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ADMIRÁVEL MUNDO NOVO.

Escrito por Abdon Mar­inho

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO.

Por Abdon Marinho.

SOU TOLO, bem tolo, daque­les que con­ver­sam com a secretária eletrônica e responde ou se des­pede das men­sagens de áudio quando, even­tual­mente, recebe alguma. Deve ser um traço da edu­cação que recebi.

Aprendi a cumpri­men­tar, dar bom dia, boa tarde ou boa noite, a dizer até logo, obri­gado, foi um prazer.

Assim, quando recebo um cumpri­mento ou infor­mação, auto­mati­ca­mente respondo. Às vezes passo algum con­strang­i­mento ao respon­der à “máquina” na pre­sença de estran­hos ou me pego a rir soz­inho quando me vejo cumpri­men­tando um áudio.

São invenções mar­avil­hosas do admirável mundo dig­i­tal que bicho analógico, do século pas­sado, ainda não se habituou.

Não é fácil. Essas máquinas pare­cem feitas para inter­a­gir e até rea­gir às nos­sas emoções.

Outro dia escrevi um texto em coau­to­ria com a máquina ou aquilo que podemos chamar de inteligên­cia arti­fi­cial.

Logo cedo, equipa­men­tos eletrôni­cos a pos­tos sob uma árvore pus-​me a dedil­har o teclado.

O assunto deman­dando pesquisa pas­sei a uti­lizar “minha assis­tente digital”:

— Siri, pre­ciso de infor­mações sobre isso.

— Siri, quando acon­te­ceu esse fato?

— Siri, quais as estatís­ti­cas sobre estes dados?

Alguns segun­dos depois lá estava ela respondendo.

— Abdon, encon­trei os seguintes dados sobre o assunto; isso acon­te­ceu no ano tal; os dados são estes.

Rap­i­da­mente abria a página mais ade­quada ao texto e copi­ava a infor­mação ou só me inteirava do assunto.

Vez ou outra fazia uma per­gunta que ela não enten­dia ou não con­seguia respon­der e lá vinha ela:

— Des­culpe, Abdon, não con­sigo enten­der ou encon­trar essa resposta.

Out­ras vezes respondia:

— Abdon, quero muito lhe aju­dar mas não con­sigo, pode refor­mu­lar a pergunta?

Dis­traído e preso a for­mação analóg­ica lá estava eu respon­dendo a máquina:

— Não se pre­ocupe Siri, encon­trarei a resposta de outro modo.

Ou: — obri­gado, Siri, era isso mesmo.

Enquanto “tro­cava ideias” com a Siri, minha assis­tente pes­soal e ia dig­i­tando o texto pen­sava, com meus botões: Deus meu, estou inter­agindo com uma máquina e ela está me aju­dando, o que falta ainda acon­te­cer? Chegará em quanto tempo o dia em que só direi o assunto e o com­puta­dor escreverá o texto sozinho?

A máquina não faz tudo soz­inha, faz-​se necessário que tenha alguém capac­i­tado para instruí-​la e para per­gun­tar cor­re­ta­mente.

Mas con­tar com a par­tic­i­pação ativa da máquina na elab­o­ração daquele texto foi dev­eras grat­i­f­i­cante.

Vive­mos uma era inter­es­sante. Hoje o tablet ou smart­phone, depois alguns dias com você, passa a con­hecer seu vocab­ulário e estilo de escr­ever. Você começa uma palavra e ele já coloca, como con­tin­u­ação, uma frase inteira ou, até, mais uma, dando-​lhe ape­nas o tra­balho de escol­her a mel­hor opção.

Boas máquinas com seus pro­gra­mas potentes ou mesmo aplica­tivos já alerta e cor­rigem erros ortográ­fi­cos que antes pas­savam despercebidos.

Na área jurídica, pro­gra­mas de com­puta­dores já pro­duzem petições com­plexas em questões de segun­dos, depen­dendo ape­nas que lhe passem as infor­mações bási­cas ou mesmo que só lhe diga o assunto. Já existe neste nesta área uma clara e real pre­ocu­pação com a sub­sti­tu­ição do advo­gado pela máquina.

Na med­i­c­ina, igual­mente, os avanços tec­nológi­cos e de inteligên­cia arti­fi­cial, já são capazes de iden­ti­ficar as enfer­mi­dades mais obscuras; pro­gra­mas a par­tir de deter­mi­nadas ressonân­cias, apre­sen­tam “cortes” do corpo humano em todos os sen­ti­dos.

