AbdonMarinho - RSS

4934 Irv­ing Place
Pond, MO 63040

+1 (555) 456 3890
info@​company.​com

A COR DO PRAGMATISMO.

Escrito por Abdon Mar­inho

A COR DO PRAGMATISMO.

Por Abdon Mar­inho.

JAMAIS, acred­ito, recairá sobre o gov­er­nador do estado a acusação de que ele não é um homem prático; um legí­timo dis­cípulo da teo­ria filosó­fica desen­volvida a par­tir das ideias de Charles Sanders Pierce (18391914) e William James (18421910), segundo a qual deve-​se dar mais importân­cia às con­se­quên­cias práti­cas de con­ceitos e con­hec­i­men­tos do que a seus princí­pios ou pres­su­pos­tos teóricos.

Os cidadãos de bem, acos­tu­ma­dos com inque­bran­táveis princí­pios éti­cos e morais; e mesmo aque­les já cale­ja­dos pela ine­scrupu­losa política segundo a qual os fins jus­ti­fi­cam quais­quer meios, chegam a estran­har e, até mesmo, escandalizar-​se com o excesso de prag­ma­tismo político do “nosso coman­dante”.

Leio alguns blogues, desde o iní­cio da gestão, recla­marem do que chamam “inco­erên­cia” do gov­er­nante.

Só que isto que chamam de inco­erên­cia – e talvez exista alguma aqui e ali –, não passa do velho prag­ma­tismo em estado bruto.

E não vem de hoje.

O PCdoB em 1994 uniu-​se ao grupo Sar­ney per­manecendo no gov­erno da oli­gar­quia até que fos­sem colo­cado para fora cerca uma década depois.

Agora o gov­erno comu­nista — talvez com saudade dos anti­gos ali­a­dos — é for­mado, basi­ca­mente, por inte­grantes do grupo que juraram nunca mais ter espaço no poder. E cria-​se uma situ­ação bisonha: os anti­gos ali­a­dos do Sar­ney que viraram adep­tos do “comu­nismo” não têm mais defeitos, mas aque­les que per­manecem adep­tos do ex-​presidente, são a encar­nação de Satanás.

Nada mais sig­ni­fica­tivo deste “prag­ma­tismo” do que a con­venção que homol­o­gou a can­di­datura do atual gov­er­nador comu­nista para mais um período à frente dos des­ti­nos do estado.

Pelo que li, ao menos 15 par­tidos, quase metade dos reg­istra­dos justo a Justiça Eleitoral, inte­gram a col­i­gação de apoio.

Um arco de aliança que vai desde lib­erais con­vic­tos a comu­nistas enver­gonhados, além da velha chusma inter­mediária com­posta, quase sem­pre, por inúmeros fregue­ses dos códi­gos e leg­is­lação penal extrav­a­gante, criando-​se uma situ­ação onde os que dev­e­riam ser inves­ti­ga­dos e, ao cabo de tudo apu­rado, pre­sos, “con­ven­cionavam” com as autori­dades que têm a respon­s­abil­i­dade de fazer isso: investigá-​los e, se for o caso, prendê-​los.

Mas, cer­ta­mente, acham bonito reunir-​se em torno do atual gov­erno, par­tidos de todas as ver­tentes ide­ológ­i­cas, inclu­sive, algu­mas, pro­gra­mati­ca­mente, opostas ao par­tido que se encon­tra no poder.

Isso não acha bonito, pelo menos não os inco­moda, pelo con­trário, tanto que no site do par­tido comu­nista nacional, sem qual­quer con­strang­i­mento, fes­teja esse fato, essa negação ao que seja a boa política, a reunião de todo tipo de par­tido do espec­tro ide­ológico no mesmo palanque.

