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ELES NÃO CANSAM DE CON­STRANGER O BRASIL.

Escrito por Abdon Mar­inho

ELES NÃO CANSAM DE CON­STRANGER O BRASIL.

Por Abdon Marinho.

A DER­RADEIRA con­tribuição que os “int­elec­tu­ais” brasileiros – e de out­ras nacional­i­dades –, deram ao país foi elevá-​lo à condição de republi­queta de bananas. Daque­las que o mundo inteiro passa a olhar por conta de seus exotismos.

No último dia 17 de agosto fomos sur­preen­di­dos com uma notí­cia: A ONU deter­mi­nou que o ex-​presidente Lula par­ticipe das eleições.

Emb­ora soubésse­mos se tratar de uma notí­cia fake – ONU tem con­sciên­cia de suas respon­s­abil­i­dades –, acon­te­ceu, entre­tanto, uma delib­er­ação lim­i­nar de um comitê que usa o nome das Nações Unidas em seus despautérios.

Por aqui, os nos­sos “int­elec­tu­ais” e “juris­tas” começaram a escr­ever tolices nas redes soci­ais infor­mando que o Brasil estaria “obri­gado” a per­mi­tir que o ex-​presidente par­ticipe da dis­putas inde­pen­dente da sua condição de pre­sidiário e da leg­is­lação nacional, no caso a Lei da Ficha Limpa, que proíbe can­di­dat­uras de pes­soas nas condições do sen­hor Lula. Qual­quer um que esteja nes­tas condições – e temos mil­hares, nos ter­mos da Lei da Ficha Limpa não poderão ser sub­metido ao sufrágio.

Ape­sar do absurdo da situ­ação pas­sei a fazer algu­mas conjecturas.

Se nos ter­mos da decisão do tal comitê, a cam­panha mar­car um comí­cio – e deve­mos ter dezenas – é para Poder Judi­ciário deter­mi­nar a soltura do con­de­nado para que ele par­ticipe do ato? E, neste caso, o candidato/​presidiário se fará acom­pan­har por agentes da Polí­cia Fed­eral, não para protegê-​lo, como é de dire­ito aos can­didatos, mas para impedir que fuja?

E a Lei da Ficha Limpa? O TSE não pode aplicar ao ex-​presidente? Ele se tornou “acima da lei”?

Mais, a Con­sti­tu­ição Fed­eral nos ter­mos do artigo 5º. deter­mina: “Todos são iguais per­ante a lei, sem dis­tinção de qual­quer natureza, garantindo-​se aos brasileiros e aos estrangeiros res­i­dentes no País a invi­o­la­bil­i­dade do dire­ito à vida, à liber­dade, à igual­dade, à segu­rança e à pro­priedade, nos ter­mos seguintes: ..”.

Logo, para que a decisão da “ONU”, valha para o sen­hor Lula, ter­e­mos que per­mi­tir a todos os demais políti­cos que se encon­tram con­de­na­dos em duas instân­cias e impe­di­dos de con­cor­rer nas próx­i­mas eleições que par­ticipem do pleito.

Ainda há tempo de muitos deles, emb­ora pre­sos, requer­erem reg­istros em vagas remanes­centes ou forçando a renún­cia de alguns can­didatos para que pos­sam con­cor­rer? O que acham? Repito: são milhares.

Mas não é só. Como as eleições a par­tir desde ano serão finan­ciadas com recur­sos públi­cos, através do Fundo Par­tidário e do Fundo Espe­cial de Finan­cia­mento de Cam­panha (FEFC), o Estado brasileiro não ape­nas vai per­mi­tir que cor­rup­tos, crim­i­nosos con­de­na­dos em duas instân­cias, par­ticipem do pleito eleitoral, como tam­bém, que usem recur­sos públi­cos, dos cidadãos, nas suas cam­pan­has.

