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SOBRE FIL­TROS, SENTI­NAS E A EXPLO­RAÇÃO DA MISÉRIA.

Escrito por Abdon Mar­inho

SOBRE FIL­TROS, SENTI­NAS E A EXPLO­RAÇÃO DA MIS­ÉRIA.

Por Abdon Marinho.

A IMAGEM do prefeito de Paço do Lumiar, sen­hor Domin­gos (PCdoB), com parte de seu sec­re­tari­ado fazendo a entrega de um fil­tro de barro numa comu­nidade do municí­pio gan­hou o mundo (pelo menos o dig­i­tal), este fim de sem­ana.

A fotografia, difun­dida ini­cial­mente pelo próprio prefeito – e por seus ali­a­dos –, foi, pos­te­ri­or­mente, explo­rada pelos seus adver­sários como exem­plo cristal­izado do atraso a que se encon­tra sub­metido o municí­pio de Paço do Lumiar, na região met­ro­pol­i­tana.

Por fim, o próprio prefeito “esclare­ceu” a história da fotografia entre­gando o fil­tro. Segundo ele, não se tra­tou uni­ca­mente da entrega de um fil­tro de barro, mas tam­bém, de uma “cas­inha” com louça san­itária e pia para aque­les que nada têm.

Pronto, tudo esclarecido!

O retrato do prefeito entre­gando um fil­tro de barro junto com a expli­cação de que não se tratava ape­nas de um fil­tro mas, tam­bém, de um con­junto com uma “sentina” é o ver­dadeiro retrato do Maran­hão neste, já avançado, século vinte um. E não é uma imagem glo­riosa como son­hada e prometida, mas sim, da ver­gonha e do atraso.

Acred­ito que o gov­er­nador do estado, sen­hor Flávio Dino, do mesmo par­tido do prefeito, vá chamá-​lo para uma sessão de admoes­tação, não por ter exibido nos­sas ver­gonhas para todo mundo, mas sim, por ter se ante­ci­pado a ele, o gov­er­nador, no pro­ceder, pois já tinha anun­ci­ado, nas suas redes soci­ais, que faria a entrega de algu­mas cen­te­nas de “cas­in­has” ao longo deste ano que prin­cipia.

Como o prefeito ousou “queimar” a largada de tanto “progresso”?

Peço des­cul­pas aos leitores pelo tom irônico das colo­cações, mas não con­sigo me con­ter diante de tais fatos, a menos que sub­sti­tuísse a iro­nia pela cólera.

Esta­mos em pleno século vinte um, bem avançado, até, e vejo um gov­er­nador de Estado anun­ciar que vai mel­ho­rar a situ­ação san­itária do Maran­hão com a entrega de mil­hares de senti­nas e, depois, vejo um prefeito da região met­ro­pol­i­tana “queimando” a largada e já fazendo a entrega de alguns “sinais” de tal pro­gresso. Isso na região met­ro­pol­i­tana, quando se esper­ava, água encanada, esgoto e ban­heiros den­tro das residên­cias.

Aqui não estou recla­mando que façam essa entrega, pelo con­trário. Faz pouco tempo que um pro­grama da Rede Globo, o Globo Rural, em edição espe­cial sobre as que­bradeiras de coco do estado, exibiu as pés­si­mas condições san­itárias do nosso povo, com as pes­soas tomando banho em ban­heiros de meia-​parede de palha e fazendo as demais “neces­si­dades” no mato, como bem disse uma enver­gonhada cidadã para a repórter que a entre­vis­tara. Senti­nas, por­tanto, são mais que necessárias.

O que me causa hor­ror é que autori­dades não sin­tam qual­quer con­strang­i­mento em explo­rar e fazer pros­elit­ismo político com este tipo de situ­ação, com essa mis­éria que ainda agride nos­sos irmãos.

Falta pudor as autori­dades, falta-​lhes noção de civil­i­dade e respeito à mis­éria alheia. Lem­bro do tempo em que as pes­soas tin­ham ver­gonha de con­vi­dar alguém às suas casas pelo fato das mes­mas, emb­ora asseadas, não pos­suírem um ban­heiro. Hoje a autori­dade “invade” os quin­tais para mostrar a “sentina” que deu a família.

