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DOM SABINO E OS HOMENS QUE NÃO SE VEXAM.

Escrito por Abdon Mar­inho

DOM SABINO E OS HOMENS QUE NÃO SE VEXAM.

Por Abdon Mar­inho.

VEZ OU OUTRA assisto um pedaço da nov­ela das “sete” – não assisto mais por coin­cidir com um noti­ciário que apre­cio.

O atual fol­hetim global gira em torno de uma família paulis­tana que ficou con­ge­lada por 132 anos, tendo sido des­per­tada somente agora, em 2018.

Até onde vi, nos primeiros dias, como não pode­ria deixar de ser, o choque cul­tural se fez sen­tir em toda sua inteireza – para o bem e para o mal.

O nobre D. Sabino, patri­arca da família, edu­cado na fidal­guia do Segundo Império, pelo menos nos primeiros dias da trama, foi o que mais estran­hou nos­sos modos (ou a falta deles) e, com a mais arguta das vis­tas, tem feito as mais per­ti­nentes críti­cas. Tanto assim que, outro dia, foi destaque numa pub­li­cação da mais reno­mada revista nacional, tal o pre­cio­sismo de suas colo­cações.

Com efeito vive­mos dias estran­hos com men­ti­ras vestindo as vestes da ver­dade pas­sando como se ver­dade fos­sem enquanto a própria ver­dade nua e crua vai sendo repel­ida pelas con­veniên­cias de cada um.

Às vezes, mesmo eu, acos­tu­mado com tan­tos desati­nos chego a estran­har com a falta de con­strag­i­men­tos das pes­soas, prin­ci­pal­mente autori­dades que, pelo menos em tese, dev­e­riam portar-​se com veraci­dade, já que pos­suem a fé pública. Nada disso. Estas mes­mas que agem com a mais desas­som­brada falta de ver­gonha.

Vejamos um breve exem­plo do que falo.

Logo no iní­cio deste setem­bro foi divul­gado o Índice de Desen­volvi­mento da Edu­cação Básica — IDEB.

Os números, recon­heci­dos pelo próprio min­istro da edu­cação eram cat­a­stró­fi­cos davam conta que nen­huma unidade da fed­er­ação con­seguira cumprir a meta – que já era mod­esta –, e que ape­nas 5% (cinco por cento) dos estu­dantes do ensino médio apre­sen­tavam nível ade­quado de con­hec­i­mento e, pas­mem, ape­nas 1,7% (um vír­gula sete por cento) do mesmo grupo, o nível ade­quado em leitura e inter­pre­tação de textos.

Como observei em um texto ante­rior – No Fra­casso da Edu­cação Ninguém Merece Absolvição –, com números assim, de tal forma acacha­pantes e humil­hantes, mág­ica alguma seria capaz de extrair qual­quer coisa de pos­i­tivo.

A despeito disso, da gravi­dade de tal situ­ação – estu­dos rev­e­lam que para alcançar­mos os países de primeiro mundo levare­mos mais setenta anos em relação à matemática e, bem mais duzen­tos anos no que se ref­ere à leitura e inter­pre­tação de tex­tos –, as autori­dades maran­henses “que­braram” as redes soci­ais “vendendo” o sucesso da nossa edu­cação. Manchetes com letras gar­rafais foram usadas, arti­gos foram encomen­da­dos e escritos, alguns por xerim­ba­bos que não se ocu­param de exam­i­nar os números mais amiúde e sem o dis­cern­i­mento do quão grave é a situ­ação que nos encon­tramos.

Tal qual D. Sabino, fiquei sem enten­der o que fes­te­javam tanto.

Seria o fato de não ter atingido a meta já tão mod­esta? Seria o fato de ter­mos uma edu­cação tão ruim?

Ora, se já se sabia que ninguém, nen­huma unidade fed­er­ada atin­gira meta, o pudor recomen­daria con­ster­nação, quando muito, um pouco de cautela ou comis­er­ação.

Noutros tem­pos, recomen­daria, um pedido de des­cul­pas das autori­dades, por não ter­mos alcançado as metas esta­b­ele­ci­das, jun­ta­mente com uma prestação de con­tas e a promessa de que have­ria um maior esforço, daí para frente, no sen­tido de se reparar o ocorrido.

