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OS IDOSOS E OS JOVENS ANCIÃOS.

Escrito por Abdon Mar­inho

OS IDOSOS E OS JOVENS ANCIÃOS.

Por Abdon Mar­inho.

OUTRO DIA, pela segunda vez, vi uma fotografia e uma reportagem depre­cia­tiva sobre o grupo político que apoia a ex-​governadora Roseana Sar­ney. Lis­tavam os nomes, um a um, com a respec­ti­vas idades para discriminá-​los por isso, pelo fato de terem, 60, 70, 80 ou 90 anos.

Nen­hum tipo de pre­con­ceito merece con­sid­er­ação – e deve­mos repu­diar a todos –, entre­tanto, ao meu sen­tir, o pre­con­ceito pela idade me parece o mais imbe­cil, uma vez que todos nós, um dia, ser­e­mos idosos. Quer dizer, os que tiverem sorte de chegar lá.

O saudoso jor­nal­ista Wal­ter Rodrigues, que se vivo fosse já estaria se aprox­i­mando dos setenta anos, cos­tu­mava dizer – e com ele con­cor­dava inteira­mente –, que as repri­men­das dev­e­riam recair sobre as ati­tudes das pes­soas, o bem ou mal, que ten­ham prat­i­cado e não sobre as condições sobre as quais o crit­i­cado não tenha responsabilidade.

Com isso quer se dizer que, como já o disse certa vez Rui Bar­bosa, que os canal­has tam­bém envel­he­cem, mas a crítica se dev­ida é pela canal­hice, jamais pela idade.

Assim como o fato de alguém ser jovem não o torne imune da prática de deli­tos ou con­du­tas ver­gonhosas.

Idade nada tem a ver com o caráter ou crimes que um ou outro possa cometer.

O mesmo val­endo para todas as demais condições, seja cor, raça, gênero, defi­ciên­cia, etc.

Cer­ta­mente aque­les que chegaram até aqui na leitura e que acham bonito criticar pes­soas por serem elas idosas, mul­heres, negros, homos­sex­u­ais (ou o resto da sopa de letrin­has), defi­cientes, estarão me chamando, ainda que inter­na­mente: “— esse alei­jado, filho de uma égua!”.

Não ligo. Só inco­moda o fato de não respeitarem minha santa mãez­inha que nada tem a ver com o que escrevo e que já nos deixou há mais de quarenta anos.

Gosto muito de con­ver­sar e de tra­bal­har com pes­soas de idade mais avançada – é uma chance de apren­der –, recomen­dando sem­pre aos meus cole­gas o máx­imo de atenção, diligên­cia e paciên­cia. Cos­tumo dizer: — enten­dam que as causas dos idosos têm mais pri­or­i­dade porque eles já não têm muito tempo para esperar. Com­preen­dam isso!

Idade cronológ­ica nunca foi sinôn­imo de atraso, pelo con­trário, muita das vezes, pela exper­iên­cia acu­mu­lada, é até uma forma de ver as coisas com uma visão mais arguta e com tol­erân­cia de quem já pas­sou por diver­sas situações.

Não faz muito, a velha democ­ra­cia amer­i­cana, através do seu Poder Judi­ciário, deter­mi­nou que o pres­i­dente Don­ald Trump, 71 anos, não pode­ria blo­quear os seguidores na sua conta do Twit­ter. No entendi­mento da justiça, se ele usa essa rede social para divul­gar suas ideias, para os seus e para o mundo, não pode impedir que tais ideias e pen­sa­men­tos sejam crit­i­ca­dos pelos que deles dis­cor­dam.

Numa espé­cie de coin­cidên­cia reversa, aqui, no “mod­erno” Maran­hão, leio uma nota do Sindi­cato dos Poli­ci­ais Civis onde acusam o jovem gov­erno maran­hense de impedir seu protesto con­tra a política gov­er­na­men­tal numa placa de out­door.

Segundo o sindi­cato, o gov­erno teria “obri­gado” a empresa respon­sável a reti­rar a crítica feita, sob pena de perder o espaço de veic­u­lação e ter a própria placa – o meio físico –, reti­rada do local.

Em sendo ver­dade, esta­mos diante de algo muito “avançado”, “mod­erno”, estre­ita­mente em con­sonân­cia com o espírito de “jovi­al­i­dade” dos atu­ais gov­er­nantes, SQN, na lin­guagem dos jovens: “só que não”.

