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O RETRATO DE UM BREVE FRACASSO.

Escrito por Abdon Mar­inho

O RETRATO DE UM BREVE FRACASSO.

Por Abdon Marinho.

TENDO PAS­SADO mais de uma sem­ana do fim da greve dos cam­in­honeiros a mídia informa que o abastec­i­mento de hor­tifruti­granjeiros na cap­i­tal e nas prin­ci­pais cidades do estado já se encon­tra quase nor­mal.

Emb­ora colo­quem as coisas nat­u­ral­i­dade, como se o reabastec­i­mento fosse con­se­quên­cia nor­mal do final do movi­mento pare­dista quando isso não é ver­dade. Pelo menos esconde uma real­i­dade que não querem ou não queiram dis­cu­tir.

Vamos a ela.

No dia seguinte a defla­gração da greve fui a Caru­ta­pera de onde retornei ape­nas na quinta-​feira. Pois bem, tanto na ida quando na vinda, não vi nen­hum ponto de inter­rupção do trân­sito nas vias estad­u­ais e fed­erais. Tam­bém, salvo um ou outro, não tive­mos notí­cia de blo­queio de vias noutras partes do estado.

Outra con­sid­er­ação é que já no fim de sem­ana seguinte ao iní­cio da greve o gov­erno anun­ci­ava, em tons de vitória, que estava con­seguindo man­dar com­bustível para os pos­tos da cap­i­tal e do inte­rior.

As asserti­vas acima sus­ci­tam uma inda­gação e redunda numa constatação.

A per­gunta é: por que, decor­ri­dos tan­tos dias da total des­ob­strução das vias (se é que foram blo­queadas algum dia no estado) o abastec­i­mento nas prin­ci­pais cidades do Maran­hão não se normalizou?

A con­statação, em resposta à inda­gação é : porque o Maran­hão estar pro­duzindo a mesma coisa que pro­duzia no gov­erno ante­rior, ou seja, nada.

Há quase dez anos faço o desafio da CEASA aos gov­er­nantes e can­didatos. O desafio que é eles, gestores ou políti­cos se diri­jam aquele cen­tro de dis­tribuição para con­statarem, com os próprios olhos, a origem dos pro­du­tos que abaste­cem a cap­i­tal.

O mesmo desafio vale tam­bém para o inte­rior. Hoje não ape­nas a cap­i­tal ou os maiores cen­tros, mas, quase a total­i­dade dos municí­pios são abaste­ci­dos de “hor­tifruti” vin­dos de out­ros esta­dos. Os empresários vão bus­car na Bahia, no Ceará e, até mesmo, no Piauí esses pro­du­tos para dis­tribuirem pelos municí­pios maran­henses.

Vejam o quão absurda é esta situ­ação. Temos um estado dos mais agricultáveis, ainda com água abun­dante, mas que não pro­duz nada e tem que impor­tar quase tudo que con­some.

Out­ros esta­dos do nordeste em situ­ação bem infe­rior a nossa, em ter­mos de recur­sos nat­u­rais, pro­duzem de tudo. Até uvas, já se pro­duz em escala indus­trial nos esta­dos do semi­árido, inclu­sive para expor­tação enquanto o Maran­hão vem regredindo na sua pro­dução ao longo dos anos.

A crise, provo­cada pela greve dos cam­in­honeiros, desnudou a nossa ver­gonhosa isso. Não haviam blo­queios nas estradas maran­henses que impedis­sem a chegada de pro­du­tos nas gôn­dolas dos super­me­r­ca­dos ou nas ban­cas das feiras. O desabastec­i­mento se deu – e ainda não estar nor­mal –, porque todos (ou quase todos) os pro­du­tos con­sum­i­dos vêm de out­ros esta­dos. Esta é a dura real­i­dade.

O Maran­hão não pro­duz fru­tas, não pro­duz ver­duras; não pro­duz, nem mesmo, hor­tal­iças. O din­heiro que dev­e­ria ficar no bolso dos cidadãos maran­henses vai for­t­ale­cer a econo­mia dos pro­du­tores da Bahia, do Ceará, de Per­nam­buco e do Piauí.

