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A FARSA GENO­CIDA DOS TRÓPICOS.

Escrito por Abdon Mar­inho

A FARSA GENO­CIDA DOS TRÓPI­COS.
Por Abdon Mar­inho.
ERA UM SÁBADO chu­voso. Entre uma leitura ou outra, depois dos afaz­eres domés­ti­cos e de escr­ever algu­mas ideias, ocupei-​me em assi­s­tir a um doc­u­men­tário na tele­visão. O título: “A Evolução da Mal­dade”, trata-​se de uma espé­cie de série mostrando a lou­cura, a vio­lên­cia, a desumanidade de uma série de dita­dores geno­ci­das ao longo da história.
O episó­dio que assisti era sobre Mao Tsé-​Tung, que dirigiu a China de 1949 até sua morte em 1976.
Nele, vimos como Mao deter­mi­nou a cole­tiviza­ção de todas as pro­priedade, meios de pro­dução e até mesmo de uten­sílios de uso pes­soal e como isso levou a pop­u­lação à mais abso­luta mis­éria. Nas fazen­das cole­ti­vas determinou-​se cotas de pro­dução cada vez mais ele­vadas, con­de­nando à morte, por inanição, aque­les que não a atin­gia ou não tin­ham condições físi­cas para pro­duzir, como idosos, cri­anças, por­ta­dores de defi­ciên­cia, etc.
Não sat­is­feito com a pro­dução baixa achou-​se, ainda, out­ros cul­pa­dos: os pás­saros e se orde­nou a matança das aves para econ­o­mizar os dez ou doze grãos que cada um pode­ria comer.
Por óbvio, que o plano não fun­cio­nou, pelo con­trário. A pop­u­lação campesina matou as aves e como con­se­quên­cia as pra­gas que os pás­saros, tam­bém, comiam tomaram conta da pro­dução. Resul­tado: mais fome, mais mortes e, até, notí­cias de cani­bal­ismo.
Em nome da sua ide­olo­gia Mao pro­moveu sua “rev­olução cul­tural”, um sis­tema pelo qual todo pen­sa­mento dis­so­nante dev­e­ria ser elim­i­nado.
Aliás, as pes­soas com capaci­dade para pen­sar dev­e­riam ser elim­i­nadas e foi isso que orde­nou a seus jovens seguidores que saíram a campo para elim­i­nar pro­fes­sores, escritores, artis­tas, pen­sadores e qual­quer um que ousasse ou fosse acu­sado de ser “opos­i­tor” ao régime, inclu­sive, pes­soas de den­tro do próprio par­tido que foram pre­sas, sub­meti­das a tra­bal­hos e foça­dos e deix­adas a mor­rer.
Pesquisadores e his­to­ri­adores não têm um número exato de mor­tos durante aquele período, mais esti­mam que tenha pas­sado de setenta mil­hões. Talvez achem pouco uma pilha com setenta mil­hões de mor­tos se com­para­dos a pop­u­lação de 600 mil­hões de habi­tantes.
Pois bem, fiz essas ligeiras con­sid­er­ações a respeito do que ocor­reu na na segunda metade do século pas­sado (prati­ca­mente, ontem), para dizer que, ape­sar de todo mundo oci­den­tal con­hecer aque­les hor­rores, deles estarem pre­sentes em doc­u­men­tários e livros históri­cos, encon­tramos em muitos par­tidos brasileiros uma defesa cer­rada do “maoísmo” que é como ficou con­hecida: “dout­rina política de Mao Tse­‑Tung (18931976), líder da rev­olução social­ista da República Pop­u­lar da China e seu primeiro pres­i­dente, car­ac­ter­i­zada prin­ci­pal­mente pela atu­ação da força do pro­le­tari­ado na luta pela liber­dade e con­sol­i­dação do comu­nismo, a fim de elim­i­nar a ide­olo­gia bur­guesa e pro­mover uma mudança histórica, não só política, mas, tam­bém, cul­tural.