Nada disso se viu. Comemorou-​se a meta “não alcançada”, a começar por sua excelên­cia, o gov­er­nador, como se a edu­cação maran­hense acabasse de ser lau­reada com algum prêmio Nobel.

Não tivesse, eu próprio teste­munhado e alguém me con­tasse tamanho desatino, pen­saria que estivesse de troça com minha pes­soa.

Mas tudo isso acon­te­ceu e muito mais. Prati­ca­mente uma sem­ana depois da divul­gação do índice e do fes­tejo das nos­sas autori­dades, uma pesquisa mais apro­fun­dada dos números efe­t­u­ada pelo jor­nal “O Estado de São Paulo”, con­sta­tou que o Maran­hão, infe­liz­mente, não só não avançou, como ainda apre­sen­tou, em alguns indi­cadores, um breve retro­cesso em relação à afer­ição ante­rior real­izada em 2015 – que pelo cal­endário da prova até dev­e­ria ser cred­i­tada ao gov­erno ante­rior.

Pois bem, quase uma sem­ana depois da divul­gação da análise do dados pelo jor­nal paulista, nen­huma autori­dade apare­ceu para con­tes­tar o que foi dito.

Assim como ninguém apare­ceu, mais uma vez, com um pedido de des­cul­pas, uma jus­ti­fi­cação aceitável.

Vão deixando o dito pelo não dito, como se a pat­uleia, pagadora de impos­tos, fosse indigna de qual­quer con­sid­er­ação ou expli­cação e mesmo um pedido de des­cul­pas.

Como se não bas­tasse o “fes­tejo do fra­casso”, algo inédito, ao menos para mim, fizeram-​nos acred­i­tar que havíamos avançado alguma coisa, con­fronta­dos com a real­i­dade de retro­cesso, ainda assim, quedam-​se inertes, sem ofer­e­cer qual­quer expli­cação aos cidadãos.

Pior que esta sucessão de desati­nos, só mesmo se ficar com­pro­vado que fiz­eram tudo de “caso pen­sado”, na intenção de enga­nar a pop­u­lação, apo­s­tando no desleixo da mesma no exame das estatís­ti­cas divul­gadas.

O nobre D. Sabino, edu­cado noutros princí­pios, no tempo em que a palavra dada tinha força de lei e que ninguém jamais ousaria colo­car dúvi­das sobre o que fora dito, cer­ta­mente ficaria escan­dal­izado com a falta de con­strang­i­men­tos das autori­dades quando o que dizem entra em frontal choque com a ver­dade. Decerto, diria: — bela evolução de esta.

Certa vez, há muito tempo, um pro­fes­sor me disse ficar chocado com a inca­paci­dade dos cidadãos de hoje corarem diante de situ­ações embaraçosas como a de ser apan­hado em falta com a verdade.

A D. Sabino (per­son­agem de ficção) e a este mestre (bem real), devo dizer-​lhes que par­tilho destas mes­mas inqui­etações.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

A PÁTRIA ENVERGONHADA.

Escrito por Abdon Mar­inho

A PÁTRIA ENVER­GONHADA.

Por Abdon Mar­inho.

NO FERI­ADO da pátria acordei espe­cial­mente pesaroso.

O país parado. Mais um feri­ado. Talvez só um feri­ado. O que fes­te­jam? O que temos a festejar?

Refle­tia sobre o nosso Brasil e o que fiz­eram com ele.

Esta­mos ape­nas a qua­tro anos do bicen­tenário da Inde­pendên­cia do Brasil.

O que ire­mos dizer à história duzen­tos anos depois de nos torn­ar­mos uma nação independente?

Que nos tor­namos uma republi­queta de bananas?

Que viramos um ajun­ta­mento de arriv­is­tas onde os recur­sos da nação, que dev­e­riam servir a todos, servem a uns poucos?

Que desde muito vive­mos uma per­ma­nente guerra civil que ceifa anual­mente a vida de 60 mil cidadãos de morte “matada” e quase o mesmo número em aci­dentes de trân­sito – sem con­tar os mil­hares que ficam incapacitados?

Que o pais, tam­bém, desde muito pas­sou a ser con­duzido por quadrilhas dis­farçadas de par­tidos políti­cos que ao invés de con­duzir os des­ti­nos do povo rumo ao desen­volvido social e humano o espo­lia de todas as formas?

Penso que nada reflita mel­hor o que fize­mos a este país do que o incên­dio do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro.

