AbdonMarinho - SEMOSTRAÇÃO IMBERBE
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

SEMOSTRAÇÃO IMBERBE

SEMOSTRAÇÃO IMBERBE.

Por Abdon Mar­inho.

POR QUE ele faz isso? Está ficando feio. Parece coisa de grêmio estu­dan­til do século pas­sado. Coisa de “patota”.

Foi assim, meio à queima roupa, que um amigo abordou-​me outro dia: ao tempo em que inda­gava, já exter­nava sua con­trariedade e opinava.

Tomei um susto. Ele, a quem se refe­ria esse amigo, o gov­er­nador do Maran­hão, Sen­hor Flávio Dino. O “ele”, no caso, pode ser plu­ral­izado dado ao fato de não ape­nas o gov­er­nador, mas todo o seu entorno, não ape­nas repro­duzir, como tam­bém emi­tir opinião que dis­tam de suas respon­s­abil­i­dades como servi­dores públi­cos pagos pelos con­tribuintes para bem cuidarem dos inter­esses do estado e não faz­erem pros­elit­ismo político dia e noite.

Não foi a primeira pes­soa de quem cul­tivo a intim­i­dade a mostrar-​se inco­modado com o fato de sua Excelên­cia ter esse pendão pela semostração: ato de se mostrar, de se exibir. 2 Mania de osten­tação (de grandeza, inteligên­cia, con­hec­i­mento, din­heiro, luxo etc.).

Se, durante a cam­panha eleitoral poder-​se-​ia deb­itar os exces­sos aos calores próprios da dis­puta, pas­sado o pleito, com o gov­er­nador reeleito, ainda em primeiro turno, o falatório de cunho ide­ológico perde qual­quer sentido.

Pior, ainda, quando sua Excelên­cia – e os seus ali­a­dos, na maio­ria servi­dores públi­cos –, se volta con­tra um pres­i­dente eleito e, por­tanto, pos­suidor da legit­im­i­dade con­ferida pelas urnas.

O país passa por uma de suas maiores crises de todos os tem­pos – legado de gestões desastradas –, os esta­dos da fed­er­ação, prati­ca­mente todos, sem exceção, fali­dos.

Não faz sen­tido algum, que o gov­er­nador do Maran­hão, estado atrás em quase tudo que é indi­cador econômico e/​ou social, junto com out­ros próceres nordes­ti­nos, façam coro con­tra um gov­erno demo­c­ra­ti­ca­mente eleito e até se recusem a par­tic­i­par de reuniões com os demais gov­er­nadores eleitos para tro­carem ideias e encon­trarem pon­tos em comuns no enfrenta­mento da crise, como vimos recen­te­mente, quando um único gov­er­nador da região nordeste, o do Piauí, com­pare­ceu a uma reunião com o pres­i­dente eleito.

A reper­cussão da descorte­sia foi tão mal rece­bida pelos eleitores que uma sem­ana depois estavam todos em Brasília ten­tando uma agenda com o futuro gov­erno que, desta vez, não lhes deu “bola”, fazendo-​os voltar para seus esta­dos sem ter fal­ado com ninguém de relevân­cia do gov­erno a se insta­lar a par­tir de janeiro.

Nada é mais saudável à democ­ra­cia que uma oposição con­sciente e con­sis­tente, entre­tanto, o que temos visto, com o nosso gov­er­nador à frente é que os der­ro­ta­dos no pro­jeto nacional não “desce­ram” do palanque e se “armam” para pedir o impeach­ment do futuro gov­erno tão logo ele se instale em 1º de janeiro.

Não se trata ape­nas de um com­por­ta­mento de “patota” de grêmio do século pas­sado, de movi­men­tos sec­tários, ou tolice pura e sim­ples, esta­mos diante de ati­tudes tres­lou­cadas, que o gov­er­nador do estado faz “tudo” para vender-​se como líder, emb­ora sem muito êxito, tanto que foi “rep­re­sen­tado” pelo gov­er­nador do Piauí.

Um amigo, exagerando na car­i­catura, disse-​me recen­te­mente, na esteira desta dis­cussão, que para “apare­cer” só estava fal­tando a sua Excelên­cia amar­rar uma melan­cia no pescoço e sair sem roupas pela Praça Bened­ito Leite durante a feira do domingo.

Sem dá azo a tamanho exagero, até porque não acred­ito que cheguem a tanto, forçoso não recon­hecer que vem existindo um excesso de exposição nas con­du­tas dos atu­ais man­datários do estado, com, infe­liz­mente, o gov­er­nador à frente.

Tamanha exposição, inclu­sive, chega a mac­u­lar a dig­nidade do cargo ocu­pado, ferindo o respeito que se deve ter pela litur­gia do poder, o que certa vez, quando pres­i­dente da República, cobrou o ex-​presidente José Sar­ney.

Outro dia tomei con­hec­i­mento que um secretário do gov­erno, dep­utado fed­eral eleito, recla­mara que o gov­er­nador vem sendo “injus­ti­fi­cada­mente” ata­cado.

Ora, o secretário iden­ti­fica o efeito porém passa ao largo da causa.

Se sua Excelên­cia vem sendo “injus­ti­fi­cada­mente” ata­cado a culpa é exclu­si­va­mente sua, do excesso de exposição, da ten­ta­tiva vã de querer se pro­mover a “líder” da oposição ao futuro gov­erno.

Esse desejo incon­tido de “her­dar” o espólio do lulismo, do petismo e das esquer­das (se é que algum dia exis­tiu isso no Brasil), tem suas consequências.

