A MISÉRIA DE CADA UM.
Por Abdon Marinho.
O MARANHÃO se prepara para mais uma eleição estadual.
Independente do que venha acontecer; quem sejam os candidatos; quem vai ganhar ou perder; das propostas dos candidatos, uma coisa tenho por certo: mais uma vez a pauta da miséria tomará conta do debate político.
Tem sido assim desde que comecei a acompanhar o debate eleitoral estadual – quando ainda era era uma criança, no longínquo 1982.
Desde então em todas as eleições o tema da miséria tem assento garantido no debate. E não é sem razão: a despeito vivermos num dos estados mais ricos da federação, a nossa população ostenta índices africanos de miséria, com grande parte da população vivendo graças aos diversos programas sociais de distribuição de renda.
E assim, na capital ou no interior, temos milhões de maranhenses vivendo em condições indignas, em palafitas, casas de palhas e chão batido, cercadas como currais ou em barro, onde as famílias, crianças, jovens, adultos e idosos, não raro, padecem com a falta de comida.
O Maranhão vive outro eterno paradoxo de, sendo tão rico, exportar mão de obra escrava para o resto do país, inclusive para estados que não possuem as condições favoráveis que temos.
Os números da miséria no nosso estado foram, são e serão parte da nossa vergonha.
E Será sempre o maior entrave do desenvolvimento enquanto convivermos com uma classe politica que coloca seus interesses próprios à frente dos interesses da população.
Agora mesmo são divulgados, por instituições oficiais, que houve aumento no número de pobres no nosso estado e que, também, aumentou o número de desempregados.
Os dados da PNAD e IBGE são reais.
Não adianta tentar desmerecê-los.
Quem conhece o Maranhão atesta facilmente o que foi apontado nas pesquisas. Todos os dias vejo jovens e senhores das mais variadas áreas pedirem ou reclamarem da falta de emprego ou que não ganha o suficiente para fazer face as despesas com alimentação, transporte, gás e a manutenção de familiares. Muitos deixaram as escolas particulares, os planos de saúde. Muitos são os que não conseguem uma alimentação diária digna.
Não adianta dizer que a crise é nacional ou fruto de administrações anteriores. Não que estes fatos não estejam inter-relacionados, eles estão.
Qualquer um é capaz de identificar que a crise que assola o país se faz refletir também por aqui.
Qualquer um é capaz de identificar que os governos anteriores tem sua responsabilidade com a miséria do Maranhão.
Este não é o debate. O debate verdadeiro vai além disso.
O Maranhão foi a terra prometida que não se concretizou apesar de todas as condições favoráveis que sempre teve: recursos hídricos; Porto de qualidade; terras férteis; minerais diversos, etc.
Os retirantes das secas do resto do nordeste, nos anos 40, 50, 60 e 70, vieram cá acreditando em todo o potencial maranhense. E nada aconteceu! Mais de setenta anos depois, continuamos ostentando números africanos.
A responsabilidade por esse estado de coisas é de todos, como bem disse, em texto recente, o ex-governador José Reinaldo Tavares. Ou como dizia meu saudoso pai: “em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão”.
O grupo Sarney que comandou o estado por décadas tem responsabilidade pela miséria do nosso povo – e por isso não tem direito de criticar o aumento da mesma nos indicadores referidos –, assim como os demais governos que lhe fizeram oposição têm sua parcela de responsabilidade, inclusive o atual que, caminhando para a quadra final, não mostra medidas concretas capazes de apontar um rumo.
Sendo as suas medidas e iniciativas não muito diferentes daquelas dos seus predecessores. Talvez até pior em muitos aspectos.
Não faz muito tempo assisti a uma reportagem sobre o Estado de Israel.
O que aquele povo realizou em setenta anos, numa área deserta, menor que o Estado de Alagoas, com conflitos de todos os lados, tendo que investir massivamente em segurança, é algo para fazer corar de vergonha os governantes brasileiros e, sobretudo, os maranhenses. Tornou-se uma potência, a 32ª economia do mundo.
Mas não precisamos ir tão longe. O Ceará, aqui do lado, enfrentando, também situações tão adversas é outro exemplo de prosperidade. O que mais ouço é que o Ceará cresceu e se desenvolveu como um todo. E os números estão aí para mostrar. São polos e mais polos de desenvolvimento econômico, atraindo cidadãos de outros estados para irem lá comprar para revender ou investir.
Vejam, não faz muitas décadas aquele estado exportava mão de obra para o Maranhão, Pará, Amazonas. Hoje está recebendo seus filhos de volta e tantos outros de outras naturalidade.