Tratar-​se de um total desre­speito – e isso não vem de hoje.

Lem­bro que ainda no gov­erno ante­rior, durante uma crise de abastec­i­mento de água na cap­i­tal, o secretário de saúde, tam­bém respon­sável pela admin­is­tração da empresa dis­tribuidora do líquido pre­cioso anun­ciou com pompa e cir­cun­stân­cia que iria resolver o prob­lema: per­furaria alguns poços arte­sianos para aten­der uma parte da pop­u­lação e a outra parte seria abaste­cida com carros-​pipas.

Uma solução extraordinária.

O pior foi ver, alguns dias depois, o secretário “pas­sando os carros-​pipas em revista”.

Isso mesmo, os veícu­los enfileira­dos e o secretário, com seu porte avan­ta­jado, passando-​os em revista, como fazem os ofi­ci­ais mil­itares com seus comandados.

A cena, fes­te­jada e can­tada por muitos, sobre­tudo, pela mídia “amil­hada”, ao meu sen­tir, até aquele momento, me pare­ceu patética e ridícula, tanto que escrevi sobre.

Então a solução para o abastec­i­mento de água era distribuí-​la em carros-​pipas, talvez colo­car os mes­mos em pon­tos estratégi­cos para que as pes­soas fos­sem bus­car o líquido como mod­er­nas latas, baldes ou bacias?

Não socor­ria a autori­dade a neces­si­dade de mel­ho­rar o sis­tema de cap­tação, inclu­sive com a recu­per­ação dos rios, e fazer a água chegar nas torneiras dos cidadãos, tratada e com qual­i­dade, como é feito no mundo civ­i­lizado? Talvez impedir a ocu­pação des­or­de­nada nas mar­gens dos rios da ilha e recu­perar o Sis­tema Butantã?

O tempo pas­sou, um novo gov­erno se instalou e aquilo que à época já me pare­cia ridículo, patético e uma explo­ração da mis­éria dos cidadãos, ao invés de deixar de exi­s­tir, parece-​me, que fez foi aumen­tar ou alguém con­segue imag­i­nar algo mais “extrav­a­gante” que o anún­cio, pelo próprio gov­er­nador, autori­dade máx­ima do estado, registre-​se, que vai dis­tribuir cen­te­nas, talvez, mil­hares, de “senti­nas”?

Pois é, o gov­er­nador não só anun­ciou como fez questão de mostrar a fotografia da “cas­inha” na sua rede social.

Emb­ora a inau­gu­ração de “senti­nas” seja a primeira vez que veja – e olhe que no caso do gov­er­nador, ele “inau­gurou a intenção”, com dire­ito a foto e tudo mais –, o atual gov­erno estad­ual tem sido “useiro e vezeiro” nes­tas práticas.

Há um tempo, acho que na quadra final de 2017, assisti estar­recido, o gov­er­nador suando “em bicas” inau­gu­rando um poço arte­siano no Municí­pio de Santo Amaro, um dos mais pobres do estado. Até reg­istrei nas min­has redes soci­ais.

Claro que não reclamei da inau­gu­ração de poço, assim como não reclamei da “inau­gu­ração da intenção de se entre­gar senti­nas”, o que causa-​me espé­cie é ver­i­ficar que as autori­dades não sen­tem nen­huma ver­gonha e até fes­te­jam diante de tamanha miséria.

Lá estava o gov­er­nador tomando um “banho” ao abrir a chave e fazer jor­rar a água que tanto servirá aquela comu­nidade.

A minha curiosi­dade é saber se o gov­er­nador, a exem­plo do prefeito de Paço do Lumiar, vai fazer, pes­soal­mente, a entrega das “senti­nas” que anun­ciou.

A título de sug­estão, pode fazer a inau­gu­ração lit­eral do san­itário e puxar a cordinha da descarga para o “clique” e deleite dos xerim­ba­bos. Será o ápice em matéria de realização.