O cidadão não ape­nas terá que pagar com o suor do seu rosto por cam­pan­has políti­cas – o que já é um absurdo –, ban­cará, tam­bém, as cam­pan­has daque­les que a leg­is­lação deter­mina que não podem ser vota­dos.

Será que não cansam de humil­har a sociedade brasileira? Não lhes sobrou nem um pouco de ver­gonha na cara?

Como podemos perce­ber, à luz da leg­is­lação nacional, um “man­da­mento” da ONU neste sen­tido teria con­se­quên­cias desas­trosas para a esta­bil­i­dade política do país. Não ape­nas pela situ­ação do sen­hor Lula – que já custa uma pequena for­tuna men­sal para mantê-​lo preso –, mas porque teria que ser esten­dida a todos os demais que este­jam na mesma situ­ação.

O pior seria para o Judi­ciário que teria uma nova instân­cia revi­sora de suas decisões, o tal do comitê da ONU que se acha no dire­ito de se introm­e­ter nas decisões judi­ci­ais do nosso país e na política de cumpri­mento de penas.

Um processo no Brasil, com sorte, dura, mis­er­av­el­mente, cerca de cinco anos, em média, mobi­liza ser­ven­tuários da justiça, pro­mo­tores, juízes, desem­bar­gadores, min­istros, além dos advo­ga­dos, defen­sores públi­cos, etc., pes­soas que cumprem seu min­istério e fazem valer a leg­is­lação do país.

Aí, vem um grupo de pouco mais de uma dúzia de “ilu­mi­na­dos”, que não con­hece o processo, que não sabe do tra­balho que se teve para que se chegasse ao des­fe­cho que se chegou e, numa cane­tada só, “manda” que se faça de conta que tudo foi um equívoco, que quem está preso pode par­tic­i­par de eleições, debates, comí­cios, sabati­nas, e o escam­bau, porque eles assim dese­jam.

Ao meu sen­tir, com o perdão do que dis­cor­dam, não faz qual­quer sen­tido. E aprendi que uma lei, uma decisão judi­cial, um decreto, para ser legit­im­i­dade pre­cisa ter um mín­imo de sen­tido.

O Brasil é uma democ­ra­cia com todas as insti­tu­ições em pleno e reg­u­lar fun­ciona­mento a não dever nada a nen­huma outra, pelo con­trário, com muitas das nos­sas leis servindo de exemplo.

Não vive­mos sob a égide de uma ditadura, esta­mos às vésperas de eleições gerais mar­cadas e sub­meti­das a um cal­endário de todos con­hecido com tempo expres­sivo. Aliás, a própria Con­sti­tu­ição asse­gura que as regras eleitorais não podem ser alter­adas com menos de um ano da data mar­cada para ocor­rer o pleito.

O ex-​presidente foi con­de­nado – e por isso, como tan­tos out­ros, encontra-​se impe­dido de par­tic­i­par da vida política do país –, após submeter-​se a um processo reg­u­lar, com instân­cias judi­ci­ais reg­u­lares em plena vigên­cia de leg­is­lação penal con­sol­i­dada da democ­ra­cia brasileira.

Se ainda assim alguns acham que isso de nada vale, talvez, estes não busquem uma democ­ra­cia e, se é assim, qual o sen­tido de se realizar e par­tic­i­par de eleições reg­u­lares? Aliás, qual o sen­tido delas existirem?

Diante desta clara afronta à sobera­nia nacional por um órgão “lig­ado” a ONU, emb­ora só pos­suindo poder de recomen­dação, o gov­erno brasileiro tem o dever de for­mu­lar um protesto for­mal per­ante a direção da ONU con­tra esse tipo de intro­mis­são na política interna do país.

O comitê ao expe­dir uma lim­i­nar inau­dita altera parte (sem ouvir a outra parte) – emb­ora sem efeito prático algum –, causa con­strang­i­men­tos ao Brasil e a própria ONU, dando lugar à ideias autoritárias de quê a enti­dade se encon­tra a serviço de ide­olo­gias políti­cas.

