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O PREÇO DA IMPREVIDÊNCIA.

Escrito por Abdon Mar­inho

O PREÇO DA IMPRE­V­IDÊN­CIA.
– É MEU FILHO, cabeça não pensa, corpo padece.
Assim, cer­ta­mente, falaria meu pai, com os dentes cer­ra­dos, usando sua prover­bial sabedo­ria dos apren­deram com a vida.
Os últi­mos dias não têm sido fáceis para o gov­erno comu­nista insta­l­ado Maran­hão, sobre­tudo, agora com a defla­gração da oper­ação poli­cial apel­i­dada de “pegadores” — o próprio nome já uma pil­héria de gosto duvi­doso por parte dos seus ide­al­izadores. Até fico imag­i­nando as goza­ções e ilações a propósito da mesma -, que desco­briu desvios ocor­ri­dos na pasta da saúde estad­ual, do iní­cio do gov­erno, em 2015, até os dias atu­ais, con­sistindo no enx­erto de cen­te­nas de pes­soas na folha de paga­mento, sem a dev­ida con­traprestação, ou pagando a empre­sas que tiveram que alterar se objeto com fito a aten­der, segundo a polí­cia fed­eral, inten­tos crim­i­nosos.
Emb­ora o gov­erno tenha esboçado uma reação, fica com­pli­cado eximir-​se de respon­s­abil­i­dade quando famil­iares e/​ou secretários do gov­erno — ainda que indi­re­ta­mente -, fig­u­ram como impli­ca­dos no alcance que, ainda na ótica poli­cial, “aliv­iou” os cofres públi­cos em quase vinte mil­hões de reais.
Pior mesmo é, ainda ter que jus­ti­ficar que parte dos supos­tos desvios tin­ham como obje­tivo a sat­is­fação da lascívia de autori­dades públi­cas. Escan­daloso e pro­saico, con­quis­tar uma amante, enxerta-​la na folha de paga­mento e “empurrar” a conta para o con­tribuinte caso se con­firme o que foi-​se dito até aqui pelos inves­ti­gadores.
Antes de se apon­tar qual­quer respon­s­abil­i­dade, é essen­cial que apure com o máx­imo de rigor, para aferir se tais situ­ações, como explo­rado, à exaustão, pelos adver­sários, de fato ocor­reu. Caso con­fir­mado, vamos com­bi­nar que não fica bem um gov­erno eleito pre­gando uma mudança nos cos­tumes, seja pego, lit­eral­mente, com as calças nas mãos, usando ver­bas públi­cas para o paga­mento de amantes, apanigua­dos ou, sim­ples­mente, des­viando, por artifí­cios diver­sos, ver­bas que dev­e­riam ser apli­cadas na saúde da pop­u­lação.
Só o fato da polí­cia aman­hecer na porta de órgãos públi­cos já rep­re­senta um tapa na cara dos cidadãos de bem, pagadores de impos­tos, ainda mais, quando na lista dos impli­ca­dos nos deparamos com famil­iares de ele­vadas fig­uras públi­cas na hier­ar­quia político-​administrativa do estado saber que esta pode ser só a ponta do ice­berg, é algo muito grave, gravís­simo.
Daí a neces­si­dade de apu­ração rig­orosa, até para sep­a­rar cul­pa­dos de inocentes e víti­mas. Quem são os coman­dantes do grupo, apel­i­dado pela polí­cia, de orga­ni­za­ção crim­i­nosa? A ex-​secretária-​adjunta, presa pro­vi­so­ri­a­mente, estaria no ápice da cadeia de comando? Os diri­gentes das OCIPS? Out­ros fun­cionários? Ou teríamos, tam­bém, inte­grantes da classe política? Quem, de fato, man­dou fazer, aqui­esceu ou silen­ciou diante da ban­dalha?
O próprio gov­er­nador e seus secretários dev­e­riam vir a público cobrar, das autori­dades poli­ci­ais fed­erais, esclarec­i­men­tos mais con­tun­dentes sobre os fatos noti­ci­a­dos.
Não o fazem, ao invés disso, saem por aí, em redes soci­ais difundindo e com­par­til­hando tex­tos encomen­da­dos ten­tando poli­ti­zar a inves­ti­gação com insin­u­ações de que seria armação dos adver­sários; que bas­tou o novo super­in­ten­dente da Polí­cia Fed­eral assumir (há pouquís­simo tempo, registre-​se) para que fosse des­en­cadeada a tal oper­ação, como se fosse pos­sível e não fosse ofen­sivo tal insin­u­ação a todas as autori­dades e insti­tu­ições envolvida na inves­ti­gação há meses ou anos.
Asserti­vas assim, ditas por autori­dades – e não por mil­i­tante –, leva-​nos a deduzir que, tam­bém, estes gov­er­nantes pode­riam usar a máquina estatal em perseguição a adver­sários, como tan­tos têm denun­ci­ado, sobre­tudo aque­les que já foram pre­sos e tiveram suas ima­gens expostas pub­li­ca­mente por ocasião de seus infortúnios, numa espé­cie de punição adi­cional, cujo propósito é alquebra-​los pes­soal e politi­ca­mente – se ainda tiverem pre­ten­são política –, ou “convencê-​los” a aderir ao gov­erno.