Mais uma vez peço des­cul­pas pelo tom irônico mas não con­sigo me con­ter diante de tanta mesquin­haria, com prefeitos e até o gov­er­nador se ocu­pando da inau­gu­ração de poço arte­siano aqui, uma sentina ali é por aí vai.

Mesmo o pro­jeto “Escola Digna” que apre­sen­tam como a jóia da redenção do Maran­hão, está muito longe disso, é ape­nas a sub­sti­tu­ição das “taperas” por “escol­in­has” com um pouco mais de estru­tura, mas que não resolverá o grave prob­lema edu­ca­cional no estado, esta­mos com sécu­los de atraso.

Qua­tro anos depois da posse era para ver­mos inau­gu­ração de empreendi­men­tos que trouxessem riquezas e empre­gos para o nosso povo; esco­las grandes com edu­cação de qual­i­dade; obras estru­tu­rantes que aju­dassem a desen­volver o estado, etc.

Tanto tempo depois e com tris­teza, vejo pes­soas chorarem de emoção ao par­tic­i­par da inau­gu­ração de uma escol­inha, de um poço arte­siano ou mesmo de “kit san­itário”.

As pes­soas acred­i­tam que aque­les bene­fí­cios as lib­er­tarão da sede, da falta de edu­cação e mesmo da mis­éria.

Só que quem “arma o circo” sabe que não é nada disso, trata-​se ape­nas da manutenção dos “cativos” numa situ­ação de mel­hor con­forto para poder man­ter a explo­ração sec­u­lar.

— Ah, foi prefeito fulano que trouxe essa sentina; — Ah, foi o gov­er­nador bel­trano que “trouxe” esse poço e essa escola.

Já se pas­saram qua­tro anos desde a rup­tura do “antigo régime” e grande mudança é a mão que segura o chicote.

Por vezes, sinto que parece exi­s­tir a intenção delib­er­ada de man­ter o Maran­hão encravado no atraso.

Vejam, temos um dos mel­hores por­tos do mundo, temos um Cen­tro de Lança­mento, temos, ainda, um grande poten­cial hídrico, riquezas min­erais diver­sas, um solo quase todo agricultável, mas, ape­sar de tudo isso, con­tin­u­amos “pati­nando” nas últi­mas colo­cações nos rank­ings inter­na­cionais de desen­volvi­mento econômico, social, humano, edu­ca­cional e tudo mais.

Não pode ser só incom­petên­cia geren­cial, só pode ser de propósito. Aos gov­er­nantes deve “sobrar” alguma “van­tagem” em man­ter nosso povo tão mis­erável a ponto de aplaudir e agrade­cer pela inau­gu­ração de um poço, de uma escol­inha e, até mesmo, de uma sentina.

Por estes dias, na sua cruzada obses­siva para insere-​se no cenário político nacional e “vender-​se” como alter­na­tiva de can­di­datura das forças de esquerda, o gov­er­nador, “cavou” uma entre­vista à Globo News, onde recon­heceu que a mis­éria aumen­tou no estado – na ver­dade não teve como con­tornar os números –, mas, como se tornou praxe, a culpa é sem­pre dos out­ros, agora foi a vez da con­jun­tura econômica des­fa­vorável.

A ninguém socor­reu a ideia de per­gun­tar se não seria, tam­bém, falta de habil­i­dade e ideias para fazer avançar eco­nomi­ca­mente um estado com tan­tas poten­cial­i­dades. Como os jor­nal­is­tas, pare­cem igno­rantes quanto às poten­cial­i­dades do Maran­hão – só con­hecem os pés­si­mos indi­cadores –, deixaram o gov­er­nador vender como ver­dade seus próprios mitos.

O pior é que você olha para o hor­i­zonte e não enx­erga qual­quer pos­si­bil­i­dade de mudança. Isso, sim, é ver­dadeira­mente triste.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

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SALA­MALE­QUES EM CARACAS.

