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A DEMOC­RA­CIA E O JULGAMENTO.

Escrito por Abdon Mar­inho

A DEMOC­RA­CIA E O JUL­GA­MENTO.
Por Abdon Mar­inho.
ASSISTO, não sem per­plex­i­dade, a todo este escar­céu em torno do jul­ga­mento do ex-​presidente Lula. São tan­tas infor­mações e con­tra infor­mações que ficamos com a impressão de tratar-​se de algo extra­ordinário e não de um mero jul­ga­mento de alguém que foi inves­ti­gado, denun­ci­ado e con­de­nado pelo juiz sin­gu­lar, que, agora, terá ou não a sen­tença con­fir­mada.
E dirão: mas trata-​se de um ex-​presidente da República, tratar-​se de um líder pop­u­lar, e tudo mais que os faze­do­ras de mitos gostam de criar.
Sim, é ver­dade. Mas numa democ­ra­cia os cidadãos são todos iguais, não have­ria e não há neces­si­dade de qual­quer trata­mento difer­en­ci­ado por se tratar de um jul­ga­mento de um ex-​presidente da República ou de qual­quer um do povo.
Se acred­i­ta­mos que vive­mos numa democ­ra­cia, a primeira coisa que temos de apren­der é que não deve exi­s­tir cidadãos mel­hores ou mais iguais que os out­ros, muito menos em relação a lei.
A própria Carta con­sti­tu­cional esta­b­elece: “Art. 5º Todos são iguais per­ante a lei, sem dis­tinção de qual­quer natureza, garantindo-​se aos brasileiros e aos estrangeiros res­i­dentes no País a invi­o­la­bil­i­dade do dire­ito à vida, à liber­dade, à igual­dade, à segu­rança e à pro­priedade, nos ter­mos seguintes:”.
Com o jul­ga­mento do ex-​presidente na pauta das dis­cussões, seus ali­a­dos, sim­pa­ti­zantes e par­tidários, ou sim­ples­mente adu­ladores, cri­aram uma cam­panha ou duas, no mín­imo curiosa (ou con­tra­ditórias) que é/​são: “na defesa da democ­ra­cia e do Dire­ito de Lula ser Can­didato”.
Sendo uma ou duas cam­pan­has, cer­ta­mente, mere­cem uma análise cuida­dosa, ainda mais tratando-​se de algo que mobi­liza parte da sociedade brasileira.
Opor­tuno, por­tanto, que façamos algu­mas inda­gações: a democ­ra­cia brasileira está amaçada? Quem ou o quê a ameaça? O jul­ga­mento do ex-​presidente feito por tri­bunal reg­u­lar é uma ameaça à democ­ra­cia?
Será que a ver­dadeira ameaça não vem dos ataques ao tri­bunal, a Justiça e, mesmo, aos famil­iares dos jul­gadores?
Ora, numa democ­ra­cia que o valha, um jul­ga­mento é ape­nas um jul­ga­mento. Nada mais. Dizer que um jul­ga­mento ameaça a democ­ra­cia é dizer que a Justiça do país não é mere­ce­dora de crédito e, por isso mesmo, já não teríamos uma democ­ra­cia.
Se a Justiça não fun­ciona ou se está suscetível a aten­der inter­esses out­ros que não o inter­esse da lei, é porque a democ­ra­cia já está doente ou liqüi­dada.
Visto assim, a cam­panha não seria na defesa da democ­ra­cia – pois esta já não mais exi­s­tiria tal, e sim como arremedo –, e sim para implantá-​la.
Mas o que teria feito o TRF4, sedi­ado em Porto Ale­gre, RS, a ponto de “ameaçar” a democ­ra­cia brasileira? Até onde se sabe, nada.
Em seus mil­hares de jul­ga­men­tos não se ver­i­fica indí­cios de que se trata de um tri­bunal cor­rompido ou com­posto por juízes venais, pelo con­trário, muitas de suas jurisprudên­cias servem de bal­izas para out­ros tri­bunais em todo o país.
