AbdonMarinho - A EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Terça-​feira, 26 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO.

A EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO.

Por Abdon Marinho.

NA SEXTA-​FEIRA saí mais cedo do escritório. Tinha um assunto para resolver no fórum eleitoral de São José de Riba­mar. Encontrei-​o fechado, sendo infor­mado pelo vigia do local que o expe­di­ente reg­u­lar é ape­nas até as 14 horas.

Ao manobrar­mos para retomar vi a cena da fotografia abaixo: um cidadão fazendo uma lig­ação de um tele­fone público, o pop­u­lar “orelhão”.

O colega que estava comigo indagou-​me sobre como era fun­ciona­mento do apar­elho: se com ficha ou cartão. Informe-​lhe que agora, de acordo com a leg­is­lação que rege o setor, as lig­ações dos tele­fones públi­cos podem ser feitas gra­tuita­mente, sem neces­si­dade de ficha (já abol­i­das há décadas) ou cartão telefônico.

A cena me trouxe a lem­brança do quanto evoluí­mos em matéria de tele­co­mu­ni­cações a par­tir da pri­va­ti­za­ção do setor. Muito crit­i­cada na época pelas cor­po­rações e críti­cos de sem­pre.

A cena do rapaz usando o orel­hão soou estranha pelo fato de hoje, prati­ca­mente, todo mundo pos­suir um ou mais tele­fone celu­lar ou lin­has tele­fôni­cas e os val­ores das lig­ações, mesmo paras lig­ações interur­banas custarem quase nada ou até mesmo serem gra­tu­itas tanto através das oper­ado­ras quanto via internet.

A primeira vez que tive con­tato com um tele­fone foi há pouco mais de trinta anos quanto inau­gu­raram um posto da Telma (Tele­co­mu­ni­cações do Maran­hão) em Gonçalves Dias.

Lem­bro que foi um evento, se não me falha a memória, até o gov­er­nador se fez pre­sente. Se não foi man­dou alguém muito impor­tante para representá-​lo no ato.

A munic­i­pal­i­dade con­struiu o Posto da Telma na Praça Miguel Bahury, a prin­ci­pal e mais impor­tante da cidade.

As lig­ações eram rece­bidas com hora mar­cada.

As moças respon­sáveis pelo posto da Telma tin­ham o sta­tus de autori­dade.

Alguém lig­ava querendo falar um par­ente ou amigo e desli­gava enquanto o men­sageiro ia avisar que tinha lig­ação na Telma e a pes­soa ia lá rece­ber o tele­fonema na cabine.

Ligar era mais fácil. Se a pes­soa lig­asse para casa de quem tinha tele­fone era menos tra­bal­hoso.

As lig­ações cus­tavam “os olhos da cara” e as fun­cionárias da Telma (geral­mente alguém cedido pelo municí­pio) con­trolavam, com cronômet­ros, o tempo do tele­fonema para cobrar o valor da ligação.

Vez ou outra havia dis­cussão sobre o valor cobrado, os min­u­tos de lig­ação e, até mesmo, por alguém ligar e a respon­sável pelo posto não man­dar avisar.

Depois, com o pas­sar dos tem­pos, já na cap­i­tal, vi que pos­suir um tele­fone em casa, era um luxo para poucos. Era muito caro.

E, por ser caro, as pes­soas colo­cavam cadea­dos nos apar­el­hos ou os guar­davam em lugar seguro. Se não pagavam a conta a empresa de tele­fo­nia “cor­tava” a comu­ni­cação. Primeiro para ligar e, per­sistindo o atraso, tam­bém para rece­ber.

Além de ser “feio” vazar a infor­mação de que o tele­fone de alguém fora “cor­tado”, o inadim­plente ainda tinha que pagar uma taxa de reli­gação.

Para con­seguir uma linha as pes­soas se inscreviam e ficavam até anos na fila esperando uma linha.

Era sím­bolo de sta­tus a ocu­par as con­ver­sas, dizer que estava no plano de expan­são Telma.

— Ah, estou no plano de expan­são, daqui a qua­tro anos minha linha deve sair. Era uma “van­tagem”, Um luxo.

Os mais aquin­hoa­dos (ou ami­gos do poder) viviam da renda de alu­gar lin­has tele­fôni­cas. Os muito ricos pos­suíam até dez lin­has alugadas.

Na Deodoro haviam os vende­dores de fichas tele­fôni­cas que eram usadas nos “orel­hões”. Às vezes perdíamos a ficha pois a colocá­va­mos e a lig­ação não era feita ou não com­ple­tava. Ficá­va­mos furiosos com isso. Dizíamos que o apar­elho nos roubara.

Mas, tam­bém, nos “vingá­va­mos”. Colocá­va­mos a ficha amar­rada numa linha e a puxá­va­mos feita a lig­ação e antes de cair no depósito. Tam­bém ten­tá­va­mos diver­sos out­ros méto­dos de usar os apar­el­hos sem pagar.

Quem tinha a “manha” cobrava para rev­e­lar o seg­redo: um lanche na can­tina do Liceu ou passé esco­lar e, até, din­heiro.

Um prêmio era se desco­brir um tele­fone defeitu­oso que se pudesse ligar sem ficha.

— Eh, rapaz, o tele­fone lá do canto da Gonçalves Dias está lig­ando sem ficha.

O seg­redo rev­e­lado, fazia-​se filas para ligar.

A pri­va­ti­za­ção, assim como toda evolução tec­nológ­ica no setor, trouxe a situ­ação que temos hoje mais lin­has que pes­soas para usá-​las, além de preços que cabem em todos orçamentos.

Sem­pre que alguém crit­ica a ideia de se pri­va­ti­zar deter­mi­nado setor da econo­mia, lem­bro da história da tele­fo­nia no Maran­hão. Como a pri­va­ti­za­ção e evolução tec­nológ­ica fiz­eram bem a econo­mia e a vida das pes­soas. Claro que deve haver cuida­dos e se evi­tar pas­sar patrimônio público a preço de “banana”, mas deve-​se pen­sar tam­bém nos bene­fí­cios para o con­junto da sociedade. N~ao vejo sen­tido em sus­ten­tar­mos com impos­tos deter­mi­na­dos setores sem se rece­ber nada em troca, além de serviços de pés­sima qualidade.

O setor de tele­co­mu­ni­cações é um exem­plo.

O grande prob­lema hoje não é a difi­cul­dade de acesso aos meios de comu­ni­cação, ao tele­fone, já em desuso, é que hoje as pes­soas não querem mais falar umas com as out­ras.

Quando muito man­dam um “áudio” ou men­sagem de texto.

Deve ser a evolução.

Abdon Mar­inho é advogado.