Escrito por Abdon Mar­inho

SALA­MALE­QUES EM CARA­CAS.

Por Abdon Mar­inho.

UMA FALSA polêmica instalou-​se nos últi­mos nes­tas ter­ras avis­tadas por Cabral. Falo da ida da pres­i­dente do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, sen­hora Gleisi Hoff­man, a Cara­cas para prestar men­su­ras e saudar o dita­dor Nicolás Maduro que assumiu por mais seis anos o gov­erno da Venezuela.

A sen­hora Gleisi Hoff­mann, assim, fez com­pan­hia aos pouquís­si­mos estrangeiros, que recon­hecem como legí­timo o novo gov­erno venezue­lano, eleito após mas­sacrar a oposição e os cidadãos do seu país, com vio­lên­cia, fome e mis­éria, num processo admi­tido por quase todas as nações do mundo civ­i­lizado como fraud­u­lento. De líderes estrangeiros só pude recon­hecer, Evo Morales, da Bolívia, que tenta implan­tar seu próprio mod­elo de per­pet­u­ação no poder; Daniel Ortega, da Nicarágua, que tenta implan­tar sua própria ditadura e car­rega nos ombros o peso das qua­tro­cen­tas almas dos cidadãos que foram mor­tas nos protestos con­tra seu gov­erno reprim­i­das vio­len­ta­mente no iní­cio de 2018; e Díaz-​Canel, de Cuba, a mori­bunda ditadura dos Cas­tro, que dis­pensa qual­quer outra apresentação.

Pois é, o gov­erno venezue­lano, empos­sado neste iní­cio de ano, não é aceito pelos países con­ti­nente – que até fiz­eram uma nota de repú­dio através do Grupo de Lima –, pela Comu­nidade Europeia, pela Orga­ni­za­ção dos Esta­dos Amer­i­canos — OEA, pelos Esta­dos Unidos e, frise-​se, pelo Brasil, mas lá estava a pres­i­dente do par­tido que até ontem gov­ernou o país, com men­su­ras e sala­male­ques, saudando e postando nas redes soci­ais o orgulho de fazer parte daquela fraude – uma vez que o novo gov­erno não é recon­hecido pelo Par­la­mento venezue­lano.

A falsa polêmica só não foi maior dev­ido a prisão, dois dias depois, na Bolívia, de Cesare Bat­tisti, o ter­ror­ista ital­iano que ficou, a con­vite do gov­erno do PT, homiziado no Brasil, por mais de uma década, para a ver­gonha e con­strang­i­mento dos cidadãos de bem.

Claro que pode­ria ter sido bem pior. Caso o gov­erno tivesse voltado ao PT, cer­ta­mente, estaria saudando o novo dita­dor, ofi­cial­mente, o gov­erno brasileiro, e não a pres­i­dente de um par­tido (ou de alguns par­tidos) e, para com­ple­tar o vex­ame, ainda estaríamos “acoitando” um ter­ror­ista inter­na­cional con­de­nado à prisão per­pé­tua no seu país por ter matado qua­tro cidadãos e ter deix­ado um outro para­plégico.

Pelo menos isso! Não tive­mos que pas­sar por esse con­strang­i­mento.

Mas por que digo ser falsa a polêmica em torno da ida da pres­i­dente do PT a Cara­cas? Muito sim­ples, o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, nunca na sua história teve qual­quer apreço à democ­ra­cia, tanto antes de chegar ao poder, durante o exer­cí­cio do poder e depois – como teste­munhamos agora.

Os exem­p­los estão aí para quem quiser com­pro­var e tiver apreço pela história. Citarei ape­nas aque­les que lembro.

No iní­cio de 1985, depois da der­rota da Emenda Dante de Oliveira, que prop­unha a eleição direta para pres­i­dente da República, as forças que que­riam o fim da ditadura mil­i­tar no Brasil enten­deram que dev­e­riam par­tic­i­par do processo pelas regras do jogo esta­b­ele­ci­das e apoiar Tan­credo Neves em oposição ao ex-​governador de São Paulo, Paulo Maluf, rep­re­sen­tante das forças até então no poder.