Assim, como não vêem nada demais em o gov­er­nador que se diz comu­nista, rezar a missa na Sé, penitenciar-​se no culto evangélico à tarde, ajoel­hado ainda que sob chuva tor­ren­cial e a noite rece­ber uma enti­dade num ter­reiro de can­domblé e, sobrando tempo, ainda par­tic­i­par da reunião da Loja Maçônica local.

Tudo com tanta nat­u­ral­i­dade e prag­ma­tismo que nem chega a tro­car de roupa para fazer tudo isso.

Uma coisa é você respeitar todas as religiões. Isso, aliás, é dever da autori­dade e do cidadão, outra coisa, bem difer­ente, é agir como se pro­fes­sasse todas essas religiões, ainda mais quando se é comu­nista o que, em si, já trás o antag­o­nismo ao cris­tian­ismo, só para ficar neste exem­plo.

Longe de mim a pre­ten­são de “vigiar” com­por­ta­men­tos, mas está claro que há uma clara explo­ração política da boa-​fé dos cidadãos.

Vou além, entendo que há uma burla a livre escolha do eleitor quando par­tidos antagôni­cos se jun­tam.

Ao colo­carem lib­erais e comu­nistas no mesmo pacote o que esta­mos dizendo aos cidadãos? Quais pro­je­tos par­tidários serão imple­men­ta­dos no gov­erno, na even­tu­al­i­dade da vitória?

Decerto que o processo de “con­venci­mento” envolveu muito “prag­ma­tismo” – e adi­antado.

Ainda mais nos dias hoje quando todos sabem o risco de se deixar para amanhã, de se guardar o almoço para a janta. Ou será que, do dia para noite, o DEM, o PR ou o PP, pas­saram a ado­tar o ideário “comu­nista” como razão de vida dos seus diri­gentes? Ou que ficaram encan­ta­dos com a cor dos olhos do gov­er­nador ou sua bela sil­hueta? Por mais boa von­tade que tenha, não creio.

Mas essa tem sido a tônica do pro­jeto político do atual gov­erno.

São inúmeros os exem­p­los que ilus­tram isso e que cul­mi­nou no que “ven­dem” como a maior con­venção já ocor­rida no estado, segundo os próprios, com cerca de dez mil almas.

Isso é o fruto do velho prag­ma­tismo e da capaci­dade de tro­car uns por out­ros à medida que pode “ter” os primeiros por menos ou que estes não mais inter­es­sam.

Em 2014, deter­mi­nado par­tido “fechou” com a can­di­datura do grupo Sar­ney, mas um grupo deste par­tido tra­bal­hou muito pelo pro­jeto dos comu­nistas. Um can­didato, inclu­sive, ado­tou como número de cam­panha o da sua leg­enda seguido do número do can­didato a gov­er­nador “do coração”, e pedia votos nos meios de comu­ni­cação voto para si, com ênfase no número do can­didato a gov­er­nador.

Ven­cida a eleição esse can­didato, pelo que fez na cam­panha e tam­bém por ter um vida inteira ded­i­cada a esse pro­jeto, foi feito secretário. E ia muito bem na função, sendo recon­hecido pelos vários atores do processo.

Isso até o dia que o gov­er­nador pre­cisou do cargo para aco­modar outro par­tido que, registre-​se, era opos­i­tor fer­renho do par­tido do inte­grante do gov­erno e ali­ado fiel desde sem­pre, não pen­sou duas vezes, pediu o cargo de volta.

Uns dizem que a demis­são ocor­reu pelo Twit­ter, já out­ros infor­mam que houve um tele­fonema antes.

Esse foi o mesmo prag­ma­tismo que obrigou essa mesma leg­enda a “col­i­gar pelo beiço” – ou seja, a despeito de pos­suir um forte “ativo” eleitoral: tempo de tele­visão e mil­itân­cia –, col­igou sem inte­grar a chapa majoritária e sem ocu­par qual­quer função rel­e­vante na cam­panha e “engolindo” todos os par­tidos “golpis­tas” que os cat­a­pul­taram do poder cen­tral.