Será que os gov­er­nantes maran­henses – e não ape­nas os atu­ais –, acham razoável que um estado com tan­tas condições favoráveis não pro­duza nada? Será que não ficam con­strangi­dos em saber que batata, tomate, cebola, laranja, banana, limão, abób­ora, melan­cia, aba­caxi, pimen­tão, couve e tudo mais, até mesmo cheiro-​verde, que pode­riam ser pro­duzi­dos por aqui ten­ham de ser impor­tadas de out­ros esta­dos? Será que não sen­tem ver­gonha pelo fato da nossa pop­u­lação vir a mor­rer se, por­ven­tura, algum dia fecharem as fron­teiras estaduais?

Na atual quadra, numa hipotética situ­ação de fecharem as fron­teiras, isso acon­te­ceria. Infe­liz­mente o Maran­hão, a despeito de tudo que falamos ao longo dos anos não tem pro­dução em escala para ali­men­tar sua pop­u­lação. Arrisco dizer que não tem pro­dução nen­huma.

A agri­cul­tura famil­iar não con­segue pro­duzir o sufi­ciente para a sub­sistên­cia dos seus próprios inte­grantes.

Os pro­gra­mas de incen­tivo esta­cionaram no tempo ou ficaram no campo das boas intenções nunca con­cretizadas e os tra­bal­hadores não pos­suem estí­mu­los, dis­posição ou assistên­cia sufi­ciente para pro­duzirem qual­quer coisa. Não pas­sam de pro­gra­mas para “inglês ver”, sem qual­quer relevân­cia para a econo­mia.

A greve rev­elou que a política des­ti­nada a fix­ação do homem no campo com pro­dução para sub­sistên­cia e para o abastec­i­mento local e cir­cun­viz­in­hos, pas­sa­dos três anos e meio desde o iní­cio do atual gov­erno, não se con­cretizou. Emb­ora ten­ham cri­ado até uma sec­re­taria de estado com esta finalidade.

Nos últi­mos anos tenho per­cor­rido as estradas do Maran­hão e desde muito tempo tenho aler­tado que a qual­quer hora do dia que passé nes­tas estradas vejo dezenas de pes­soas ded­i­cadas ao ócio, quando deviam está tra­bal­hando.

Uma grande parcela dos municí­pios, senão todos, têm a econo­mia vin­cu­lada aos pro­gra­mas de dis­tribuição de renda pública, as famosas “bol­sas”; a receita vin­cu­lada as aposen­ta­do­rias e pen­sões; as receitas dos servi­dores públi­cos; e as trans­fer­ên­cias con­sti­tu­cionais, FPM, ICMS. FUN­DEB, SUS, etc.

Fora destas, não exis­tem out­ras, os municí­pios estão cada vez mais pobres. Se por qual­quer motivo, um dia ces­sarem estas receitas, os maran­henses mor­rerão de fome.

Na ver­dade, vive­mos uma situ­ação de extrema pobreza. O Maran­hão vive um cres­cente empo­brec­i­mento, não é de hoje, são décadas de deses­tí­mulo aos arran­jos pro­du­tivos locais, de aban­dono em que as políti­cas públi­cas são feitas “da boca para fora”.

Sou do inte­rior, meu pai criou mais de uma dezena de fil­hos com fruto do seu tra­balho no campo, éramos pobres, mas na nossa casa nunca fal­tou o arroz, o fei­jão, o milho, a macax­eira, a man­dioca, a abób­ora, bananas de todas as espé­cies, man­gas, as mais vari­adas, laran­jas, tan­jas; nunca fal­tou capões no quin­tal, gal­in­has, por­cos, cabras e mesmo umas vaquin­has para pro­duzir o leite que con­sumíamos.

Não era ape­nas meus pais, eram meus tios, meus viz­in­hos, todos da comu­nidade. Não havia família que não pos­suísse pro­dução de, pelo menos, arroz, fei­jão, milho, sufi­cientes para durar no mín­imo dois ou três anos, na even­tu­al­i­dade da safra não ser muito boa num ano.

Difer­ente de hoje, as pes­soas não viviam nas por­tas dos políti­cos ou das prefeituras. As pes­soas tin­ham ver­gonha de pedir esmola ou de viver dos favores alheios.

Não existe mais nada disso no inte­rior do Maran­hão. O que vemos é o aban­dono e pes­soas com idade de tra­balho, com a cara para cima esperando as esmo­las gov­er­na­men­tais e, tam­bém, dos políti­cos ine­scrupu­losos.