O que fez o PT? Se absteve de votar no Colé­gio Eleitoral, deixando, assim, de aju­dar na der­rota de Paulo Maluf. Mas não só isso, fez pior, expul­sou do par­tido três de seus quadros que votaram a favor de Tan­credo Neves e do fim da ditadura, José Eudes, Air­ton Soares e Bete Mendes.

Outro momento emblemático foi o quipro­quó que cri­aram para não assi­nar Con­sti­tu­ição Fed­eral de 1988. Fiz­eram tanta con­fusão que muitos pen­sam, até hoje, que não assi­naram, pois ale­gavam dis­cor­dar de muitos dos seus pon­tos.

O certo é que o dep­utado Ulysses Guimarães, pres­i­dente da Assem­bleia Nacional Con­sti­tu­inte, inda­gado sobre o que faria, disse que os nomes de todos os con­sti­tu­intes iriam con­star no doc­u­mento. Assim, votaram con­tra, mas, por fim, acabaram assi­nando a Carta Magna.

Outro momento cru­cial que opôs o Brasil ao PT – reg­is­trando só min­has lem­bras do momento –, foi cam­panha que fiz­eram con­tra o Plano Real.

O país sofrendo com uma inflação galopante, insta­bil­i­dade política, ainda ten­tando superar o traumático impeach­ment de Col­lor, com um fraco e instável Ita­mar Franco no poder e par­tido não ape­nas se opondo à con­sis­tente pro­posta de debe­lar a inflação rep­re­sen­tada pelo Plano Real.

Desnecessário dizer que ao mesmo tempo fez cer­rada oposição a todos os gov­er­nos, inde­pen­dente destes apre­sentarem alguma pro­posta pos­i­tiva para o país ou não.

Mas eis que, final­mente, chegam ao tão son­hado e alme­jado poder em 2002.

E, no poder, fazem tudo aquilo que sem­pre criticaram e com­bat­eram nos gov­er­nos que os ante­ced­eram, com espe­cial destaque para a cor­rupção – que sem­pre exis­tiu no país –, mas que o par­tido e seus líderes tornaram uma prática de Estado, uma política de gov­erno, encar­regada de roubar a nação, e com o fruto do roubo perpetuá-​los no poder.

Isso está sobe­ja­mente com­pro­vado por todos os proces­sos civis e crim­i­nais que respon­deram, respon­dem e pelos quais estão sendo con­de­na­dos, notada­mente, os escân­da­los apel­i­da­dos de “Men­salão” e “Petrolão”.

Além da cor­rupção desen­f­reada – e talvez por conta dela –, outra car­ac­terís­tica do petismo no poder, foi o seu alin­hamento com prati­ca­mente todos os regimes total­itários do mundo, sejam as ditaduras ditas de “esquerda” rep­re­sen­tadas por Cuba, Cor­eia do Norte, Venezuela, Nicarágua e China, seja pelos regimes san­guinários da África – que se sus­peita, além da predileção pela ditadura em si, a aprox­i­mação envolvia negó­cios poucos esclare­ci­dos.

Foi esse espe­cial apreço dos gov­er­nantes de então por ditaduras que fez o país escr­ever as pági­nas mais ver­gonhosas de nossa história, como a “entrega” dos pugilis­tas cubanos à ditadura dos irmãos Cas­tro, negando pela primeira vez na história um pedido de asilo, no ano de 2007, e quando, no último dia 2010, e do mandato, o sen­hor Luís Iná­cio Lula da Silva, descon­hecendo decisão do Con­selho de Refu­gia­dos e do Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, que autor­i­zou a extradição, decidiu por “acoitar”, com sta­tus de refu­giado, o ter­ror­ista Batisti, ofend­endo toda a nação ital­iana – a quem tanto deve­mos e com quem sem­pre tive­mos uma das mel­hores relações.