Logo, no que se baseiam os ali­a­dos, sim­pa­ti­zantes ou par­tidários do ex-​presidente para empreen­derem uma cam­panha nacional – e mesmo inter­na­cional –, “em defesa da democ­ra­cia”, como se o Brasil fosse uma republi­queta de bananas?
Anseiam, talvez, com um mod­elo de justiça assemel­hado ao mod­elo venezue­lano ou cubano, que só exis­tem para legit­i­mar suas ditaduras car­co­mi­das ou mesmo a “não justiça” norte-​coreana.
Estes são mod­e­los de democ­ra­cias que os norteiam.
É o que dese­jam para o Brasil quando protes­tam e assi­nam man­i­festos em “defesa da democ­ra­cia”?
Afi­nal, falam de qual mod­elo democrático? No que se espel­ham? Em qual exper­iên­cia exi­tosa no mundo?
A segunda parte da cam­panha é pelo direto do sen­hor Lula ser can­didato.
Ora, nada impede a can­di­datura do sen­hor Lula se o mesmo preencher os critérios obje­tivos a que devem se sub­me­ter todos os demais brasileiros.
Não se criou, e não existe, uma lei especí­fica impedindo a can­di­datura dele ou de ninguém. Todos, desde que preenchi­dos req­ui­si­tos obje­tivos da leg­is­lação, são legí­ti­mos para pleit­ear a direção dos negó­cios públi­cos. Esta é uma con­quista da nossa “ameaçada” democ­ra­cia.
Assim, não havendo nada a impedir a can­di­datura de quem quer que seja, desde que preenchi­dos critérios obje­tivos, quer me pare­cer que a referida cam­panha tem por obje­tivo “excluir” o sen­hor Lula da regra geral, colocá-​lo acima da lei.
A menos que esteja errado, o que propõe a cam­panha é que a can­di­datura do ex-​presidente seja deferida em qual­quer cir­cun­stân­cia, ainda que não preenchi­dos os req­ui­si­tos da lei. Seria isso?
Caso afir­ma­tivo, isso seria democrático? Esta é a democ­ra­cia que estão na “defesa”? Uma democ­ra­cia onde “alguns” fiquem de fora do alcance da lei?
O que me deixa mais per­plexo é que, quando puxo pela memória, lem­bro que estes mes­mos que agora falam numa “democ­ra­cia” para colo­car fora do alcance da lei deter­mi­nadas pes­soas, como é essa pelo “Dire­ito de Lula ser Can­didato”, são os mes­mos que encabeçaram a cam­panha pela chamada Lei da Ficha Limpa.
Fiz­eram um mon­u­men­tal movi­mento público e social e cole­taram mais um mil­hão de assi­nat­uras (1,6 mil­hão para ser mais pre­ciso).
Assim nasceu a Lei Com­ple­men­tar nº. 135, no propósito de impor maior rigidez às regras de ineleg­i­bil­i­dades já exis­tentes, além de criar novas regras.
Não é estranho que vejamos, basi­ca­mente, as mes­mas pes­soas, ainda vestindo as mes­mas camise­tas, se batendo con­tra a Lei da Ficha Limpa ou, pior, querendo criar “exclu­dentes” à sua apli­cação?
Ah, entendi. A Lei da Ficha Limpa deveria/​deverá servir só para ser apli­cada con­tra os adver­sários. Era isso?
Infe­liz­mente, quer me pare­cer que os defen­sores “da ou das” cam­pan­has «na defesa da democ­ra­cia e de Lula ser can­didato”, antes ou agora nunca tiveram lá muito apreço pela democ­ra­cia ou por eleições limpas, mas sim, estavam imbuí­dos no propósito de afas­tar os adver­sários. Aque­les que lhes fizessem som­bra, na direção do Estado ou no comando do assalto aos cofres públi­cos.
