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A TRAGÉ­DIA DA VIO­LÊN­CIA É MAIOR DO QUE REV­E­LAM OS NÚMEROS.

Escrito por Abdon Mar­inho

A TRAGÉ­DIA DA VIO­LÊN­CIA É MAIOR DO QUE REV­E­LAM OS NÚMEROS.
Por Abdon Mar­inho.
QUASE tão tradi­cional quanto à queima os fogos em Copaca­bana, no Rio de Janeiro, na virada do ano é saber­mos, nos dias seguintes de motins de pre­sos em algum presí­dio Brasil a fora, com seus bal­anços dig­nos de filme de ter­ror.
A bola da vez, na virada 2017/​18, foi o Estado de Goiás.
Os motins são oca­sion­a­dos, quase sem­pre, pela super­lotação, pela insalu­bri­dade, pela promis­cuidade entre autori­dades e pre­sos, pela cor­rupção, por uma com­bi­nação destes e vários out­ros fatores.
O certo é que as autori­dades brasileiras perderam o con­t­role da vida den­tro dos presí­dios e, se não têm capaci­dade de con­tro­lar, quem teori­ca­mente estaria preso, já temos como imag­i­nar a tragé­dia do lado de fora.
A vio­lên­cia no Brasil não alcança para­lelo no mundo.
São cerca de sessenta mil homicídios/​ano, outro tanto no trân­sito.
Isso é muito mais do se tem mor­tos em guer­ras ao redor do mundo.
Outro dia, no fim ano pas­sado, uma pesquisa rev­elou que o Brasil pos­sui a ter­ceira maior pop­u­lação carcerária do mundo com 726 mil pre­sos.
Só ficando atrás dos Esta­dos Unidos e da China.
Talvez alguém comem­ore por não esta­mos no topo da lista. Não dev­e­riam. Estes números servem para ates­tar o quanto é dramática a situ­ação nacional.
O primeiro colo­cado na lista, os EUA, têm uma leg­is­lação penal rig­orosa com penas lon­gas, não sendo raro apli­cação de pena per­pé­tua (às vezes mais de uma) o que leva a um acú­mulo muito grande de pre­sos, por anos a fio, no sis­tema carcerário.
Uma das críti­cas que enti­dades de dire­itos faz é jus­ta­mente sobre a manutenção desta pop­u­lação anciã atrás das grades, cumprindo penas até que lhes sobreven­ham a morte den­tro sis­tema.
Nem fale­mos nas con­de­nações à morte, uma vez que já faz algum tempo que não tomamos con­hec­i­mento de exe­cução por lá, ulti­ma­mente.
Além do mais, os EUA pos­suem uma pop­u­lação supe­rior à nossa, cerca de um terço supe­rior.
A pop­u­lação amer­i­cana hoje é esti­mada em 325 mil­hões de habi­tantes. Ape­sar disso, o número de homicí­dios por lá, por ano, não alcança 15 mil, menos de um quarto da nossa.
Ape­nas para se ter uma ideia, no apa­gar das luzes de 2017, fomos infor­ma­dos que a cidade de Nova Iorque, com seus, cerca de, 8 mil­hões de habi­tantes reg­istrou ape­nas 286 homicí­dios.
Só para efeitos de com­para­ção, a Ilha de São Luís, com uma pop­u­lação sete vezes menor, deve reg­is­trar o triplo deste número ou algo aprox­i­mado disso.
Assim, o número de amer­i­canos pre­sos, supe­rior a 2 mil­hões, feitas estas con­sid­er­ações, não pode ser con­sid­er­ado supe­rior em relação ao número brasileiro.
Em segundo lugar, com 1,650 mil (um mil­hão, seis­cen­tos e cinquenta mil) pre­sos, vem a China.
Por se tratar de uma ditadura não temos muitas infor­mações sobre o sis­tema de apli­cação da lei penal, exceto pelo que denun­ciam as enti­dades de dire­tos humanos sobre as exe­cuções em massa de pri­sioneiros, até por crimes con­sid­er­a­dos não vio­len­tos, são passíveis de punição com a morte – onde obrigam os famil­iares dos exe­cu­ta­dos a pagarem pela bala da exe­cução, registre-​se.
