A HUMILHAÇÃO POR RECOMPENSA.
NOS ANOS em que acompanho a política maranhense – e já se vão mais de trinta, seguramente –, não me recordo de ter visto uma liderança política ser tão “maltratada” (o termo correto seria humilhada) por seus “aliados” quanto vem sendo o ex-governador José Reinaldo Tavares pelos atuais inquilinos do poder no Maranhão. Logo ele, a quem devem tanto.
E não é de hoje. Desde o início da gestão comunista, em 2015, que é assim.
Lembro que diante de implacáveis e injustos ataques que vinha sofrendo escrevi um texto em tom de apelo: “Respeitem o Zé!”. Ao que parece de pouco, ou nada, valeram os apelos, e os ataques, inclusive, com agressões verbais, continuaram.
Alguém tem dúvidas de onde saíram os apupos contra o ex-governador, recentemente, no aeroporto de São Luís? Não, meus senhores, não foram espontâneos, não foi manifestação social. Aquilo foi coisa de “aliado”, o famoso “fogo amigo”. Decorre da ideia de enfraquecer a candidatura dele ao Senado da República.
O mais chocante de tudo é ver o próprio governador fazendo coro à estratégia de “desconstruir” aquele que o “construiu” politicamente, dando muito mais força ao achincalhe e humilhações a qual não deveria ser submetido ninguém, muito menos a um aliado de primeira hora.
No caso dele, aliás, de bem antes da primeira hora, pois sem a intervenção de José Reinaldo, então governador, forte junto à classe política, nenhum dos que hoje o maltrata estariam onde estão.
Pois é, mas o governador se presta ao papel de “ingrato”. Primeiro, lançando, quase um ano antes do pleito, o seu “favorito”, o número um, no caso, o deputado federal Weverton Rocha.
Só isso, a atitude de erguer o braço do preferido na convenção no começo do mês de festas, já era uma amostra da “humilhação” ao ex-governador. O sinal à militância, aos aliados, aos correligionários, um só: minha primeira opção é essa aqui. O que foi dito textualmente, com pompa e circunstância.
Havia alguma necessidade de fazer isso? Acaso o “preferido” fez por ele ao menos perto do que lhe fez o ex-governador?
O engraçado (ou desgraçado) é que muitos veículos de comunicação – mesmo os ligados ao comunista –, “cobraram” a ausência de Zé Reinaldo na convenção do partido onde o governador “ungiu” seu preferido.
Ora, vejam, o cidadão está, desde sempre, insinuando-se como candidato do grupo governista, e queriam que fosse à convenção para “homologação” do “outro”. Vamos combinar que isso não faz qualquer sentido, não é mesmo?
O segundo “desapreço” do governador pelo “aliado” José Reinaldo, foi agora, numa entrevista coletiva concedida aos jornalistas no salão de atos do Palácio dos Leões.
Colho na mídia o que teria declarado o governador: “— Nós temos uma pré-candidatura ao Senado com amplo apoio do nosso campo político que é do deputado federal Weverton Rocha […] no caso da outra candidatura ao Senado, isso não está tão nítido assim, porque nesse momento não há nitidez para definir quem é o favorito. Eu estou na verdade fazendo consultas, como fiz em 2014”.
A colocação do governador deixa claro que a notícia divulgada dias atrás de que teria acertado de lançar José Reinaldo nos próximos dias não passara de uma deslavada mentira. Se é que chegou a cogitar isso na reunião com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Nunca pretendeu isso. Na verdade, pelo contrário, tem apenas uma pré-candidatura definida com “amplo apoio do nosso campo”. Já, a segunda, dependeria de consultas.
Haveria necessidade do governador submeter um “aliado” de “primeira hora” (amigo é um termo que já não cabe) como José Reinaldo, a este tipo de fala? Causar-lhe este constrangimento? Por que não o chamou, lá atrás, e o despachou, deixando claro que ele jamais seria candidato ao Senado com seu apoio? Será que pretende ficar “embalando-o (assim como os outros) até não mais poder, enquanto seu “favorito” se fortalece?
Ao meu sentir – mas sei muito pouco de política –, o governador e seus estrategistas agem sem submeter-se às cautelas dos que lidam com seres humanos, com sentimentos humanos. Não ligar para o que as pessoas sentem em relação a determinadas coisas podem trazer os maiores dissabores. Falta-lhes o “tato” político para compreender. Ou, no poder, pouco ligam para isso.
Uma conversa franca, fraternal, ainda que não acalmasse os ânimos, certamente traria menos insatisfação que esta humilhação pública, esta vexação na praça.
Ao desdenharem tanto, criam uma situação que o próprio “humilhado” teria dificuldades de aceitar e ultrapassar.
A mágoa sempre fica.
Quer dizer que vai consultar as bases? Que não há nitidez sobre um favorito para a segunda vaga? Só colocar a expressão “segunda vaga” já é um desapreço.
O ex-governador poderia lembrar que não fez “consultas as bases” quando o tirou do “bolso do colete” para fazê-lo deputado em 2006. Pelo contrário, reuniu uma dúzia de aliados e não mediu distância para elegê-lo.
Naquela época, ainda, poderia lembrar, o atual governador não se preocupou com a coloração ideológica de José Reinaldo ou com quem esteve sua vida política inteira, as ideias que defendeu ou os votos que deu.
Assim como não se preocupou nas demais vezes que este o apoiou para prefeito e nas duas vezes para o governo.
Quer dizer agora que precisaria consolidar o “apoio no nosso campo”? Afinal, que campo é este? Ao que se sabe, apoiando e sendo apoiado pelo atual governo tem gente com todo tipo de coloração, aliás, alguns, nem cabem na escala de cores pois são “furta-cores”.
Confesso que não consigo enxergar sentido no que estão fazendo com o ex-governador, é muita humilhação gratuita.
Como são “sabidos”, talvez se trate de alguma estratégia política.
Mas sou sertanejo. E no sertão temos uma crença de que o cachorro que teve o focinho “mijado” por gambá não serve para mais para caçar.
Acredito que os estrategistas que planejaram essa humilhação ao ex-governador estão com o faro político semelhante ao cachorro que teve o focinho mijado por gambá.
Abdon Marinho é advogado.