Tanto assim, que criam toda sorte de obstáculo ante à pos­si­bil­i­dade de um dos seus ser alcançado pela lei. Dizem que é golpe. Não é golpe. Caso o sen­hor Lula tenha con­fir­mado a sen­tença con­de­natória e virar “ficha suja”, estare­mos ape­nas diante da Lei e suas con­se­quên­cias.
Essas tolices todas que pas­sam os dias fazendo, como ante­ci­par o resul­tado do jul­ga­mento, já é busca de “tirar carta de seguro” e insi­s­tirem no des­cumpri­mento da lei, nos abu­sos, na divisão da nação.
Isso ocorre, acred­ito, por saberem – bem mais que os demais brasileiros –, da solidez dos argu­men­tos que sus­ten­tam a con­de­nação do sen­hor Lula em primeira instân­cia.
Esta, talvez, a razão de tentarem, por todos meios, con­stran­gerem a Justiça brasileira querendo envergonhá-​la aos olhos do mundo.
Não sei se o ex-​presidente será con­de­nado ou absolvido.
Não con­heço o processo e, pru­dente que sou, tenho como insu­fi­ciente for­mar con­vicção sobre a con­de­nação de um ser humano à cadeia, qual­quer um, com base, uni­ca­mente, na leitura da sen­tença.
Ainda assim, pela leitura que fiz – mais de uma vez –, tenho por certo que os desem­bar­gadores terão um imenso tra­balho para desqual­i­ficar a sen­tença do juiz Moro, na even­tu­al­i­dade das provas cor­re­spon­derei às asserti­vas que lá, no decreto con­de­natório, se encon­tram lançadas.
Acred­ito, tam­bém, que mesmo os críti­cos mais áci­dos – excluo os apaixon­a­dos, os tolos e os sec­tários –, sobre­tudo, os com mil­itân­cia na área jurídica (advo­ga­dos, inte­grantes do Min­istério Público e do Judi­ciário) recon­hecem que pou­cas sen­tenças, em toda história da justiça brasileira, encontram-​se tão bem postas quanto esse decreto con­de­natório do ex-​presidente.
Restam claros que os con­strang­i­men­tos, os acintes, as ten­ta­ti­vas, crim­i­nosas, de desqual­i­ficar a sen­tença, o jul­ga­mento e todos os envolvi­dos, partem de pes­soas que têm a con­vicção dos crimes cometi­dos, mas, ainda assim, ten­tam – por inter­esse próprio ou de grupo –, poli­ti­zar o processo judi­cial.
O Brasil pre­cisa, pelo bem da democ­ra­cia, mostrar que suas insti­tu­ições de Estado são mais fortes que os alar­i­dos dos gru­pos de pressão, que enx­ergam mais seus inter­esses que o futuro da nação, respon­dendo com Justiça! Ape­nas isso, Justiça!
Abdon Mar­inho é advogado.

A RESPON­S­ABIL­I­DADE DOS PAR­TIDOS NA SOLUÇÃO DA CRISE.

Escrito por Abdon Mar­inho

A RESPON­S­ABIL­I­DADE DOS PAR­TIDOS NA SOLUÇÃO DA CRISE.
Por Abdon Mar­inho.
UMA notí­cia que li outro dia chamou-​me a atenção para o tema que trago à dis­cussão no texto hoje.
Pois bem, desde que a atual crise econômica, política, social e judi­ciária eclodiu, um debate tem se tor­nado recor­rente, sobre­tudo pelas pes­soas mais ilustradas: a crise pre­cisa ser resolvida pela política. Isso quer dizer, sem golpes de Estado, sem inter­venção mil­i­tar, sem qual­quer outra inter­venção, que não a livre man­i­fes­tação dos cidadãos, através do voto, na solução dos con­fli­tos.
Cor­rob­o­rando com a ideia de que a crise pre­cisa ser solu­cionada pela “Política”, esta com “P” maiús­culo, surge uma recla­mação, em tons desafi­adores: a neces­si­dade de se colo­car fim ao que ficou con­hecido como a “crim­i­nal­iza­ção da política”.