Mas isso já não foi sur­presa para ninguém. É ape­nas o exer­cí­cio puro poder, pelo poder.

Se posso, faço como quero e da forma que me aprou­ver. Se o ali­ado de ontem já não me serve ou se já não me serve tanto, que fique pelo meio do cam­inho ou que ocupe um espaço com­patível com a importân­cia do momento.

Quem bem con­hece tal estraté­gia é o dep­utado Waldir Maran­hão. Quando ocupou interi­na­mente a presidên­cia da Câmara dos Dep­uta­dos e acor­dou em fazer o papelão de anu­lar o impeach­ment da ex-​presidente Dilma Rouss­eff, era o “bam­bambã”, o guer­reiro do povo brasileiro, sendo inclu­sive con­dec­o­rado e, pelo “serviço prestado”, seria o can­didato ao Senado da República, na chapa gov­ernista.

A história já con­hece­mos. Quando perdeu sua importân­cia, seu par­tido e tudo mais, perdeu a chance de ver cumpri­das todas as promes­sas que lhe foram feitas.

O “guer­reiro” que virou cha­cota nacional e inter­na­cional pela “estu­dan­tada” de anu­lar o impeach­ment, sequer foi aceito no par­tido da ex-​presidente. Os que lhe aplau­diam, viraram-​lhes as costas.

Sem leg­enda, sem promes­sas cumpri­das, foi bus­car abrigo num par­tido que faz oposição aos atu­ais donatários do poder.

O prag­ma­tismo empre­gado não respeita a história ou ausên­cias. Quem pode­ria supor que depois de aju­dado a vida política inteira pelo grupo do fale­cido dep­utado Hum­berto Coutinho, de ter pran­teado sobre o seu cadáver, o gov­er­nador iria aliar-​se aos seus adver­sários no Municí­pio de Cax­ias? Será que se Hum­berto Coutinho fosse vivo teria tal cor­agem? Ou será que aproveita da frag­ili­dade, até pelo estado da viu­vez recente para obri­gar o grupo a aceitar a dividir o palanque com os arquirrivais?

De todos, entre­tanto, ninguém con­heceu com mais ênfase o prag­ma­tismo comu­nista que o ex-​governador José Reinaldo Tavares. E digo isso porque estive uma ou duas vezes com ele, quando ainda gov­er­nador, e vi o car­inho pater­nal com que tratava o atual gov­er­nador, na ideia de fazê-​lo o ver­dadeiro “reden­tor” do Maranhão.

Quem não con­hece essa história, pode se con­tentar com exame dos números da eleição de 2006. Lá se tem clara certeza que votos que “fez” o dep­utado fed­eral Flávio Dino, eram votos de “gov­erno”.

O exame é bem sim­ples, basta ver os colé­gios eleitorais, para se ter a certeza do real “tamanho eleitoral” do atual gov­er­nador naquela época. Só para resumir: Era nenhum.

Ape­sar disso, e de tudo mais que fez depois, o ex-​governador José Reinaldo só foi ouvido e respeitado até o dia em que aquele que ele tanto son­hou como “lib­er­ta­dor” do Maran­hão chegou ao poder.

A par­tir daí só lhe sobraram os desaforos, se não do próprio gov­er­nador, dos seus pre­pos­tos, a ponto do ex-​governador não aguen­tar mais e sair do grupo político.

Pois é, prag­mati­ca­mente, excluíram o ex-​governador do pro­jeto político de vir a ser senador pelo Maran­hão apoiado pelas forças que estão com o gov­er­nador e con­tin­uar a con­tribuir com o pro­jeto que foi o pai.

Logo ele, que seria o can­didato nat­ural deste grupo. Alguém estran­haria ou ques­tionaria se desde o primeiro dia do gov­erno o gov­er­nador anun­ci­asse como seu primeiro can­didato ao Senado? Todos sabe­mos que não.