O museus cri­ado por D. João VI, há duzen­tos anos, pos­suía um acervo com mais de 20 mil­hões de itens. Em pou­cas horas tudo virou cin­zas, escom­bros. Peças úni­cas, impos­síveis de serem sub­sti­tuí­das, uma grande parte delas reunidas pela própria Família Real e Impe­r­ial do Brasil, deixaram de existir.

O próprio palá­cio, sede do museu, que teste­munhou impor­tantes momen­tos da vida nacional, inclu­sive a própria assi­natura do decreto da inde­pendên­cia, pela Imper­a­triz D. Leopold­ina, ruiu pela neg­ligên­cia, incom­petên­cia, desleixo e incúria dos respon­sáveis esses anos todos.

Chega a ser emblemático que enquanto muitas peças do museu foram reunidas pelos pais da pátria por ocasião da sua fun­dação e nos anos pos­te­ri­ores, desde os anos cinquenta nen­hum pres­i­dente da República se dig­nou a visitá-​lo.

Quase toda a história do país ali reunida e nen­huma autori­dade com inter­esse sequer em con­hecer.

Nem mesmo para o aniver­sário de 200 anos da insti­tu­ição apare­ce­ram ou man­daram rep­re­sen­tantes para faz­erem os dis­cur­sos pro­to­co­lares.

Agora, tudo findo, cor­rem com medi­das e recur­sos públi­cos para recu­perar aquilo que nunca dev­e­ria ter sido des­cuidado; cor­rem, como se fosse pos­sível recu­perar o que não tem mais recu­per­ação.

Isso tem haver com a ideia de nação de cada um. Ou a falta desta ideia.

Às vésperas de eleições gerais não lem­bro de ter assis­tido ou estu­dado a nação tão divi­dida e rad­i­cal­izada, como se os inter­esses das ideias que rep­re­sen­tam os gru­pos fos­sem maiores que os inter­esses da pátria.

Ape­nas para citar o prin­ci­pal dos pleitos: o pres­i­den­cial, já tive­mos ameaças de toda sorte. Ainda que como figura de retórica já ouviu-​se ameaças de elim­i­nação física de adver­sários; de outro lado, as refer­ên­cias menos graves é a atribuição de com­por­ta­men­tos facis­tas e por aí vai.

No clima de acir­ra­mento, do ódio de uns ali­men­tando o ódio de out­ros e vice-​versa já tive­mos ataques à bala a um grupo e um can­didato afas­tado da cam­panha a golpe de faca.

Volta­mos ao velho coro­nelismo onde as eleições paro­quiais eram deci­di­das pela força física ou das armas dos capan­gas dos coronéis?

Como podem acred­i­tar que ideias e com­por­ta­men­tos tão extremos serão capazes de paci­ficar a nação? Quem vencer imporá a “paz de cemitérios”? Só assim para calar a ala perde­dora da con­tenda eleitoral.

Gostaria de expres­sar algum otimismo, mas, pelo andar da car­ru­agem, acred­ito que daqui a qua­tro anos, quando fes­te­jare­mos o bicen­tenário da inde­pendên­cia do Brasil, ter­e­mos avançado muito pouco, con­tin­uare­mos numa guerra política que só serve aos inter­esses dos con­tendores, mas não os inter­esses da nação.

Uma guerra que não aponta um rumo que não seja o do atraso.

Este é o legado dos últi­mos tem­pos para os próx­i­mos anos.

Outro dia alguém, com os dados sobre a edu­cação do país, o prin­ci­pal pilar do desen­volvi­mento, infor­mou que, para alcançar­mos as nações desen­volvi­das levare­mos mais de setenta anos, na dis­ci­plina matemática e, bem mais de duzen­tos anos, no caso de leitura e com­preen­são de tex­tos – isso se as nações desen­volvi­das “resolverem” parar e esper­arem por nós.

Antes acred­itá­va­mos que o Brasil era uma nação em desen­volvi­mento, bem próx­ima do primeiro “time” de nações. Os dados de hoje, em edu­cação rev­e­lam um atraso civ­i­liza­tório.

Uma vez, se não me falha a memória escrevi sobre o assunto, disse que o Brasil pela sua neg­ligên­cia cor­ria o risco de voltar a ser colô­nia de alguma nação desen­volvida, assen­tando que talvez isso não viesse a acon­te­cer pelo desin­ter­esse de algum pos­sível col­o­nizador.