Hoje a pro­dução agrí­cola está cen­trada no agronegó­cio, nas mono­cul­turas como a da soja. Outro dia vi o gov­erno fes­te­jando os bons números desta pro­dução. Nada con­tra, mas essa ativi­dade pouco ou nada depende da ação gov­er­na­men­tal, bem difer­ente da inex­is­tente agri­cul­tura famil­iar.

O gov­erno fes­teja um sucesso que não é seu e silen­cia ante o fra­casso das demais ativi­dades agrí­co­las que dev­e­ria incen­ti­var e pro­mover.

Uma per­gunta der­radeira se faz necessária: até quando ter­e­mos de con­viver com a falta de plane­ja­mento, ini­cia­tiva, com­petên­cia, causas da ampli­ação da mis­éria do nosso estado e nossa gente?

Abdon Mar­inho é advo­gado.

A DEMOC­RA­CIA SE FAZ COM A PAR­TIC­I­PAÇÃO DE TODOS.

Escrito por Abdon Mar­inho

DEMOC­RA­CIA SE FAZ COM PAR­TIC­I­PAÇÃO DE TODOS.

Por Abdon Marinho.

GOSTO muito de con­ver­sar com pes­soas mais expe­ri­entes que eu, que viveram out­ras situ­ações. Acho muito bom saber os “cau­sos” da polit­ica. E, tanto faço que às vezes acabo por me tornar par­ticipe de alguns deles.

Cor­ria o ano de 1998, a eleição já se aviz­in­hava.

Certa vez indaguei a um sen­horz­inho – já ido nos anos –, em quem votaria.

–– Doutor, eu votarei na Roseana. Respondeu-​me.

–– E para dep­utado estad­ual? Perguntei.

–– Ah, doutor, para dep­utado estad­ual eu votarei no Ader­son Lago.

Sem enten­der muito bem as respostas quis saber o propósito de votar em Roseana Sar­ney e em Ader­son Lago, aquela altura o maior – e mais com­pe­tente –, adver­sário do grupo Sar­ney e, tam­bém, coor­de­nador da cam­panha do senador Cafeteira no estado. Eu mesmo, na condição de advo­gado de Cafeteira e de Ader­son já tinha per­dido as con­tas das ações e rep­re­sen­tações feitas con­tra a gov­er­nadora can­di­data à reeleição.

Ao meu sen­tir não fazia muito sen­tido, mas o sen­horz­inho ensinou-​me.

–– Ah, doutor, vou votar na Roseana porque tenho “sim­pa­tia” por ela e no Ader­son Lago para ser o “cão de guarda” dela, vigiar tudo que fizer, como já vem fazendo.

Há vinte anos, com sim­pli­ci­dade, aquele sen­horz­inho me dava uma lição de democ­ra­cia. Qual seja, o quando é impor­tante que os gov­er­nantes sejam “vigia­dos” pelos opos­i­tores e que sejam insta­dos à prestarem con­tas dos atos por ocasião das eleições reg­u­lares.

Não é saudável a democ­ra­cia que eleições ocor­ram com can­di­dat­uras “única” ou para “constar”.

Ape­nas regimes dita­to­ri­ais ocor­rem eleições com cha­pas úni­cas, com cercea­mento da liber­dade de par­tic­i­pação dos can­didatos. Assim foi na Líbia, de Kadafi, no Iraque, de Sad­dam; assim, ainda é, infe­liz­mente, na Cor­eia do Norte, de Kim Jong-​un, na Cuba, dos Castro/​Ruiz; na ditadura venezue­lana, de Maduro, nos mod­e­los autoritários chinês e russo.

Ainda nos países onde as pes­soas foram chamadas a irem as urnas, a democ­ra­cia já foi de tal forma frag­ilizada que não merece ser chamada por tal nome. No Iraque ou Líbia, quem não lem­bra das eleições em que os dita­dores obtiveram quase cem por cento dos votos?

E, agora mesmo, na Venezuela, quem em sã con­sciên­cia leva a sério o resul­tado das últi­mas eleições?

