DOR DE COTOVELO FAZ MAL AO MARANHÃO.
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- Criado: Terça, 06 Novembro 2018 19:32
- Escrito por Abdon Marinho
DOR DE COTOVELO FAZ MAL AO MARANHÃO.
Por Abdon Marinho.
DURANTE a campanha eleitoral de 2014 o então candidato a governador, Flávio Dino, fez uma promessa que reputei como de grande importância. Sua excelência disse que iria transformar a MA 006 na grande rodovia de integração do Maranhão. Crédulo, embora sabendo que dificilmente sairia do campo das ideias, fiquei muito feliz com a promessa.
Os que não têm familiaridade com as estradas do Maranhão, essa rodovia singra o estado de norte a sul, vai de Apicum-Açu a Alto Parnaíba, com mais de 1200 km. Caso a promessa de sua excelência tivesse vingado seria, hoje, um dos principais eixos propulsores para desenvolvimento do estado.
Pois bem, lembrei-me da estrada – e da promessa não cumprida –, por dois motivos.
O primeiro, porque recebi, pelas redes sociais, inclusive com supostos áudios do prefeito de Formosa da Serra Negra, dando conta que moradores daquela localidade teriam sido reprimidos por forças governistas. O suposto alcaide, dizendo-se aliado de “primeira hora” do governo, apelava aos amigos, secretários e funcionários para que fossem com ele até o local do conflito negociar uma solução pacífica.
Ao tomar conhecimento da situação e ouvir os áudios fiquei matutando: “ora, como é possível reprimir protestos de cidadãos que apenas cobram uma mínima parte de uma promessa que, findando o quadriênio no qual seria executada, pouca ou nada foi feito?” Quer dizer que, além de não ter cumprido a promessa, ainda se desce o “sarrafo” nos que ousam cobrar?
O segundo, por ter lido em algum lugar que um deputado estadual – ao menos um –, teria discutido a possibilidade de se “federalizar” a MA 006, ou seja, transformá-la numa BR.
A ideia, em princípio, boa, considerando que o governo estadual não tem como suportar o ônus de cumprir a promessa feita no já longínquo ano de 2014, parece-me inalcançável, pois não bastasse o fato de tratar-se de uma rodovia estadual (importantíssima, mas, estadual), o atual governador não se mostra disposto a buscar qualquer apoio junto ao governo federal, pelo contrário, dia sim e no outro também, procura, até onde não existe, motivos para “espinafrar” o presidente eleito e a equipe de governo que se instalará a partir de 1º de janeiro de 2019.
Até o juiz Sérgio Moro de quem foi colega de magistratura e que poderia, por conta disso, ser um canal de comunicação para ajudar o Maranhão, já foi, e tem sido “destratado”, por sua excelência.
Este é o propósito deste texto. Alertar a sociedade e, sobretudo, as autoridades para o fato de precisarmos colocar os interesses do estado à frente dos interesses políticos/eleitorais de quem quer que seja.
A eleição passou, o governador foi reeleito ainda no primeiro turno das eleições, independente de ações que já responde e que venha a responder, é uma autoridade que possui legitimidade como representante de todos os maranhenses.
Do mesmo modo é o presidente eleito Jair Bolsonaro, vencedor em segundo turno das eleições com mais de 55% (cinquenta e cinco por cento) dos votos válidos. Queiram ou não, os que dele discordam, possui a mesma legitimidade que possui o governador do Maranhão, como tal, é merecedor do respeito de todos.
Já, praticamente nos encaminhando para as solenidades das posses, chegamos à bizarra situação em que uma autoridade eleita, no caso o governador, se recusa a reconhecer a legitimidade de outra autoridade nacional, igualmente eleita, no caso o presidente da República, que, apenas para efeitos de comparação, teve “só” 56 milhões de votos a mais que o “nosso rebelde sem causa”.
Pelo clima só falta dizer que sua foto não dividirá a mesma parede com a foto do presidente da República a partir do ano que vem.
Quando, há cerca de dois anos, escrevi “O Menino Só”, questionava o fato de sua excelência não ter se cercado de auxiliares ou de possuir amigos para chamar-lhe à atenção quando o visse incorrer em erros.
Embora de longe, muito longe, quer me parecer que sua excelência permanece o mesmo “menino” do referido texto, amargando a solidão do poder, embora cercado por devotados auxiliares, a quem não apenas falece coragem para lhe chamar a atenção, como ainda saúdam e festejam todas as suas incontinências.
Findando os quatro anos do primeiro mandato não encontramos uma obra estruturante no estado que tenha sido idealizada e executada no atual governo;
Um projeto com começo, meio e fim com o condão de melhorar a vida da nossa população e a minorar os efeitos da miséria extrema.