Assim como existe a defesa do régime geno­cida de Stálin, antiga União Soviética; da ditadura norte-​coreana, que desde os anos cinquenta passa de pai para filho e é o régime mais autoritário do mundo, tão opres­sor que aque­les cidadãos não sabem o que é liber­dade e vivem por viver, como os seres irra­cionais.
A despeito de tudo isso, par­tidos políti­cos, artis­tas, sindi­cal­is­tas e mesmo “int­elec­tu­ais”, já se man­i­fes­taram – mais de uma vez –, em defesa do régime, como tam­bém o fiz­eram e fazem em relação ao régime cubano.
Diga-​se, de pas­sagem, que a vida inteira sem­pre “pagaram pau” aos irmãos Cas­tro.
Assim, não estran­hei ao saber que par­tidos, políti­cos, sindi­cal­is­tas, movi­men­tos soci­ais e os “supos­tos” int­elec­tu­ais brasileiros estão saindo em defesa do régime de Nicolás Maduro, da Venezuela.
Isso é ape­nas a história se repetindo, como farsa.
As pes­soas sen­sa­tas con­seguem enx­er­gar que o “madurismo” e o “chav­ismo” destruíram a econo­mia venezue­lana, levando à mis­éria quase a total­i­dade da pop­u­lação; não con­seguiram prover o essen­cial ao povo, que dizem tanto defender.
Con­struíram, com os recur­sos da nação uma “cor­rup­toc­ra­cia” que se sus­tenta basi­ca­mente com o apoio de mil­itares que fiz­eram do nar­cotrá­fico uma forma de “fazer” din­heiro e de políti­cos cor­rup­tos.
Enquanto isso, as pes­soas não têm forças, sequer, de se colo­car con­tra o régime.
Elas lutam é para sobre­viver em um país que não tem ali­men­tos sufi­cientes para prover o seu sus­tento; com uma inflação que deve ultra­pas­sar os dez mil­hões por cento esse ano; com pes­soas mor­rendo à mín­gua por falta de atendi­mento médico-​hospitalar, pois falta as coisas mais comez­in­has, até mesmo para um cura­tivo; onde as mul­heres ao primeiro sinal de um nódulo no seio, aceitam se sub­me­ter à reti­rada total da mama, pois temem não terem como prosseguir com o trata­mento; onde as pes­soas catam lixo para ten­tar comer pois mais de setenta por cento da pop­u­lação já perdeu entre vinte e trinta por cento do peso dev­ido à fome; onde as cri­anças osten­tam uma das maiores taxas de mor­tal­i­dade do mundo.
Qual­quer pes­soa sen­sata con­segue enten­der que a última eleição do sen­hor Maduro foi uma fraude escan­car­ada, a começar pelas lim­i­tações de par­tic­i­pação dos adver­sários, pre­sos e/​ou impe­di­dos de dis­putar pelos donos do poder.
Ainda que tivesse ocor­rido tudo na mais per­feita nor­mal­i­dade democrática, um gov­er­nante deixa de ter qual­quer legit­im­i­dade ética, moral e política quando não con­segue gerir a nação de sorte a prop­i­ciar o bem-​estar cole­tivo.
O gov­erno do sen­hor Maduro está bem além disso. Ele provoca de forma delib­er­ada o genocí­dio do povo venezue­lano. A pop­u­lação quer e pre­cisa de ali­men­tos para saciar sua fome, medica­men­tos para curar suas enfer­mi­dades, água tratada para beber, um mín­imo de segu­rança e não tem nada disso.