E os que pen­sam assim não podem ser cen­sura­dos.

Ainda há pouco a Venezuela real­i­zou eleições de “car­tas mar­cadas” com quase toda a oposição presa e/​ou impe­dida de con­cor­rer, mar­cada segundo a con­veniên­cia do dita­dor de plan­tão, e não temos notí­cias que o tal comitê tenha expe­dido qual­quer lim­i­nar “deter­mi­nando” que a oposição par­tic­i­passe daquele pleito.

Vejam, nações do mundo inteiro protes­taram con­tra as eleições que ali­jou a oposição venezue­lana do pleito, ape­sar disso, não vimos o tal comitê expe­dir uma lim­i­nar proibindo que as eleições ocor­ressem sem a par­tic­i­pação dos opos­i­tores que estavam e/​ou estão pre­sos.

Vejam bem, lá são pre­sos políti­cos, estão encar­cer­a­dos em condições desumanas por protestarem con­tra um gov­erno que destruiu o país e levou a sua pop­u­lação à ruína. Só para reg­is­trar, esse ano aquele país encer­ará o exer­cí­cio finan­ceiro reg­is­trando mais de um mil­hão por cento de inflação. Isso mesmo: UM MIL­HÃO POR CENTO de inflação. Sua pop­u­lação por conta da mis­éria e da repressão está deixando o país como pode – os que podem sair.

Alguém tem visto o tal comitê protes­tar, expe­dir lim­inares con­tra o gov­erno Maduro.

Agora mesmo o régime da Nicarágua matou quase qua­tro­cen­tos civis em protestos con­tra o gov­erno e, nova­mente, não tive­mos notí­cias de nen­huma lim­i­nar do tal comitê deter­mi­nando o fim da matança.

O mesmo silên­cio que fez/​faz o comitê em relação à Venezuela, à Nicarágua, ape­nas para citar os exem­p­los mais recentes, fez e fazem estes mes­mos que bradam que “eleições sem Lula é fraude”, “Lula livre já”, “a ONU man­dou o Lula ser can­didato”.

O sen­hor Lula, difer­ente dos mil­hares de pre­sos políti­cos reais exis­tentes na Venezuela, Nicarágua, Cor­eia do Norte, Cuba, etc., é um preso comum con­de­nado, segundo as leis brasileiras, por cor­rupção e lavagem de dinheiro.

O Brasil difer­ente do que muitos dese­jariam – pois sem­pre ambi­cionaram trans­for­mar o país numa Venezuela ou Cuba –, é uma democ­ra­cia con­sol­i­dada onde não exis­tem pre­sos políti­cos e a pop­u­lação é livre para par­tic­i­par da vida política do país e expor seus pen­sa­men­tos, com garan­tias legais e con­sti­tu­cionais.

A defesa do ex-​presidente ao insi­s­tir em poli­ti­zar sua con­de­nação, desre­spei­tando as instân­cias judi­ci­ais brasileiras, só causa con­strag­i­men­tos tanto ao Brasil – dizem amar tanto – e aos órgãos inter­na­cionais que, inad­ver­tida­mente, acabam por embar­car neste tipo de dis­curso vazio que os sujeitam a ques­tion­a­men­tos quanto ao seus com­por­ta­men­tos em relação as situ­ações reais que lhes são postas.

Basta sen­hores! Respeitem a democ­ra­cia! Respeitem o Brasil!

Abdon Mar­inho é advo­gado.

A ÉTICA SACRIFICADA.

Escrito por Abdon Mar­inho

A ÉTICA SACRIFICADA.

Por Abdon Marinho.

COMO ESPER­ADO – e anun­ci­ado –, o Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT, reg­istrou a can­di­datura do ex-​presidente Lula ao cargo de pres­i­dente da República.

O ex-​presidente não com­pare­ceu ao ato, que con­tou com a par­tic­i­pação de inúmeros políti­cos e mil­hares de mil­i­tantes, por estar preso em Curitiba, Paraná, onde cumpre pena de doze anos e um mês a que foi con­de­nado em primeira e segunda instân­cias por cor­rupção pas­siva e lavagem de din­heiro.