Ainda na esteira da decisão judi­cial sobre Twit­ter do pres­i­dente amer­i­cano, me veio à lem­brança a infor­mação de um blogueiro de que ele fora “blo­queado” por um órgão do gov­erno, no caso o PRO­CON. Foi necessário um outro colega dele reclamar/​denunciar ao próprio órgão o absurdo da con­duta para que blogueiro/​bloqueado voltasse a inter­a­gir com o órgão.

A história é inter­es­sante porque os nos­sos “jovens” gov­er­nantes são ardentes críti­cos dos Esta­dos Unidos, a quem acusam de impe­ri­al­ismo, opres­sores aos povos do mundo, entre­tanto lá, ate a conta pes­soal do pres­i­dente pode ser crit­i­cada enquanto que por aqui, como no exem­plo citado, mesmo os órgãos públi­cos se acham no dire­ito de cen­surar a crit­ica livre dos cidadãos. Nem se fale que nas con­tas pes­soais – são cor­rentes as notí­cias –, não gostando do que leram blo­queiam sem a menos cer­imô­nia ou con­strang­i­mento.

Não bas­tasse isso, ten­tam calar quais­quer críti­cas através de infini­tas ações judi­ci­ais – ainda que desproposi­tadas. Muitas, com o claro propósito intim­i­datório, uma vez que mesmo que a crit­ica seja legit­ima e reg­u­lar, o jor­nal­ista, blogueiro, escritor, “gas­tará” tempo e recur­sos para se defender. Tempo, esse, sub­traído do tra­balho de pesquisa, do tempo que pode­ria ser investido noutras críti­cas na defesa da sociedade.

Este é o papel dos jor­nal­is­tas: serem fis­cais da sociedade, inves­ti­gando e denun­ciando os abu­sos dos gov­er­nantes.

Estran­hamente, emb­ora “mod­er­nos” não con­seguem enten­der isso é, por isso mesmo, os reprimem e perseguem.

Será que no mundo civ­i­lizado exista algo mais arcaico que a cen­sura e a intim­i­dação àque­les que criti­cam ou opinam des­fa­vo­rav­el­mente aos que se acham “donos do poder”?

Será que podemos ter como “novo” mod­e­los de opressão que tenta impin­gir aos cidadãos que vivam de joel­hos, sem poderem, sequer, se man­i­festarem livremente?

Entendo que não. Daí o reafir­mar que a idade cronológ­ica de uma pes­soa não torna “nova” ou “velha” na definição do que seja práti­cas aceitáveis de respeito à boa con­vivên­cia entre os povos, o respeito à liber­dade dos cidadãos e à própria democracia.

Ao longo da vida sem­pre vi e con­vivi com pes­soas que ape­sar da idade cronológ­ica avançada tin­ham ou têm uma con­cepção do seja democ­ra­cia, do que seja liber­dade, do que seja respeito, bem mais aceitável e razoável do que vimos na prática cotid­i­ana destes “jovens anciãos” com os quais con­vive­mos na atu­al­i­dade.

Vi, não faz muito tempo – e até escrevi sobre o assunto –, posando sobre uma máquina de asfalto, em uma obra, diver­sas jovens autori­dades – mais velha não se afa­s­tando muito dos cinquentenário. Todos fazendo sinal de “pos­i­tivo” ou “V” da vitória, num claro abuso político e de autori­dade, vez que era uma chapa com­pleta majoritária (lançada pub­li­ca­mente recen­te­mente) e mais três can­didatos pro­por­cionais.

Ora, existe algo mais ultra­pas­sado que tais práti­cas? Este é o exem­plo que os jovens políti­cos querem legar à pos­teri­dade? O exem­plo do abuso e do vício? É assim mesmo? Essa é a jovem classe política que nos levará ao futuro?

São jovens anciãos, que não se despren­dem das vel­has práti­cas, dos vel­hos preconceitos.

Por estes dias, tam­bém, o Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, negou segui­mento a uma ação de uma jovem sen­hora, esposa de um jovem dep­utado fed­eral, pro­posta con­tra um jovem senador da República.