Não demora e as próprias máquinas estarão sub­sti­tuindo médi­cos em muitos pro­ced­i­men­tos cirúr­gi­cos.

Isso, ape­nas para ficar nes­tas áreas mais comuns.

O certo é que a tec­nolo­gia e/​ou a inteligên­cia arti­fi­cial são real­i­dades incon­tornáveis, para quais ter­e­mos que está prepara­dos.

Será isso o que vai deter­mi­nar a posição das nações no cenário mundial. O domínio e edu­cação sobre este novo mundo que se apre­senta será a nova fron­teira, a nova riqueza.

Infe­liz­mente, para nós brasileiros, será mais um “ateste” do nosso atraso.

O país que já encontra-​se na rabeira em tudo que é indi­cador edu­ca­cional, mais uma vez, ficará aquém de qual­quer clas­si­fi­cação.

O futuro chegou, o admirável mundo novo bate à porta enquanto o Brasil encontra-​se esta­cionado um pouco à frente da Idade Média. A parcela pop­u­lação brasileira com acesso às infor­mações e tec­nolo­gias é ínfima, não deve chegar a um por cento. Con­hec­i­men­tos bási­cos em matemática e lin­guagem não chega a cinco por cento.

Qual o número de estu­dantes da rede pública pos­sui acesso a com­puta­dores e a inter­net? Um número baixís­simo. São estu­dantes a quem se nega o futuro.

Vejam, enquanto bem aí, no Uruguai, todas as cri­anças têm acesso a um note­book, podendo, inclu­sive, levá-​lo para casa e suas esco­las pos­suem inter­net que pos­si­bili­tam inteiração com out­ros estu­dantes em qual­quer canto do país através de video­con­fer­ên­cia, por aqui se fes­teja, com fogos, a inau­gu­ração de uma escola de duas salas com ban­heiro. Uma vergonha!

A pauta edu­ca­cional, que, inclu­sive, bal­iza a escolha de min­istros, é a afinidade com o tal pro­jeto “Escola Sem Par­tido”. Uma loucura!

O que o Brasil pre­cisa é repen­sar toda sua estraté­gia edu­ca­cional e/​ou inves­ti­mento mas­sivo, com tec­nolo­gia de ponta nas esco­las e com qual­i­fi­cação profis­sional decente, de sorte a evi­tar que fiquemos/​continuemos tão atrasa­dos em relação aos demais países.

Como falar em “Escola Sem Par­tido” se, sequer, temos esco­las. Sim, essa é a ver­dade, não temos esco­las.

O que temos é algo que está longe de preparar as cri­anças e jovens para os desafios do pre­sente e muito menos para os desafios do futuro.

O Brasil que sem­pre foi con­sid­er­ado o país do futuro ficou para trás e agora, com o futuro à porta é a mais elo­quente refer­ên­cia do pas­sado.

A cor­rupção, os desac­er­tos e a incom­petên­cia roubaram-​nos tudo, até o o futuro.

O mundo que se aviz­inha será divi­dido entre os que pos­suem con­hec­i­mento tec­nológico e está preparado para as novas inteligên­cias e os que ficarão às mar­gens disso tudo.

A sociedade seguirá idên­tico roteiro.

O Brasil — e nosso povo –, infe­liz­mente, estará neste segundo grupo. E, pior, sem qual­quer chance de acom­pan­har as demais nações desen­volvi­das.

Esse é o ver­dadeiro desafio que se impõe.

Abdon Mar­inho é advogado.

SEMOSTRAÇÃO IMBERBE

Escrito por Abdon Mar­inho

SEMOSTRAÇÃO IMBERBE.

Por Abdon Mar­inho.

POR QUE ele faz isso? Está ficando feio. Parece coisa de grêmio estu­dan­til do século pas­sado. Coisa de “patota”.

Foi assim, meio à queima roupa, que um amigo abordou-​me outro dia: ao tempo em que inda­gava, já exter­nava sua con­trariedade e opinava.

Tomei um susto. Ele, a quem se refe­ria esse amigo, o gov­er­nador do Maran­hão, Sen­hor Flávio Dino. O “ele”, no caso, pode ser plu­ral­izado dado ao fato de não ape­nas o gov­er­nador, mas todo o seu entorno, não ape­nas repro­duzir, como tam­bém emi­tir opinião que dis­tam de suas respon­s­abil­i­dades como servi­dores públi­cos pagos pelos con­tribuintes para bem cuidarem dos inter­esses do estado e não faz­erem pros­elit­ismo político dia e noite.