O par­tido tem plena con­vicção que, nos ter­mos da Lei da Ficha Limpa, lei de ini­cia­tiva pop­u­lar e san­cionada pelo próprio ex-​presidente que agora, ainda que por um período ostenta o título de presidiário/​candidato, ele não poderá ser can­didato.

Assim, à primeira vista, o ato do par­tido reg­is­trar alguém que sabem afrontar os dita­mes da lei, sig­nifica que este par­tido tem pouco ou nen­hum respeito pela ou, no plural, pelas leis do país. Leis, estas, para as quais deram uma parcela de contribuição.

A própria Lei da Ficha Limpa tem na sua gênese a movi­men­tação do par­tido e dos movi­men­tos soci­ais aos quais têm inserção, para cole­tar os mil­hões de assi­nat­uras pedindo a lei, além de terem votado pela sua aprovação e, na pes­soa do ex-​presidente, tê-​la san­cionado.

Agora, advogam que a lei não vale ou, pior, não vale para eles.

Mais. Não sat­is­feitos ape­nas em se mostrarem indifer­entes as leis do país, os meios de comu­ni­cações rev­e­lam – e os mem­bros do par­tido não negam –, que nada lhes sobrou de ética.

Somos infor­ma­dos que para burlar a exigên­cia da idonei­dade, ou seja que o ex-​presidente não se encon­tra na condição em que se encon­tra: con­de­nado em duas instân­cias da Justiça e, por isso mesmo, preso e cumprindo a pena, os respon­sáveis pelo reg­istro da can­di­datura jun­taram uma cer­tidão da Justiça Fed­eral de São Paulo, estado onde o pre­tenso can­didato não se encon­tra con­de­nado e duas instân­cias, emb­ora responda à diver­sas ações.

Com efeito, a leg­is­lação eleitoral exige que seja apre­sen­tada a cer­tidão do domicílio eleitoral, mas, está cor­reto, ética e moral­mente, que um par­tido político cuja respon­s­abil­i­dade nos ter­mos do artigo 1º., da Lei Orgânica dos Par­tidos Políti­cos é asse­gu­rar, no inter­esse do régime democrático, a aut­en­ti­ci­dade do sis­tema rep­re­sen­ta­tivo e a defender os dire­itos fun­da­men­tais definidos na Con­sti­tu­ição Fed­eral, apre­sen­tar um doc­u­mento à Justiça que, sabida­mente, não cor­re­sponde à verdade?

Não enten­dem que este pro­ceder rep­re­senta uma ten­ta­tiva de burla à leg­is­lação? Não se con­strangem em ten­tar enga­nar a Justiça brasileira e, por exten­são, toda a sociedade, com este tipo de estratégia?

Insultam-​nos ao nos terem por “lesos”, por inca­pazes de com­preen­der o que efe­ti­va­mente se passa, que é tentarem “empurrar” uma can­di­datura até onde puder e depois substituí-​la pelo “poste” de plantão.

Ainda nos dias de tanta indigên­cia moral, será que existe ética nesta estraté­gia? Ou será a ética ape­nas um detalhe?

Ora, exceto, talvez, pelos Sur­mas – mem­bros de uma tribo iso­lada da Etiópia –, por alguma outra tribo iso­lada na Ocea­nia e, mesmo, na Amazô­nia brasileira e peru­ana, não há, na face da terra, quem ignore a situ­ação jurídica do ex-​presidente Lula.

Até que uma corte supe­rior des­faça a sua con­de­nação – se é que existe espaço para isso –, o sta­tus é de inelegível, nos ter­mos da Lei da Ficha Limpa.

Entre­tanto insis­tem, “frau­dando o bom senso” ao apre­sentarem uma can­di­datura que sabem inex­is­tente. Tanto assim que já escalaram a comu­nista Manuela D’Ávila para ser vice do vice tão logo a Justiça sepulte a candidatura.