Se o gov­erno é vítima de alguma coisa – e acho difí­cil que seja –, é de suas próprias escol­has e impre­v­idên­cias, pois antes mes­mos de assumirem e logo depois que começaram a gov­ernar, por quase uma dezena de vezes, alertei-​os sobre a neces­si­dade de faz­erem pro­fun­das audi­to­rias nos diver­sos órgãos da admin­is­tração pública.
Pedi mais. Que con­tratassem audi­to­rias exter­nas para apu­rar os pos­síveis “malfeitos” de gestões ante­ri­ores e que dessem liber­dade para que os servi­dores do estado pudessem acom­pan­har e impedir pos­síveis malfeitos do atual gov­erno.
Com mais de vinte anos de exper­iên­cia na área pública, já me con­venci que ami­gos e ali­a­dos de gov­er­nantes causam mais males aos seus gov­er­nos que os adver­sários. Estes, quando atu­antes, fazem é aju­dar os gov­er­nos na pre­venção dos equívo­cos e/​ou crimes.
Autossu­fi­cientes, enten­deram não pre­cisar de ninguém e não con­trataram as audi­to­rias exter­nas e, gas­tando tempo e ener­gias em inves­ti­gações de gov­er­nos pas­sa­dos, esque­ce­ram (ou não quis­eram) apu­rar o que pas­sava no seu entorno, envol­vendo novos e vel­hos cama­radas.
As acusações tor­nadas públi­cas pela Polí­cia Fed­eral são graves e desnudam com­por­ta­men­tos incom­patíveis com tudo aquilo que se pre­gou uma vida inteira, quando, opos­i­tores apon­taram os malfeitos dos adver­sários e que no poder, teriam, incor­ri­dos nas mes­mas práti­cas.
Se hon­estos, pecaram pela impre­v­idên­cia, pela arrogân­cia de se acharem mais capazes que todos os demais,
Outra rev­e­lação das inves­ti­gações de órgãos como Polí­cia Fed­eral, MPF, CGU e out­ros, é o quão frágeis no com­bate à cor­rupção são os órgãos estad­u­ais, esque­mas, segundo dizem durando anos – apon­taram 2015, mas o gov­erno insinua que vem de antes – pas­saram e ainda devem pas­sar des­perce­bido do Tri­bunal de Con­tas do Estado e do Min­istério Público Estad­ual, órgãos que nos últi­mos anos têm se esmer­ado na apu­ração de supos­tos “malfeitos” cometi­dos por prefeitos e ex-​prefeitos munic­i­pais, rejeitando-​lhes as con­tas e pro­movendo diver­sas ações cíveis e penais.
Agora mesmo, empreen­dem rig­orosa (e nobre) cam­pan­has de com­bate ao nepo­tismo nos municí­pios, recomen­dando e até pro­pondo ações por impro­bidade con­tra os gestores ret­i­centes em demi­tir par­entes em até ter­ceiro grau (inclu­sive por afinidades) de prefeitos, vice-​prefeitos, vereadores, secretários munic­i­pais e quais­quer out­ros asses­sores e ocu­pantes de car­gos comis­sion­a­dos.
Estas e tan­tas out­ras mis­sões empreen­dem e cobram com espe­cial zelo dos gestores munic­i­pais, entre­tanto parece que não lhes chegam notí­cias de tan­tas práti­cas de nepo­tismo, ou mesmo desvios, como esta agora rev­e­lada pela polí­cia fed­eral, na esfera do gov­erno estad­ual.
Ora, se numa folha, suposta­mente, fan­tasma, revelou-​se a existên­cia de cerca de qua­tro­cen­tos con­tratos inde­v­i­dos a um custo de 18 mil­hões, quan­tos mil­hões não estão sendo alivi­a­dos dos cofres públi­cos com as nomeações inde­v­i­das pelo nepo­tismo (direto e cruzado) de cen­te­nas par­entes e ader­entes ou apanigua­dos que nada fazem, de dep­uta­dos, mag­istra­dos, con­sel­heiros, asses­sores, etc.?
O gov­erno estad­ual informa – bem depois de des­baratada a suposta orga­ni­za­ção crim­i­nosa –, que vem ten­tando desde os primeiros dias do gov­erno com­bater as práti­cas nefas­tas, suposta­mente her­dadas de gestões ante­ri­ores. O TCE e o MPE, bem que pode­riam, tam­bém, auxilia-​lo nesta mis­são.
Por fim, temos a con­vicção de que nunca é tarde demais para se inves­ti­gar, apu­rar e com­bater os “malfeitos” iner­entes ao apelo (quase) irre­sistível da cor­rupção e do din­heiro fácil.
Isso somente é pos­sível com um tra­balho árduo e diu­turno, enquanto isso, mesmo os hon­estos, pagam o preço da impre­v­idên­cia.
Abdon Mar­inho é advogado.