Diante disso temos um ques­tion­a­mento: existe a tal da “crim­i­nal­iza­ção da política” ou exis­tem políti­cos crim­i­nosos usando do poder político, por infind­áveis anos, para escaparem impune­mente?
Não tenho dúvi­das que esta­mos diante de uma questão de larga com­plex­i­dade, uma vez que incidên­cia de crim­i­nosos den­tro da ativi­dade política é tamanha – acredita-​se ser pos­sível con­tar nos dedos das mãos o número de políti­cos hon­estos –, que fica-​se com a impressão de que a ativi­dade política, em si, é crim­i­nosa.
Dito de outra forma: são tan­tos crim­i­nosos na política que a pop­u­lação, os eleitores, chegam a con­fundir a Política, como espaço de solução para os prob­le­mas da nação, esta­dos e municí­pios, com a pes­soa do político, este cada vez mais pre­ocu­pado – e se ocu­pando –, na solução dos seus prob­le­mas, seja levar van­ta­gens nos negó­cios públi­cos ou pri­va­dos, seja bus­cando a pro­teção do poder por conta dos crimes já cometi­dos ou a come­ter.
Um amigo, político, confidenciou-​me: muitas vezes ouvira do pai – e tam­bém da mãe –, que em pou­cas décadas não se encon­traria pes­soas “de bem” dis­postas a se can­di­datarem a car­gos públi­cos ele­tivos.
Como pro­fe­cia ruim do Brasil tem quase data certa para ocor­rer, cheg­amos a este quadro lamen­tável: as pes­soas boas e com­pe­tentes não querem saber de candidatar-​se a qual­quer cargo, de vereador a senador.
Tal ojer­iza abre espaço para toda sorte de arriv­is­tas, crim­i­nosos e essa chusma que, não servindo para outra coisa, nada que valha, resolveram con­duzir os des­ti­nos da nação.
Este ano de 2018, ano de eleições gerais, ter­e­mos a chance de com­pro­var o quanto a ativi­dade política tornou-​se um antro de crim­i­nosos.
O pior é que a infil­tração de crim­i­nosos na política já não ocorre mais como uma ativi­dade solitária, hoje temos gru­pos crim­i­nosos orga­ni­za­dos se preparando para tomar o poder, fazendo isso através de inter­postas pes­soas, finan­ciando suas cam­pan­has ou colo­cando seus próprios inte­grantes na dis­puta.
Neste cenário des­o­lador é que se faz necessário o chama­mento dos par­tidos políti­cos à razão na solução da crise em que esta­mos envolvi­dos, partindo do pres­su­posto de que acred­i­ta­mos – e até preg­amos –, que crise deva ser resolvida pela Política.
Resta claro que para “descrim­i­nalizar a política” o primeiro passo é fomen­tar a par­tic­i­pação de pes­soas “de bem” nos pleitos e, con­comi­tante a isso, afas­tar os crim­i­nosos da dis­puta.
No sis­tema brasileiro temos a van­tagem (?) de não serem per­mi­ti­das can­di­dat­uras avul­sas, logo, caberá aos par­tidos políti­cos a respon­s­abil­i­dade de “fil­trar”, ini­cial­mente, os nomes que colo­cará para dis­puta, difi­cul­tando o ingresso de pes­soas, que se sabe, não terão com­pro­mis­sos com a sociedade ou mesmo com o ideário que o par­tido defende.
Os par­tidos políti­cos pre­cisam de rigor na escol­has de seus inte­grantes de sorte a impedir que pes­soas sem afinidade com suas posições na solução dos con­fli­tos soci­ais e políti­cos, elejam-​se sob suas leg­en­das.
