AbdonMarinho - A OFENSA GAY: UMA BREVE REFLEXÃO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A OFENSA GAY: UMA BREVE REFLEXÃO.

A OFENSA GAY: UMA BREVE REFLEXÃO.
UMA impor­tante figura da sociedade referiu-​se a duas out­ras fig­uras, ambas casadas, não entre si, mas com respec­tivos côn­juges, como um casal.
Foi o que bas­tou para sua colo­cação gan­hasse ares de escân­dalo e fosse com­par­til­hada exaus­ti­va­mente como se fora uma agressão àque­les que suposta­mente com­po­riam o casal.
Um dos referi­dos teria fal­ado em processo. O movi­mento de diver­si­dade lig­ado aos supos­tos ofen­di­dos saiu-​se em suas defe­sas (?) e ata­cando (?) o autor do chiste.
E, por fim, o próprio autor da assertiva veio a público pedir des­culpa pela suposta ofensa.
A reflexão que trago é: referir-​se a pes­soas do mesmo sexo como um casal é uma ofensa? A homos­sex­u­al­i­dade implícita na assertiva é um xinga­mento? Dizer que alguém é gay, lés­bica, chega a ser uma agressão?
A dis­cussão é inter­es­sante porque sus­ci­tada por um cidadão que rep­re­senta um estado da fed­er­ação e, pelo menos suposta­mente, como uma ofensa, tanto que quedou-​se a fazer um pedido de des­cul­pas.
Por sua vez, pelo menos um dos supos­tos ofen­di­dos, tam­bém encarou o chiste como uma agressão, tanto que ameaçou o primeiro com um processo crim­i­nal na mais alta corte do país.
Vejam, temos duas pes­soas impor­tantes, can­di­datas a car­gos mais impor­tantes ainda, que con­sid­eram uma parcela sig­ni­fica­tiva da sociedade, como ofen­siva, e por isso mesmo não quer ser com­parada a ela. Foi isso mesmo?
Con­seguem perce­ber o pre­con­ceito explíc­ito?
O mais curioso de todo o episó­dio é que o próprio movi­mento rep­re­sen­tante da diver­si­dade encarou a colo­cação como uma ofensa, não as pes­soas a que rep­re­senta, mas sim, as suas impor­tantes lid­er­anças políti­cas referi­das na graça. A situ­ação torna-​se ainda mais del­i­cada para o movi­mento diante da ameaça de processo feita pelo(s) suposto(s) ofendido(s).
Ora, se eu me con­sidero ofen­dido por alguém “insin­uar” que sou gay, estou, então me achando mel­hor que os gays? Se rep­re­sento um grupo que se diz defen­sor dos dire­itos das mino­rias, por que razão, ainda que por um momento, não posso ser con­sid­er­ado ou sen­tir todo o pre­con­ceito que sofrem no seu dia a dia? Ah, já sei gay é bom, mas na casa do viz­inho. É isso?
Quer me pare­cer que o gracejo sus­ci­tado, pelas reper­cussões que alcançou, rev­ela muito da per­son­al­i­dade dos seus pro­tag­o­nistas. Quem lançou, por tê-​lo feito como ofensa; quem rece­beu por se achar mel­hor que o suposto “objeto” da ofensa; quem escan­dal­i­zou o assunto, políti­cos, rep­re­sen­tantes da mídia, etc, que tra­tou como uma ofensa o fato de um cidadão ter se referido a dois out­ros como um casal.
A prova maior da absurda situ­ação é o inde­v­ido pedido de des­cul­pas for­mu­lado. A pil­héria em si, ao meu sen­tir, pelo menos, não foi ofen­siva. Ofen­sivo, sim, o pedido de des­cul­pas, pois deu a enten­der que a pil­héria fora feita na intenção de ofender.
Se alguém é mere­ce­dor de des­cul­pas, é a comu­nidade gay, que entrou na briga das “comadres” ape­nas para ser ofen­dida por todos, inclu­sive pelo movi­mento que se diz defen­sor da diver­si­dade.
Vejam o absurdo da situ­ação: um cidadão vai a tele­visão dizer que ele (ou a mul­her) vai se diri­gir a mais alta Corte do país para proces­sar um outro por ter “sofrido” a insin­u­ação que com­po­ria um casal gay. E, acaso, ele e o suposto côn­juge acham-​se mel­hores que os casais gays? Ou mesmo suas côn­juges o são? O fato de alguém ser gay é crime?
Aí, vem o outro com um pedido de des­cul­pas “recon­hecendo” que os ofend­era, como se o fato de alguém com­por um casal gay fosse uma ofensa.
Está ficando inter­es­sante a reflexão: se não con­sid­erasse o que disse uma ofensa não teria porque pedir des­cul­pas. Certo?
Na outra ponta, se os des­ti­natários não tivessem con­sid­er­ado como uma ofensa não teriam porque falar em processo, fazer cara de ofen­di­dos, etc. Cor­reto?
O mais ver­gonhoso da situ­ação toda é que “ofen­sores” e “ofen­di­dos” se dizem defen­sores do povo, legí­ti­mos rep­re­sen­tantes da sociedade que entre os seus mem­bros pos­suem mil­hões de gays, lés­bi­cas, bis­sex­u­ais e tran­sex­u­ais e sim­pa­ti­zantes. Todos eleitores. Infe­liz­mente, nem todos aten­tos para agressão, gra­tuita, que sofr­eram.
No fundo, ofen­sores e ofen­di­dos, estão no mesmo barco: no que con­sid­era as mino­rias que com­põem a sociedade brasileira motivos de piadas e mere­ce­dora de ofen­sas.
Mesmo a sociedade – que parece deleitar-​se com o espetáculo – parece não perce­ber o alto grau de pre­con­ceito que uma de suas parce­las sofreu no episó­dio.
Acha “fofo” e diver­tido que apareçam nas nov­e­las das sete – até como casais –, mas não ver nada demais no fato de alguém ser chamado de gay, lés­bica como forma de xinga­mento.
Uma lás­tima.
Abdon Mar­inho.