UMA BREVE HISTÓRIA POLÍTICA DO MARANHÃO.

Escrito por Abdon Mar­inho

UMA BREVE HISTÓRIA POLÍTICA DO MARAN­HÃO.
COMO acon­tece a cada véspera de eleição, basta que se diga um «ai» que destoe do sur­rado dis­curso anti-​Sarney para que passem a tachá-​lo como ali­ado do velho moru­bix­aba, uma chat­ice hor­ro­rosa.
Uma vez disse – e fiz a ressalva de não entrar no mérito se havia ou não cor­rupção, falta de plane­ja­mento, etc. –, que achava pos­i­tiva a ini­cia­tiva de ligar todas as sede dos municí­pios por rodovias asfal­tadas e que os hos­pi­tais que estavam fazendo era algo a aliviar o sofri­mento da pop­u­lação.
Foi um “Deus nos acuda”, dos supos­tos anti-​Sarney (a frente enten­derá o termo “suposto”), acusando-​me de haver me “ven­dido” ao grupo adver­sário, que virara um sane­y­sista. Escrevi dois tex­tos sobre isso, se não me falha a memória: “Onde Estavam?” e Sane­y­sista, Eu?”.
O leitor pode pesquisar estes tex­tos no meu site ou noutros veícu­los.
Ulti­ma­mente fiz algu­mas críti­cas ao atual gov­erno, sobre­tudo, ao estilo autocrático, que mais rev­ela frag­ili­dades e desapreços às liber­dades cidadãs, que qual­quer outra coisa. Mais uma vez, vieram com a “fres­cura» de que seria um saudoso do antigo gov­erno, um sar­ne­y­sista, roseanista, e todas estas tolices de quem pensa, mais pela bitola dos for­madores de opinião – que venderam até a alma –, do por suas próprias cabeças.
Diante disso faço uma breve ret­ro­spec­tiva da história política do Maran­hão – e da minha própria história.
Uma boa data para ini­ciar esta breve história é com a rede­moc­ra­ti­za­ção do Brasil, a par­tir de 1985. Estava me mudando para São Luís e na ilha par­tic­i­pando, na esteira das liber­dades recém con­quis­tadas, da fun­dação de grêmios estu­dan­tis, ainda nos reuníamos debaixo de árvores, por este período fun­damos o grêmio do Liceu Maran­hense, da Escola Téc­nica, do Gonçalves Dias, den­tre out­ros.
O ano de 1986 foi a eleição de gov­er­nador onde foi cos­tu­rado um grande acordão unindo a oposição agluti­nada no PMDB e o PFL, for­man­dos por egres­sos da ARENA e do PDS para eleição de Cafeteira no Maran­hão. A dis­puta para Cafeteira foi um “pas­seio» o adver­sário, o ex-​governador João Castelo, não fez nem medo.
Naquela eleição as pes­soas mais “avançadas”, eu, incluso, fomos com a pro­fes­sora Delta Mar­tins, do PT. Uma can­di­datura, como se dizia, na época, para “mar­car posição”. O “nosso» foco na ver­dade (lem­brando que eu era um menino de 15 para 16 anos) era a eleição con­sti­tu­inte, para a qual elege­mos muita gente boa como José Car­los Sabóia, Haroldo Sabóia, na esfera estad­ual, Juarez Medeiros, Con­ceição Andrade, entre out­ros.
Nas eleições de 1990, candidataram-​se João Castelo, agora apoiado por Cafeteira que saíra do gov­erno para ser senador da República e Edi­son Lobão do PFL, rep­re­sen­tante do grupo Sar­ney. O gov­erno, como lem­bram, estava nas mãos de João Alberto de Souza, que fora o vice de Cafeteira.