Se quer­e­mos que as crises sejam resolvi­das den­tro da “Política”, qual seja, através de rep­re­sen­tantes eleitos dire­ta­mente pela pop­u­lação pre­cisamos que os par­tidos ten­ham respon­s­abil­i­dade na escolha de seus inte­grantes e, ainda, que deixem claro para a pop­u­lação as pro­postas que defend­erão na even­tu­al­i­dade de eleição de seus rep­re­sen­tantes para as casas leg­isla­ti­vas e para os car­gos exec­u­tivos.
Pois bem, feitas estas con­sid­er­ações, retorno à notí­cia que motivou o pre­sente texto e que vem na mais abso­luta con­tramão do que foi exposto acima: a ideia de se resolver a crise nacional através da “Política” com “P” maiús­culo.
Dizia a referida notí­cia que impor­tante secretário estad­ual, uma espé­cie de coringa da atual gestão, estaria na iminên­cia de filiar-​se ao Par­tido Democ­ratas — DEM, com o propósito de trazê-​lo para o arco de alianças do Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB, que prepara-​se para dis­putar a reeleição no estado. De que­bra ainda se livrariam da incô­moda pre­ten­são de certo ex-​governador, pré-​candidato ao Senado da República que corteja e é corte­jado pelo Democ­ratas há bas­tante tempo.
Nesta ilação, o secretário, fil­i­ado ao DEM seria can­didato a vice-​governador ou mesmo senador.
Tratar-​se, por óbvio de ape­nas uma mal­dosa ilação – por isso mesmo até evito colo­car o nome do secretário para não expô-​lo –, não faz qual­quer sen­tido – a menos que se negue, total­mente, o que seja Política como solução dos con­fli­tos soci­ais –, uma col­i­gação entre Democ­ratas e Comu­nistas.
Vou além, não faz sen­tido, sequer que um apoie o outro, menos ainda que divi­dam uma chapa majoritária seja na chefia do Gov­erno, seja na chapa do Senado.
Caso tal absurdo tivesse fundo de ver­dade, estaríamos diante de um este­lion­ato eleitoral histórico.
Um ou outro par­tido ou ambos, estariam enganando seus adep­tos e eleitores.
Seria a negação, para os dois par­tidos, da ideia de que pos­suem alguma con­sistên­cia ide­ológ­ica.
Por isso mesmo custo acred­i­tar que ten­ham cog­i­tado tal ideia. Daí, minha incredul­i­dade.
Os dois par­tidos são, em tudo, opos­tos com visões de mundo, econo­mia, sociedade, de gov­erno inc­on­cil­iáveis.
Numa análise histórica da política nacional sem­pre estiveram em cam­pos dis­tin­tos. Mesmo na história recente, a par­tir de 1964, do século pas­sado, enquanto um tem origem na agremi­ação que sus­ten­tou o régime, a ARENA ou outro, na clan­des­tinidade, se abri­gava no par­tido opos­i­tor, o velho MDB.
Estão, matem­ati­ca­mente falando, a cento e oitenta graus de dis­tân­cia um do outro. Usando uma ale­go­ria da infân­cia seria como se acred­i­tar no casa­mento do Sol com a Lua.
O primeiro item do ideário do DEM é o com­pro­misso com a liber­dade sob todas as for­mas. Ainda ontem, mais pre­cisa­mente em novem­bro, o PCdoB, reafir­mou seu “apoio e sol­i­dariedade” as ditaduras comu­nistas da China, Cor­eia do Norte, Cuba, Laos e Vietnã; e, ainda, ao régime de Nicolás Maduro que oprime e destrói a Venezuela e sua pop­u­lação, a qual mata de fome na promessa de libertá-​la.
Um é con­tra a exces­siva ativi­dade estatal na econo­mia, já o outro, não é só esta­tista, é a favor do fim da ini­cia­tiva pri­vada e advoga pela cole­tiviza­ção das riquezas e dos meios de pro­dução.
Enquanto um defende a ativi­dade plan­i­fi­cada, esta­tista e cole­tivista o outro já defende a liber­dade cri­adora indi­vid­ual.