Mas o que esperar de uma nação que se encon­tra tão atrasada no que se ref­ere à edu­cação (nem fale­mos no atraso cul­tural) que às vésperas de pleito deci­sivo para o seu futuro, não enx­erga nos con­tendores (ou nas suas pro­postas) um pro­jeto de desen­volvi­mento para país, preferindo acred­i­tar nas mes­mos soluções que exper­i­men­tadas ante­ri­or­mente nos levaram ao desas­tre que assis­ti­mos?

Como ire­mos nos apre­sen­tar para o futuro sem um pacto con­sen­sual mín­imo em torno de um pro­jeto comum com soluções reais aceitáveis e no inter­esse da maio­ria da pop­u­lação?

Diante de tanto que assis­ti­mos, pelo exem­plo do ocor­rido no Museu Nacional, estes duzen­tos anos de inde­pendên­cia foram per­di­dos e, pelo que prin­cipia, mel­hor sorte não terão os próx­i­mos duzen­tos anos.

A pátria que dev­e­ria ser maior que todos, estará sem­pre cur­vada aos inter­esses de guer­ras menores.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

NO FRA­CASSO DA EDU­CAÇÃO NINGUÉM MERECE ABSOLVIÇÃO.

Escrito por Abdon Mar­inho

NO FRA­CASSO DA EDU­CAÇÃO NINGUÉM MERECE ABSOLVIÇÃO.

Por Abdon Mar­inho.

CONTA a história (ou seria lenda?) que Nero (Nero Cláu­dio César Augusto Ger­mânico, imper­ador romano de 13 de out­ubro de 54 até a sua morte a 9 de junho de 68), tocava lira do alto da sua col­ina enquanto assis­tia Roma arder em chamas logo abaixo.

Começo com esta ale­go­ria para dizer que ape­nas os desprovi­dos de qual­quer senso do ridículo ou os con­t­a­m­i­na­dos pela má-​fé ou os insanos de todos os gêneros podem se negar à justa indig­nação com números divul­ga­dos pelo MEC a respeito da edu­cação nacional.

Os números divul­ga­dos nos últi­mos, fazem refer­ên­cia ao IDEB de 2017, ate­s­tando que nen­hum estado da fed­er­ação (nen­hum) con­seguiu alcançar a meta esta­b­ele­cida para o ano e, em muitos casos, até houve retro­cesso.

Estas metas, reparem, são baixas, ofereceu-​se a chance de mel­ho­rar ou apre­sen­tar um nível sat­is­fatório para edu­cação em duas décadas, mesmo assim, mesmo estas metas sendo mod­estas, não foram e não estão sendo cumpri­das cumpri­das, pior esta­mos nos afa­s­tando do seu cumpri­mento, ficando para trás.

Muitos são os dados con­stantes no Índice de Desen­volvi­mento da Edu­cação Básica – IDEB, e sua análise com­porta uma série de situ­ações, entre­tanto, ao meu sen­tir, uma só tabela, ou mel­hor duas, sin­te­ti­zam o caos em que mer­gul­hou a edu­cação no Brasil.

O nosso fra­casso pode ser resum­ido no fato de ape­nas 5% (cinco por cento) dos estu­dantes do ensino médio apre­sentarem o nível ade­quado em matemática; ape­nas 24% (vinte e qua­tro por cento) pos­suem con­hec­i­men­tos bási­cos; e 71% (setenta e um por cento) apre­senta con­hec­i­mento insu­fi­ciente. Aquele que a pro­fes­sora Mari­cot­inha, no ensino primário, escrevia com esfer­o­grá­fica ver­melha “I” e man­dava um bil­hete para os pais.

Esses 5% (cinco por cento) não são de gênios da matemática, ape­nas apre­sen­tam um nível de con­hec­i­mento “adequado”.

Os que imag­i­naram ser este descal­abro próprio da aver­são ao estudo da matemática, se decep­cionaram mais ainda com o resul­tado da outra matéria básica: por­tuguês.

O estudo rev­ela que ape­nas 1,7% (um vír­gula sete por cento) pos­suem, no ensino médio nacional, o con­hec­i­mento “ade­quado” na dis­ci­plina.