Pelo contrário, apontam os indicadores de diversas instituições, a miséria do estado fez foi aumentar nos últimos quatro anos e a economia se tornou mais frágil.
Os indicadores sociais permanecem estagnados e, em alguns casos, até apresentando piora.
Têm-se notícias que o quadro das finanças públicas se apresenta de tal forma combalido que o governo lança mão dos recursos dos aposentados para honrar suas despesas ordinárias.
Sem contar – e não é segredo para ninguém –, que o estado possui uma economia de dependência, não sobrevivendo – como qualquer município dos rincões –, sem os repasses do Fundo de Participação dos Estados — FPE.
Apesar do quadro econômico ser tão desanimador, em grande parte pela falta de ação e de ideias dos governantes, sua excelência acha oportuno ao invés de buscar uma melhora na interlocução com o novo governo, fustigá-lo de todas as formas.
Mas, se sobra apenas pobreza e falta iniciativas aos atuais donatários do poder, abunda a autossuficiência. Nada que não seja ideia sua tem qualquer serventia.
Veja o caso da MA006, alguém acredita que o governo estadual moverá uma “palha” para convencer o governo federal a “federalizá-la”? Duvido. E vejam que foi uma promessa de campanha da eleição de 2014.
Tem sido assim com tudo. Uma das ideias mais interessantes para alavancar a economia do estado é a criação da Zona de Exportação do Maranhão — ZEMA, um projeto idealizado e “batalhado” pelo senador Roberto Rocha. Se tivermos a sorte de algum dia vê-lo implantado, acredito que a realidade do Maranhão melhora sensivelmente.
Não recordo de ter ouvido ou lido uma única manifestação do atual governador a respeito do projeto, sequer para somar forças para sua implantação. A notícia que tenho é que o único voto da comissão do Senado que discutiu o assunto, contrário ao projeto veio justamente de uma senadora do partido do governador.
O mesmo desinteresse, também, ocorreu diante da iniciativa do deputado federal José Reinaldo – responsável pelo ingresso de sua excelência na vida pública –, quando este propôs a exploração da Estação Espacial de Alcântara. Projeto, aliás, que o futuro ministro de Ciência e Tecnologia do futuro governo, o astronauta Marcos Pontes, já se mostrou sensível.
Seria bom que sua excelência entendesse, ou que algum amigo, ou auxiliar lhe explicasse que os quase dois milhões de eleitores que votaram nele assim o fizeram – duas vezes –, por confiar que trará dias melhores para suas vidas.
Seria excelente que alguém dissesse a sua excelência que os mais de seis milhões de brasileiros que habitam o estado não são de esquerda ou de direita, não são comunistas ou capitalistas – arrisco dizer que bem poucos sabem o que é isso –, na verdade, são cidadãos preocupados em como vão fechar as contas no final do mês; se não vão perder o emprego; muitos, infelizmente, se terão o que colocar na panela para o almoço; se o filho terá uma escola para aprender alguma coisa; ou um posto de saúde com, pelo menos, um enfermeiro para lhe fazer um curativo em caso de necessidade.
Seria importante que alguém ponderasse para o fato do estado, com tantas necessidades, não pode servir de “laboratório” para experiências governativas infantis, que, pelo contrário, precisamos de tantos quantos possam somar e contribuir de alguma forma com nosso desenvolvimento.
Já passa da hora disso acontecer.
Durante toda nossa história os interesses políticos do grupo dominante da vez sempre se sobrepuseram aos interesses do estado. Essa é uma, senão a principal, razão do nosso atraso. Enquanto outros estados como o Ceará, Bahia e Pernambuco avançaram o nosso ficou para trás.
O Maranhão tem sua própria pauta a qual deve submeter-se a classe politica, em especial aqueles com a responsabilidade de administrá-lo. Entretanto, como assistimos agora, o que vemos é o inverso, são os governantes impondo seus projetos de cunho pessoal à frente dos interesses maiores do estado.
Qual o interesse do estado em interditar o diálogo com os dirigentes do país a partir de 1 de janeiro de 2019? Nenhum.
O interesse, se existente, é apenas do dirigente que parece acometido de uma tremenda “dor de cotovelo” com a vitória do candidato que não era o de sua preferência e, depois, com a indicação do juiz Moro para o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública, a quem injustificadamente ataca.
Sua excelência, me parece, tenta atrair para si o protagonismo de ser o líder da oposição ao futuro governo sem preocupar-se com a real situação do estado que administra.
Mais uma vez, o Maranhão não merece isso.
Abdon Marinho é advogado.