Não foi a primeira pes­soa de quem cul­tivo a intim­i­dade a mostrar-​se inco­modado com o fato de sua Excelên­cia ter esse pendão pela semostração: ato de se mostrar, de se exibir. 2 Mania de osten­tação (de grandeza, inteligên­cia, con­hec­i­mento, din­heiro, luxo etc.).

Se, durante a cam­panha eleitoral poder-​se-​ia deb­itar os exces­sos aos calores próprios da dis­puta, pas­sado o pleito, com o gov­er­nador reeleito, ainda em primeiro turno, o falatório de cunho ide­ológico perde qual­quer sentido.

Pior, ainda, quando sua Excelên­cia – e os seus ali­a­dos, na maio­ria servi­dores públi­cos –, se volta con­tra um pres­i­dente eleito e, por­tanto, pos­suidor da legit­im­i­dade con­ferida pelas urnas.

O país passa por uma de suas maiores crises de todos os tem­pos – legado de gestões desastradas –, os esta­dos da fed­er­ação, prati­ca­mente todos, sem exceção, fali­dos.

Não faz sen­tido algum, que o gov­er­nador do Maran­hão, estado atrás em quase tudo que é indi­cador econômico e/​ou social, junto com out­ros próceres nordes­ti­nos, façam coro con­tra um gov­erno demo­c­ra­ti­ca­mente eleito e até se recusem a par­tic­i­par de reuniões com os demais gov­er­nadores eleitos para tro­carem ideias e encon­trarem pon­tos em comuns no enfrenta­mento da crise, como vimos recen­te­mente, quando um único gov­er­nador da região nordeste, o do Piauí, com­pare­ceu a uma reunião com o pres­i­dente eleito.

A reper­cussão da descorte­sia foi tão mal rece­bida pelos eleitores que uma sem­ana depois estavam todos em Brasília ten­tando uma agenda com o futuro gov­erno que, desta vez, não lhes deu “bola”, fazendo-​os voltar para seus esta­dos sem ter fal­ado com ninguém de relevân­cia do gov­erno a se insta­lar a par­tir de janeiro.

Nada é mais saudável à democ­ra­cia que uma oposição con­sciente e con­sis­tente, entre­tanto, o que temos visto, com o nosso gov­er­nador à frente é que os der­ro­ta­dos no pro­jeto nacional não “desce­ram” do palanque e se “armam” para pedir o impeach­ment do futuro gov­erno tão logo ele se instale em 1º de janeiro.

Não se trata ape­nas de um com­por­ta­mento de “patota” de grêmio do século pas­sado, de movi­men­tos sec­tários, ou tolice pura e sim­ples, esta­mos diante de ati­tudes tres­lou­cadas, que o gov­er­nador do estado faz “tudo” para vender-​se como líder, emb­ora sem muito êxito, tanto que foi “rep­re­sen­tado” pelo gov­er­nador do Piauí.

Um amigo, exagerando na car­i­catura, disse-​me recen­te­mente, na esteira desta dis­cussão, que para “apare­cer” só estava fal­tando a sua Excelên­cia amar­rar uma melan­cia no pescoço e sair sem roupas pela Praça Bened­ito Leite durante a feira do domingo.

Sem dá azo a tamanho exagero, até porque não acred­ito que cheguem a tanto, forçoso não recon­hecer que vem existindo um excesso de exposição nas con­du­tas dos atu­ais man­datários do estado, com, infe­liz­mente, o gov­er­nador à frente.

Tamanha exposição, inclu­sive, chega a mac­u­lar a dig­nidade do cargo ocu­pado, ferindo o respeito que se deve ter pela litur­gia do poder, o que certa vez, quando pres­i­dente da República, cobrou o ex-​presidente José Sar­ney.

Outro dia tomei con­hec­i­mento que um secretário do gov­erno, dep­utado fed­eral eleito, recla­mara que o gov­er­nador vem sendo “injus­ti­fi­cada­mente” ata­cado.

Ora, o secretário iden­ti­fica o efeito porém passa ao largo da causa.