As “oposições”, enten­diam que a dis­puta Castelo X Lobão era uma dis­puta «deles», e fomos com a can­di­datura, para «mar­car a posição” de Con­ceição Andrade, já no PSB, que não fez feio, sem qual­quer estru­tura par­tidária e sem recur­sos ameal­hou quase 20% (vinte por cento) dos votos, que a cap­i­tal­i­zou para ser a prefeita da cap­i­tal dois anos depois.
A primeira eleição com chances reais de vitória da oposição con­tra o grupo Sar­ney deu-​se, efe­ti­va­mente, 1994, e com a can­di­datura do ex-​governador Cafeteira, que só seria – e foi can­didato –, com o apoio das «oposições». Era isso que apon­tavam as pesquisas de opinião qual­i­ta­ti­vas. O PSB, com Con­ceição Andrade, então prefeita da cap­i­tal, toparam apos­tar no pro­jeto indi­cando o dep­utado estad­ual Juarez Medeiros como can­didato a vice-​governador.
Ape­sar do não apoio do ex-​prefeito Jack­son Lago (que teve no primeiro turno da eleição eleição quase o mesmo per­centual de Con­ceição Andrade qua­tro anos antes), Cafeteira gan­hou aquela tumul­tuada eleição de 1994. Gan­hou, mas não levou.
Naquela eleição, atuei – pelo menos durante o primeiro turno como um dos três coor­de­nadores da cam­panha de Cafeteira, os políti­cos mes­mos, talvez, por não acred­i­tar, estavam todos cuidando de suas próprias cam­pan­has pro­por­cionais e, tam­bém, porque não tín­hamos pes­soal.
Era uma cam­panha – a mel­hor palavra –, amadora, basta dizer que eram coor­de­nada por três pes­soas e o estú­dio de gravação da pro­pa­ganda de rádio e tele­visão era na casa do can­didato no Sítio Leal, o “pro­du­tor”, pode se dizer, era Ader­son Neto, filho do dep­utado Ader­son Lago, que, acred­ito, não tinha mais de quinze anos e que saía do Colé­gio Batista, no João Paulo, e lá ia pro­duzir os pro­gra­mas de tele­visão de uma can­di­datura a gov­er­nador, com duas câmeras, uma com defeitos mais que visíveis.
E, ainda assim, lev­a­mos a eleição para o segundo turno – e gan­hamos.
Mas isso são águas pas­sadas, o que desejo abor­dar aqui é a questão do mito anti-​Sarney de muitos que se ocu­pam em patrul­har as opiniões alheias no que­sito coerên­cia política.
Como coor­de­nador da cam­panha de Cafeteira, certo dia fui a grá­fica ver­i­ficar um mate­r­ial. Isso ainda no primeiro turno. Lá um dos dire­tores me chamou para mostrar sua última encomenda: mate­r­ial do can­didato do PCdoB con­junto com a Branca.
A própria can­di­data do grupo Sar­ney, Roseana em dobrad­inha com o rep­re­sen­tante do comu­nismo maran­hense, Mar­cos Kowar­ick (acho que é assim que se escreve).
Qual não foi minha sur­presa, até então, emb­ora não apoiassem a can­di­datura de Cafe­te­ria, esperava-​se que apoiassem a can­di­datura do Jack­son Lago.
Nos fins de tarde sem­pre pas­sava algum jor­nal­ista ou radi­al­ista pelo comitê, assim, acabaram sabendo e expondo pub­li­ca­mente o arranjo sarno/​comunista para os eleitores maran­henses.
Não se sabe se foi isso ou ape­nas a falta de votos que lhe cus­tou a sua eleição.