Outro Estado que apresentou desenvolvimento invejável foi Pernambuco. Não apenas na capital, Recife, que muitos brasileiros, apontam como a Miami do Brasil, como também no interior. Isso tudo, em pouco tempo.
Estes são estados que aproveitaram – e que criaram condições de desenvolvimento –, com o pouco que tinham, foram atrás e fizeram acontecer.
Se são o sucesso que são hoje é porque seus governantes tiveram visões de futuro, sabiam o que queriam e como atingir seus objetivos.
Enquanto isso, o Maranhão “patinou” e continua a “patinar” no fim da fila do desenvolvimento, trocando lugar aqui e acolá, nos diversos indicadores, com Alagoas, pois até o Piauí, nos ultrapassou em quase tudo.
Os cidadãos maranhenses devem se perguntar como estados que até bem pouco tempo passavam por dificuldades extremas, exportando retirantes que fugiam da fome, apresentam uma situação bem melhor que a nossa no ranking de desenvolvimento econômico e social, enquanto o nosso estado, infelizmente, não só continua na “rabeira” como não apresenta boas expectativas de futuro com tantas condições favoráveis.
Lembro que os políticos do grupo Sarney, quando instados a se manifestarem sobre o crônico quadro de miséria, vinham com a velha desculpa das “razões históricas e culturais”. Teve até um que chegou a dizer que fazia parte da cultura dos maranhenses habitações cobertas de palha e feitas em adobe. Como se tamanha vergonha fosse justificável.
Desculpas bem parecidas são apresentadas pelos atuais donos do poder quando confrontados com a situação de aumento de pobreza, de desemprego e até de violência.
Primeiro tentam desqualificar os institutos de pesquisas, como se estes não fossem os mesmos que sempre embasaram as críticas ao grupo Sarney.
Depois vêm com a surrada desculpa da “herança maldita”, que o quadro é fruto de governos anteriores ou do quadro nacional.
Sem desprezar tais justificativas, as mesmas não passam de desculpas. Lembro que no fim década de oitenta e começo da de noventa, já no primeiro governo, Tasso Jereissati, do Ceará, apresentava um rumo para o seu estado, projeto de desenvolvimento econômico e social. Lembro que o salto que deu Pernambuco no único mandato de Eduardo Campos.
Forçoso reconhecer que não tivemos o mesmo comprometimento por aqui, apesar de todas as condições, recursos naturais e representatividade política, com presidente da República, Ministros de Estado, e tudo mais. Faltou e ainda falta, políticos que enxerguem além dos próprios interesses – com as exceções de sempre a justificar a regra.
Mesmo o atual governo nascido com a promessa de fazer o estado avançar – conforme os números mostram –, não apresenta o resultado esperado.
Não é que tenhamos uma caveira de burro enterrada por aqui – até devemos ter mais de uma –, o que quer me parecer é que os nossos governantes sempre viram na representação política nada além do “poder pelo poder” e uma forma de galgarem outras posições.
Por conta disso, não conseguem fazer governos de continuidade ou valorizar as iniciativas de quaisquer outros que não estejam sob o mando do governante de plantão. Situação que parece ter piorado na atualidade.
Um dos exemplos mais claros que tenho disso é o projeto do ZEMA – Zona de Exportação do Maranhão, este, ao meu sentir, um projeto que poderia elevar a economia estadual de patamar, colocando-a em condições de igualdade com Singapura ou Hong Kong, na Ásia – temos todas as condições para isso –, entretanto, como parte de uma iniciativa de alguém de faz oposição ao atual governador, o senador Roberto Rocha, não se viu e não se vê nenhum empenho dos governistas em encampar e lutar pelo projeto para fazê-lo acontecer.
O outro exemplo, este em menor escala, mas com significância, é a indiferença dos atuais governantes as iniciativas do ex-governador e deputado federal José Reinaldo Tavares em relação ao Complexo Aeroespacial de Alcântara. A ideia é muito boa, trará desenvolvimento para o estado e, principalmente, para aquela região, apesar disso não vemos o empenho do governo e somar para que isso ocorra.
É assim, meus senhores, que o Maranhão continua afundado na miséria.
Pois indiferente as condições do povo, os seus governantes sempre estiveram mais preocupados com seus próprios interesses pessoais e políticos.
E, arrogantes que são, não sentem quaisquer constrangimentos por conta disso.
E, quem não se constrange com a miséria alheia é, sim, o verdadeiro miserável.
Abdon Marinho é advogado.