Segundo organ­is­mos inter­na­cionais, a China é respon­sável por noventa por cento das exe­cuções de pre­sos no mundo. E já foi bem pior, até 2007, a taxa de exe­cução anual era de cerca de dez mil presos/​ano.
Além das exe­cuções, temos uma maior sev­eri­dade na apli­cação das penas, o que gera um acú­mulo de pre­sos ao longo dos anos.
Se crimes, como trá­fico de dro­gas, pode levar à morte, out­ros crimes menores – que aqui o juiz manda soltar na audiên­cia de custó­dia –, eleva a quan­ti­dade de pre­sos naquele país.
Outra situ­ação a mere­cer con­sid­er­ação, das já referi­das, é a pop­u­la­cional. A China pos­sui hoje uma pop­u­lação de cerca de 1,380 (um bil­hão e trezen­tos e oitenta mil­hões) de habi­tantes.
Isso é mais de seis vezes e meia a nossa pop­u­lação. Entre­tanto, pos­sui uma pop­u­lação carcerária que pouco mais que o dobro da nossa.
Aí cheg­amos ao nosso “injusto” ter­ceiro lugar em número de pre­sos. Digo injusto por que sabe­mos que o nosso número de pre­sos é arti­fi­cial.
E para com­pro­var que o digo faço as con­sid­er­ações abaixo:
O crime no Brasil com­pensa.
Se pegar­mos o número de homicí­dios ou out­ros crimes ocor­ri­dos aqui na ponta, no impacto direto ao cidadão, ver­e­mos que a grande parte dos crimes não são solu­ciona­dos. A taxa de res­olução da polí­cia brasileira é muito baixa.
O mar­ginal comete o crime certo que não será descoberto pela polí­cia, seja homicí­dio, seja trá­fico, seja invasão e rou­bos de residên­cias; sabem que só um azar muito grande o levará à cadeia ime­di­ata­mente.
Os poucos azara­dos, se não come­teu um crime muito grave, um homicí­dio, por exem­plo, será solto, se não foi descoberto antes, na audiên­cia de custó­dia, para con­tin­uar os crimes de onde foi inter­rompido pela ação da polí­cia. Já tive­mos notí­cias de ban­di­dos voltando a ativi­dade deli­tiva no esta­ciona­mento do fórum.
Dos poucos crimes solu­ciona­dos poucos viram denún­cias e destes muitos se per­dem nos escan­in­hos da buro­c­ra­cia, pre­screvem, levam a absolvição, por terem sido mal feitos os proces­sos, ou pelo fator – que não podemos deixar de recon­hecer –, da cor­rupção.
As penas no Brasil estim­u­lam o crime.
O ban­dido, ainda con­siderando a pos­si­bil­i­dade de ser apan­hado, denun­ci­ado, jul­gado e con­de­nado, avalia que o tempo que pas­sará na cadeia é com­pen­sado pelo proveito econômico auferido pela con­duta crim­i­nosa.
Não bas­tasse as penas não serem pesadas, se con­de­na­dos no mín­imo das penas nem chegam a con­hecer a real­i­dade do cárcere.
Fora isso, ainda temos as gen­erosas pro­gressões, as saí­das tem­porárias, a cor­rupção den­tro das cadeias que per­mite auferir algu­mas van­ta­gens (desde que possa pagar); e com sorte, ainda pode con­seguir um indulto natal­ino de algum pres­i­dente bon­doso.
A política imple­men­tada no país é de “cadeia zero”. Há um ver­dadeiro fre­n­esi para soltar pre­sos, abrir vagas, diminuir a pop­u­lação carcerária, etc.
É a famosa política do “solticí­dio”.
Agora mesmo, por ocasião do último motim – cau­sado pelos pre­sos e pela omis­são das autori­dades –, ale­gando falta de espaço, já que destruíram as celas, e segu­rança, a Justiça autor­i­zou que os pre­sos fiquem em casa até encon­trarem out­ras vagas para eles.