E por aí vai, são dois par­tidos cuja os ideários são diame­tral­mente opos­tos, repito.
Não existindo, por­tanto, qual­quer ponto em comum capaz de jus­ti­ficar uma união entre ambos. Basta pegar os pro­gra­mas, ideários e man­i­festos das agremi­ações para ver­i­ficar que o sim­ples fato de um par­tido apoiar o outro já sig­nifica uma “traição” aos seus fil­i­a­dos e sim­pa­ti­zantes a recla­mar, inclu­sive, inter­venção judi­cial.
Aliás, esta é uma ideia que ofer­eço ao Min­istério Público Eleitoral e à Justiça Eleitoral: que inter­ven­ham no sen­tido de impedir as alianças pro­gra­mati­ca­mente incom­patíveis. Será uma forma de com­bater o fisi­ol­o­gismo político tão danoso à rep­re­sen­tação política.
Claro, não podemos deixar de con­sid­erar que a Con­sti­tu­ição Fed­eral asse­gura ampla liber­dade de orga­ni­za­ção par­tidária, inclu­sive a rel­a­tiva à política de alianças, entre­tanto, não é aceitável que par­tidos defen­sores de ideias opostas se col­iguem para vencerem eleições enganando o povo – que é o deten­tor do poder orig­inário –, pois isso rep­re­sen­taria uma fraude ao dire­ito dos cidadãos escol­herem um con­junto de ideias para verem imple­men­tadas no país, Esta­dos ou municí­pios.
Vejam o absurdo: o cidadão se elege por um par­tido que defende deter­mi­nadas ideias tendo por vice alguém cujo o par­tido defende o oposto daque­las ideias. O que servirá de norte para escolha do eleitor?
Vamos além: e se o tit­u­lar mor­rer (toc, toc, toc, na madeira três vezes), será implan­tada o ideário do par­tido do tit­u­lar ou do vice que her­dou mandato?
Se as pes­soas real­mente sábias que eu acred­i­tam ser pos­sível resolver as crises que o país vem viven­ciando ao longo dos sécu­los, através da política, faz-​se necessário que esta ativi­dade seja lev­ada a sério, com com­pro­mis­sos claros, por parte dos rep­re­sen­tantes legit­i­ma­mente eleitos.
Se pacto social será através da política é necessário que se evite a infil­tração dos mar­gin­ais e que ten­hamos regras claras.
O eleitor pre­cisa ter a garan­tia que estará escol­hendo pes­soas sérias, fil­tradas pelos par­tidos, para defend­erem um con­junto de ideias pre­vi­a­mente esta­b­ele­ci­das.
Sem isso con­tin­uare­mos emen­dando uma crise na outra e com políti­cos com a con­sistên­cia ide­ológ­ica de uma ameba, sem querer desre­speitar as ame­bas, claro.
Encerro con­tando um dos cau­sos que vivi e que está rela­cionado ao tema.
Após as eleições, ao chegar em deter­mi­nado municí­pio, per­gun­tei o que acon­te­cera com deter­mi­nada pes­soa que pen­sei estar apoiando o grupo.
— Ah, doutor, o sen­hor não vai acred­i­tar. Desco­b­ri­mos que fulano era melan­cia?
— Melan­cia!?? Como assim? Indaguei sem enten­der.
— Sim, doutor, melan­cia. Desco­b­ri­mos que ele só era verde (a cor da cam­panha) por fora, por den­tro era ver­mel­hinho (a cor da outra cam­panha).
Ri da história e fiquei matu­tando sobre ela. No quanto ainda esta­mos dis­tantes de uma ver­dadeira democ­ra­cia.
Um con­selho que me per­mito aos leitores eleitores é que fiquem aten­tos a flora e fauna política: os can­didatos melan­cia, os jabu­ti­cabas aos jabutis trepa­dos em árvores.
Abdon Mar­inho é advogado.

UM VEX­AME DUPLI­CADO NA BR 135.