Não acred­ito em democ­ra­cia com par­tidos úni­cos, sem oposição, sem liber­dade de imprensa ou de opinião, onde o poder seja usado para destruir a legit­im­i­dade que lhe foi con­ferida através da von­tade pop­u­lar.

Assim, quando saudamos como pos­i­tivo o ingresso de out­ros con­cor­rentes na dis­puta eleitoral maran­hense não quer dizer que este­jamos “con­tra” ou fazendo oposição aos gov­er­nantes, ape­nas que é saudável para a democ­ra­cia que hajam out­ros na dis­puta, de prefer­ên­cia com­pet­i­tivos, com pro­postas obje­ti­vas e claras.

Se há a chance do atual e o gov­erno ante­rior faz­erem com­par­a­tivos sobre o que fiz­eram cada um, isso é muito bom, o cidadão/​eleitor terá a chance de recon­hecer um ou outro como o que entende de mel­hor para o futuro.

Mais, mel­hor ainda, se sur­girem out­ras alter­na­ti­vas, ter­ceira, quarta ou quin­tas vias na dis­puta.

A sucessão maran­hense cam­in­hava perigosa­mente para uma dis­puta que, a despeito dos pregam os atu­ais gov­er­nantes – de que são democ­ratas –, para a negação dos que sejam estes con­ceitos. Cam­in­hava (e tra­bal­havam arden­te­mente) para uma dis­puta de can­di­datura única – ou com can­didatos “para con­star” –, algo que não é salu­tar para a democ­ra­cia em lugar nen­hum do mundo.

As condições obje­ti­vas do hege­monismo estavam postas: mais de uma dezena de par­tidos “con­ven­ci­dos” do pro­jeto, inclu­sive aque­les com ideário e pro­gra­mas antagôni­cos ao do atual gov­er­nante; cole­tivos da sociedade civil apáti­cos, indifer­entes ou apáti­cos; uma mídia extrema­mente dócil e colab­o­ra­tiva com o dis­curso ofi­cial; recur­sos públi­cos con­stru­indo uma ideia de “fim de história”, de que, final­mente, o Maran­hão encon­trara o seu destino.

Ape­nas uma cir­cun­stân­cia mil­i­tando con­tra os atu­ais deten­tores do poder: a obsessão dos mes­mos em arras­tar a dis­puta para os tri­bunais, algo abso­lu­ta­mente inimag­inável para quem dis­põe de condições tão favoráveis, con­forme insis­tem em pas­sar a ideia de uma vitória já no primeiro turno para a pat­uleia.

Reiterando o que já externei noutras ocasiões, em tan­tos anos de mil­itân­cia no dire­ito eleitoral não me recordo de ter visto um can­didato que vende a ideia de uma vitória acacha­pante provo­car tan­tas ações judi­ci­ais. E não são ape­nas de adver­sários, o que se pode­ria deb­itar na conta da dis­puta, mas, tam­bém, do Min­istério Público Eleitoral, encar­regado de fis­calizar a lisura do pleito.

A leitura é sim­ples: quem está cor­rendo na frente não tem razões ou motivos para ficar provo­cando ques­tion­a­men­tos sobre reg­u­lar­i­dade do pleito. Ao atrair tan­tas ações e recla­mações de adver­sários e do MPE, passa-​se a ideia de que não estaria tão bem na dis­puta, até porque, como é sabido por todos, são pro­fun­dos con­hece­dores da leg­is­lação eleitoral, não iriam cor­rer tan­tos riscos “de graça”.

Os desac­er­tos, decerto, rev­ela inse­gu­rança com relação ao resul­tado do pleito, moti­vando que out­ros can­didatos se apre­sen­tem para a dis­puta, den­tre as quais a ex-​governadora Roseana Sar­ney e, segundo dizem, o man­i­festo inter­esse em dis­putar do dep­utado estad­ual Eduardo Braide, que vem embal­ado da eleição para prefeito da capital.

O surg­i­mento de novos con­tende­dores, além dos que já tin­ham se man­i­fes­tado e lançado suas pré-​candidaturas, como Roberto Rocha, Ricardo Murad, Maura Jorge – e tan­tos out­ros que ainda não se apre­sen­taram –, qual­i­fica o debate político eleitoral, quando, esper­amos, saia desta inter­minável dico­to­mia Sarney/​anti-​Sarney.