Ora, fosse o Brasil um país mais rígido com a crim­i­nal­i­dade, com penas duras, sem a farra de tan­tos bene­fí­cios, sem a pos­si­bil­i­dade do cidadão, roubar, estuprar, mesmo matar, sair “espal­i­tando” os dentes pela porta da frente dos fóruns e das cadeias, cer­ta­mente o “caneco” de campeão do rank­ing de pop­u­lação carcerária seria nosso.
Somos ape­nas campeões morais.
O Brasil, sua pop­u­lação, que vai às urnas logo mais, pre­cisa enten­der que não podemos ter­giver­sar com crim­i­nal­i­dade. Temos que ir para o enfrenta­mento. Aplicar penas, e fazê-​las cumprir, de modo que sir­vam para deses­tim­u­lar as práti­cas deli­ti­vas. Acabar com essa cul­tura de ter o ban­dido por coitad­inho.
Enquanto o crime con­tin­uar com­pen­sando a tendên­cia do mesmo é aumen­tar.
Outra coisa, pre­cisamos parar com o dis­curso hipócrita de que não deve­mos con­struir presí­dios e sim esco­las. Pre­cisamos dos dois dando aos “clientes” a pos­si­bil­i­dade da escolha.
O país com­pro­m­ete seu futuro, enquanto nação sober­ana, se con­tin­uar per­dendo mais de 120 mil cidadãos/​ano para a vio­lên­cia, e deixando outro tanto de inca­pac­i­ta­dos, enquanto ninguém na sociedade se sente livre nem para pôr os pés fora de casa.
Chega! Já passa da hora de enfrenta­mos essas questões.
Abdon Mar­inho é advogado.

UM CON­STRANG­I­MENTO DESNECESSÁRIO.

Escrito por Abdon Mar­inho

UM CON­STRANG­I­MENTO DESNECESSÁRIO.
Por Abdon Mar­inho.
ALGUÉM que inte­gre o gov­erno estad­ual, seja ali­ado ou sim­ples­mente adu­lador, desde que pos­sua um mín­imo de pudor deve estar con­strangido em ver suas maiores autori­dades apan­hadas numa situ­ação tão vex­atória e infan­til.
Falo do descabido fes­tejo a um suposto rank­ing do site G1, da rede globo, colo­cando o gov­er­nador Maran­hense como o maior cumpri­dor de promes­sas feitas em cam­pan­has eleitorais.
A infor­mação não era ver­dadeira. Os inte­grantes do gov­erno, seus ali­a­dos, mil­i­tantes e mes­mos jor­nal­is­tas sim­páti­cos a admin­is­tração comu­nista sabiam que a infor­mação era furada – se não sabiam, pior, pois rev­ela total falta de com­pro­misso com o que divul­gam.
Pois bem, emb­ora soubessem (ou dev­e­riam saber) que o rank­ing do G1 não cor­re­spon­dia a ver­dade trataram ele­var a última potên­cia a máx­ima de Rubens Ricu­pero – segundo a qual deve-​se escon­der as coisas ruins e ampliar as boas –, e par­ti­ram para a “ocu­pação” das redes soci­ais, mídias eletrôni­cas e impressa para difundir a infor­mação de que o sen­hor Dino seria o gov­er­nador mais real­izador do Brasil.
Não bas­tasse secretários, ali­a­dos ou adu­ladores, o próprio gov­er­nador entrou em campo para difundir a patranha. Um vex­ame. Não se deram o tra­balho sequer de exam­i­nar o con­teúdo do rank­ing divul­gado.
Se tivessem feito um exame, mesmo super­fi­cial, teriam perce­bido era baseado em ape­nas 37 pro­postas de cam­panha e não nas 65 reg­istradas per­ante a Justiça Eleitoral e que está à dis­posição de qual­quer um no site no Tri­bunal Supe­rior Eleitoral, na fer­ra­menta “Divul­ga­Cand”.