Quan­tos mil­hares ou mil­hões de venezue­lanos não já mor­reram por lhes fal­tar o básico, o essen­cial?
Qual a difer­ença entre o quadro atual e o que fez Mao Tsé-​Tung no século pas­sado? Nen­huma.
E, talvez, haja uma agra­vante: no caso da Venezuela, con­forme temos assis­tido, o viés ide­ológico tem impe­dido que ali­men­tos, medica­men­tos e out­ros insumos bási­cos cheguem a pop­u­lação fam­inta e doente.
Diver­sos países – não ape­nas os Esta­dos Unidos –, man­daram ajuda human­itária a Venezuela, como os mem­bros da União Europeia, Brasil, Colôm­bia, Chile e tan­tos out­ros. Assis­ti­mos Nicolás Maduro fechar a fron­teiras e ordenar que se atire, para matar, em quem ten­tar entrar com ali­men­tos e remé­dios.
Fez mais. Em um comí­cio em praça pública para os seus apanigua­dos – que diga-​se, não estavam muito empol­ga­dos –, disse que não pre­cisava de ajuda human­itária nen­huma, que todo o ali­mento que aque­les países tin­ham para doar ele pode­ria com­prar. Não sat­is­feito, men­tiu dizendo que aque­les ali­men­tos estavam estra­ga­dos e que já tinha matado diver­sas pes­soas.
Que chefe de nação mente assim, de forma tão descarada, para o mundo inteiro assi­s­tir?
Como clas­si­ficar aque­les que negam comida com o seu povo catando lixo nas ruas para comer?Como clas­si­ficar aque­les que recusam remé­dios a pacientes doentes?
Fiz­eram mais. Além de fechar a fron­teira para impedir a entrada de ali­men­tos, man­dou que se incen­di­asse os cam­in­hões com ali­men­tos e medica­men­tos que con­seguiram “furar” blo­queio.
Como deve­mos clas­si­ficar aque­les que destroem ali­men­tos e medica­men­tos diante da neces­si­dade pre­mente da pop­u­lação?
Ao meu sen­tir, não há como jus­ti­ficar o com­por­ta­mento de Maduro e dos seus ali­a­dos de den­tro ou de fora da Venezuela que apoiam esse tipo de coisa.
Há, no mín­imo, uma deformi­dade ética ou moral em quem assim pro­cede e em quem apoia ou jus­ti­fica esse tipo de pro­ceder.
Dizer que ajuda human­itária para saciar a fome ou curar enfer­mos seria uma afronta à sobera­nia daquele país é algo abso­lu­ta­mente desproposi­tado, somente degen­er­a­dos morais que há muito perderam qual­quer senso de decên­cia pos­suem condições para jus­ti­ficar e achar cor­reto o pro­ceder do sen­hor Maduro.
A única ide­olo­gia capaz de jus­ti­ficar o que vem ocor­rendo na Venezuela – com o apoio desaver­gonhado de muitos brasileiros –, é a ide­olo­gia da morte, da farsa geno­cida dos imorais.
Ah, mas os Esta­dos Unidos querem “beber” o petróleo da Venezuela.
Estúpi­dos! Mil vezes estúpi­dos! Cíni­cos, não veem que se deve pen­sar em sal­var vidas e só depois em petróleo?
Qual­quer um brasileiro ou não que apoie o que o sen­hor Maduro está fazendo dev­e­ria ser enquadrado como geno­cida per­ante os tri­bunais encar­rega­dos de jul­gar os crimes con­tra a humanidade.
Isso que são: crim­i­nosos.
Abdon Mar­inho é advogado.