É isso mesmo, ninguém leu errado, nem 2% (dois por cento) con­hecem ade­quada­mente a lín­gua de Camões. Ape­nas 28% (vinte e oito por cento) pos­suem con­hec­i­mento bási­cos do assunto e a grande maio­ria, 70,3% (setenta vír­gula três por cento), levam o “I”, de insu­fi­ciente.

Este “I” não é ape­nas de insu­fi­ciente, é, tam­bém, de imoral, indecente.

Os números são uma média, mas como já dizia um antigo pro­fes­sor, não tem mág­ica nen­huma no mundo, que possa ter uma média dessas como pos­i­tiva. Para se chegar a essa média, os números ger­adores são cat­a­stró­fi­cos.

Caso os gov­er­nantes do Brasil – e aqui falo de todas as esferas de poder, fed­eral, estad­ual e munic­i­pal –, tivessem um mín­imo, um ínfimo sen­ti­mento de con­strang­i­mento ou de ver­gonha, não ficava um no cargo. Por von­tade própria, todos pediriam licença para saírem dos seus car­gos, renun­cia­riam. Alguns, talvez, até devessem come­ter suicí­dio por ver­gonha do desas­tre, pois estão com­pro­m­e­tendo o futuro do país como nação soberana.

Mas não fazem isso, jamais farão. Como a des­graça atinge a todos, indis­tin­ta­mente, acham que a culpa é do “sis­tema”, a respon­s­abil­i­dade, por­tanto, de todos, o que sig­nifica, de ninguém.

Os mais desaver­gonhados, diante de tamanho vex­ame, até pos­suem ousa­dia sufi­ciente para comem­o­rar e diz­erem que fazem um “exce­lente” tra­balho na área.

As dis­ci­plinas matemática e por­tuguês, são as mais bási­cas de todas, lida-​se com elas desde o iní­cio da apren­diza­gem.

Não faz sen­tido chegar ao fim do ensino médio e, ao se tirar uma média do con­hec­i­mento ade­quado das mes­mas, ter­mos pouco mais de três por cento. Ou seja, mais de noventa e cinco por cento apre­sen­tam con­hec­i­mento básico ou insu­fi­ciente, com vitória larga para insu­fi­ciên­cia e ainda tem os que apare­cem para achar – e mais, fes­te­jar –, como se tivésse­mos gan­hado um Nobel?

Perderam a ver­gonha, o senso do ridículo, a des­façatez? Tomem tento, senhores.

Mais, como digo no título deste texto, essa é uma tragé­dia da qual ninguém merece ser absolvido.

Os gov­er­nantes pos­suem a maior parte da respon­s­abil­i­dade, falta-​lhes com­pro­misso com a edu­cação, a com­preen­são de que sem edu­cação o país, o estado, os municí­pios não vão a lugar algum, e que se “cria” uma pop­u­lação de “escravos”, inca­pazes de decidir o próprio destino.

Será essa a estratégia?

Desde a Con­sti­tu­ição de 1988 a edu­cação brasileira tem rece­bido recur­sos expres­sivos – se não sufi­cientes, bem supe­ri­ores ao que se des­ti­nava ao setor até então –, situ­ação que mel­horou ainda mais com as leis de val­oriza­ção do mag­istério (Fundo de Manutenção e Desen­volvi­mento do Ensino Fun­da­men­tal e de Val­oriza­ção do Mag­istério FUN­DEF e depois o Fundo de Manutenção e Desen­volvi­mento da Edu­cação Básica – FUN­DEB ).

O que acon­te­ceu, ape­sar da mel­ho­ria no aporte de recur­sos e val­oriza­ção do mag­istério? Sig­ni­fica­ti­va­mente para o apren­dizado, nada. Na ver­dade a edu­cação tem cam­in­hado para traz.

Essa é a con­clusão do IDEB de 2017.

Como explicar isso? Exis­tem diver­sas razões e todos os dias tomamos con­hec­i­mento de “malfeitos” com a qual­i­dade do ensino e o mau uso dos recur­sos.

Não raro, chega-​nos noti­cias (que infe­liz­mente não temos como provar mas que mere­ce­ria atenção das autori­dades), de manip­u­lação de con­cur­sos de pro­fes­sores, sobre­tudo, nos municí­pios.