Todos esper­avam isso, entre­tanto, quem foi “ungido” como primeiro can­didato do grupo foi o pres­i­dente do PDT e, no final do ano pas­sado, o gov­er­nador anun­ciou que segunda vaga iria para o “murro”, o que se via­bi­lizasse seria o can­didato.

Aquela afir­mação, na entre­vista de final de ano, sabe­mos pelo resul­tado da con­venção, não era ver­dadeira e sim um despiste para excluir José Reinaldo.

A con­venção escol­heu os can­didatos que o gov­er­nador quis, inclu­sive os seus suplentes, com os par­tidos que com­põem a col­i­gação majoritária “engolindo” o prato como feito.

Aceitaram a segunda can­di­datura da dep­utada Eliziane Gama, exceto pelo jogo de cena de parte do Par­tido dos Tra­bal­hadores, sem maiores sobres­saltos.

A quadra política estad­ual, pelo menos do lado dos gov­ernistas, está desen­hada con­forme o prag­ma­tismo empreen­dido pelo gov­er­nador, que não enx­er­gou qual­quer obstáculo ético ou moral em usar todas as armas que dis­põe para a guerra eleitoral.

Resta saber se o cidadão/​eleitor estará de acordo com o que foi feito.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

TIROS EM MANÁGUA, SILÊN­CIO NO RIO DE JANEIRO.

Escrito por Abdon Mar­inho

TIROS EM MANÁGUA, SILÊN­CIO NO RIO DE JANEIRO.

Por Abdon Mar­inho.

POUCO mais de 120 dias é o inter­valo de tempo ocor­rido entre a exe­cução da vereadora Marielle Franco (Psol), de 38 anos, ocor­rida no dia 14 de março pas­sado, no Rio de Janeiro, Brasil e a exe­cução da médica Raynéia Gabrielle Lima, de 31 anos, assas­si­nada na noite da última segunda-​feira, 23 de julho, em Manágua, cap­i­tal da Nicarágua.

Tão perto. Tão longe. Tão semel­hante. Tão dis­tinto.

A impressão é que os dois fatos ao mesmo tempo tão semel­hantes e próx­i­mos no tempo, ocor­reram com sécu­los de dis­tân­cia, num inimag­inável espaço físico, como se fos­sem em galáx­ias diferentes.

Com razão, por ocasião dos assas­si­natos da vereadora Marielle e do motorista Ander­son Gomes, tive­mos um clamor pop­u­lar, com ampla e irrestrita cober­tura da mídia. Tive­mos, sobre­tudo, as man­i­fes­tações dos par­tidos políti­cos e dos chama­dos movi­men­tos soci­ais cla­mando, repito, com razão, pela elu­ci­dação do crime, com a punição dos cul­pa­dos.

Tais par­tidos políti­cos e movi­men­tos soci­ais acionaram os movi­men­tos de dire­itos humanos do país e do exte­rior con­tra a exe­cução das víti­mas. Movi­men­tos de defesa das mul­heres fiz­eram – e ainda fazem – inúmeros protestos cla­mando por Justiça.

Órgãos inter­na­cionais, como a Anis­tia Inter­na­cional, fiz­eram vela­dos e explíc­i­tos protestos con­tra as autori­dades brasileiras, ques­tio­nando os mecan­is­mos e eficá­cia da polí­cia brasileira na elu­ci­dação do crime – até hoje fazem isso.

Por mais hor­ro­roso que possa pare­cer, o grande “sonho de con­sumo” de muitos dos puxaram e puxam os protestos pela elu­ci­dação do crime que viti­mou a vereadora car­i­oca era encon­trar alguma respon­s­abil­i­dade, ainda que indi­reta, que pudessem atribuir a respon­s­abil­i­dade pelo crime ao gov­erno “golpista de Temer” e seus ali­a­dos. Mais que a elu­ci­dação em si, o respeito pela vida per­dida, muitos bus­cavam uma pauta.