O con­strang­i­mento dos comu­nistas durou pouco tempo. Roseana Sar­ney eleita, pouco tempo depois estavam “cavando” suas posições den­tro do gov­erno da Branca, onde ficaram até o final de seu segundo gov­erno em 2002.
Isso ofi­cial­mente, pois muitos inte­grantes do par­tido nunca largaram as «boquin­has», pas­saram pelo gov­erno de Roseana, José Reinaldo, Jack­son Lago e Roseana Sar­ney, nova­mente.
Não deixa de ser curioso que hoje muitos destes ten­tem, a todo custo, rotu­lar os out­ros como sane­y­sis­tas, roseanistas, etc.
Como sabe­mos, em 1994, elegeu-​se, na esfera fed­eral, Fer­nando Hen­rique Car­doso, reeleito em 1998 – assim como Roseana que elegeu-​se sem “sair de casa”, na dis­puta que teve nova­mente con­tra Cafeteira, agora apoiado por todos que diziam que ele não prestava em 1994 –, mais que seu par­tido, o PSDB, os Sar­ney eram os ver­dadeiros rep­re­sen­tantes do gov­erno fed­eral no Maran­hão.
Esta situ­ação durou todo o gov­erno de FHC, só havendo um breve hiato quando o sonho de Roseana chegar a presidên­cia da República foi abatido na esteira da “Oper­ação Lunus”, e as mil­hares de notas de reais encon­tradas no escritório da empresa da família foram expostas em rede nacional, para as quais deram no mín­imo sete ver­sões.
Emb­ora “machu­ca­dos» pois que­riam muito mais, tiveram a des­culpa per­feita para se mudarem de malas e cuias para o pro­jeto de gov­erno petista de Lula.
Pois é, foge a nar­ra­tiva dos que se dizem anti-​Sarney a par­tic­i­pação no con­sór­cio que dirigiu o Brasil de 2003 até 2016. Petis­tas e comu­nistas sem­pre foram ali­a­dos no plano nacional, do tipo de não aceitar qual­quer crítica aos gov­er­nos de Lula e Dilma. Estranho que nunca sen­ti­ram qual­quer con­strang­i­mento em saber que o Sar­ney e asse­clas estiveram na linha de frente, ombrea­dos com eles na defesa dos qua­tro gov­er­nos petis­tas.
Quando Lula prin­ci­p­iou cair em 2005 na esteira do escân­dalo do “Men­salão”, que acabou levando, tem­pos depois, parte da cúpula do PT a serem hos­pedes do sis­tema carcerário nacional, lá estava Sar­ney defend­endo Lula, do mesmo modo quando Sar­ney esteve em apuros dev­ido aos “malfeitos” no Senado da República, lá estava o Lula defend­endo o Sar­ney.
A sim­biose chegou a ponto de tran­scen­der a matéria, Lula, comandante-​mor do petismo cun­hou que o Sar­ney seria o seu “irmão de alma” e mais, que seria um cidadão “difer­en­ci­ado”, isso sig­nif­i­cando dizer, fora do alcance da lei.
Em resumo, durante os gov­er­nos de Lula e Dilma, os Sar­ney, os petis­tas, os comu­nistas, e tan­tos out­ros críti­cos, estiveram juntin­hos, usufruindo das benesses do poder. Nunca vi nen­hum, dos fazem o dis­curso do anti-​Sarney no Maran­hão, recla­mar da pre­sença e influên­cia do próprio junto aque­les gov­er­nos ou a renun­cia­rem suas «boquin­has» na máquina pública.
Não lem­bro, tam­bém, de quais­quer protestos, mais enfáti­cos, quando unidos, Sarney-​Lula, não medi­ram esforços para reti­rar o Jack­son Lago do poder estad­ual con­quis­tado nas eleições de 2006, graças à dis­sidên­cia prov­i­den­cial do ex-​governador José Reinaldo.