Isso é o que se espera de todos os can­didatos, emb­ora saibamos que tanto o can­didato à reeleição, que pos­sui como ativo politico basi­ca­mente o dis­curso anti-​Sarney, diante da escassez de real­iza­ções enquanto a ex-​governadora vai defender seu legado já que, por motivos óbvios, não pode fugir da própria origem.

Caberá aos demais can­didatos a rup­tura com essa dico­to­mia do atraso e apre­sentarem pro­postas que, de fato, apon­tem out­ros rumos para o Maranhão.

Esta é a importân­cia de ter­mos mais can­didatos: que eles apre­sen­tem pro­postas além do dis­curso maniqueísta do con­tra ou a favor.

A polit­ica que ver­dadeira­mente faz por mere­cer o nome de Polit­ica com “P” maiús­culo, não se faz com o debate em torno de nomes, mas sim em torno de pro­postas.

Infe­liz­mente, já se chegando ao primeiro quarto do século 21, insiste-​se em fazer a polit­ica em torno de pes­soas. Ainda hoje se fala em sar­ney­ismo, roseanismo, din­ismo.

Na ver­dade é como se o Maran­hão estivesse esta­cionado no século 17, com a polit­ica ainda cen­tral­izada nas pes­soas. Não tendo chegado, sequer. a fase gru­pos, quiçá, de par­tidos políticos.

Em um quadro que já nos pare­cia dan­tesco, pelas razões acima, chegou-​se a cog­i­tar can­di­datura única ou com can­didatos para “con­star”, sem debates, sem dis­cursões sobre a situ­ação do estado – como se ela não fosse preocupante.

Assim é que vejo como pos­i­tivo para o avanço nas con­quis­tas democráti­cas, as can­di­dat­uras a reeleição do gov­er­nador Flávio Dino, da ex-​governadora Roseana Sar­ney, do senador Roberto Rocha, do dep­utado estad­ual Eduardo Braide, da ex-​prefeita Maura Jorge e de quan­tos mais quis­erem con­cor­rer e con­tribuir com o debate politico.

O Maran­hão tem prob­le­mas demais, não podemos nos dar ao luxo de ter­mos can­didatos de menos.

A democ­ra­cia se faz com a par­tic­i­pação de todos.

Abdon Mar­inho é advogado.

O MITO DA PRISÃO POLÍTICA.

Escrito por Abdon Mar­inho

O MITO DA PRISÃO POLÍTICA.

Por Abdon Marinho.

QUANDO a prisão do ex-​presidente Lula com­ple­tou trinta dias, li e me sen­si­bi­lizei com uma tocante carta que suposta­mente lhe teria sido man­dada pelo ex-​deputado João Paulo Cunha, que fora pres­i­dente da Câmara dos Dep­uta­dos e, como out­ros petis­tas, envolvido em escân­da­los de cor­rupção e con­de­nado pelo Supremo Tri­bunal Fed­eral – STF, na Ação Penal 470, pop­u­lar­mente con­hecida como “men­salão petista”.

A carta do ex-​deputado sensibilizou-​me não pelo con­teúdo em si, mas por nar­rar uma situ­ação que pode­ria ter ocor­rido. O Lula pode­ria ter sido este mito, este herói. Mas não é, pelo con­trário, é alguém que frus­tou mil­hões de brasileiros que nele con­fiou. Se man­tém ainda apoio pop­u­lar é pelo descrédito da classe política ele mesmo desmor­al­i­zou.

Desde que o ex-​presidente foi denun­ci­ado e, sobre­tudo, depois que con­de­nado e preso, após con­fir­mação do decreto con­de­natório ser con­fir­mado em segunda instân­cia, os seus ali­a­dos ten­tam pas­sar a ideia, den­tro e fora do país, de que o sen­hor Lula é vítima de um erro judi­ciário ou que fora con­de­nado para sat­is­fazer a sanha de cruéis algo­zes que não o querem na dis­puta eleitoral deste ano.