Infe­liz­mente, o gov­er­nador, além de não aten­tar para fato de que a vit­rine política é um lugar que se sujeita a ques­tion­a­men­tos e ataques, tem colo­cado os seus inter­esses políti­cos pes­soais à frente dos inter­esses do estado, con­forme já reclamou, mais de uma vez, o Jor­nal Pequeno, ali­ado de primeira hora do atual governo.

O gov­er­nador, assim como qual­quer cidadão, tem dire­ito de ter “lado” político, de pos­suir inter­esse legí­timo de algum dia vir a ser pres­i­dente da República, o que não pode é igno­rar suas atribuições fun­cionais, pois antes de ser político, de ter inter­esses eleitorais, ele tem um estado para admin­is­trar e que pre­cisa dos bons prés­ti­mos do gov­erno federal.

O próprio gov­er­nador, ao lançar mão de um tar­dio decreto de aus­teri­dade, é o primeiro a recon­hecer que a situ­ação finan­ceira do Maran­hão não é con­fortável, em grande parte dev­ido aos equívo­cos da sua própria admin­is­tração.

Lem­bro de ter escrito, logo no iní­cio do gov­erno, que dev­e­riam (e pode­riam) ser aus­teros pois estava a suceder uma estru­tura de quase cinquenta anos, pode­ria exonerar muita gente, rever todos os con­tratos, cor­ri­gir muitos dos “malfeitos”.

Sentira-​se agre­di­dos, não ape­nas man­tiveram quase todos servi­dores enraiza­dos dos gov­er­nos ante­ri­ores, como trataram de nomear um grande número de novos servi­dores, na maio­ria das vezes escolhendo-​os mais pelos critérios políti­cos que de com­petên­cia com­pro­vada; com relação aos con­tratos, aos invés de reduzi-​los, fiz­eram foi ampliar, no que­sito aluguel de imóveis, tidos pelos adver­sários como “cama­radas”, o gov­erno não fica devendo as maiores imo­bil­iárias da cidade; quan­tos aos “malfeitos” o noti­ciário, vez ou outra, não deixa esque­cer o quanto se fazem pre­sente.

Uma admin­is­tração trôpega que não apre­senta resul­ta­dos min­i­ma­mente sat­is­fatórios nas áreas essen­ci­ais como edu­cação, saúde, infraestru­tura e que reduziu a pos­si­bil­i­dade de cresci­mento econômico do estado se torna vul­nerável às críti­cas sejam elas jus­tas ou não.

Outro dia amigo – não digo o nome para evi­tar fux­ico –, fazia troça com a política econômica do gov­erno estad­ual.

Dizia: “— Abdon, a prin­ci­pal car­ac­terís­tica deste gov­erno em relação à econo­mia é o saudosismo”.

Olhei intri­gado ante a assertiva. Ele con­tin­uou: “— lem­bra que quando chegastes aqui, em mea­dos dos anos oitenta, as pes­soas não “faziam” super­me­r­cado e, sim, Lusi­tana? Pois é, a política econômica do gov­erno, favore­cendo um único grupo, “que­brou” todos os demais super­me­r­ca­dos, agora, como nos anos oitenta, as pes­soas não estão mais “fazendo” super­me­r­cado, fazem Mateus”.

Pois bem, com pouco ou quase nada de pos­i­tivo a mostrar, com um “dever de casa” longe cumprido a primeira linha, sua Excelên­cia, veste-​se de pro­fes­sor de Deus nas redes soci­ais, opinando sobre tudo e todos, atraindo para si – e para o gov­erno –, os ques­tion­a­men­tos e críticas.

Tanta exposição – do gov­er­nador, secretários e adu­ladores –, não faz bem nem aos expos­tos e muito menos ao gov­erno, pois as pes­soas acabam por perder o “respeito” pela autori­dade.

É dizer, se as próprias autori­dades, como dizia papai, não se dão o respeito, como exi­gir que out­ros o façam.

Na atual quadra, tenho visto coisas inédi­tas, provo­cadas por esse excesso de exposição. Nas próprias Redes Soci­ais do gov­er­nador, já vi cidadãos chamando-​o de “nigrinha” (à toa, vadia, vagabunda; pes­soa que não presta, que não vale nada. Ape­sar de ser uma palavra fem­i­nina tam­bém pode ser apli­cada a homens); na mesma linha, já vi um outro apelando para que pare com a “nigrin­hagem”; e, ainda, um outro “pedindo” que deix­asse de “fuler­agem” (falta de seriedade; modo de agir sem refi­na­mento).

Emb­ora sejam ter­mos comuns do vocab­ulário maran­hense, vamos com­bi­nar, não fica bem quando apli­ca­dos a um gov­er­nador, secretários ou out­ras autori­dades de alto escalão, não tanto pelas pes­soas em si, mas pelos próprios car­gos que ocu­pam por del­e­gação da maio­ria da pop­u­lação.

Se nas redes soci­ais do próprio gov­er­nador – e dos seus ali­a­dos –, lê-​se algo como o referido acima, dá para imag­i­nar o que “rola” noutras redes, sobre­tudo, nos gru­pos de What­sApp. Pois é, são críti­cas ter­ríveis e de todos os cun­hos, pas­sando pela com­pleição física à insin­u­ações de con­teúdo sex­ual, que por decoro próprio, deixo de relatar.

O secretário ao recla­mar de “ataques injus­ti­fi­ca­dos”, talvez devesse recon­hecer que tais “ataques” nada mais são do que as con­se­quên­cias da semostração – implan­tada como estraté­gia política –, e a “fulaniza­cão” das insti­tu­ições decor­rentes de um estilo de gov­erno que inau­gu­raram.

Creio que este­jam equiv­o­ca­dos, mas quem sou eu para achar algo?

Abdon Mar­inho é advo­gado.