A SEDUÇÃO DO ERRO.

Escrito por Abdon Mar­inho

A SEDUÇÃO DO ERRO.

Por Abdon Marino.

ANTIGA­MENTE a edu­cação tinha iní­cio, pas­mem, pelo iní­cio. Assim, começá­va­mos por estu­dar a antigu­idade clás­sica, sabíamos quase de cor tudo sobre a Gré­cia e sobre o vasto império Romano.

E, foi ainda no “primário”, como chamá­va­mos a primeira fase do ensino fun­da­men­tal, que aprendi sobre a imensa con­tribuição da civ­i­liza­ção romana no desen­volvi­mento do dire­ito, arte, lit­er­atura, tec­nolo­gia, religião, gov­erno e mesmo da linguagem.

Emb­ora muitos descon­heçam, Roma é incon­tornável nas sociedades e cul­turas con­tem­porâneas, raras são as coisas da atu­al­i­dade que não ten­ham uma lig­ação, ainda que trans­ver­sal, com a civ­i­liza­ção romana. E, sendo Roma incon­tornável, ninguém, sobre­tudo na política, é mais incon­tornável que Júlio César (100 a.C. a 44 a.C.), chefe mil­i­tar, con­quis­ta­dor, líder nato, imper­ador.

Por isso mesmo, as histórias dele, nas suas próprias palavras ou nas dos seus bió­grafos, como Suetônio e Plutarco são tão ricas em ensi­na­men­tos. Plutarco, conta-​nos, por exem­plo, que o con­quis­ta­dor ao pas­sar certa vez por uma pequena aldeia disse: “ — Garanto-​lhe que pre­firo ser o primeiro homem aqui que o segundo em Roma”.

Todas estas lem­branças assaltaram-​me na esteira da notí­cia dando conta que o alcaide da minha urbe pre­tende­ria renun­ciar ao mandato – onde é o primeiro na aldeia –, para ser mais um no sec­re­tari­ado do gov­erno estadual.

Quando li a notí­cia pela primeira vez, em que pesasse a segu­rança da infor­mação, não lhe dei crédito, atribui ser mais uma “fake news”, para usar o termo da moda.

Ora, me era cus­toso acred­i­tar que o alcaide fosse, mais uma vez, desafiar os milenares ensi­na­men­tos de Júlio César, sobre­tudo, depois dar com os “bur­ros n’água”, como foi da vez ante­rior.

A menos que tenha per­dido todas as aulas sobre a política clás­sica que se cos­tu­mava ter no primário.

A con­fir­mação da veraci­dade da infor­mação (não tenha ou vá renun­ciar) trouxe-​me à lume a con­vicção que o “erro” pos­sui um certo encan­ta­mento.

Lem­bro que quando saiu a notí­cia sobre a pos­sível saída do alcaide para ser secretário do gov­erno Roseana Sar­ney, escrevi algo remem­o­rando o ensi­na­mento romano sobre ser prefer­ível “ser o primeiro na aldeia do que o segundo Roma”.

Naquela opor­tu­nidade a situ­ação do alcaide era infini­ta­mente mais con­fortável. Era recon­hecido como um dos mel­hores prefeitos do estado. Tanto assim que dividia com São José a atenção dos romeiros. Vale dizer, assim como apare­ciam por estas pla­gas car­a­vanas de romeiros a saudar o santo padroeiro do estado, para cá acor­riam prefeitos, secretários ou mesmo curiosos, para con­hecer as ino­vações admin­is­tra­ti­vas que o mesmo estava implan­tando.

Se era con­fortável a situ­ação como gestor munic­i­pal, querido e respeitado por todos, mel­hor ainda a situ­ação como seria rece­bido no gov­erno estad­ual: na condição de “primeiro-​secretário” e can­didato “já escol­hido” à sucessão da gov­er­nadora nas eleições de 2014.

E, ver­dade seja dita, Roseana Sar­ney cumpriu reli­giosa­mente o papel de gov­er­nadora “dec­o­ra­tiva” enquanto o “primeiro-​secretário” bril­hava, man­dava e des­man­dava no gov­erno (respei­tando, claro, alguns nichos: saúde, SEPLAN).

Não sei se por von­tade dela ou não só não foi pos­sível fazê-​lo gov­er­nador para dis­putar no cargo (fal­tou com­bi­nar com os “rus­sos”). De resto, esteve “lib­er­ado” para se via­bi­lizar como can­didato.

Com tan­tas condições favoráveis – emb­ora não con­heçamos os basti­dores –, o “primeiro-​secretário” e ex-​alcaide, não se via­bi­li­zou ou, pior, ape­sar de não ter nada a perder, não lhe socor­reu a cor­agem para enfrentar a dis­puta.