O equívoco do site, parece, vem sendo cometido desde a primeira ver­são da “pesquisa”.
Se tivessem exam­i­nado com cuidado teriam perce­bido que o G1 não ape­nas suprim­ira mais de um terço da avali­ação quanto deixara de fora pro­postas feitas em pro­gra­mas de rádio e tele­visão. Um exem­plo: o gov­er­nador prom­e­teu trans­for­mar a MA 006 na rodovia de inte­gração do Maran­hão. Quem não sabe essa rodovia vai de Apicum-​Açu, no norte, a Alto Par­naíba, no extremo sul do estado, algo em torno de 1.251 km.
Desta rodovia, salvo mel­hor juízo, asfal­taram o tre­cho entre Pedro do Rosário e Zé Doca. Não tenho con­hec­i­mento de quais­quer out­ras obras na MA no sen­tido torná-​la a rodovia de inte­gração do estado, por onde dev­e­ria cir­cu­lar toda nossa riqueza. Se tivesse tempo, e din­heiro, até ten­taria sair de Apicum-​Açu para ten­tar chegar a Alto Par­naíba usando a tal rodovia de inte­gração.
Aliás, de obra de infraestru­tura con­stante do rank­ing do G1, que é o que real­mente onera as con­tas públi­cas, ape­nas uma: garan­tir o abastec­i­mento de água a todos os maran­henses.
Mesmo esta única pro­posta na infraestru­tura não foi cumprida na total­i­dade. A falta de água é pre­sente em todo o estado, e mesmo cap­i­tal padece da falta d’água. Comu­nidades inteiras, em plena cap­i­tal, são abaste­ci­das em dias, às vezes em inter­va­los até maiores. Na cap­i­tal.
O que dizer dos longín­quos povoa­dos ou zona rural?
Nem deve­mos falar em sanea­mento básico. Este mesmo é que não existe.
Não entendo se por ingenuidade, má-​fé ou mesmo pela pura e sim­ples tolice, ten­ham dado ampli­tude e ten­tado fat­u­rar politi­ca­mente com o rank­ing fajuto do G1.
Vejam, quando digo que o rank­ing é fajuto, não o faço no sen­tido de desmere­cer, mas ape­nas e tão somente, por enten­der não tem qual­quer lóg­ica você com­parar situ­ações dis­tin­tas: pro­postas difer­entes, pesos difer­entes, quan­ti­dades difer­entes e colo­car num rank­ing. Não é razoável.
Um exem­plo: um gov­er­nador que prom­e­teu mais obras estru­tu­rantes e menos medi­das de fácil solução, cer­ta­mente este será mais mal avali­ado, pois as condições da econo­mia não tem per­mi­tido muitas obras assim, ainda que tenha feitos obras impor­tantes e impac­tantes para seu estado.
O gov­erno do Maran­hão foi avali­ado em 37 promes­sas, das quais segundo o rank­ing cumpriu 22 (que estão sendo ques­tion­adas pela oposição, que afirma que promes­sas como o “pro­mu­nicí­pio” ape­nas, para citar um exem­plo, não existe).
As promes­sas cumpri­das, con­tando com as ques­tion­adas e sem con­sid­erar as promes­sas de palanque, como a MA 006, rep­re­senta, ape­nas pouco mais de um terço do que foi reg­istrado no TSE.
Como vamos dizer que isso é mais que o real­izado pelo gov­erno de São Paulo, que das 68 promes­sas avali­adas, já cumpriu, inte­gral­mente, 34 promes­sas, ou seja, metade.
Nessa matemática um terço é mais que metade?
Sem con­tar que são real­iza­ções que estão bem dis­tantes da nossa real­i­dade pelos val­ores e impactos envolvi­dos.
E vão dizer: não podemos com­parar São Paulo com MARAN­HÃO. É certo.
Assim como não podemos com­parar out­ras situ­ações .