Se sua Excelên­cia vem sendo “injus­ti­fi­cada­mente” ata­cado a culpa é exclu­si­va­mente sua, do excesso de exposição, da ten­ta­tiva vã de querer se pro­mover a “líder” da oposição ao futuro gov­erno.

Esse desejo incon­tido de “her­dar” o espólio do lulismo, do petismo e das esquer­das (se é que algum dia exis­tiu isso no Brasil), tem suas consequências.

Infe­liz­mente, o gov­er­nador, além de não aten­tar para fato de que a vit­rine política é um lugar que se sujeita a ques­tion­a­men­tos e ataques, tem colo­cado os seus inter­esses políti­cos pes­soais à frente dos inter­esses do estado, con­forme já reclamou, mais de uma vez, o Jor­nal Pequeno, ali­ado de primeira hora do atual governo.

O gov­er­nador, assim como qual­quer cidadão, tem dire­ito de ter “lado” político, de pos­suir inter­esse legí­timo de algum dia vir a ser pres­i­dente da República, o que não pode é igno­rar suas atribuições fun­cionais, pois antes de ser político, de ter inter­esses eleitorais, ele tem um estado para admin­is­trar e que pre­cisa dos bons prés­ti­mos do gov­erno federal.

O próprio gov­er­nador, ao lançar mão de um tar­dio decreto de aus­teri­dade, é o primeiro a recon­hecer que a situ­ação finan­ceira do Maran­hão não é con­fortável, em grande parte dev­ido aos equívo­cos da sua própria admin­is­tração.

Lem­bro de ter escrito, logo no iní­cio do gov­erno, que dev­e­riam (e pode­riam) ser aus­teros pois estava a suceder uma estru­tura de quase cinquenta anos, pode­ria exonerar muita gente, rever todos os con­tratos, cor­ri­gir muitos dos “malfeitos”.

Sentira-​se agre­di­dos, não ape­nas man­tiveram quase todos servi­dores enraiza­dos dos gov­er­nos ante­ri­ores, como trataram de nomear um grande número de novos servi­dores, na maio­ria das vezes escolhendo-​os mais pelos critérios políti­cos que de com­petên­cia com­pro­vada; com relação aos con­tratos, aos invés de reduzi-​los, fiz­eram foi ampliar, no que­sito aluguel de imóveis, tidos pelos adver­sários como “cama­radas”, o gov­erno não fica devendo as maiores imo­bil­iárias da cidade; quan­tos aos “malfeitos” o noti­ciário, vez ou outra, não deixa esque­cer o quanto se fazem pre­sente.

Uma admin­is­tração trôpega que não apre­senta resul­ta­dos min­i­ma­mente sat­is­fatórios nas áreas essen­ci­ais como edu­cação, saúde, infraestru­tura e que reduziu a pos­si­bil­i­dade de cresci­mento econômico do estado se torna vul­nerável às críti­cas sejam elas jus­tas ou não.

Outro dia amigo – não digo o nome para evi­tar fux­ico –, fazia troça com a política econômica do gov­erno estad­ual.

Dizia: “— Abdon, a prin­ci­pal car­ac­terís­tica deste gov­erno em relação à econo­mia é o saudosismo”.

Olhei intri­gado ante a assertiva. Ele con­tin­uou: “— lem­bra que quando chegastes aqui, em mea­dos dos anos oitenta, as pes­soas não “faziam” super­me­r­cado e, sim, Lusi­tana? Pois é, a política econômica do gov­erno, favore­cendo um único grupo, “que­brou” todos os demais super­me­r­ca­dos, agora, como nos anos oitenta, as pes­soas não estão mais “fazendo” super­me­r­cado, fazem Mateus”.

Pois bem, com pouco ou quase nada de pos­i­tivo a mostrar, com um “dever de casa” longe cumprido a primeira linha, sua Excelên­cia, veste-​se de pro­fes­sor de Deus nas redes soci­ais, opinando sobre tudo e todos, atraindo para si – e para o gov­erno –, os ques­tion­a­men­tos e críticas.

Tanta exposição – do gov­er­nador, secretários e adu­ladores –, não faz bem nem aos expos­tos e muito menos ao gov­erno, pois as pes­soas acabam por perder o “respeito” pela autori­dade.

É dizer, se as próprias autori­dades, como dizia papai, não se dão o respeito, como exi­gir que out­ros o façam.