Ao meu sen­tir, um dos maiores erros políti­cos da história recente do Maran­hão, pois ainda que perdesse – e podia gan­har –, sairia com cap­i­tal político para dis­putar futu­ra­mente o gov­erno estad­ual, uma vaga de senador. Ou seja, seria figura impor­tante no “tab­uleiro” político.

Por um destes mis­térios que só a política pos­sui, o ex-​todo-​poderoso do gov­erno estad­ual preferiu o “começar de novo”. Só que agora em situ­ação bem dis­tinta.

Sem adver­sários, voltou ao cargo ao qual renun­ciara pouco mais de meia década antes, com mais de noventa por cento dos votos váli­dos. Uma das maiores con­sagrações das urnas do estado.

Infe­liz­mente, ape­sar da con­sagração das urnas, as condições admin­is­tra­tivis­tas não têm per­mi­tido fazer um gov­erno que seja com­parável aos anos em que dirigiu o municí­pio ante­ri­or­mente.

Se naque­les anos teve “din­heiro novo” para via­bi­lizar uma série de deman­das nunca aten­di­das pelas gestões ante­ri­ores, agora o din­heiro é o mesmo – e até menos –, e o que aumen­taram foram as deman­das.

Antes, a gestão, era com­parada com gestões que pouco ou nada realizaram, agora é com­parada com a sua primeira gestão de bonança, com muitas real­iza­ções e ino­vações.

Na com­para­ção que os eleitores fazem o gestor ante­rior era o bam­bambã, o de agora – emb­ora o mesmo –, crava um “medíocre” para, com sorte, “reg­u­lar”, que saindo para ser “mais um secretário”, difer­ente da primeira vez, não deixaria saudades.

Emb­ora o foguetório que se ouviu – e se noti­ciou –, quando se “vazou” a história do con­vite para ser secretário nova­mente, tenha sido mais obra de suas próprias “crias”, que son­ham e vibram com o destru­ição do mito do bom gestor, não podemos deixar de reg­is­trar que se o clima entre os munícipes não é de fes­tejo, tam­bém não é de pesar, como viu na vez ante­rior, acred­ito, mesmo que seja de apa­tia ou indifer­ença com uma pitada de decepção.

É neste con­texto abso­lu­ta­mente des­fa­vorável que faz menos sen­tido o con­vite feito ao alcaide – a menos que o gov­er­nador o tenha chamado para perto “para matar de faca”, como sem­pre se atribuiu ao Sarney.

Menos sen­tido ainda que o alcaide vire secretário do gov­erno em situ­ação tão ruim. Difer­ente daquela vez em foi chamado para ser o “primeiro-​secretário” e can­didato à sucessão, agora seria ape­nas mais um no reinado do Rei Sol, sem chance de man­dar em qual­quer coisa no gov­erno, nem mesmo na própria sec­re­taria, con­forme os exem­p­los aí à vista de todos.

Chances de ser can­didato à sucessão? Nen­huma. Essa vaga já está “reser­vada” e a menos que se acon­teça o “impon­derável” o futuro gov­er­nador já está definido, inde­pen­dente, até mesmo, da von­tade do gov­er­nador que virou uma espé­cie de refém de suas próprias ambições.

Ser can­didato a vice-​governador? Seria uma “emenda pior que o soneto”. Esmola pouca para quem já foi soberano.

Escapar à “sedução do erro” em que se enre­dou o alcaide – e diga-​se, por suas próprias decisões –, exi­girá muita ded­i­cação, tra­balho e muita ajuda, tanto do gov­erno fed­eral, quanto do estad­ual, além de uma boa dose de “sorte”, mer­cado­ria escassa na política.

Em todo caso, como lá atrás decidiu “começar de novo”, o mel­hor cam­inho será fazendo valer a inques­tionável votação que teve há pouco mais de dois anos. Mas essa é ape­nas uma opinião.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

SOBRE SEGU­RANÇA E DOR DE COTOVELO.

Escrito por Abdon Mar­inho

SOBRE SEGU­RANÇA E DOR DE COTOVELO.

Por Abdon Marinho.