A ação em tela era por suposta ofensa à sua moral. A questão de fundo, como lebram, foi uma declar­ação do senador dizendo não enten­der as críti­cas à sua pes­soa, pro­feri­das pelo dep­utado fed­eral e o pres­i­dente do seu par­tido, uma vez que sem­pre “torceu pela feli­ci­dade do casal”, aludindo, obvi­a­mente, a uma suposta relação homoafe­tiva entre ambos.

Por ocasião dos fatos, tratei do assunto no texto “A Ofensa Gay”, onde explico enten­der como absurdo quem em pleno século 21, quando as pes­soas tanto falam em liber­dade e respeito às diver­si­dades, ten­hamos um senador da República suposta­mente aludindo a uma relação homos­sex­ual para desmere­cer e, pior que isso, que os supos­tos “ofen­di­dos” ten­ham encar­ado a tal alusão como ofensa.

Por a caso, dizer que alguém é gay e man­tém uma relação homoafe­tiva é algo indigno a ponto de um senador da república dizer e o dep­utado (e seus famil­iares) rece­ber como ofensa à tal assertiva e ir bater às por­tas do STF recla­mando? Como ousam ofend­erem tan­tas pes­soas por sua condição sex­ual e depois virem pedir seus votos?

Pois é, assim pen­sam nos­sos “jovens anciãos”. Dizem que são mod­er­nos, atu­al­iza­dos, mas volta e meia “deslizam” nos próprios pre­con­ceitos. E, pior, não se dão conta disso. Bem fez o STF ao rechaçar o arremedo de ação pela ile­git­im­i­dade e ausên­cia de justa causa.

Tive a sorte da con­vivên­cia com muitos idosos que a despeito da idade cronológ­ica avançada, davam – e dão –, de dez a zero em muitos destes jovens pre­sos e escrav­iza­dos às vel­has práti­cas e pre­con­ceitos do pas­sado. Ainda cri­ança adquiri o gosto pela leitura e pelo pen­sa­mento crítico com uma jovem sen­hora de quase oitenta anos.

Encerro dizendo que mim é mais saudável a con­vivên­cia com idosos jovi­ais do que com jovens anciãos.

Viva a mel­hor idade!

Abdon Mar­inho é advo­gado.

MEU QUERIDO INIMIGO.

Escrito por Abdon Mar­inho

MEU QUERIDO INIMIGO.

Por Abdon Mar­inho.

FOI o gênio de Fer­nando Pes­soa que cun­hou as belas palavras que seguem abaixo no poema “Autopsicografia”:

O poeta é um fin­gi­dor.

Finge tão com­ple­ta­mente

Que chega a fin­gir que é dor

A dor que dev­eras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sen­tem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas cal­has de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse com­boio de corda

Que se chama coração.

Quando o poeta nos brindou com tais ver­sos não con­hecia o poder de fin­g­i­mento que acomete os políti­cos brasileiros de uma forma geral e aos maran­henses em espe­cial.

Agora mesmo vejo dois lados da política maran­hense se diglad­iando, din­istas e roseanistas ou sar­ne­y­sis­tas, com ataques mútuos e críti­cas recíp­ro­cas, fin­gem uma antipa­tia que de fato não sen­tem. Pelo con­trário, ambos, os gru­pos, até se admi­ram e pode­riam, por vezes até demon­strarem mais afeto se não fosse a neces­si­dade de fin­gir, como aliás, vimos recen­te­mente, o coman­dante do Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB, sen­hor Már­cio Jerry, com “capo” do Sis­tema Mirante de Comu­ni­cação e irmão da pré-​candidata Roseana Sar­ney, Fer­nando, num agradável colóquio com dire­ito a efu­sivo abraço no velório do ex-​senador Epitá­cio Cafeteira.

Só não digo que tudo que comu­nistas e sar­ne­y­sis­tas mais que­riam nesta quadra política era o con­fronto entre eles, porque do lado dos atu­ais donatários do poder foi aca­len­tada a ideia de que pode­ria vencer a eleição por WO, ou seja, sem adver­sários, chapa única, com adver­sários só para dar o verniz da legit­im­i­dade, como, aliás, registre-​se, é a prática em todos os regimes autoritários que se prezam.

Os comu­nistas maran­henses son­haram e tudo fiz­eram (ou fazem) para afas­tar os demais con­cor­rentes da dis­puta, não se podendo aferir o nível do “con­venci­mento” que empregam e/​ou mesmo sua legit­im­i­dade em face do mod­elo de democ­ra­cia que vive­mos.