Os números con­tra os quais lidam os defen­sores do ex-​presidente são acacha­pantes. No bojo da Oper­ação Lava-​Jato, no qual encontra-​se inserido, já ocor­reram, até o momento quase 200 con­de­nações, con­tra mais de cento e vinte pes­soas e que con­tabi­lizam perto de um mil e nove­cen­tos anos de pena, por crimes diver­sos, den­tre os quais cor­rupção, lavagem de din­heiro, for­mação de orga­ni­za­ção crim­i­nosa. Só os crimes denun­ci­a­dos envolvem o paga­mento de mais de R$ 6,4 bil­hões de reais, out­ros R$ 11 bil­hões são alvos de recu­per­ação através de acor­dos de colab­o­ração. Até aqui, o total de ressarci­mento solic­i­tado pelo MPF já somam R$ 38,1 bil­hões.

Não se tem notí­cia em lugar nen­hum do mundo, em qual­quer tempo da história, de um esquema de cor­rupção tão vasto e sofisti­cado. A máquina de cor­rupção detec­tada, e que a Oper­ação Lava Jato tenta pôr fim, se ali­men­tava de recur­sos públi­cos. Din­heiro que dev­e­ria ir para esco­las, saúde, segu­rança, infraestru­tura, eram desvi­a­dos pelos e para os cor­rup­tos num sis­tema de troca e manutenção da quadrilha encaste­lada no poder.

Ape­nas no primeiro processo em que o ex-​presidente foi con­de­nado (ainda têm out­ros), resta com­pro­vada na sen­tença judi­cial, con­fir­mada e ampli­ada em segunda instân­cia, que o mesmo, den­tro de toda essa engrenagem, foi ben­e­fi­ci­ado no esquema de cor­rupção.

Os crimes que fun­daram sua con­de­nação estão dev­i­da­mente iden­ti­fi­ca­dos e com­pro­va­dos numa sen­tença min­u­ciosa que conta com mais de duzen­tas lau­das. Tal sen­tença pas­sou pelo escrutínio de uma segunda instân­cia que, não ape­nas a con­fir­mou, mas, tam­bém, a ampliou.

As demais instân­cias, Supe­rior Tri­bunal de Justiça — STJ e o Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, não exam­i­nam mais os fatos, ape­nas as for­mal­i­dades proces­suais. E, nas vezes em foram deman­dadas a opinarem sobre o processo especí­fico do ex-​presidente, nos infind­áveis inci­dentes sus­ci­ta­dos pela defesa – antes dos recur­sos próprios –, não enx­er­garam haver qual­quer equívoco no mesmo ou descon­formi­dade com a leg­is­lação pátria.

São necessários estes esclarec­i­men­tos diante da cam­panha que o ex-​presidente e seus ali­a­dos vêm fazendo no Brasil e, prin­ci­pal­mente, no exte­rior, de que é um pri­sioneiro político. Nada mais falso, como já demon­strado acima.

Ainda assim, fazendo uso de diver­sas enti­dades e movi­men­tos soci­ais, muitos deles sub­sidi­a­dos, com recur­sos públi­cos, ven­dem essa falsa nar­ra­tiva da prisão política, ofend­endo e desmere­cendo todo o Judi­ciário brasileiro e mesmo nosso país, como se fôsse­mos uma republi­queta de bananas.

Agora mesmo tomei con­hec­i­mento que uma tal “nata” da int­elec­tu­al­i­dade mundial teria assi­nado um man­i­festo pela liber­dade do preso comum Luiz Iná­cio Lula da Silva. Soube tam­bém que um artista dos Esta­dos Unidos fez o mesmo. Antes alguns ex-​dirigentes de out­ras nações assi­naram uma nota de sol­i­dariedade a ele. E que os petis­tas estariam “deses­per­a­dos” atrás de Obama para que tam­bém fizesse o mesmo.

Ini­cial­mente, entendo que essas man­i­fes­tações de int­elec­tu­ais não é algo que deva dar muito crédito. Estes int­elec­tu­ais são os mes­mos que estão silentes desde sem­pre à tragé­dia que vem acon­te­cendo na Venezuela; que nunca se man­i­fes­taram con­tra as prisões políti­cas em Cuba, inclu­sive as mais recentes; as vio­lações dos dire­itos humanos na China, no Laos e em tan­tos out­ros países. São e sem­pre foram omis­sos. Ou pior, muitas das vezes cúm­plices de ditaduras que ver­dadeira­mente vio­lam os dire­itos humanos.

Situ­ação bem difer­ente do que ocor­reu no Brasil onde o ex-​presidente, e todos os demais, que já foram con­de­na­dos no curso da Oper­ação Lava Jato com todas as garan­tias pre­vis­tas em lei.