Em 2010, no plano fed­eral, coroaram a aliança com o Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT, cedendo a vice-​presidência ao PMDB, através de Michel Temer (o que repetiu em 2014), na chapa Dilma/​Temer. Não vi nen­hum petista ou comu­nista maran­hense se esgoe­lando ou mor­rendo con­tra a aliança, pelo con­trário, estavam lá pedindo votos para a chapa.
Quando algum me cobra que fale do gov­erno Temer que, recon­heço, é uma des­graça, cos­tumo dizer: – Michel Temer e PMDB são coisas do PT.
Aqui, no Maran­hão, o PT acabou foi col­i­gando com o próprio Sar­ney, na chapa da sen­hora Roseana, não se con­strangendo em repe­tir a façanha e apoiar o notório Edinho Lobão ao gov­erno em 2014, agora con­tra o can­didato comu­nista, Flávio Dino, feito politico por José Reinaldo Tavares, quando ainda era juiz fed­eral, em 2006.
Pois é, meus ami­gos, essa turma fica imbuída do propósito de “patrul­har» qual­quer um que não reza pela car­tilha ofi­cial, sem olhar para o próprio pas­sado, para a própria história e, até mesmo, fin­gindo igno­rar o pre­sente.
Agora mesmo, o que se sabe é de uma parce­ria, mais que van­ta­josa, entre o atual gov­erno e o grupo do senador Lobão, mais sar­ne­y­sista que o próprio Sar­ney, na explo­ração do sis­tema Difu­sora de comu­ni­cação, parce­ria esta inter­me­di­ada pelo pres­i­dente do PDT, o dep­utado Wew­er­ton Rocha, de todos con­hecido; o que se sabe, é que aque­les que acusaram (e acusam) o PMDB de golpista, por conta do impeach­ment da sen­hora Dilma Rouss­eff, estão cos­tu­rando uma nova aliança PT/​PMDB em diver­sos esta­dos, quiça não alcance o plano fed­eral, onde estarão, todos jun­tos, no propósito de destruir, mais ainda, o Brasil.
Fal­tam a estes valentes que, abo­le­ta­dos no poder, se ocu­pam de patrul­har os out­ros, con­sistên­cia e coerên­cia de ideias. Na ver­dade, sem­pre lhes valeu o poder pelo poder, a busca pela boquinha, pelos negó­cios, mes­mos os mais mesquin­hos.
Não lem­bro de vê-​los, nestes anos todos, colo­carem os inter­esses do Maran­hão à frente dos seus próprios inter­esses. Nen­hum deles.
Não sem ver­gonha, con­fesso que votei no sen­hor Lula em 2002, mas, tão logo pressenti o engodo que seria o seu gov­erno, perce­bido logo nos primeiros dias de 2003, me afastei e pas­sei a criticá-​lo, mesmo quando – enquanto lançava os os fun­da­men­tos para destruir o país –, sua pop­u­lar­i­dade e aceitação pas­savam dos 80% (oitenta por cento), mantive-​me firme nas min­has posições, pois, con­tra todos, sabia que era um castelo de car­tas prestes a ruir.
Já são mais de trinta anos vivendo a história do Maran­hão, con­hecendo e sabendo onde estavam cada um dos per­son­agens. São frag­men­tos da história que vivi. E a vivi longe das som­bras dos palá­cios. Com a inde­pendên­cia para dizer o que penso só pro­por­cionada pela liber­dade dos nunca se escon­deram do tra­balho árduo.
Abdon Mar­inho é advogado.