Aqui não se dis­cute outra matéria. Se sua defesa vai recor­rer ou se recor­reu; se o Supremo vai mudar o entendi­mento ante­rior para “impedir” (veja, impedir) prisões em segunda instân­cia; e até mesmo o reg­istro da can­di­datura em si.

O que acho estu­pe­fa­ciente é que tiveram a ousa­dia de jun­tar per­ante a Justiça um doc­u­mento que sabem não cor­re­spon­der à real­i­dade dos fatos.

Os par­tidos e seus políti­cos, sobre­tudo, aque­les que já tiveram a respon­s­abil­i­dade de con­duzir os des­ti­nos país dev­e­riam pos­suir um mín­imo de ética, enten­derem que mesmo a política (prin­ci­pal­mente ela) não admite todo tipo de ban­dalha.

O Brasil inteiro assis­tiu a pres­i­dente do par­tido – e não ape­nas ela –, grace­jarem sobre a situ­ação jurídica do ex-​presidente, afir­mando ser legit­ima sua can­di­datura, ela, a pres­i­dente, indo além, afir­mando que cumpri­ram as for­mal­i­dades exigi­das na lei; out­ros sus­ten­tando uma suposta “plau­sivi­dade de dire­ito” que, até aqui, “mil e quin­hen­tos recur­sos depois” nen­huma instân­cia da justiça recon­heceu.

Advogam, estes valentes, que os fins jus­ti­fi­cam os meios – quais­quer meios –, mas que fins? Que basta cumprir a for­mal­i­dade buro­crática, ainda que ela não cor­re­sponda aos fatos? Tudo é válido na luta do poder pelo poder para voltarem a san­grar os cofres da nação?

Fico estar­recido ao assi­s­tir pes­soas que durante toda a vida se apre­sen­taram como campeões da ética, hoje igno­rarem o que sejam seus princí­pios mais ele­mentares. Pare­cem igno­rar, por exem­plo, que exis­tem val­ores morais, princí­pios éti­cos a serem obser­va­dos e que pos­suem um alcance bem supe­rior às refre­gas eleitorais.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

ATAQUE AO JUDI­CIÁRIO: UM ALERTA NECESSÁRIO.

Escrito por Abdon Mar­inho

ATAQUE AO JUDI­CIÁRIO: UM ALERTA NECESSÁRIO.

Por Abdon Marinho.

COM a pub­li­cação dos dois últi­mos tex­tos ver­sando sobre a sen­tença de primeiro grau que declarou a ineleg­i­bil­i­dade do atual gov­er­nador e mais três pes­soas e as suas con­se­quên­cias no mundo jurídico, pen­sei haver esgo­tado minha par­tic­i­pação no assunto.

Ledo engano, com cidadão, como advo­gado, como defen­sor do Estado Democrático de Dire­ito e da democ­ra­cia como uma con­quista da civ­i­liza­ção, não tenho o dire­ito de ficar cal­ado diante do que tenho assis­tido com relação a este episódio.

Morando e par­tic­i­pando da vida política nesta Ilha de São Luís há mais de trinta anos, não me recordo – nem mesmo durante os ester­tores da ditadura –, de assi­s­tir a uma “caçada” tão inclemente e desre­speitosa quanto à que vem sofrendo a juíza eleitoral da zona de Coroatá.

Desde que pro­feriu a decisão que cas­sou o mandato do prefeito e vice-​prefeito daquele municí­pio e declarou a ineleg­i­bil­i­dade do gov­er­nador e de um ex-​secretário e atual can­didato a dep­utado fed­eral, uma rede de blogues ali­a­dos politi­ca­mente ao grupo que se encon­tra no poder e out­ros que até recebem ou rece­biam por anún­cios e/​ou asses­so­rias no gov­erno, têm se ocu­pado de vas­cul­har, dene­grir, fazer ilações e insin­u­ações sobre a mag­istrada e – pas­mem –, sobre seus familiares.