Escrito por Abdon Mar­inho

UM VEX­AME DUPLI­CADO NA BR 135.
Por Abdon Mar­inho.
ALGUÉM que, desav­isado, pas­sasse pela dita inau­gu­ração da dupli­cação da BR 135 – obra inacabada, mal feita, com diver­sos pon­tos já pre­cisando de reparos, que con­sumiu uma fábula de recur­sos e que se arras­tou por quase dez (frise-​se: dez anos para con­cluírem pouco mais de vinte quilômet­ros) –, pen­saria ter saltado para um mundo do absurdo, uma mis­tura de comé­dia pastelão com desenho ani­mado e tan­tas out­ras coisas mais do nosso imag­inário infan­til.
Acred­ito que para o espetáculo ficar mais “ani­mado” só fal­tou os con­tendores se ati­rarem, mutu­a­mente, tor­tas, copos d’água, suco de groselha, etc.
Outra impressão que tive foi que “turma da zona norte”, coman­dada por Gordão, enfren­tou a turma do Bolinha, com todos saindo esco­ri­a­dos.
Falando sério. Que papelão, este, das nos­sas autori­dades, hein? Será que inau­gu­ração de obra pública com­por­taria aquele tipo de com­por­ta­mento?
Estava em viagem ao norte do estado, por isso, só pude acom­pan­har a refrega dan­tesca pelas men­sagens dos diver­sos gru­pos de What­sApp, assim mesmo, nos lugares onde a inter­net chegava.
E, emb­ora, cada qual dos meios de comu­ni­cação (com hon­radas exceções), ele­gendo seus anjos e seus demônios no episó­dio, pareceu-​me que todos se enquadram naquela máx­ima: “em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão”, mere­cendo o destaque da falta de razoa­bil­i­dade o gov­er­nador Flávio Dino.
A forma como se deu vex­ame pareceu-​me haver uma descabida orques­tração para tirar proveito de uma obra que, todos sabe­mos, foi mal “tocada” inteira­mente pelo gov­erno fed­eral, com pouca ou nen­huma par­tic­i­pação do gov­erno estad­ual, menos ainda da atual gestão, que, segundo dizem, fez foi ten­tar retirar-​lhe recur­sos das emen­das dos dep­uta­dos fed­erais para out­ras neces­si­dades do estado, que, reconheça-​se, são muitas.
Ape­sar disso, o gov­er­nador achou ade­quado tirar uma “casquinha” e ten­tar se “apos­sar” do evento, que, pelo menos no plano teórico, nada tinha com ele.
Era um evento pro­movido pelo gov­erno “golpista”, com uma agenda “maldita” e con­taria com a par­tic­i­pação de inúmeras autori­dades “golpis­tas”, tanto de fora quanto de den­tro do estado.
O gov­er­nador não ape­nas achou opor­tuno como fez pior, levou uma claque for­mada pelos mais ele­va­dos servi­dores da admin­is­tração pública – acred­ito que muitos deles dev­e­riam estar em seus pos­tos de tra­balho dando expe­di­ente –, que de forma vol­un­tária (ou pro­gra­mada), achou-​se no “dire­ito” de vaiar out­ras autori­dades pre­sentes no evento e, pas­mem, xingá-​las.
Vejam, ainda que o gov­er­nador – ou qual­quer outro –, tenha se sen­tido agravado por alguma crítica mais ácida pre­sente em algum dis­curso, o mais cor­reto ou “edu­cado” seria deixar pas­sar ou rebater com urban­idade e edu­cação, mostrando que a crítica fora infun­dada ou injusta.
Acho que nem mais em assem­bleias estu­dan­tis se rebate críti­cas com vaias e/​ou xinga­men­tos.
Ver autori­dades públi­cas tomarem este tipo de ati­tude pareceu-​me um tanto quanto fora de con­texto.