Espal­haram a não mais poder que fulano, sicrano ou bel­trano não seriam can­didatos, que seriam “con­ven­ci­dos” a não dis­putar.

Fora o mod­elo da can­di­datura única – com a ver­tente do adver­sário de “men­tir­inha” ou para con­star –, tudo que eles dese­javam era a can­di­datura de Roseana Sar­ney, pedi­ram isso diver­sas vezes e vice-​versa.

O grupo Sar­ney tam­bém era e é dese­joso deste con­fronto. Querem fazer a con­frontação dos gov­er­nos de Roseana com o do atual gov­erno do sen­hor Dino, a quem acusam de pouco ou nada fazer

São os “queri­dos inimi­gos”. A ambos inter­essa o dis­curso da “encruzil­hada do atraso” entre Sar­ney e Anti-​Sarney que, como mostrei em tex­tos ante­ri­ores, só tem lev­ado o Maran­hão para insignificân­cia e para a mis­éria do povo, ape­sar de ser, dos esta­dos da fed­er­ação, um dos mais ricos.

Este é o debate que querem travar e que, sabe­mos, não inter­essa ao Maran­hão e ao nosso povo. O debate para saber quem é o respon­sável pela mis­éria e quan­tos mis­eráveis cada um gerou. Se nos gov­er­nos da sen­hora Roseana foram ger­a­dos mais mis­eráveis que no atual gov­erno do sen­hor Dino; se a vio­lên­cia era maior lá ou agora; se a cor­rupção era maior ou menor, e por aí afora.

Ora, sabe­mos o que foram os gov­er­nos da sen­hora Roseana e esta­mos vendo o que é o gov­erno do sen­hor Dino.

São gov­er­nos que não apon­taram e não apon­tam um futuro de desen­volvi­mento para o estado. Eles não têm pro­je­tos de desen­volvi­mento e não pos­suem a capaci­dade de ouvir quem tenha. Admin­is­traram e admin­is­tram com per­spec­tiva do “arroz com fei­jão”, das obras públi­cas que são próprias de gestores munic­i­pais e não de gov­er­nos que têm a respon­s­abil­i­dade com o cresci­mento econômico do estado, a ger­ação de empre­gos e renda, obras estru­tu­rantes capazes de ele­var a econo­mia estad­ual de pata­mar.

Um dos maiores prob­le­mas do estado é a falta de emprego para os jovens, para os pais de família e, já vimos – e esta­mos vendo –, as ini­cia­ti­vas dos atu­ais “cor­diais adver­sários”, não foram capazes de apre­sen­tar soluções.

O quadro político atual só não se apre­senta pior diante da ter­rível per­spec­tiva, que se afig­urou, e que foi ven­dida, da can­di­datura única. Fora isso, o quadro do debate dicotômico entre comu­nistas e sar­ne­y­sis­tas é a segunda pior opção.

Extraio de pos­i­tivo do anún­cio de que a ex-​governadora Roseana se apre­senta para a dis­puta, ape­nas a pos­si­bil­i­dade de que seu ingresso incen­tive a par­tic­i­pação de out­ros políti­cos, com out­ras pro­postas de gov­erno para o debate. E que isso nos prive do debate ver­gonhoso de quem gerou mais mis­eráveis e mor­tos.

O Maran­hão pre­cisa que out­ros quadros políti­cos – já tes­ta­dos ou não –, entrem no debate político apre­sen­tando suas pro­postas para sair­mos do final da fila do desen­volvi­mento. Pre­cisamos de pro­postas de gov­er­nos auda­ciosas e que apon­tem para o desen­volvi­mento, para o cresci­mento econômico, com ger­ação de emprego e renda para os jovens; pre­cisamos inte­grar pro­je­tos de infraestru­tura nas diver­sas regiões do estado.

Para que isso ocorra é necessário que as pes­soas que têm ideias, além do debate dicotômico Sarney-​Anti-​Sarney, se apre­sen­tem, par­ticipem do debate político, dis­putem a eleição que se aviz­inha. Quem não se apre­sen­tar agora não terá qual­quer legit­im­i­dade no futuro.

Chega a ser patético que já tendo avançado tanto no século 21, a nossa pauta ainda seja da mis­éria, das estradas que se des­man­cham nas primeiras chu­vas, da vio­lên­cia que assom­bra a família.