Vejam, entendo que todo crime deva ser elu­ci­dado e os respon­sáveis punidos com rigor. A exceção de cer­tos exageros e a torpe ten­ta­tiva de se ten­tar poli­ti­zar um assas­si­nato, uma vida que foi per­dida, a sociedade tem o dire­ito e, tam­bém, o dever de cobrar soluções das autori­dades e exi­gir a punição dos respon­sáveis.

Dito isso, soa incom­preen­sível que os mes­mos par­tidos, os mes­mos movi­men­tos, os mes­mos cole­tivos, os mes­mos organ­is­mos nacionais e inter­na­cionais que se mobi­lizaram e foram às ruas dias a fio em quase todas as cap­i­tais do país por ocasião do assas­si­nato da vereadora Marielle, pouco ou nada façam em relação ao assas­si­nato da médica per­nam­bu­cana Raynéia Lima, ocor­rido em Manágua, na Nicarágua.

No caso da pre­sente exe­cução, difer­ente do ocor­rido no caso da vereadora, temos como certo que o mesmo ocor­reu na esteira da vio­lên­cia provo­cada pelo gov­erno daquele país que já ceifou quase qua­tro­cen­tas vidas em poucos meses, sendo a brasileira mais uma vítima dos gru­pos para­mil­itares que assom­bram a pop­u­lação civil daquela nação para manutenção de um régime que já perdeu a legit­im­i­dade.

Os teste­munhos de fontes insus­peitas, inclu­sive os reit­er­a­dos depoi­men­tos do reitor da uni­ver­si­dade onde estu­dava a brasileira, apon­tam como respon­sável pela exe­cução da médica – e de tan­tos out­ros cidadãos –, o gov­erno de Manágua.

Pois é, estran­hamente os tiros que cei­faram a vida de uma jovem é promis­sora médica, que muito, cer­ta­mente, iria fazer pela pop­u­lação brasileira, não des­per­taram qual­quer indig­nação dos mes­mos valentes que tanto protes­taram (com razão) diante do assas­si­nato da vereadora car­i­oca.

Arrisco dizer que man­i­fes­taram mais indig­nação com a pin­tura de um cav­al­inho branco numa colô­nia de férias por umas cri­anças num duvi­doso tra­balho de inter­ação com o ani­mal do que com o assas­si­nato de uma cidadã brasileira.

Os par­tidos políti­cos que foram às ruas há cento e vinte dias, emitem notas cíni­cas e dúbias ou demon­stram clara­mente o apoio ao régime que em curto espaço de tempo já executou mais cidadãos civis daquele país – e agora uma brasileira –, do que a ditadura mil­i­tar em 21 anos de mando no Brasil. Com o difer­en­cial de que muitas das víti­mas da ditadura brasileira pere­ce­ram em con­fron­tos arma­dos e não em cruéis exe­cuções como vem ocor­rendo no país cen­tro amer­i­cano.

Emb­ora não seja sur­preen­dente que se com­portem assim, que apoiem clara­mente a carnific­ina que o régime de Daniel Ortega tem pro­movido, nunca esta­mos prepara­dos para tamanha degradação moral e ética.

As vidas dos quase qua­tro­cen­tos mor­tos não inter­es­sam? A vida da mul­her brasileira não importa? Cadê os car­tazes de protestos? Cadê os gri­tos de pre­sente! Cadê os slo­gans “mexeu com uma, mexeu com todas”? Era de men­tira? Só valia/​vale para as ali­adas e alin­hadas politi­ca­mente as causas que defen­dem? As demais mul­heres podem ser exe­cu­tadas em praça pública?

Estran­hamente, o único com­por­ta­mento razoável e lúcido veio do gov­erno “golpista”, que não “engoliu” a ver­são ven­dida pelo gov­erno nicaraguense de que a brasileira teria sido vítima de um crime aleatório. Ver­são essa rejeitada por todas pes­soas sérias e aceita como ver­dade abso­luta por muitos par­tidos e movi­men­tos soci­ais brasileiros. Fin­gir ou igno­rar que houve um bru­tal crime e quem é o respon­sável por ele, isso que fiz­eram, isso que fazem. Uma ver­gonha! Um horror!