Na atual quadra, tenho visto coisas inédi­tas, provo­cadas por esse excesso de exposição. Nas próprias Redes Soci­ais do gov­er­nador, já vi cidadãos chamando-​o de “nigrinha” (à toa, vadia, vagabunda; pes­soa que não presta, que não vale nada. Ape­sar de ser uma palavra fem­i­nina tam­bém pode ser apli­cada a homens); na mesma linha, já vi um outro apelando para que pare com a “nigrin­hagem”; e, ainda, um outro “pedindo” que deix­asse de “fuler­agem” (falta de seriedade; modo de agir sem refi­na­mento).

Emb­ora sejam ter­mos comuns do vocab­ulário maran­hense, vamos com­bi­nar, não fica bem quando apli­ca­dos a um gov­er­nador, secretários ou out­ras autori­dades de alto escalão, não tanto pelas pes­soas em si, mas pelos próprios car­gos que ocu­pam por del­e­gação da maio­ria da pop­u­lação.

Se nas redes soci­ais do próprio gov­er­nador – e dos seus ali­a­dos –, lê-​se algo como o referido acima, dá para imag­i­nar o que “rola” noutras redes, sobre­tudo, nos gru­pos de What­sApp. Pois é, são críti­cas ter­ríveis e de todos os cun­hos, pas­sando pela com­pleição física à insin­u­ações de con­teúdo sex­ual, que por decoro próprio, deixo de relatar.

O secretário ao recla­mar de “ataques injus­ti­fi­ca­dos”, talvez devesse recon­hecer que tais “ataques” nada mais são do que as con­se­quên­cias da semostração – implan­tada como estraté­gia política –, e a “fulaniza­cão” das insti­tu­ições decor­rentes de um estilo de gov­erno que inau­gu­raram.

Creio que este­jam equiv­o­ca­dos, mas quem sou eu para achar algo?

Abdon Mar­inho é advo­gado.

MAIS MÉDI­COS: IDE­OLO­GIAS, CON­TRADIÇÕES E NECESSIDADES.

Escrito por Abdon Mar­inho

MAIS MÉDI­COS: IDE­OLO­GIAS, CON­TRADIÇÕES E NECES­SI­DADES.

Por Abdon Mar­inho.

FERVILHA nas redes soci­ais, e até mesmo na imprensa tida por séria, a dis­cussão acerca da saída de Cuba do Pro­grama Mais Médi­cos. Cada um com uma opinião, quase sem­pre, fruto das próprias con­vicções ide­ológ­i­cas dos autores.

No afã de venderem seus posi­ciona­men­tos, ver­dade e men­tira pas­sam a ter o mesmo valor.

O Brasil, tido por muitos como país de anal­fa­betos políti­cos, passa a dis­cu­tir ide­olo­gias em cada esquina e os con­ceitos do que seja esquerda e dire­ita que deixaram de ser meros indi­cadores de direção.

O Pro­grama Mais Médi­cos pas­sou a fazer parte do cardá­pio das dis­cussões ide­ológ­i­cas, sobre­tudo porque muitos dos seus inte­grantes são ori­un­dos de Cuba, que tem nessa “mão de obra” uma de suas prin­ci­pais fontes de renda (senão a prin­ci­pal) e com liq­uidez extraordinária.

E, de outro lado, porque o pres­i­dente eleito do Brasil, já infor­mou das exigên­cias que fará para que esses profis­sion­ais con­tin­uem a tra­bal­har no Brasil a par­tir de 1º de janeiro de 2019: que sejam sub­meti­dos ao “reval­ida”, exame obri­gatório para brasileiros for­ma­dos no exte­rior e estrangeiros que dese­jam tra­bal­har no país; que a remu­ner­ação seja inte­gral­mente paga aos profis­sion­ais; e que pos­sam trazer suas famílias se assim dese­jarem.

Se pesquis­arem nos meus escritos verão que sem­pre fui um crítico da forma como foi implan­tado o pro­grama, ao meu sen­tir, para ben­e­fi­ciar o gov­erno cubano em pre­juízo dos profis­sion­ais que prestam o serviço.

Pare­ceu – e parece-​me –, incom­preen­sível que em pleno século 21, seres humanos ainda sejam trata­dos como “pro­duto”, como são os médi­cos cubanos que tra­bal­ham no pro­grama.

Mais, que o gov­erno brasileiro use recur­sos ori­un­dos dos nos­sos impos­tos para sub­sidiar uma ditadura, como tem feito esses anos todos, desde que cri­aram o programa.

