AbdonMarinho - A FARSA GENOCIDA DOS TRÓPICOS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A FARSA GENO­CIDA DOS TRÓPICOS.

A FARSA GENO­CIDA DOS TRÓPI­COS.
Por Abdon Mar­inho.
ERA UM SÁBADO chu­voso. Entre uma leitura ou outra, depois dos afaz­eres domés­ti­cos e de escr­ever algu­mas ideias, ocupei-​me em assi­s­tir a um doc­u­men­tário na tele­visão. O título: “A Evolução da Mal­dade”, trata-​se de uma espé­cie de série mostrando a lou­cura, a vio­lên­cia, a desumanidade de uma série de dita­dores geno­ci­das ao longo da história.
O episó­dio que assisti era sobre Mao Tsé-​Tung, que dirigiu a China de 1949 até sua morte em 1976.
Nele, vimos como Mao deter­mi­nou a cole­tiviza­ção de todas as pro­priedade, meios de pro­dução e até mesmo de uten­sílios de uso pes­soal e como isso levou a pop­u­lação à mais abso­luta mis­éria. Nas fazen­das cole­ti­vas determinou-​se cotas de pro­dução cada vez mais ele­vadas, con­de­nando à morte, por inanição, aque­les que não a atin­gia ou não tin­ham condições físi­cas para pro­duzir, como idosos, cri­anças, por­ta­dores de defi­ciên­cia, etc.
Não sat­is­feito com a pro­dução baixa achou-​se, ainda, out­ros cul­pa­dos: os pás­saros e se orde­nou a matança das aves para econ­o­mizar os dez ou doze grãos que cada um pode­ria comer.
Por óbvio, que o plano não fun­cio­nou, pelo con­trário. A pop­u­lação campesina matou as aves e como con­se­quên­cia as pra­gas que os pás­saros, tam­bém, comiam tomaram conta da pro­dução. Resul­tado: mais fome, mais mortes e, até, notí­cias de cani­bal­ismo.
Em nome da sua ide­olo­gia Mao pro­moveu sua “rev­olução cul­tural”, um sis­tema pelo qual todo pen­sa­mento dis­so­nante dev­e­ria ser elim­i­nado.
Aliás, as pes­soas com capaci­dade para pen­sar dev­e­riam ser elim­i­nadas e foi isso que orde­nou a seus jovens seguidores que saíram a campo para elim­i­nar pro­fes­sores, escritores, artis­tas, pen­sadores e qual­quer um que ousasse ou fosse acu­sado de ser “opos­i­tor” ao régime, inclu­sive, pes­soas de den­tro do próprio par­tido que foram pre­sas, sub­meti­das a tra­bal­hos e foça­dos e deix­adas a mor­rer.
Pesquisadores e his­to­ri­adores não têm um número exato de mor­tos durante aquele período, mais esti­mam que tenha pas­sado de setenta mil­hões. Talvez achem pouco uma pilha com setenta mil­hões de mor­tos se com­para­dos a pop­u­lação de 600 mil­hões de habi­tantes.
Pois bem, fiz essas ligeiras con­sid­er­ações a respeito do que ocor­reu na na segunda metade do século pas­sado (prati­ca­mente, ontem), para dizer que, ape­sar de todo mundo oci­den­tal con­hecer aque­les hor­rores, deles estarem pre­sentes em doc­u­men­tários e livros históri­cos, encon­tramos em muitos par­tidos brasileiros uma defesa cer­rada do “maoísmo” que é como ficou con­hecida: “dout­rina política de Mao Tse­‑Tung (18931976), líder da rev­olução social­ista da República Pop­u­lar da China e seu primeiro pres­i­dente, car­ac­ter­i­zada prin­ci­pal­mente pela atu­ação da força do pro­le­tari­ado na luta pela liber­dade e con­sol­i­dação do comu­nismo, a fim de elim­i­nar a ide­olo­gia bur­guesa e pro­mover uma mudança histórica, não só política, mas, tam­bém, cul­tural.
Assim como existe a defesa do régime geno­cida de Stálin, antiga União Soviética; da ditadura norte-​coreana, que desde os anos cinquenta passa de pai para filho e é o régime mais autoritário do mundo, tão opres­sor que aque­les cidadãos não sabem o que é liber­dade e vivem por viver, como os seres irra­cionais.
A despeito de tudo isso, par­tidos políti­cos, artis­tas, sindi­cal­is­tas e mesmo “int­elec­tu­ais”, já se man­i­fes­taram – mais de uma vez –, em defesa do régime, como tam­bém o fiz­eram e fazem em relação ao régime cubano.
Diga-​se, de pas­sagem, que a vida inteira sem­pre “pagaram pau” aos irmãos Cas­tro.
Assim, não estran­hei ao saber que par­tidos, políti­cos, sindi­cal­is­tas, movi­men­tos soci­ais e os “supos­tos” int­elec­tu­ais brasileiros estão saindo em defesa do régime de Nicolás Maduro, da Venezuela.
Isso é ape­nas a história se repetindo, como farsa.
As pes­soas sen­sa­tas con­seguem enx­er­gar que o “madurismo” e o “chav­ismo” destruíram a econo­mia venezue­lana, levando à mis­éria quase a total­i­dade da pop­u­lação; não con­seguiram prover o essen­cial ao povo, que dizem tanto defender.
Con­struíram, com os recur­sos da nação uma “cor­rup­toc­ra­cia” que se sus­tenta basi­ca­mente com o apoio de mil­itares que fiz­eram do nar­cotrá­fico uma forma de “fazer” din­heiro e de políti­cos cor­rup­tos.