Nota de rodapé: Não faço qual­quer juízo de valor. Qual­quer um sabe onde se sen­tia bem e a causa que defende, ape­nas reponho parte da história (que vivi) para ten­tar inibir cer­tas hipocrisias.

O ESTADO, LUIS­LINDA, A AMMA E OS PENDURICALHOS.

Escrito por Abdon Mar­inho

O ESTADO, LUIS­LINDA, A AMMA E OS PENDURICALHOS.

um tempo pas­sou na tele­visão mais de um reportagem sobre os par­la­men­tos ao redor do mundo, suas van­ta­gens, as remu­ner­ações dos seus agentes políti­cos, o que tin­ham dire­ito o que não tinham.

Se não falha a memória pas­sou, tam­bém, uma reportagem especí­fica sobre o par­la­mento sueco, onde suas excelên­cias dividiam a lavan­de­ria e lavavam suas próprias roupas.

Aque­les que não tiveram a opor­tu­nidade de assi­s­tir, sugiro que façam uma pesquisa nos canais da inter­net. Os que assi­s­ti­ram dev­e­riam fazê-​lo novamente.

Emb­ora o caso da Sué­cia seja um mod­elo ideal, acho impor­tante que ten­hamos con­hec­i­mento que as coisas no Brasil é que estão fora de ordem.

Não é de hoje – já se vão vinte anos –, que bato na tecla de que o país pre­cisa de uma reforma estru­tural, uma reforma do nosso mod­elo de Estado que obrigue os agentes políti­cos a um uso racional dos recur­sos públi­cos, ou seja, do nosso din­heiro uma vez que pois pas­samos quase seis meses do ano tra­bal­hando só para pagar trib­u­tos, não é justo, por­tanto, que estes trib­u­tos sejam empre­ga­dos em mor­do­mias diver­sas, em pen­duri­cal­hos sem qual­quer sentido.

As elites brasileiras sem­pre se acharam mere­ce­do­ras de viverem no fausto, de gozarem férias inter­mináveis, pon­tos fac­ul­ta­tivos indeco­rosos, pos­suirem uma enormi­dade de asses­sores, aju­das disso, daquilo e daquilo mais, sem se pre­ocu­par em saber de onde vem o din­heiro que paga a conta. Ou, sabendo, achando-​se mere­ce­dora de mais benesses que os demais brasileiros.

Não acred­ito que haja no mundo uma nação que gaste tanto com a máquina pública quanto o Brasil. São gas­tos desnecessários, mas que os ben­e­fi­ci­a­dos por eles acham pouco e querem sem­pre mais.

Segundo uma visão dis­tor­cida, esse é o preço que os cidadãos deve­mos pagar por viver­mos numa democ­ra­cia. Acred­i­tam, provavel­mente, que a Sué­cia, só para citar um exem­plo, vive longe da democ­ra­cia uma vez que lá os vereadores e dep­uta­dos estad­u­ais não são remu­ner­a­dos e os inte­grantes do par­la­mento gan­ham cerca de R$ 13 mil reais, sem dire­ito a asses­sores, motoris­tas, car­ros ofi­ci­ais, pas­sagens aéreas, moram em imóveis fun­cionais de 40 ou 50 met­ros quadra­dos e lavam a própria roupa.

A visão que esta elite tem é que o Estado deve prover essas mor­do­mias. E, ainda aque­les alcançaram o sucesso graças ao próprio esforço, como a aprovação em con­curso para um cargo público, pas­sam a se acharem cre­dora da sociedade e não empre­ga­dos da mesma.

Por estes dias tive­mos exem­p­los cristal­i­nos disso.

O primeiro, a min­is­tra de Estado Luis­linda Val­ois, que requereu gan­har o dobro do teto do serviço público – já ele­vado, cerca de R$ 33 mil reais, se com­parado ao salário-​mínimo nacional –, vez que como desem­bar­gadora aposen­tada já recebe o teto e estaria recebendo verba irrisória pelo cargo de min­is­tra. Na sua visão, o rece­bi­mento de R$ 3 mil, pelo exer­cí­cio do cargo de min­is­tra equiv­a­le­ria a “tra­balho escravo”.

O caso da min­is­tra Val­ois é emblemático pois ela pos­sui uma história extra­ordinária de quem venceu inúmeras difi­cul­dades para chegar onde chegou. Não é todo dia que vemos uma mul­her, negra, de origem humilde chegar a juíza, depois desem­bar­gadora e agora min­is­tra de Estado, no nosso país. Casos assim são exceções.

Daí o fato de ser emblemático, a min­is­tra ao requerer um ganho já supe­rior ao que ganha a larga maio­ria dos cidadãos brasileiros, negou a própria origem e pas­sou a inte­grar ou achar-​se como inte­grante de uma elite que se pre­tende mel­hor que a maior parte dos cidadãos brasileiros.