Essa é a crit­ica. Como con­hece­dor da real­i­dade do Maran­hão e dos municí­pios brasileiros sabe­mos que os médi­cos do pro­grama fazem um tra­balho extra­ordinário, indo onde nunca antes nen­hum médico, mesmo os mais vol­un­tar­iosos, ousaram ir prestar assistên­cia aos mais neces­si­ta­dos.

Por outro lado, sabe­mos que – em que pese sua importân­cia e até acred­i­tando nas boas intenções do gov­erno de então em criar tal pro­grama –, ele pos­suiu, sim, a final­i­dade de aju­dar finan­ceira­mente a ditadura cubana já ruim das per­nas desde que deixou de rece­ber sub­sí­dios de out­ros regimes total­itários, primeiro da antiga União Soviética, depois China e por último da Venezuela.

O Pro­grama Mais Médi­cos – não ques­tiono seus méri­tos no atendi­mento dos pacientes brasileiros –, tem sido a forma mais efi­ciente de finan­cia­mento do régime de Havana, por coin­cidên­cia surgido jus­ta­mente quando o começaram a min­guar os sub­sí­dios venezue­lanos, na pré crise que levou o país ao colapso finan­ceiro nos dias atuais.

Basta fazer con­tas. O Brasil paga por médico do pro­grama R$ 11.520,00 (onze mil quin­hen­tos e vinte reais), em dólar, cerca de US$ 3,113.00 (três mil cento e treze dólares), repas­sa­dos men­salmente através da Orga­ni­za­ção Pan-​Americana da Saúde (Opas), que paga mil dólares de salário aos médi­cos cubanos, sendo US$ 400 dólares para sua manutenção no Brasil e US$ 600 dólares deposi­ta­dos em uma poupança na ilha.

Ainda que a enti­dade fique a tit­ulo de taxa de admin­is­tração com 100 dólares/​per capita, out­ros US$ 2,000.00 (dois mil dólares), são repas­sa­dos men­salmente ao gov­erno cubano, isso sem falar nos out­ros US$ 600 (seis­cen­tos dólares) da poupança com­pul­sória dos médicos.

Só como receita direta ao gov­erno, con­siderando os cerca de oito mil e quin­hen­tos médi­cos, são mais de US$ 200 mil­hões de dólares/​anuais, din­heiro “limp­inho» entanto no caixa, sem que tivesse que fazer nada além de fornecer “mão de obra». E, ainda, con­siderando os mes­mos parâmet­ros, mais de US$ 60 mil­hões dólares/​ano à dis­posição do tesouro rel­a­tivos à poupança com­pul­sória dos profissionais.

Até pelo mis­tério que envolve os regimes total­itários não temos como pre­cisar, mas acred­ito que este sub­sidio des­façado ao régime cubano figura entre os maiores, com­para­dos, talvez, aos aportes feitos pela antiga União Soviética, durante o período da Guerra Fria, ou os da Venezuela, nos áureos tem­pos do Chav­ismo.

Com a ascen­são do petismo ao poder foi a vez do Brasil “con­tribuir» com a mori­bunda ditadura cubana.

Assim, feitas tais con­sid­er­ações, temos que o Pro­grama Mais Médi­cos – e mais uma vez sem dis­cu­tir seus méri­tos –, é, tam­bém, um pro­duto ide­ológico com duplo viés: enal­tec­i­mento da ditadura por conta de sua polit­ica de saúde e finan­cia­mento direto do régime. Não deixa de ser emblemático que o Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT tenha tido os mel­hores resul­ta­dos, nas últi­mas eleições, jus­ta­mente nos bol­sões de mis­éria do país, prin­ci­pal­mente no nordeste.

A forma encon­trada, tanto para o pros­elit­ismo, quanto para o finan­cia­mento foi a mais engen­hosa: a pro­pa­ganda cotid­i­ana sub­lim­i­nar, sem uma palavra a sendo dita, ape­nas o tra­balho ordeiro e dis­ci­plinado e os recur­sos caindo na conta do régime sem chamar a atenção, através de uma enti­dade multilateral.

Até para os profissionais/​médicos o con­trato tem sido um negó­cio exce­lente, pois saíram de um salário médio men­sal de US$ 29 (vinte nove dólares) para US$ 1.000 (mil dólares), ainda que US$ 400 (qua­tro­cen­tos dólares), dire­ta­mente, e US$ 600 (seis­cen­tos dólares) através de uma poupança com­pul­sória, sig­nifica um ganho extraordinário.