GERAL­MENTE, na volta para casa, cos­tumo usar a Avenida Litorânea e algu­mas vias inter­nas do Bairro Olho D’água, até o retorno – uma forma de fugir do trân­sito intenso na Avenida dos Holan­deses no horário de pico.

Por estes dias a obra numa das ruas me obrigou a sair um pouco antes do retorno e foi aí que me deparei com uma “ordem” do trá­fico escrita em um muro a poucos pas­sos do 14º Juizado das Relações de Con­sumo e a poucos met­ros de algu­mas man­sões da mais fina elite do estado.

Li, com sur­presa, a ordem que deter­mi­nava: “proibido roubar na comu­nidade”.

Em face da prox­im­i­dade das residên­cias de tão impor­tantes fig­uras da sociedade local, cheguei a fazer umas pil­héria com o meu com­pan­heiro de “viagem”:

— Rapaz será que foi fulano que man­dou pichar essa “ordem”? E citava alguém con­hecido.

— Acred­ito que não, parece mais coisa de bel­trano. E citava outro nome.

Emb­ora tenha lev­ado na iro­nia e na gal­hofa, fiquei pre­ocu­pado e intri­gado com a ousa­dia e a pen­e­tração do poder para­lelo do crime orga­ni­zado na cap­i­tal do estado.

Não esta­mos falando de um bairro de per­ife­ria ou de uma invasão, esta­mos falando de um dos mais nobres bair­ros da cap­i­tal que “entrou” da par­tilha das áreas de influên­cia do crime orga­ni­zado.

Ainda que seja “só” uma “proibição” de roubo – e isso tem um quê a mais de deli­ciosa iro­nia –, esta­mos con­statando a inserção dos ten­tácu­los do crime numa das nobres áreas da cidade. Ou seja a ban­didagem não está mais rel­e­gada aos bair­ros per­iféri­cos onde a polí­cia não entra; onde se mata fun­cionários de ter­ce­i­rizadas por um corte de luz, sinal de inter­net ou coisa que o valha; onde os cidadãos não podem cir­cu­lar sem a estrita obe­diên­cia a um código de con­duta esta­b­ele­cido pelos “donos” da área.

Pois bem, faço essa con­statação à guisa de intro­duzir o ver­dadeiro assunto.

Como soube­mos, tam­bém por estes dias, o min­istro da Justiça e Segu­rança Pública, Sér­gio Moro, encam­in­hou ao Con­gresso Nacional a primeira etapa do seu pacote anticrime.

Para variar, o gov­er­nador do Maran­hão, obcecado para se fazer notar no cenário político nacional – se, neste intento, me dis­serem que foi visto des­fi­lando com uma melan­cia no pescoço pela esplanada dos min­istérios, não duvi­darei –, com ideias desar­ru­madas que só “gaveta de sap­ateiro”, deu uma entre­vista ao site Uol crit­i­cando de forma enviesada o pacote anti­crime do min­istro Moro, dizendo que o mesmo, no aspecto geral, é muito ruim, jus­ti­f­i­cando para isso, a velha dis­cur­seira esquerdista – que, aliás, sua própria gestão não usa, con­forme demon­strou um jor­nal local.

E porque digo que as ideias de Sua Excelên­cia estão mais mais desar­ru­madas que “gaveta de sap­ateiro”? Ora, em 2015, quando assumiu, em menor escala – até pelo nível de poder – o gov­er­nador implan­tou uma espé­cie de “choque de gestão” na segu­rança pública. Tanto assim que aos 13 de janeiro daquele ano escrevi:

«As medi­das ini­ci­ais do gov­erno vieram em boa hora para cor­ri­gir isso. Três medi­das edi­tadas logo no primeiro dia de gov­erno res­gatam um pouco esse descom­passo entre gov­erno, polí­cia e sociedade: a que garante a rep­re­sen­tação judi­cial dos agentes de segu­rança pela Procuradoria-​Geral do Estado, a que criou a comis­são espe­cial de pro­moção e a que autor­i­zou a con­vo­cação de mil exce­dentes para se somar, o mais rápido pos­sível, ao apar­elho de segu­rança. Tais medi­das devolvem a autoes­tima a tropa e a faz ver que não está soz­inha no com­bate a crim­i­nal­i­dade.” Texto “Ban­di­dos Não Man­dam Flores”.