Vivo mil anos e não me acos­tu­marei com este com­por­ta­mento sele­tivo, esse cin­ismo des­graçado.

Eram sin­ceros quando protes­tavam por justiça para Marielle? Quando cobravam empenho das autori­dades na elu­ci­dação do crime? Raynéia tam­bém não merece justiça? Por que silen­ciam agora diante de um claro homicí­dio prat­i­cado por uma ditadura cor­rupta? O que se esconde por trás do silên­cio em relação à bár­bara exe­cução ocor­rida em Manágua?

Em pouco mais de cento e vinte dias duas mul­heres brasileiras foram covarde­mente exe­cu­tadas. A primeira desconfia-​se das moti­vações e de quem sejam os crim­i­nosos, des­perta todo tipo de protestos dos par­tidos políti­cos, movi­men­tos e organ­is­mos, tanto no Brasil quanto no estrangeiro. A segunda, igual­mente assas­si­nada sabe-​se os motivos e os gru­pos crim­i­nosos apoia­dos por um gov­erno cor­rupto e tru­cu­lento, para esta o silên­cio, nada de protestos, a indifer­ença covarde e o apoio explíc­ito aos assas­si­nos.

Qual a difer­ença entre estas duas mul­heres igual­mente exe­cu­tadas e reti­radas dos seios de suas famílias e seus ami­gos? Qual a dis­tân­cia entre protestos provo­ca­dos pelos estampi­dos do Rio de Janeiro e o obse­quioso silên­cio pelos estampi­dos de Manágua?

Só não acred­ito que os tiros que assas­si­naram Marielle, no Rio de Janeiro, e os que exe­cu­taram Raynéia, em Manágua, atin­gi­ram – e mataram –, a ver­gonha destes par­tidos e movi­men­tos, porque, estou certo que, se ver­gonha tiveram algum dia, perderam há muito tempo.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

NOTAS DIVERSAS.

Escrito por Abdon Mar­inho

FAKE NEWS.

UMA das maiores pre­ocu­pações da atu­al­i­dade, sobre­tudo na seara polit­ica, é com as chamadas fake news, difusão de men­ti­ras nos meios de comu­ni­cação de massa, prin­ci­pal­mente na internet.

Visando com­bater esse mal o Tri­bunal Supe­rior Eleitoral — TSE, cele­brou um acordo com diver­sos par­tidos, onde os quais se com­pro­m­e­tem em não pro­duzir e a com­bater as tais fake news.

Os par­tidos tin­ham até o dia 21 de junho para aderirem ao acordo.

Ape­sar da aceito por número razoável de par­tidos, alguns não se com­pro­m­e­teram com a ini­cia­tiva.

Acho que os cidadãos/​eleitores que tanto pregam e dese­jam mudanças já podem eleger um critério na hora de votar: não escol­her os mem­bros dos par­tidos que não têm com­pro­misso com a verdade.

Afi­nal, se não querem ter qual­quer com­pro­misso com a ver­dade, que com­pro­misso terá com o cidadão/​eleitor?

COLÔM­BIA E URIBE.

ELEITO recen­te­mente para o Senado colom­biano, o ex-​presidente Alvaro Uribe anun­ciou sua renún­cia ao cargo. O motivo será o fato de ter sido denun­ci­ado à Suprema Corte daquele país por alguns crimes.

Não sei – e não teria como saber –, se ele, Uribe, é cul­pado ou inocente das acusações que lhe são imputadas, entre­tanto, não temos como deixar de recon­hecer e lou­var a ati­tude de renun­ciar ao mandato para poder exercer sem qual­quer pre­juízo do cargo de senador sua defesa.