Se as autori­dades que se com­por­taram de forma tão inapro­pri­ada tin­ham autor­iza­ção do gov­er­nador para aquele tipo de com­por­ta­mento sig­nifica que o gov­erno foi tomado pelo clima de “tudo posso”, incom­patível, por­tanto, com os ideais democráti­cos; se não tin­ham, sig­nifica que desre­speitaram a autori­dade do próprio gov­er­nador. Este, então, na sua fala, dev­e­ria pedir des­cul­pas e admoestá-​las.
Será que alguém acha nor­mal autori­dades públi­cas, pagas com o din­heiro do con­tribuinte, se com­portarem como mal-​educados baderneiros? Será que o gov­er­nador não se con­strangeu com o com­por­ta­mento dos sub­or­di­na­dos?
Per­gunto isso, porque, lá em casa, nos meus tem­pos de menino, quando tinha visita em casa não podíamos nem falar alto ou pas­sar na sala.
Mas Abdon, o entrevero começou com a críti­cas do dep­utado Hildo Rocha às estradas estad­u­ais. Bem, talvez a crítica do dep­utado, no momento da solenidade, tenha sido ino­por­tuna, ape­sar de ver­dadeira. Isso jus­ti­fi­caria o com­por­ta­mento “infan­til” das autori­dades públi­cas?
As estradas “no” Maran­hão são muito ruins, tanto as estad­u­ais quanto as fed­erais. Este é um fato. Eu, que há vinte anos as per­corro e o ceguinho que faz linha For­t­aleza — Belém, sabe­mos disso. Toda vez que o ceguinho cruza a fron­teira do estado ele indaga afir­mando: entramos no Maran­hão?! Saí­mos do Maran­hão?!
São estradas mal cuidadas, com sinal­iza­ção defi­ciente, com ondu­lações, com bura­cos, com acosta­mento ruim ou sem nen­hum acosta­mento e tan­tas out­ros male­fí­cios que colo­cam em risco as vidas de quem pre­cisa, por elas, trafe­gar.
Ora, isso vem sendo assim desde sem­pre. Por não ser culpa, exclu­siva, do atual gov­erno, este com maior razão, ao ten­tar ocul­tar tal ver­dade e atrair a cólera do senador João Alberto que o chamou de men­tiroso e out­ros adje­tivos, teria se saído mel­hor se na sua fala tivesse recon­hecido o quanto nos­sas estradas deixam a dese­jar e con­cla­mado a união de todos para mel­ho­rar a situ­ação, não só das estradas fed­erais e estad­u­ais, como, tam­bém, a mel­ho­rar os nos­sos indi­cadores.
Há anos falo que a razão para um estado tão rico em ter­ras férteis, água, min­erais diver­sos, gás nat­ural e mesmo petróleo, ocu­par as piores posições em todos indi­cadores soci­ais e econômi­cos, é ape­nas uma – ou esta a prin­ci­pal delas –, uma classe política que não pensa além dos seus inter­esses e de sua sede de per­pet­u­ação no poder. Não vão além disso. O que inter­essa mesmo é se elegerem. O Estado? O Estado que se exploda.
O adver­sário pode ter a ideia mais inter­es­sante, a mel­hor das causas para o Estado, porém, nunca terá a chance de vê-​la implan­tada, pois a ideia, por mais bril­hante, não foi do “dono”, momen­tâ­neo, do poder. Essa é a a nossa des­graça maior.
Como vamos romper o ciclo de atraso e mis­éria que mal­trata tanto os menos favore­ci­dos? A resposta é uma só: não vamos romper.
Aprendi que de tudo é pos­sível tirar lições. A lição que tiramos do espetáculo depri­mente da inau­gu­ração da dupli­cação da BR 135, é que o Maran­hão pre­cisa, antes de mais nada, de choque civ­i­liza­tório, onde as autori­dades enten­dam o valor da boa edu­cação e ten­ham ver­gonha de causarem ou teste­munharem cenas tão deploráveis.
Pelo que vejo, parece que ainda estão longe disso.
Abdon Mar­inho é advogado.