Saudei com ale­gria o nível de enfrenta­mento da crim­i­nal­i­dade ado­tado pelo novo gov­erno, em com­para­ção ao gov­erno ante­rior, e foi algo pos­i­tivo, como, aliás, têm sido os inves­ti­men­tos feitos ao longo destes anos na PMMA e na Polí­cia Civil.

Temos visto mais viat­uras nas ruas e mesmo no inte­rior, sabe­mos que a poli­cia está mel­hor armada; a Civil mais treinada e cien­tí­fica, tendo até gan­hado um lab­o­ratório novo, e tan­tas out­ras coisas.
Emb­ora haja uma certa neb­u­losi­dade quanto aos números apre­sen­ta­dos pelo gov­erno, não temos como deixar de recon­hecer que há uma mel­hor sen­sação de segu­rança.

Difer­ente do afir­mado pelo Sua Excelên­cia, tal sen­sação não é dev­ida a inves­ti­men­tos soci­ais, pelo con­trário, é dev­ido a polit­ica de enfrenta­mento do crime ado­tada desde os primeiros dias da gestão e pos­te­ri­or­mente com a medi­das que equiparam e val­orizaram o tra­balho das forças poli­ci­ais.

Ao meu sen­tir soa ofen­sivo o gov­erno não recon­hecer o tra­balho osten­sivo e dili­gente da polí­cia e atribuir à fic­tí­cios inves­ti­men­tos soci­ais, uma pos­sível redução nos níveis da vio­lên­cia. Entendo que a nossa polí­cia merece maior respeito.

Assim, quer me pare­cer que Sua Excelên­cia ao criticar de forma aço­dada (emb­ora oblíqua) o pacote anti­crime do min­istro Moro, age moti­vado por out­ros inter­esses que não aque­les comuns da sociedade, ainda mais que ele próprio ado­tou medi­das firmes de enfrenta­mento da crim­i­nal­i­dade local que, em deter­mi­na­dos momen­tos, os defen­sores dos dire­itos humanos recla­ma­ram que estavam exces­si­vas.

O pacote anti­crime do min­istro Moro, que não se con­sti­tui ape­nas de medi­das legais, no sen­tido de alterar a leg­is­lação, mas tam­bém admin­is­tra­ti­vas, chega num momento necessário. Mel­hor dizendo, até chega tarde, quando o pais já se encon­tra numa guerra civil não declar­ada e que mata muito mais gente que os con­fli­tos espal­ha­dos ao redor do mundo.

As medi­das legais – que depen­dem do Con­gresso Nacional –, serão, como devem ser, ampla­mente debati­das, mel­ho­radas –, inclu­sive, com as con­tribuições de dep­uta­dos e senadores ali­a­dos do gov­er­nador do Maran­hão, das agremi­ações que lhe são sim­páti­cas, da Ordem dos Advo­ga­dos do Brasil, das asso­ci­ações de mag­istra­dos, de bis­pos e de quem mais queira, efe­ti­va­mente, par­tic­i­par do debate.

Claro que o gov­er­nador e seus ali­a­dos talvez não queiram con­tribuir, que pre­fi­ram votar con­tra por votar con­tra, indifer­entes se mil­hares de brasileiros per­dem a vida todos os anos; se mil­hões padeçam escrav­iza­dos pelo vício; que o país con­tinue como campeão de impunidades e acoitando todo tipo de criminoso.

Não seria novi­dade. Já fiz­eram isso quando se recusaram a votar em Tan­credo Neves; quando fiz­eram “biquinho” para não assi­nar a Con­sti­tu­ição Fed­eral de 1988; quando se colo­caram e votaram con­tra o Plano Real, que nos livrou do suplí­cio da inflação.