Ati­tude, aliás, bem difer­ente das ado­tadas pelos políti­cos brasileiros, que tendo prat­i­cado algum “malfeito” movem céus e ter­ras à procura de um mandato para, a todo custo, ten­tar driblar a Justiça brasileira.

Uma ver­gonha asquerosa.

MIS­OGINIA VERMELHA.

POIS É, não faz muitos dias a can­di­data pelo PCdoB Manuela D’Ávila e seus ali­a­dos quase fazem vir abaixo recla­mando de suposto machismo da parte dos entre­vis­ta­dores de um pro­grama de tele­visão, tudo por ter achado que fora inter­romp­ida em dema­sia.

Agora, acabo de saber, o seu par­tido elaborou uma car­tilha onde nem falam na, ainda, can­di­data à presidên­cia, no que­sito de dis­tribuição de recur­sos do “fundo eleitoral” para a cam­panha deste ano, infor­mando pri­orizar, ape­nas a can­di­datura do sen­hor Flávio Dino ao gov­erno do Maranhão.

Talvez agora, a sen­hora Manuela D’Ávila entenda o real sen­tido de machismo, mis­oginia, e out­ros con­ceitos de que tanto falam e tão pouco con­hecem.

CIRADA.

QUEM pen­sava que o can­didato Ciro Gomes (PDT) iria se con­tentar em ameaçar as funções insti­tu­cionais do Min­istério Público: “ele que cuide de gas­tar o restinho das atribuições dele por que se eu for pres­i­dente essa mamata vai acabar, porque ninguém pode viver autono­ma­mente”, enganou-​se, redonda­mente, o pres­i­den­ciável, agora, saiu-​se com mais uma: declarou que a ape­nas a sua vitória pode lib­er­tar Lula da prisão.

O can­didato infor­mou que devolverá juizes e o Min­istério Público para a “caixinha”.

Não sei o que pode­ria ser mais claro em matéria de ameaça as insti­tu­ições da República.

Como sabe­mos o Poder Judi­ciário e o Min­istério Público, assim como o Poder Exec­u­tivo e o Leg­isla­tivo já estão den­tro de suas “caix­in­has”, aque­las que lhes foram des­ig­nadas pela Con­sti­tu­ição Fed­eral de 1988.

Ao que parece, o can­didato quer se colo­car acima das bal­izas con­sti­tu­cionais, num pro­jeto dita­to­r­ial para o país.

Veja que o can­didato além das insti­tu­ições ameaça um dos pilares da ordem nacional: a segu­rança das decisões judiciais.

O ex-​presidente foi con­de­nado em duas instân­cias da Justiça. Sair da cadeia só numa mudança de entendi­mento nas cortes supe­ri­ores, o que é pouco provável se anal­is­ar­mos o ret­ro­specto ainda mais quando nes­tas instân­cias supe­ri­ores já se tem mais a pos­si­bil­i­dade de exame de fatos.

Outra hipótese seria o STF mudar o entendi­mento de 2016 para “proibir”, o termo tem que ser esse, que con­de­na­dos em segunda instân­cia só ini­ciem o cumpri­mento de suas penas após esgo­ta­dos todos os recur­sos em todas as instân­cias da justiça.

Como vemos são pos­si­bil­i­dades que estão fora do alcance do pres­i­dente, a não ser que pre­tenda dar um golpe de Estado após assumir, pois mesmo a pos­si­bil­i­dade de indulto pre­vista no artigo 84 da Con­sti­tu­ição Fed­eral, o con­de­nado encar­cer­ado, nas atu­ais condições, não se faz mere­ce­dor.

A sociedade pre­cisa ficar atenda para um fato: o can­didato Ciro Gomes, do PDT, tem abu­sado das ameaças as insti­tu­ições nacionais, agem sem qual­quer freio, sem sep­a­rar o que é pos­si­bil­i­dade jurídica do que é bra­vata eleitor­eira para enga­nar os incau­tos.