O que quero dizer com isso é que esse rank­ing é abso­lu­ta­mente arbi­trário e que não pode­ria ter sido lev­ado a sério por pes­soas com um mín­imo de dis­cern­i­mento. Pareceu-​me algo bem próx­imo de uma ten­ta­tiva de imbe­ciliza­ção das pes­soas.
Por fim, causa-​me estran­heza que as autori­dades maran­henses ten­ham ten­tado “fat­u­rar” politi­ca­mente com algo tão fácil de ser desmor­al­izado.
Um con­strang­i­mento desnecessário.
Abdon Mar­inho é advogado.

O TRILEMA COMUNISTA.

Escrito por Abdon Mar­inho

O TRILEMA COMU­NISTA.
Por Abdon Mar­inho.
EMB­ORA o termo seja pouco usual, trilema é uma situ­ação embaraçosa da qual só se pode sair pela opção de uma de três opções, todas difí­ceis. Trilema é assim uma espé­cie de dilema de três.
O gov­er­nador Flávio Dino tem um trilema nas mãos que é com­pat­i­bi­lizar na vaga que resta de pré-​candidato ao Senado na sua chapa o inter­esse de três pos­tu­lantes. Só tem vaga para um. Como não se des­gas­tar além do necessário com os out­ros dois?
Claro que pode­ria ampliar ainda mais o prob­lema se trouxesse um nome de fora do espec­tro político deixando os três deputados-​postulantes à ver navios. Mas isso é algo que, parece, não fará.
Em recente entre­vista exclu­siva ao Jor­nal Pequeno, mais pre­cisa­mente no último dia do ano, que diga-​se, está cheia de assun­tos – no momento só me deterei na questão da segunda vaga ao Senado –, sua excelên­cia, instado a manifestar-​se sobre o preenchi­mento da vaga restante, respon­deu como se nada tivesse com a questão.
Ini­cial­mente, teceu loas aos três pos­tu­lantes, mas, em seguida, tal qual, Pilatos, lavou mãos. Sugeriu-​lhes que seguis­sem os pas­sos do primeiro ungido, o dep­utado Wev­er­ton Rocha, e se via­bi­lizassem.
Na nar­ra­tiva do gov­er­nador, não lhe cabe “trair suas con­vicções” e apare­cer indi­cando um can­didato. Este, ainda segundo ele, deve ter o apoio daque­les que o apoiam, para, assim, como fez com o primeiro escol­hido, ape­nas o ref­er­ende.
Agir de forma diversa, na sua opinião, seria uma espé­cie de coro­nelismo que já não cabe na política maran­hense. Encer­rou a questão.
Seria muito bom se a política fosse essa ciên­cia carte­siana que quer fazer crer o gov­er­nador. Emb­ora a solução apre­sen­tada – e a que vai lhe nortear a escolha –, pare­cer per­feita, pois os dois pos­tu­lantes preteri­dos devem, na sua visão, colo­car o insucesso, na sua própria falta de artic­u­lação, talvez não seja tão fácil.
A guerra de uma escolha dessas não fun­ciona como uma assem­bleia de estu­dantes, em que se levam as pro­postas para serem votadas “na hora”, sem qual­quer artic­u­lação prévia. Não é assim. Tan­tos os pré-​candidatos, quanto os demais agentes políti­cos, sabem para que lado “pende” o inter­esse do gov­erno e, até mesmo, como fun­ciona o chamado “fogo amigo” nes­tas horas.
A situ­ação torna-​se um pouco mais dramática quando os pos­tu­lantes têm como certo pos­suírem “crédito” junto ao gov­er­nador.
Esse “crédito”, que na entre­vista, o gov­er­nador não recon­heceu, é algo mais um menos público.
A exceção da dep­utada Eliziane Gama, que não sabe­mos o nível de “acerto” feito, os out­ros dois, até já o dis­seram pub­li­ca­mente, pos­suem uma fatura a apre­sen­tar.
O primeiro, o dep­utado José Reinaldo Tavares, a quem o gov­er­nador colo­cou na fatura ape­nas um débito de “car­inho espe­cial”, assim mesmo por ser ex-​governador do estado. Sabe­mos que não é só isso.