Ficar con­tra um pacote de medi­das que visam com­bater a crim­i­nal­i­dade será ape­nas mais do mesmo. O repeteco do filme que já assis­ti­mos.

Nas vezes ante­ri­ores se colo­caram con­tra “tudo” por enten­derem serem mel­hores que todos os demais, e eles capazes de fazer o certo – que o tempo provou estarem errados.

O que se jus­ti­fi­cam agora a crítica sem con­tribuição? Medo do min­istro Moro se cap­i­talizar politi­ca­mente, ainda que isso rep­re­sente a sal­vação de mil­hares de vidas? Será que os políti­cos brasileiros con­tin­uarão pen­sando nos próprios inter­esses e não nos inter­esses do país? Con­tin­uarão torcendo e agindo con­tra o povo, prin­ci­pal­mente os mais pobres e víti­mas mais dire­tas da criminalidade?

Como disse, o pacote anti­crime do min­istro Moro chega em boa (emb­ora tarde) hora.

Não lem­bro de nen­hum min­istro – ou mesmo gov­erno –, na história recente do país, que tenha se debruçado com afinco e ded­i­cação con­tra a crim­i­nal­i­dade quanto o atual já demon­strou em tão pouco tempo. Basta dizer que já começou por iso­lar os “chefões” do crime em presí­dios fed­erais; con­tro­lar a saída de infor­mações e as oper­ações poli­ci­ais se suce­dem.

Antes disso, que vimos, pelo con­trário, foi a total leniên­cia das autori­dades em relação ao crime, por isso ele cresceu tanto. Não é nor­mal tanta vio­lên­cia, que a pop­u­lação viva sob tanto sobres­salto e ame­drontada.

As autori­dades brasileiras desde a rede­moc­ra­ti­za­ção – e talvez desde sem­pre –, con­tin­uam pre­sas aos dog­mas de que a crim­i­nal­i­dade é uma con­se­quên­cia das maze­las soci­ais. Engano, talvez o pequeno crim­i­noso, lá da base, até seja isso, em deter­mi­nado momento, de resto, não. A crim­i­nal­i­dade é um fenô­meno econômico que envolve bil­hões de dólares anual­mente e por isso mesmo causa e motiva tanta vio­lên­cia.

Este crime que criou um poder para­lelo em todos os entes da fed­er­ação, pre­cisa, e deve ser enfrentado com altivez, pelo braço forte do Estado, com leis duras que sir­vam para deses­tim­u­lar as ativi­dades crim­i­nosas, com a con­strução de presí­dios mais efi­cientes e a prova de fugas com os ban­di­dos côn­scios que pagarão pelos males que causarem a sociedade.

É isso que o pacote anti­crime apre­sen­tado ao Con­gresso Nacional pre­tende.

As medi­das apre­sen­tadas, como toda ini­cia­tiva, pre­cisam – e podem –, ser mel­ho­radas e não que os opos­i­tores, por moti­vação política, façam “beicinho” e digam “não gostei” ou é “muito ruim”, como disse o gov­er­nador do Maran­hão.

Qual a ini­cia­tiva ou ideia dos críti­cos do pacote anti­crime do min­istro Moro para com­bater o crime orga­ni­zado e a vio­lên­cia desen­f­reada? Não vale aquele velho dis­curso de que os ban­di­dos são pobres coita­dos viti­mas da sociedade e que pre­cisamos atacar os prob­le­mas estru­tu­rais.

Chega a ser ina­cred­itável que um assunto tão sério quanto este, e tão necessário, sofra boicote dev­ido a inter­esses políti­cos e pes­soais.

É proibido roubar no Bairro Olho D’água”, quem deu a ordem não foi a polí­cia, não foi o Estado. Foi algum “chefete” crim­i­noso homiziado nas ime­di­ações ou do “escritório do crime” que man­tém no presí­dio de Pedrinhas.

Abdon Mar­inho é advo­gado.