Li, que fiz­eram, inclu­sive, uma busca nos arquivos do Tri­bunal de Justiça para inves­ti­gar as condições de ingresso da mesma na mag­i­s­tratura maran­hense.

Um outro com insin­u­ações sobre seu marido.

Tanto acusam Sar­ney de maquinações diver­sas, entre­tanto, o que assis­ti­mos é um espetáculo de hor­rores pro­movi­dos por aque­les que vieram em nome “novo” jus­ta­mente prom­e­tendo que tais coisas não mais ocorreriam.

Vejo dep­uta­dos, secretários, ali­a­dos, os mais diver­sos, além dos con­tu­mazes adu­ladores de plan­tão atentarem con­tra a honra e a dig­nidade de uma cidadã. Sim, antes de juíza, aten­tam, descarada­mente, con­tra uma cidadã.

Isso é o “novo”? Essa é a democ­ra­cia e a liber­dade prometi­das?

É de se imag­i­nar: se nem uma juíza de dire­ito, que tem atrás de si todo um aparato insti­tu­cional sofre, por seu ofí­cio, tan­tos ataques, o que não serão capazes de fazer com o cidadão comum? Como pes­soas como eu ou você que não somos “ninguém”?

O com­por­ta­mento do gov­er­nador e seus ali­a­dos no episó­dio ultra­passa o lim­ite aceitável em qual­quer democracia.

Nas democ­ra­cias quando uma decisão é pro­ferida, e alguém dela dis­corda, busca-​se o cam­inho dos recur­sos próprios para revertê-​la e não o lin­chamento moral de quem a pro­feriu. Colo­car a família como alvo de ataques rasteiros é algo que só foi ou é aceitável nas ditaduras mais atrasadas no mundo, como por exem­plo na Cor­eia do Norte onde as punições “pas­sam” da pes­soa para alcançar seus famil­iares; ou como foi no régime stal­in­ista da antiga União Soviética.

Um com­por­ta­mento tão incom­patível com os dita­mes das democ­ra­cias mod­er­nas, leva-​nos à con­clusão que lhes fal­tam razão para descon­sti­tu­ição da decisão com argu­men­tos jurídicos.

Quero acred­i­tar que estas ini­cia­ti­vas não são ori­en­tadas a par­tir do palá­cio ou com a estru­tura de estado, o que, decerto, car­ac­ter­iza crime a mere­cer a inves­ti­gação da Polí­cia Fed­eral e a pronta repri­menda dos órgãos judiciais.

Quer dizer, então que agora um juiz, um desem­bar­gador, um min­istro não pode mais pro­ferir uma sen­tença, um despa­cho, que con­trarie a von­tade do gov­er­nante sem ser lin­chado em praça pública? Sem ter expos­tos seus famil­iares aos achin­cal­hes? Esse é o novo mod­elo de democ­ra­cia do país?

Caso se con­firme a ingerên­cia insti­tu­cional do gov­erno estad­ual – ainda que indi­reta, através de veícu­los que recebem recur­sos públi­cos –, nessa tene­brosa ten­ta­tiva de lin­chamento con­tra a mag­istrada, forçoso recon­hecer que razão assiste ao ex-​presidente Sar­ney ao recla­mar, em artigo recente, de práti­cas “stal­in­istas” do atual gov­erno.

E, pior, um stal­in­ismo tosco, can­he­stro, per­dido no espaço e no tempo, mas, ainda assim, capaz de muito mal causar à nossa jovem democracia.

Vejam, uma juíza ape­sar de suas rel­e­vantes funções é uma cidadã deten­tora de dire­itos, den­tre os quais a vida pri­vada. Não é aceitável – não numa democ­ra­cia –, que seja achin­cal­hada e exposta como vem sendo a mag­istrada que pro­feriu uma sen­tença que con­trar­iou os atu­ais donos do poder. E, mais, que este tipo de vio­lên­cia se estenda à honra de seus famil­iares, que nada têm com sua função judicante.