Este é o debate da ver­gonha. Os brasileiros/​maranhenses não temos estí­mulo para votar num quadro que se afigura tão desalen­ta­dor.

Pre­cisamos que sur­jam mais nomes, com tra­balho, pro­je­tos, história de vida limpa, que nos apre­sen­tem soluções para os prob­le­mas do estado como per­spec­tiva de desen­volvi­mento real. Os nomes que se apre­sen­tam, pelo mostraram e mostram estão longe de rep­re­sen­tar alguma novi­dade neste que­sito.

O Maran­hão não avançará se insi­s­tirem no debate de “comadres” que ensa­iam. Pre­cisamos ir além disso e este é o momento.

E exis­tem out­ras pos­si­bil­i­dades de trazer o desen­volvi­mento para o estado, uma delas é o pro­jeto da Zona de Expor­tação do Maran­hão — ZEMA, que o senador Roberto Rocha encampa desde que ini­ciou seu mandato; tam­bém o pro­jeto do polo aeroe­s­pa­cial de Alcân­tara, que tem o dep­utado José Reinaldo, como um dos pre­cur­sores. Além disso faz-​se necessário con­hecer os pro­je­tos de desen­volvi­mento de out­ros políti­cos, como da pré-​candidata Maura Jorge que se coloca na dis­puta ou até mesmo de out­ros políti­cos, como por exem­plo, o dep­utado Pedro Fer­nan­des; Eduardo Braide, e out­ros que devem apare­cer mas que não me ocorre lem­brar no momento. O debate político atual é tão ordinário que nem nomes para lem­brar temos.

O que reputo como impor­tante é que saiamos deste dueto de uma pro­posta só. A pro­posta do atraso.

Até fin­gem que são pro­postas diver­sas mas no fundo, tem o mesmo viés e não apon­tam para lugar algum que de fato inter­esse aos cidadãos, aos jovens, aos sen­hores e sen­ho­ras, pais de famílias que pre­cisam fechar as con­tas no final do mês.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

CAFETEIRA E SAR­NEY: O QUE DEIXARAM DE DIZER.

Escrito por Abdon Mar­inho

CAFETEIRA E SAR­NEY: O QUE DEIXARAM DE DIZER.

Por Abdon Mar­inho.

EXTINTO o ex-​governador Epitá­cio Afonso Pereira Cafeteira, às vésperas de com­ple­tar seu 94º aniver­sário, no último 13 de maio, não foram pou­cas as man­i­fes­tações que rece­beu dos ami­gos sin­ceros e dos opor­tunistas – sem­pre pre­sentes nes­tas horas na expec­ta­tiva de reti­rar alguma van­tagem das exéquias fúne­bres.

Em se tratando do Maran­hão, como não pode­ria deixar de acon­te­cer, a visão da morte e do morto é retratada con­forme o inter­esse do freguês ou o lado politico do autor da per­oração: se con­tra ou a favor de Sar­ney.

O apreço aos fatos, a ver­dade e a história pouco interessa.

O próprio ex-​presidente embar­cou nesta visão dicotômica das coisas.

Ao fazer um belo texto de elo­gio ao morto – como con­vém as boas regras de con­vivên­cia –, fê-​lo não ape­nas ocul­tado os defeitos do morto, até porque os mor­tos não têm defeitos, mas, sobre­tudo, ocul­tando os seus próprios defeitos e a sua par­tic­i­pação na história.

E, assim agindo, deixou de col­her o mais deli­cioso dos fru­tos: o recon­hec­i­mento. Este é o defeito da história con­tada em fatias con­forme as con­veniên­cias dos contadores.

O ex-​presidente traz a luz os primeiros anos na política de ambos: Cafeteira e a sua e, após con­sid­er­ações diver­sas sobre as várias eleições, encerra por colo­car, com justiça, o morto no pan­teão dos grandes políti­cos maran­henses, como Clodomir Mil­let, Alexan­dre Costa, La Rocque, Neiva Mor­eira, Odylo Costa, filho, Manuel Gomes, Nunes Freire, Luís Rocha, Alarico Pacheco, Lino Machado, Gené­sio Rêgo, Clodomir Car­doso, Satu Belo e tan­tos out­ros, a quem, nas suas palavras, o tempo, tam­bém, consumiu.