Mas, ainda dando o crédito da dúvida a estes int­elec­tu­ais, fico, nos meus vagares, con­jec­turando se eles têm con­hec­i­mento de tudo que ocor­reu com o processo do ex-​presidente e de todos os demais con­de­na­dos; se sabem o quanto estas pes­soas “sagraram” dos cofres públi­cos; se sabem quan­tas cri­anças ficaram sem edu­cação; quan­tos pacientes ficaram sem saúde; e tan­tos out­ros males decor­rentes da corrupção.

Se o sen­hor Lula é um “preso político” todos os demais pre­sos já con­de­na­dos na Oper­ação Lava Jato tam­bém o são. Deve-​se a eles esten­derem o epíteto de “pre­sos políti­cos”. Ou será que pre­ten­dem “pinçar” o ex-​presidente em detri­mento de todos os demais?

Outra con­jec­tura que deve­mos fazer em relação aos “int­elec­tu­ais” que nada veem de errado em relação à Venezuela, só para citar o exem­plo mais gri­tante, teriam a mesma leniên­cia em relação à cor­rupção se se tratasse do seus países.

Será que sabem que por crimes idên­ti­cos, nos seus países as prisões ocor­rem de forma pre­ven­tiva, só per­mitindo respon­der em liber­dade medi­ante o paga­mento de altas fianças, pas­sando a cumprir pena tão logo ocorra a con­de­nação em primeira instân­cia.

Como ousam intrometer-​se nas decisões do judi­ciário brasileiro quando acham que está tudo per­feito no fun­ciona­mento dos seus países?

Quero acred­i­tar que estes “int­elec­tu­ais”, políti­cos e artis­tas descon­hecem em pro­fun­di­dade as cir­cun­stân­cias da con­de­nação do ex-​presidente e estão se deixando levar pela falsa nar­ra­tiva que seus defen­sores estão ten­tando pas­sar.

Noutra per­spec­tiva, acred­i­tam que o Brasil é uma republi­queta de bananas onde todo o Poder Judi­ciário cede a descabidas pressões exter­nas.

Con­cor­dar com tais pressões é admi­tir que o Brasil não pode exi­s­tir como nação soberana.

Ao meu sen­tir a pos­si­bil­i­dade do ex-​presidente ser solto só pode­ria se dar, se no cúmulo do absurdo, o Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, decidir que o cumpri­mento da pena a par­tir da con­fir­mação do decreto con­de­natório em segunda instân­cia é incon­sti­tu­cional e deter­mi­nar, de ofí­cio, a soltura de todos os con­de­na­dos do país que se encon­tram em tal situ­ação. Uma polit­ica de cadeias aber­tas para lib­erar cor­rup­tos, assas­si­nos, estupradores, etc.

Ainda no tema, e para encer­rar, recordo que tam­bém por ocasião do trigésimo dia do cumpri­mento da pena do ex-​presidente ocor­reu uma romaria à Apare­cida, pela sua liber­dade. Con­fesso que me inqui­etou tal fato pois o que querem os fer­vorosos católi­cos ao cla­marem, em sua defesa, por sua liber­dade, com pen­i­ten­cias e orações é o sen­ti­mento oposto do suce­dido com Jesus Cristo. Basta lem­brar que na primeira ten­ta­tiva para matar Jesus, Herodes, o rei dos Judeus, man­dou matar todas as cri­anças de Belém e seus arredores, com até dois anos de idade. E disse Mateus, 2:16: “Então, Herodes, vendo que tinha sido ilu­dido pelos magos, irritou-​se muito e man­dou matar todos os meni­nos que havia em Belém e em todos os seus con­tornos, de dois anos para baixo, segundo o tempo que dili­gen­te­mente inquirira dos magos”.

Restando a Lula só a mudança do entendi­mento sobre o cumpri­mento da pena em segunda instân­cia, pre­ten­dem, os nos­sos romeiros – e todos os demais defen­sores do ex-​presidente –, que se soltem todos os crim­i­nosos (nas mes­mas condições) para, assim, soltar o con­de­nado Lula.

Assim, creio, não haverá sal­vação… para o Brasil.

Abdon Mar­inho é advogado.