Como dito ante­ri­or­mente, você pode dis­cor­dar de uma decisão – é um dire­ito da defesa que isso ocorra -, o que não se pode é abrir-​se uma “caça às bruxas” com inves­ti­gações sub­ter­râneas sobre a vida das pes­soas com o intu­ito de, com argu­men­tos lat­erais, pro­mover a descon­sti­tu­ição de uma sentença.

O cam­inho não é esse. As leis ensi­nam como se faz. Pode se bus­car esclare­cer a decisão, pode se recor­rer à segunda instân­cia e, até mesmo, a uma instân­cia supe­rior.

O mais grave que este episó­dio rev­ela é que os atu­ais gov­er­nantes – e seus ali­a­dos –, perderam a medida do que podem ou não fazer. Como se fins jus­ti­fi­cas­sem os meios – quais­quer meios.

É isso que as autori­dades com­pe­tentes dev­erão inves­ti­gar.

O TRE – a quem a juíza está sub­or­di­nada por conta da judi­catura eleitoral –, dev­erá, se ainda não o fez, solic­i­tar uma inves­ti­gação à Polí­cia Fed­eral para saber de onde partem os ataques à mag­istrada, se há uso do apar­elho e de recur­sos estatais para o que veem fazendo.

O mesmo com­por­ta­mento deve ter o TJMA, bus­cando a preser­vação da inte­gri­dade da mag­i­s­tratura estadual.

Veja que aqui não se fala em cen­sura à imprensa, longe disso, o que clama apu­ração rig­orosa é saber se há ingerên­cia insti­tu­cional nos ataques à mag­istrada e/​ou famil­iares; se pes­soas remu­ner­adas, ainda que indi­re­ta­mente pelo poder público, estão fazendo esse tipo de serviço sujo.

Em sendo ver­dade essa inter­fer­ên­cia do gov­erno, estare­mos diante de uma situ­ação de gravi­dade impar: uma insti­tu­ição de Estado, no caso o Poder Exec­u­tivo, tra­bal­hando para o desmerec­i­mento de outra insti­tu­ição, no caso o Poder Judi­ciário.

Outra coisa que chama a atenção é que os deman­da­dos na ação em tela, copiando a estraté­gia do ex-​presidente Lula, ao invés de dis­cu­tir a matéria nos autos do processo, quer discuti-​la nas redes soci­ais, jor­nais e blogues, avançando pela achin­calhe e a “descon­strução” da juíza pro­la­tora da decisão.

A difer­ença entre o que fazem o ex-​presidente e seus ali­a­dos é que aque­les uti­lizam suas estraté­gias de con­fronto com as insti­tu­ições (Poli­cia Fed­eral, Min­istério Público e Judi­ciário) na esfera pri­vada, não se tratam (mais) de autori­dades con­sti­tuí­das que têm o dever de zelar pelas leis e pelas insti­tu­ições.

Aqui não, são agentes públi­cos, gov­er­nador, secretários, dep­uta­dos, que “vesti­dos” como autori­dades tra­bal­ham para desmere­cer uma juíza e seus famil­iares. E não é só, utilizam-​se de seus ali­a­dos – e ou sub­or­di­na­dos, não se sabe, a PF pre­cisa apu­rar isso com rigor –, na mídia para atacar, achin­cal­har e enx­o­val­har a honra das pes­soas que os con­trariam.

Quando autori­dades não com­preen­dem o seu papel insti­tu­cional faz-​se necessário chamar a atenção para os riscos que corre a democ­ra­cia. Autori­dades não podem se com­por­tar como “valen­tões” ou afrontar pes­soas e insti­tu­ições com o poder que detém em nome do povo.

O poder per­tence ao povo e foi con­ferido para o livre exer­cí­cio na busca do bem comum e não dos próprios interesses.

Abdon Mar­inho é advogado.