Em relação aos pugilis­tas cubanos, que tem­pos depois, con­seguiram fugir da ditadura dos irmãos Cas­tro, ter­e­mos que car­regar essa ver­gonha pelo resto da vida. Com relação ao ter­ror­ista ital­iano, ainda que tarde, o Brasil deu uma pequena con­tribuição para que, final­mente, pague pelos seus crimes.

Este é um breve retrato do que foi o par­tido da sen­hora Hoff­mann antes e durante o poder.

Na oposição nova­mente, começou por negar a democ­ra­cia brasileira, da qual sem­pre foi ator desta­cado, não com­pare­cendo a posse do pres­i­dente da República legit­i­ma­mente eleito (goste­mos dele ou não), mas indo ren­der hom­e­nagem a um pro­jeto de dita­dor que não tem legit­im­i­dade recon­hecida pela comu­nidade inter­na­cional e nem mesmo pelos cidadãos de seu país.

O com­parec­i­mento da pres­i­dente do PT à posse do sen­hor Maduro é a prova mais elo­quente de coerên­cia com a sua história ao longo de todos esses anos. Com a abstenção no Colé­gio Eleitoral, em 1985; com o “beicinho” para não assi­nar a Con­sti­tu­ição e/​ou votar con­tra seu texto final; com a oposição fer­renha ao Plano Real; com a cor­rupção gen­er­al­izada nos seus gov­er­nos; com a “entrega” dos jovens dis­si­dentes cubanos aos seus algo­zes; com exílio e apoio ao ter­ror­ista ital­iano Cesare Batisti; e tan­tos out­ros absur­dos.

Tudo que ocor­reu, antes, durante, e agora, depois dos seus anos de poder, nada mais é do que o PT sendo o PT, muito bem rep­re­sen­tado pela sen­hora Hoff­mann.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

PATRIMÔNIO HISTÓRICO: DE CAFETEIRA A KÁTIA BOGÉA.

Escrito por Abdon Mar­inho

PATRIMÔNIO HISTÓRICO: DE CAFETEIRA A KÁTIA BOGÉA.

Por Abdon Mar­inho.

RECEBO de um amigo uma coleção de fotografias do Com­plexo Deodoro (Praça Deodoro, Praça do Pan­teon, alamedas Silva Maia e Gomes Cas­tro). Ainda não tive opor­tu­nidade de ir con­statar com os próprios olhos a revi­tal­iza­ção daque­les logradouros que tan­tas recor­dações trazem de uma parte da minha juven­tude. Pelas fotografias, entre­tanto, é pos­sível ver­i­ficar a grandiosi­dade do tra­balho exe­cu­tado e, em ape­nas duas palavras defini-​lo: encan­ta­mento e gratidão.

Só quem tem amor e vivên­cia com a cap­i­tal do estado dimen­siona, com exatidão, sua importân­cia para cidade. Só lamento que a reforma e revi­tal­iza­ção não tenha alcançado o entorno do Liceu Maran­hense (onde estudei) indo até o Giná­sio Costa Rodrigues, cobrindo quase todo o Campo de Ourique. Mas, o que está feito rep­re­senta uma extra­ordinária obra.

Há mais de trinta anos quando cheguei a essa ilha, chamava tudo no entorno da Bib­lioteca Bened­ito de Leite de Praça Deodoro, a exceção do Pan­teão que ficava mais abaixo.

Eram os tem­pos da rede­moc­ra­ti­za­ção do país, Sar­ney acabava de tomar posse no lugar de Tan­credo Neves. Ini­ciá­va­mos as trata­ti­vas para fun­dação dos grêmios estu­dan­tis na cidade e em todo Maran­hão, aque­les ban­cos quadra­dos de pedra ou as escadarias da bib­lioteca, não raro, eram nos­sos locais de reuniões, tanto para tratar das pau­tas estu­dan­tis como para apoiar os movi­men­tos dos tra­bal­hadores, como o foi na greve dos pro­fes­sores de 1986.

Já naquela época a velha Deodoro estava degradada – o que foi pio­rando nos anos seguintes –, mas era nosso espaço, nossa trincheira de lutas.