Como desco­bri­ram que os recur­sos do FUN­DEB eram sem­pre mel­hores e mais “seguros” que os ori­un­dos do FPM, muitos gestores manip­u­laram os con­cur­sos para aprovar os seus apanigua­dos, muitos dos quais sem qual­quer qual­i­fi­cação.

Resul­tado: o mais com­pleto fra­casso do ensino fun­da­men­tal. Pes­soas sem con­hec­i­men­tos bási­cos para si, encar­regadas da for­mação de cri­anças.

Como alguém que não sabe ler, escr­ever ou ainda os rudi­men­tos da matemática pode ensi­nar algo as crianças?

Não bas­tasse a gravi­dade de tal infor­mação, criou-​se nas cor­po­rações de “edu­cadores” a ideia de que todo o recurso do FUN­DEB deve ser rateado entre eles inde­pen­dente de apre­sentarem resul­ta­dos ou não.

Aqui não se ques­tiona o dire­ito “sagrado” à val­oriza­ção profis­sional, de forma alguma, entre­tanto é fato que val­oriza­ção da cat­e­go­ria não se fez sen­tir nos resul­ta­dos apre­sen­ta­dos por estes profis­sion­ais nas suas trincheiras de lutas: a edu­cação das cri­anças.

São infini­tas leis que aumen­tam salários, reduzem car­gas horárias, sem que se leve em conta as neces­si­dades dos estu­dantes e as pos­si­bil­i­dades dos entes pagadores.

Têm-​se um piso mín­imo para 40 horas/​semanais, mas muitos quer­erem (e recebem) para tra­bal­har 20, 16, 12 e até 6 horas sem­anais.

Não digo que gan­hem bem, mas gan­ham mel­hor que out­rora para tra­bal­har bem menos. De onde se indaga: Gan­har bem e tra­bal­har pouco tem servido para mel­ho­rar a qual­i­dade do ensino? Os números mostram que não.

Isso sem con­tar a infini­tas fraudes na con­cessão de diplo­mas e cer­ti­fi­ca­dos emi­ti­dos sem con­t­role e acom­pan­hamento do MEC ou dos con­sel­hos e ainda a notória leniên­cia das admin­is­trações que os aceitam com o único propósito de inflar inde­v­i­da­mente os salários dos “mestres”.

Como podem pre­tender trans­mi­tir val­ores, for­mar cidadãos se não entregam as cri­anças uma edu­cação de qual­i­dade para as quais são regia­mente pagos?

Como podem ensi­nar val­ores, se muitos – não todos –, não sen­tem qual­quer con­strang­i­mento em jun­tar um diploma gra­cioso – e não raro falso –, para mel­ho­rar o con­tra­cheque no final do mês?

Como dizia, nunca antes da Con­sti­tu­ição de 1988 as car­reiras lig­adas à edu­cação foram tão val­orizadas, ape­sar disso, nunca se ensi­nou tão pouco e tão mal. Já disse isso inúmeras vezes, os últi­mos IDEB’s ates­tam isso.

Chega a ser ina­cred­itável que diante de números tão ver­gonhosos as rep­re­sen­tações das cat­e­go­rias não digam nada, não se man­i­festem, silen­ciem. Não ven­ham a público, nem mesmo para pedir desculpas.

Mas essa equação não estaria per­feita sem inclusão de mais um lado: os pais, as famílias, os respon­sáveis por estas cri­anças e ado­les­centes.

A edu­cação, sobre­tudo a pública, é custeada com recur­sos de toda a sociedade. Mas os pais e/​ou respon­sáveis pelos os alunos, os pagadores dos impos­tos, são omis­sos, não par­tic­i­pam, não fre­quen­tam as esco­las, não fis­cal­izam a qual­i­dade da ali­men­tação ou do ensino que é ofer­tado aos seus fil­hos. São todos cúm­plices do caos.

E vou além, estes país e/​ou respon­sáveis, não querem ter qual­quer respon­s­abil­i­dade com for­mação daque­les que troux­eram ao mundo, não ensi­nam qual­quer valor ético ou moral a eles. Agem como se as esco­las fos­sem respon­sáveis não ape­nas pela trans­mis­são de con­hec­i­men­tos, mas tam­bém pela for­mação moral destas cri­anças e adolescentes.

Trata-​se, por óbvio, de um mod­elo que tinha tudo para dar errado. E deu.

Abdon Mar­inho é advogado.