O ex-​governador José Reinaldo é cre­dor da própria car­reira política do hoje gov­er­nador. Con­forme é fato público e notório.
Foi ele, Zé Reinaldo, que ousou apos­tar no pro­jeto de ren­o­var a política maran­hense trazendo, com o poder de gov­er­nador que tinha, alguém da mag­i­s­tratura para fazê-​lo dep­utado, já no pro­jeto de fazê-​lo gov­er­nador nos pleitos seguintes.
Neste propósito, não mediu esforços. Como não pos­suía con­vicções a “trair”, que­ria mesmo era elegê-​lo, chamou um grupo de prefeitos de con­fi­ança e lhes deu a mis­são de con­seguir os votos necessários. Como dizem no sertão: deter­mi­nando que “ati­rassem sem tomar chegada”.
Não há quem no mundo político ignore que foi no velho “coro­nelismo” – que o atual inquilino dos Leões jura repu­diar –, que con­seguiram os votos nos lugares que o então can­didato nem sabia exi­s­tir no Maran­hão. Basta pegar o mapa de votação.
Estes fatos são públi­cos e con­heci­dos de todos, repito.
Assim, tanto na cap­i­tal quanto no inte­rior do estado todos sabem que o ex-​governador é cre­dor de bem mais que “um car­inho todo espe­cial”.
Acred­ito, por isso mesmo, tratar-​se de um mon­u­men­tal equívoco do gov­er­nador – e seus aux­il­iares –, ter excluído o dep­utado José Reinaldo da condição de can­didato nat­ural ao Senado da República na sua chapa, depois de tudo que fez por ele próprio e pelo Maran­hão.
Todos sabem que soz­inho e com pre­juízo da própria liber­dade, “ban­cou” o pro­jeto de mudança e foi para o “sac­ri­fico” nas duas eleições seguintes (2010 e 2014).
Ninguém “estran­haria” a can­di­datura “nat­ural” do ex-​governador e que o cabeça de chapa, no caso o gov­er­nador, lhe pagasse os favores que lhe foram feitos a par­tir de 2006.
Uma regra ele­men­tar da política – e mesmo da vida –, é que quem faz um “favor” espera rece­ber o mesmo troca. Pen­sar diverso é descon­hecer as regras do jogo.
Ao agir como “cre­dor da humanidade” e achar-​se mere­ce­dor de tudo que lhe foi feito “sem dever nada a ninguém”, o gov­er­nador corre o grave risco de pas­sar por “ingrato” ou, pior, “desleal”, por não ter cor­agem necessária de enfrentar “a tudo e a todos” e prestar socorro a quem já lhe socor­reu.
Infe­liz­mente as lid­er­anças políti­cas não têm cor­agem de expor esta situ­ação ao gov­er­nador, mas é este o sen­ti­mento cor­rente de norte a sul do estado, são prefeitos, ex-​prefeitos, vereadores, ex-​vereadores e mesmo sim­ples lid­er­anças, todos se ressentindo do trata­mento que está sendo dado ao ex-​governador.
O segundo pos­tu­lante a vaga de pré-​candidato na chapa ofi­cial – e a quem o gov­er­nador não dis­pen­sou nem o crédito de “car­inho espe­cial” –, é o dep­utado Waldir Maran­hão.
Não sei, além do que foi divul­gado pela mídia, sobre o nível de “acerto” feito com ele. Mas, assim como José Reinaldo o sac­ri­fí­cio político que fez pelo pro­jeto do gov­er­nador é patente e visível.
Vejam, o dep­utado era pres­i­dente estad­ual de um par­tido que pos­suía uma das maiores ban­cadas da Câmara dos Dep­uta­dos e, por isso mesmo, tornou-​se vice-​presidente daquela casa.
Coman­dando o máquina par­tidária e ocu­pando os espaços que a política lhe con­seguia, ia levando, con­seguia reeleger, prati­ca­mente, através daquela “estru­tura”, ou seja, lev­ava uma vida par­la­men­tar sem maiores sobres­saltos.