Anos depois, não me recordo o que fui fazer no cen­tro, pas­sei pela Deodoro. A Praça fora trans­for­mada numa feira de imundice, com o mau cheiro de tudo que é pro­duto, empeste­ando o ambi­ente, gor­dura e sujeira, veícu­los, bar­ra­cas, tudo em tamanha des­or­dem, que fui tomado por um sen­ti­mento de imensa tris­teza – a Praça Deodoro já não era mais o espaço do povo, como o céu é do con­dor, nas palavras do baiano Cas­tro Alves.

O desalento só aumen­tou ao pas­sar em frente a bib­lioteca e me deparar com um hor­rendo gradeado con­fi­nando a escadaria. Mais que um pré­dio bonito como aquele encer­rado em grades, senti o apri­sion­a­mento do próprio saber e das min­has memórias.

Voltei triste para casa. Lem­brava das amizades feitas e con­sol­i­dadas naque­les ban­cos de pedras, em frente ao Colé­gio Rosa Cas­tro, quando saíamos do Liceu para pegar os ônibus que nos levaria as nos­sas casas, ou das vezes que lá ficá­va­mos esperando a sirene tocar para cor­rermos para entra no colé­gio; ou, ainda, de quando ficá­va­mos nas escadarias da bib­lioteca, primeiro para con­tem­plar o pôr do sol e depois para ficar num bate papo enquanto esperá­va­mos os ônibus que nos levariam emb­ora esvaziar um pouco.

Tudo pálido reg­istro em meio a tanta sujeira, des­or­dem urbana e grades hor­ren­das.

É destas lem­branças que ressurgem todo o encan­ta­mento e gratidão com a revi­tal­iza­ção do Com­plexo Deodoro (que depois ainda será somado à revi­tal­iza­ção da Rua Grande), sinto que estão devol­vendo à cidade uma parte de sua história, cabendo aos gov­er­nantes de agora e do futuro, a mis­são de con­ser­var e man­ter o extra­ordinário serviço feito.

Talvez seja pedir muito aos nos­sos gov­er­nantes, tendo em vista a falta de zelo com que trataram e tratam o Cen­tro Histórico, revi­tal­izado pelo ex-​governador Cafeteira através do Pro­jeto Reviver há trinta anos.

O Com­plexo Deodoro – que não sei se engloba a Rua Grande –, é a maior obra de revi­tal­iza­ção feita no estado depois do Pro­jeto Reviver, inau­gu­rado em 1989.

No livro Reviver, de 1992, que mostra em detal­hes, com fotografias e doc­u­men­tos tudo que foi real­izado no Cen­tro Histórico de São Luís e que tem o pre­fá­cio de Américo Azevedo Neto, o extinto ex-​governador escreve: “Muitos pen­sam e por isso afir­mam haver eu con­quis­tado São Luís e o Maran­hão. A real­i­dade é o inverso: não fui eu quem con­quis­tou essa cidade e este Estado, eu é que fui por ambos con­quis­tado. Não fui eu quem pren­deu, eu é que fui a presa. Tudo o que fiz ou venha fazer terá que ser visto em razão do fato de ter me ren­dido aos encan­tos desta cidade e do seu povo e às pos­si­bil­i­dades deste Estado. Chegado aqui, logo a cidade me con­siderou filho e me bati­zou Cafeteira; logo o povo me chamou irmão e eu me senti escravo”.

Faço essa obser­vação para reg­is­trar que as duas maiores obras de revi­tal­iza­ção da nossa cap­i­tal deve­mos a “estrangeiros” que con­seguiram enx­er­gar aquilo que nós, maran­henses, pouca ou nen­huma importân­cia temos dado: o nosso Cen­tro Histórico.

