tanto isso é ver­dade que, no apa­gar das luzes, o gov­erno está chamando diver­sos con­cur­sos para o próx­imo gov­erno realizar. Ou seja, fal­tam profis­sion­ais em funções essen­ci­ais de segu­rança, saúde, edu­cação, pro­dução ao passo que o gov­erno mantinha/​mantém cen­te­nas de pes­soas em car­gos comis­sion­a­dos, muitos deles, recebendo sem a dev­ida con­traprestação laboral.

O Maran­hão, em 31 de dezem­bro de 2014, encerra um ciclo que durou quase meio século. Quase cinquenta anos de equívo­cos e políti­cas, quase todas desconec­tadas do inter­esse público, fazendo com que o estado que out­rora, por suas riquezas, era a esper­ança do Brasil à situ­ação em que se encon­tra hoje, em último lugar em quase tudo que é indi­cador social, atrás até de Alagoas, em expec­ta­tiva de vida. Com certeza, não temos muito do que nos orgulhar.

Abdon Mar­inho é advogado.