Em tom saudoso exalta a velha polit­ica de um tempo em que o ódio e as perseguições ainda não con­sumira as relações. Seria uma alusão aos dias atuais?

Com o igual propósito de hom­e­nagear o ex-​governador, no dia seguinte à pub­li­cação do texto de Sar­ney, foi a vez do Jor­nal Pequeno, em matéria do não menos com­pe­tente jor­nal­ista Manoel San­tos Neto, trazer a luz um dos episó­dios mais nefas­tos da história polit­ica do Maran­hão: o Caso Reis Pacheco.

O jor­nal­ista desnuda a trama artic­u­lada pelo ex-​presidente e senador da República José Sar­ney, para incrim­i­nar o senador Cafeteira com uma denún­cia falsa no Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, onde um falso irmão, de um falso morto, apontando-​o como o respon­sável pela morte de “Reis Pacheco” que, anos antes teria se envolvido num aci­dente de trân­sito que viti­mou seu sogro, o con­sel­heiro Hilton Rodrigues.

A trama tem as indeléveis dig­i­tais do ex-​presidente que uma sem­ana antes do segundo turno das eleições de 1994, em 06 de novem­bro, escreveu o famoso artigo “Liber­dade e Reis Pacheco” –que pode ser lido na edição do Jor­nal Pequeno –, onde ques­tiona o slo­gan da cam­panha de Cafeteira: Liber­dade. Dizendo que o can­didato que­ria a liber­dade para expulsá-​lo do Maran­hão, pro­mover desvios. E vai além, com a insin­u­ação enviesada de que Cafeteira teria feito “sumir” com Reis Pacheco.

Naque­les últi­mos dias de cam­panha os coor­de­nadores tendo Ader­son Lago, can­didato a dep­utado e Juarez Medeiros, can­didato a vice-​governador na chapa de Cafeteira, tiveram que se des­do­brar entre São Luís, Belém e Macapá, para encon­trar o falso morto e des­man­char a maior história de fraude da política maran­hense, na qual se ignorou todos os lim­ites, até então con­heci­dos.

Quando con­seguiram apu­rar e com­pro­var toda armação só restava o último pro­grama de pro­pa­ganda eleitoral.

No dia de sua veic­u­lação, pas­sando a limpo toda história, só tín­hamos a notí­cia de que emis­sora de tele­visão respon­sável saíra do ar em diver­sos lugares, noutros foi a ener­gia que fal­tou. Naquela noite, e no dia seguinte, choveram os tele­fone­mas infor­mando isso. Lem­brando que não haviam celu­lares, a inter­net engat­in­hava, nem se usava ainda. A comu­ni­cação era toda através do rádio, tele­visão e tele­fones fixos.

Além do res­gate do assunto feito pelo Jor­nal Pequeno na edição já referida, um outro doc­u­mento é impre­scindível para a com­preen­são do assunto: o mem­o­rável dis­curso feito pelo dep­utado estad­ual Juarez Medeiros, na Assem­bléia Leg­isla­tiva do Maran­hão.

O dis­curso apel­i­dado de “Sar­ney é Mar­ginal”, onde o dep­utado diz ser o senador e ex-​presidente um mar­ginal, no sen­tido de, à margem da lei, ter sido capaz de urdir uma trama que nem os mais reno­ma­dos escritores e cineas­tas tin­ham ousado no campo fic­cional e ele colo­cara em prática.

Muito antes da mod­ernidade ter nos trazido o con­ceito do que hoje se chama “fake News”, um quarto de século antes, um ex-​presidente, escritor, senador da República, não ape­nas o con­hecia como já o exerci­tava com inve­jável desen­voltura e falta de pudor.

Poder-​se-​ia dizer que o ex-​presidente é uma espé­cie de bisavô das tais “fake News”, tão em voga nos nos­sos dias.

Uma mácula, mas, bem mais do que isso, parte da história política do estado.

Entre­tanto a história de Cafeteira e de Sar­ney não pode ser exam­i­nada ape­nas tendo como refer­ên­cia o nar­rado pelo ex-​presidente em seu artigo-​homenagem ou tendo com refer­ên­cia o res­gate feito pelo jor­nal­ista Manoel San­tos Neto, do Jor­nal Pequeno, ela é bem maior.