O segundo, em sen­tido inverso, foi a renún­cia do juiz Roberto de Paula a uma série de «pen­duri­cal­hos» que com­põe e eleva os salários dos magistrados.

A decisão, inédita, como era de se esperar, atraiu a ira da asso­ci­ação dos mag­istra­dos que enx­er­gou hipocrisia na incia­tiva do associado.

O posi­ciona­mento do pres­i­dente da asso­ci­ação e de tan­tos out­ros que não com­preen­deram a ati­tude do mag­istrado é fruto, por óbvio, do descon­hec­i­mento de sua história. Quem o con­hece, há mais tempo é sabedor que estes “pen­duri­cal­hos» nos con­tra­cheques dos mag­istra­dos – e de tan­tas cat­e­go­rias –, era algo que o incomodava.

Acred­ito que ulti­mas “novi­dades”, neste sen­tido, aprovadas pelo cole­giado do Tri­bunal de Justiça do Maran­hão, era o que fal­tava para que fizesse a opção de renun­ciar a todas elas, ainda que con­trar­iando muitos dos cole­gas e ami­gos que não vêem nada demais em auferi-​las.

Ora, o que o Judi­ciário nacional tem feito, diante do silên­cio de todos, inclu­sive do Min­istério Público e Tri­bunal de Con­tas da União e dos esta­dos, é seguir o roteiro traçado desde muito tempo pelos out­ros poderes: criar for­mas de mel­ho­rar as remu­ner­ações dos seus mem­bros através de auxílios diver­sos, con­trar­iando ou não o man­da­mento con­sti­tu­cional de que a remu­ner­ação deva ocor­rer em sub­sí­dio de parcela única, vedado acrésci­mos de quais­quer natureza.

Chego a pen­sar que se ninguém, nem do Min­istério Público, nem dos órgãos de con­tas, das diver­sas con­tro­lado­rias, se deram conta que estes “pen­duri­cal­hos» estavam ou estão erra­dos, cer­ta­mente é porque estão certos.

Se não, qual a razão de tão ensur­de­ce­dor silêncio?

Vou além para dizer que cer­ta­mente estas van­ta­gens não estariam em con­fronto com a Con­sti­tu­ição da República uma vez que ninguém nunca se deu conta disso sendo tão sábios.

Se não, estariam acima da con­sti­tu­ição estes dig­natários da República?

O que sei, entre­tanto, é que mesmo que hou­vesse uma recomen­dação expressa na Carta Con­sti­tu­cional para que os recur­sos públi­cos fos­sem gas­tos da forma como os vem sendo (em mor­do­mias, pen­duri­cal­hos e tan­tas coisas mais), ainda assim, não estaria certo.

Não estaria cor­reto porque os recur­sos públi­cos sobre­tudo num país como o nosso, repleto de desigual­dades, deve ser gasto com parcimô­nia e critério – e, em bene­fí­cio da sociedade. Não faz sentindo pos­suirmos uma ou mais cas­tas, que se achem no dire­ito ou mais mere­ce­dora os demais cidadãos.

Os agentes políti­cos e servi­dores públi­cos pre­cisam enten­der que quando se can­di­datam ou são investido, por con­curso ou nomeação, em um cargo público lá estão para servir ao público, a sociedade e não para servir-​se dos recur­sos da nação.

Claro que não se está pre­tendendo que sirva a nação gra­tuita­mente ou em tra­balho “escravo» como ale­gou a min­is­tra Luis­linda Val­ois, mas, medi­ante uma remu­ner­ação justa que não ofenda, com os exces­sos, o con­junto da sociedade, que não sejam bene­fí­cios aos quais, nem em son­hos, os pagadores de impos­tos alcançam.

Estes agentes e servi­dores público pre­cisam com­preen­der o real sen­tido de servir ao público.

São con­ceitos que tran­scen­dem a legal­i­dade. Vai muito além, tem mais com justiça, sol­i­dariedade, bom senso.

Ao se perderem na dis­cussão sobre hipocrisia, ganho pouco, tra­balho escravo e out­ras coisas mais, esque­cem o fun­da­men­tal, que é a dis­torção do que seja o Estado.

Abdon Mar­inho é advogado.