Tal situ­ação mudou quando – acredita-​se para aten­der um pedido do gov­er­nador –, resolveu “inven­tar” a revo­gação do impeach­ment da ex-​presidente Dilma Rouss­eff.
Teria neces­si­dade de fazer aquela patus­cada? Qual a razão para fazer? A quem visou aten­der?
Aí está a questão. Dizem que “fez o que fez” para aten­der o gov­er­nador do Maran­hão, cioso de “vender-​se” como a lid­er­ança que revo­gou o impeach­ment, apel­i­dado por ele de “golpe”, por con­se­quên­cia, tornar-​se o herdeiro de todo espólio esquerdista para voos mais altos.
O ineditismo da medida, que fale­cendo de sus­ten­tação, acabou sendo revo­gada pouco depois, trouxe ao dep­utado o pior tipo de exposição que um político pode­ria pre­tender: a exposição pelo ridículo.
Nem fale­mos dos diss­a­bores que sofreu no plano famil­iar, ele e os seus. Quase todos os par­entes sofr­eram com a exposição do dep­utado: filho, irmãos, cun­hados e, até mesmo, a esposa, que, segundo comenta-​se, estava enferma.
O dep­utado, que ini­ciou a car­reira política graças a uma vida acadêmica, tendo, inclu­sive, chegado a reitor da Uni­ver­si­dade Estad­ual do Maran­hão, para aten­der um pedido do gov­er­nador, segundo dizem – ninguém acred­ita que foi só porre –, viu-​se sob as luzes da rib­alta do ridículo nacional, motivo de cha­cota por onde pas­sava e sendo inspi­ração para todo tipo de charges, memes e humorís­ti­cos.
Chegaram a ponto de lhe sug­erir a revo­gação da Lei da Gravi­dade.
Em resumo, virou uma piada nacional, ainda hoje lem­brada. Não sei se o que lhe deram – ou prom­e­teram –, valeu o preço que pagou, inclu­sive o de não con­seguir a reeleição que tinha quase por certa.
No aspecto prático, perdeu, ainda, o comando do par­tido que lhe garan­tia suces­si­vas eleições e mesmo os espaços que já havia con­quis­tado no par­la­mento ao longo dos anos.
Ape­nas para citar um exem­plo, uma das Vice-​presidências da Câmara acabou “sobrando” para o dep­utado que assumiu o comando do seu antigo par­tido no estado, o novel dep­utado André Fufuca.
Como podemos ver, os fatos desafiam o raciocínio apre­sen­tado pelo gov­er­nador, na entre­vista. Mel­hor seria se tomasse “cor­agem” e despachasse aque­les que não gozam de sua predileção, para que eles, os preteri­dos, procu­rarem seu rumo.
Se serão can­didatos a dep­uta­dos nova­mente ou se irão se arran­jar, com seus pro­je­tos, noutras can­di­dat­uras.
Não é seg­redo que é mais fácil um can­didato a dep­utado virar can­didato a senador que o oposto. Se demoram muito, não terão onde con­seguir os votos pro­por­cionais. Cada dia de inde­cisão conta.
O trata­mento dis­pen­sado – e exposto –, pelo gov­er­nador aos três dep­uta­dos pos­tu­lantes à inte­grar a chapa majoritária só faz sen­tido se a intenção for “matá-​los” politi­ca­mente, afi­nal, mor­tos não cobram dívi­das.
Fora disso, a estraté­gia ado­tada de “empurrar com a bar­riga”, ainda que não se ache deve­dor de nada – nem dos deveres de amizade (mas já dis­seram que em política ninguém é amigo) –, acabará por trazer pre­juí­zos irreparáveis para os pos­tu­lantes à can­di­datura de senador, que deixarão de se artic­u­lar para out­ros car­gos, e à can­di­datura do próprio gov­er­nador, que respon­derá pela mágoa dos preteri­dos.
E, quanto maior acharem que é o crédito, maior será a mágoa. Ape­nas para lem­brar.
Abdon Mar­inho é advogado.