Mas, como diz o ditado, não existe “crime per­feito”. O Pro­grama Mais Médi­cos não pode­ria ser dire­ciona­dos ape­nas aos médi­cos cubanos, e aí seu ponto fraco essen­cial: ter­mos médi­cos do Brasil e de out­ros países inscritos no mesmo pro­grama recebendo o valor com­pleto pago pelo gov­erno brasileiro, enquanto que out­ros, no caso, os médi­cos cubanos, recebendo menos de menos de um quarto deste valor – se con­sid­er­ar­mos a poupança com­pul­sória.

Como aceitar e jus­ti­ficar que profis­sion­ais exercendo as mes­mas atribuições – e, segundo dizem, até com maior zelo –, rece­bam menos de um quarto do valor pago a out­ros profis­sion­ais pelos mes­mos serviços?

Como aceitar tal con­tradição? Como Jus­ti­ficar? Como aceitar em pleno século 21 que pes­soas sejam tratadas como “pro­priedade” do Estado?

A expli­cação torna-​se mais dramática quando cobrada de um par­tido que nasceu e cresceu empun­hando a ban­deira dos dire­itos dos tra­bal­hadores, que não raro gri­tou a seguinte palavra de ordem: «Tra­bal­hadores do mundo uni-​vos vós não ten­des nada a perder a não ser vos­sos gril­hões”. Cor­ruptela da frase do Man­i­festo Comu­nista de 1848.

Somente os muito cíni­cos e/​ou desprovi­dos de qual­quer ética con­seguem jus­ti­ficar tal coisa. Podem dizer: vejam que mar­avilha esses médi­cos gan­havam em média 29 dólares em Cuba e fizemo-​lhes o ben­efi­cio de pos­si­bil­i­tar que gan­hem qua­tro­cen­tos dólares, é ou não um avanço? Além do mais, dirão, é “justo” que paguem o “inves­ti­mento” que o Estado fez na sua sua for­mação.

Já me dis­seram isso!

Pois é, entre­tanto o cidadão de bem vai avaliar e pon­derar não ser razoável se pague pelo mesmo tra­balho R$ 900,00 (nove­cen­tos reais) e para outro, que even­tual­mente ate tra­balhe menos, R$ 11.520,00 (onze mil quin­hen­tos e vinte reais). Vai dizer tratar-​se de tra­balho escravo, explo­ração do tra­bal­hador, que não é razoável é eti­ca­mente aceitável que seres humanos sejam trata­dos como “coisa”, produto.

Dito isso, tenho por certo que o pro­grama foi cri­ado, como referido alhures, com o duplo viés ide­ológico, tanto no que se ref­ere a doutri­nação como pelo sub­sidio direto à ditadura cubana.

Igual­mente, tenho por certo que as exigên­cias man­i­fes­tadas pelo pres­i­dente eleito – que con­sidero cor­re­tas –, têm, tam­bém o viés ide­ológico.

Assim como o PT, e suas lid­er­anças, nunca me enga­naram ao cri­arem um pro­grama que encerra taman­has con­tradições no que se ref­ere o trata­mento dis­pen­sado aos médi­cos cubanos do pro­grama, o dis­curso do pres­i­dente eleito, recém con­ver­tido em democ­rata, tam­pouco me con­vence, emb­ora, recon­heça, tenha man­i­fes­tado no sen­tido cor­reto.

Encerro dizendo que o Pro­grama Mais Médi­cos tem sido impor­tan­tís­simo para assistên­cia a saúde brasileira e pre­cisa ser man­tido, desta feita, sem os viés ide­ológi­cos que o nortearam até aqui, abrindo a pos­si­bil­i­dade de par­tic­i­pação de médi­cos brasileiros e estrangeiros sub­meti­dos ao exame de afer­ição de suas capaci­dades; com todos sub­or­di­na­dos a mesma leg­is­lação tra­bal­hista e gan­hando os mes­mos val­ores por iguais funções.

Ali­a­dos a isso, a implan­tação de uma per capita igual para os entes fed­er­a­dos garan­ti­ndo a efe­tiva polit­ica do Sis­tema Único de Saúde — SUS.

Além disso, aju­daria muito, se líderes e lid­er­a­dos descessem dos palanques.

Abdon Mar­inho é advo­gado.