Enquanto isso, as pes­soas não têm forças, sequer, de se colo­car con­tra o régime.
Elas lutam é para sobre­viver em um país que não tem ali­men­tos sufi­cientes para prover o seu sus­tento; com uma inflação que deve ultra­pas­sar os dez mil­hões por cento esse ano; com pes­soas mor­rendo à mín­gua por falta de atendi­mento médico-​hospitalar, pois falta as coisas mais comez­in­has, até mesmo para um cura­tivo; onde as mul­heres ao primeiro sinal de um nódulo no seio, aceitam se sub­me­ter à reti­rada total da mama, pois temem não terem como prosseguir com o trata­mento; onde as pes­soas catam lixo para ten­tar comer pois mais de setenta por cento da pop­u­lação já perdeu entre vinte e trinta por cento do peso dev­ido à fome; onde as cri­anças osten­tam uma das maiores taxas de mor­tal­i­dade do mundo.
Qual­quer pes­soa sen­sata con­segue enten­der que a última eleição do sen­hor Maduro foi uma fraude escan­car­ada, a começar pelas lim­i­tações de par­tic­i­pação dos adver­sários, pre­sos e/​ou impe­di­dos de dis­putar pelos donos do poder.
Ainda que tivesse ocor­rido tudo na mais per­feita nor­mal­i­dade democrática, um gov­er­nante deixa de ter qual­quer legit­im­i­dade ética, moral e política quando não con­segue gerir a nação de sorte a prop­i­ciar o bem-​estar cole­tivo.
O gov­erno do sen­hor Maduro está bem além disso. Ele provoca de forma delib­er­ada o genocí­dio do povo venezue­lano. A pop­u­lação quer e pre­cisa de ali­men­tos para saciar sua fome, medica­men­tos para curar suas enfer­mi­dades, água tratada para beber, um mín­imo de segu­rança e não tem nada disso.
Quan­tos mil­hares ou mil­hões de venezue­lanos não já mor­reram por lhes fal­tar o básico, o essen­cial?
Qual a difer­ença entre o quadro atual e o que fez Mao Tsé-​Tung no século pas­sado? Nen­huma.
E, talvez, haja uma agra­vante: no caso da Venezuela, con­forme temos assis­tido, o viés ide­ológico tem impe­dido que ali­men­tos, medica­men­tos e out­ros insumos bási­cos cheguem a pop­u­lação fam­inta e doente.
Diver­sos países – não ape­nas os Esta­dos Unidos –, man­daram ajuda human­itária a Venezuela, como os mem­bros da União Europeia, Brasil, Colôm­bia, Chile e tan­tos out­ros. Assis­ti­mos Nicolás Maduro fechar a fron­teiras e ordenar que se atire, para matar, em quem ten­tar entrar com ali­men­tos e remé­dios.
Fez mais. Em um comí­cio em praça pública para os seus apanigua­dos – que diga-​se, não estavam muito empol­ga­dos –, disse que não pre­cisava de ajuda human­itária nen­huma, que todo o ali­mento que aque­les países tin­ham para doar ele pode­ria com­prar. Não sat­is­feito, men­tiu dizendo que aque­les ali­men­tos estavam estra­ga­dos e que já tinha matado diver­sas pes­soas.
Que chefe de nação mente assim, de forma tão descarada, para o mundo inteiro assi­s­tir?
Como clas­si­ficar aque­les que negam comida com o seu povo catando lixo nas ruas para comer?Como clas­si­ficar aque­les que recusam remé­dios a pacientes doentes?
Fiz­eram mais. Além de fechar a fron­teira para impedir a entrada de ali­men­tos, man­dou que se incen­di­asse os cam­in­hões com ali­men­tos e medica­men­tos que con­seguiram “furar” blo­queio.
Como deve­mos clas­si­ficar aque­les que destroem ali­men­tos e medica­men­tos diante da neces­si­dade pre­mente da pop­u­lação?
Ao meu sen­tir, não há como jus­ti­ficar o com­por­ta­mento de Maduro e dos seus ali­a­dos de den­tro ou de fora da Venezuela que apoiam esse tipo de coisa.
Há, no mín­imo, uma deformi­dade ética ou moral em quem assim pro­cede e em quem apoia ou jus­ti­fica esse tipo de pro­ceder.
Dizer que ajuda human­itária para saciar a fome ou curar enfer­mos seria uma afronta à sobera­nia daquele país é algo abso­lu­ta­mente desproposi­tado, somente degen­er­a­dos morais que há muito perderam qual­quer senso de decên­cia pos­suem condições para jus­ti­ficar e achar cor­reto o pro­ceder do sen­hor Maduro.
A única ide­olo­gia capaz de jus­ti­ficar o que vem ocor­rendo na Venezuela – com o apoio desaver­gonhado de muitos brasileiros –, é a ide­olo­gia da morte, da farsa geno­cida dos imorais.
Ah, mas os Esta­dos Unidos querem “beber” o petróleo da Venezuela.
Estúpi­dos! Mil vezes estúpi­dos! Cíni­cos, não veem que se deve pen­sar em sal­var vidas e só depois em petróleo?
Qual­quer um brasileiro ou não que apoie o que o sen­hor Maduro está fazendo dev­e­ria ser enquadrado como geno­cida per­ante os tri­bunais encar­rega­dos de jul­gar os crimes con­tra a humanidade.
Isso que são: crim­i­nosos.
Abdon Mar­inho é advogado.