Pre­cisa con­sid­erar as condições políti­cas do Brasil que per­mi­tiu a união dos dois nas eleições de 1986, aquela que na visão de Ader­son Lago, foi a mel­hor cam­panha da qual par­ticipou, um ver­dadeiro “pas­seio”, onde tudo se tinha com abundân­cia e a tempo; ou as condições em que ocor­reu a rup­tura em 1990.

Lem­bro que quando tra­bal­hava na cam­panha de 1994, mais de uma vez ouvi Cafeteira dizer que cumprira com o com­pro­misso que assumira em 1986. E acres­cen­tava: — eu, com mais de oitenta por cento de aprovação pop­u­lar, estava lá, na descida da rampa do Palá­cio do Planalto, com Sar­ney, que tinha mais oitenta por cento de rejeição.

Depois da eleição de 1998, não lem­bro de ter encon­trado muito com o ex-​senador Cafeteira, sabia dele, ape­nas através de ami­gos comuns, como Chico Branco, Ader­son Lago, Bened­ito Ter­ceiro e out­ros.

Não par­ticipei ou soube como se deu a aprox­i­mação entre Cafeteira e Sar­ney nas eleições de 2006, quando elegeu-​se Senador na chapa da ex-​adversária de duas cam­pan­has, Roseana Sar­ney.

Voltei a encontrá-​lo quando me procurou para patroci­nar sua defesa na Justiça Eleitoral.

Os que que­riam tomar-​lhe o mandato, pelo que recordo, ale­gavam que ele não gas­tara quase nada para eleger-​se, que o vol­ume de recur­sos despendi­dos eram incom­patíveis com o vol­ume de votos obti­dos.

Só não con­hecendo o velho Cafifa, nem aquilo tinha gas­tado, fiz­era a cam­panha inteira na “carona” da cam­panha majoritária de gov­er­nador.

O engraçado é que naquela eleição tra­bal­hei no grupo oposto ao que Cafeteira se encon­trava, no primeiro turno na cam­panha de Ader­son e no segundo turno, dando alguma assistên­cia a cam­panha de Jack­son Lago, que veio a gan­har a eleição, além de prestar alguma asses­so­ria ao gov­er­nador de então, José Reinaldo Tavares.

Ape­sar disso, um dia, pela manhã, recebo uma lig­ação de Chico Branco: — Estou indo aí com o chefe. Ele quer falar con­tigo.

Era para que assumisse a sua defesa.

Em princí­pio não entendi bem. Eu estava “do outro lado”. Com ele, com Sar­ney, Roseana, estavam uma infinidade de advo­ga­dos de bril­han­tismo inques­tionável. Até me per­gun­tei a razão de me escol­her.

Quando chegou, desfez-​se a dúvida, disse-​me, com todas as letras: — meu filho, eu con­fio em você para me defender.

Já sabia o assunto é o que dizer ficamos con­ver­sando e tro­cando ideias sobre vários assun­tos. Não lhe per­gun­tei porque tinha ido para o lado do ex-​presidente Sarney.

Entre­tanto, entre uma con­versa ou outra, acabou por dizer que estava bem com o grupo do ex-​presidente e que resolvera esque­cer e per­doar as coisas que acon­te­ce­ram no pas­sado.

Não me recordo se nesta ou noutra opor­tu­nidade, contou-​me que agrade­cia a Sar­ney por ter sido solidário a ele por conta de uma enfer­mi­dade sofr­era. Disse algo, mais ou menos, com estas palavras: — meu filho, eu estava mor­rendo, encontrava-​me nu, enro­lado com um lençol, sobre uma maca de hos­pi­tal e o Sar­ney apare­ceu lá para segu­rar minha mão.

Não sei se nos últi­mos anos o ex-​senador man­tinha o mesmo nível de relação em relação ao ex-​presidente – com o fim do processo e agrava­mento do seu quadro de saúde, perdemos o con­tato –, mas naquele momento em que esteve comigo, seu sen­ti­mento era de amizade e reconhecimento.

Este, tam­bém, é um fato para a história.

Ambos os mis­sivis­tas, o próprio Sar­ney e o jor­nal­ista do Órgão das Mul­ti­dões, talvez por igno­rar ou por con­veniên­cia, abor­daram ape­nas frag­men­tos de uma história bem mais ampla.

Abdon Mar­inho é advo­gado.