O primeiro, o ex-​governador Epitá­cio Cafeteira, paraibano de João Pes­soa, porém maran­hense de coração, que tendo son­hado em fazer um poema para agrade­cer a hos­pi­tal­i­dade e o car­inho com o qual foi rece­bido, fê-​lo de uma das mais extra­ordinárias maneiras, um “Poema em Pedra e Cal”, legando-​nos uma das mais com­plexas e com­ple­tas obras de revi­tal­iza­ção que o Maran­hão já assis­tiu, investindo recur­sos volu­mosos e con­tratando a mais qual­i­fi­cada equipe téc­nica com o propósito de devolver a cap­i­tal a grandiosi­dade histórica do seu pas­sado.

A segunda, a pres­i­dente do Insti­tuto do Patrimônio Histórico e Artís­tico Nacional – IPHAN, Kátia Bogéa, sergi­pana de Lagarto, rad­i­cada na cap­i­tal desde 1979, tendo ded­i­cado toda sua vida profis­sional de his­to­ri­adora e servi­dora pública, desde seu ingresso como estag­iária no IPHAN, em 1980, à pesquisa do patrimônio maran­hense e ao tra­balho de preser­vação e pro­teção do Cen­tro Histórico de São Luís e Alcân­tara.

Se, ape­sar de tanta ded­i­cação e tenaci­dade, assis­ti­mos a per­das irreparáveis no nosso patrimônio histórico, dá para imag­i­nar o teria acon­te­cido sem ela é sua equipe.

Por este tra­balho, sobre­tudo, no cargo de super­in­ten­dente regional, que ocupou de 2003 a 2015, foi alvo das insat­is­fações de muitos maran­henses que, sem con­strag­i­men­tos e indifer­entes ao mag­ní­fico tra­balho que sem­pre desem­pen­hou, tra­ma­ram e con­seguiram afastá-​la do cargo, nos ester­tores do gov­erno Dilma Rousseff.

Essa a maior “con­tribuição” ao tra­balho de revi­tal­iza­ção do Com­plexo Deodoro, pois alçada à presidên­cia do órgão, Kátia Bogéa pode imple­men­tar com mais efi­ciên­cia o PAC Cidades Históri­cas que artic­u­lara com sua equipe durante a sua gestão frente ao órgão regional junto à prefeitura da cap­i­tal.

Essa “con­tribuição” fez um grande bem ao Cen­tro Histórico de São Luís, a Alcân­tara, a Pindaré-​Mirim, e a diver­sas out­ras man­i­fes­tações cul­tur­ais e ao patrimônio ima­te­r­ial do nosso Estado, como o reg­istro do Tam­bor de Crioula e do Com­plexo Cul­tural do Bumba Meu Boi.

O que dizem é que neste pouco tempo frente ao IPHAN, não faz mais pelo nosso patrimônio dev­ido ao desin­ter­esse das autori­dades locais que, muitas das vezes, nem a aten­dem ao tele­fone ou come­tem a descorte­sia de inau­gu­rar como suas obras onde não deram um prego.

O Maran­hão, assim, talvez, esteja per­dendo uma opor­tu­nidade única de avançar na recu­per­ação de uma grande parcela do seu Cen­tro Histórico, con­cluindo out­ras eta­pas do Pro­jeto Reviver, ide­al­izado por Cafeteira há trinta anos, além de con­ser­var aquilo que foi feito com tanta ded­i­cação naquela opor­tu­nidade.

É bem pos­sível que isso seja só um fux­ico, mas me per­mito dar-​lhe crédito diante da infor­mação de que, até hoje, ape­sar de tudo que já fez e con­tinua fazendo pelo nosso Estado, nunca as excelên­cias estad­u­ais ofer­e­ce­ram ou aprovaram a Dra. Kátia Bogéa um título de cidadã maran­hense. Um dos poucos esta­dos com essa falta. E olha que já deram título de cidadão maran­hense a tan­tos tipos que até o desval­ori­zou, mas não a quem tem con­tribuição efe­tiva dada ao Maranhão.

Mas é assim mesmo. Nossa velha Deodoro está de volta. Vamos torcer – e rogar a Deus –, para que as autori­dades a zele e a con­serve como patrimônio da cidade que tanto amamos.

Abdon Mar­inho é advo­gado.