AbdonMarinho - UM MAU COMEÇO NA ALEMA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UM MAU COMEÇO NA ALEMA.

UM MAU COMEÇO NA ALEMA.

Por Abdon Marinho.

A Assem­bleia Leg­isla­tiva do Maran­hão fez 184 anos, soube que com uma bela hom­e­nagem mate­ri­al­izada numa exposição de doc­u­men­tos históri­cos.

Quando tra­bal­hei lá (1991÷1995), tive a chance de apren­der muitas coisas e fazer ami­gos que conservo até hoje. Reg­istro que foi um período muito bom para minha vida.

Mas, já naque­les anos, vez ou outra entre­ou­via um dep­utado ou outro, egres­sos de out­ros mandatos dizer, em tom de decepção: “ — Nunca vi uma leg­is­latura tão ruim quanto esta”. Ou: “ — Nunca vi “safra” de dep­utado tão ruim quanto a atual”.

Não que seja necessário, mas muitos ex-​deputados ainda estão aí para ates­tar o que digo.

De lá para cá – e já temos um quarto de século –, con­tin­uei a ouvir, a cada leg­is­latura, o velho mantra daque­les primeiros, a com­para­ção de que a ante­rior seria mel­hor, com dep­uta­dos mais com­pro­meti­dos com o inter­esse público que os suces­sivos suces­sores.

Emb­ora não dese­jável, com­preen­sível que isso ocorra. A política deixou, ao longo dos anos, de ser um espaço de dis­cussão de ideias para ser “um negó­cio” como outro qual­quer, com os cidadãos “investindo” em busca de um retorno finan­ceiro.

Nor­mal que as “safras” de políti­cos ven­ham cada vez com menos história, menos com­pro­me­ti­mento com os inter­esses da sociedade, que, longe de ser inocente, é cúm­plice e respon­sável, na medida que troca seu voto por uma van­tagem pes­soal, um emprego aqui, um mil­heiro de tijo­los ou tel­has ali, um cesta básica acolá.

Essa medioc­ridade gen­er­al­izada gera escol­has cada vez piores e uma rep­re­sen­tação cada vez mais defi­ciente.

A ponto do cidadão que não “serve” para qual­quer outra ativi­dade (advo­gado, médico, engen­heiro, arquiteto, empresário, com­er­ciante, qual­quer outra coisa), de repente “virar” rep­re­sen­tante do povo, “virar” gestor da coisa pública.

O que leva o cidadão eleger uma pes­soa que não se saiba uma coisa que fez, um prego que enfiou numa barra de sabão?

Isso sem con­tar com o “fil­ho­tismo” político, ou os mandatos ou car­gos públi­cos, como uma espé­cie de “bolsa” ou pro­grama “primeiro emprego”.

São tan­tas as deformi­dades do que sig­nifica o exer­cí­cio de um mandato ele­tivo – de gestão ou par­la­men­tar –, que no ano pas­sado acabei ouvindo – emb­ora sem acred­i­tar –, que dep­uta­dos estariam “vendendo” suas emen­das par­la­mentares.

Veja que coisa ina­cred­itável: o par­la­men­tar com um dire­ito a encam­in­har uma obra ou um serviço a deter­mi­nado municí­pio ou estado ou enti­dade, geral­mente por afinidade – ou por ter rece­bido votos –, pas­saria tais emen­das para out­ras pes­soas, inclu­sive out­ros par­la­mentares, em troca de din­heiro.

Uma outra coisa ina­cred­itável que me con­taram é que alguns (ou muitos) nego­ci­avam até os car­gos a que teriam dire­ito. Fun­cionaria assim: a excelên­cia teria A tan­tos asses­sores que ren­de­riam em salários, dig­amos que 100 mil. Ele pegaria de outro par­la­men­tar, por exem­plo, 70 ou 80 mil e o “com­prador” nomearia o fun­cionário naquele gabi­nete.

São histórias tão inverossímeis, que, como disse, não acred­itei.

Me recuso a acred­i­tar que “rep­re­sen­tantes” do povo desçam a esse nível de ban­dalha. Emb­ora tenha quem diga que até oper­adores do mer­cado finan­ceiro infor­mal estariam envolvido nesse tipo de transação pouco repub­li­cana.

Mas, como disse, não acred­itei – e não acred­ito nes­sas nar­ra­ti­vas –, e que esse tipo de coisa deve ser assunto para a Polí­cia e/​ou Min­istério Público apu­rarem.

Intro­duzi esses fatos, entre­tanto, para externar minha pre­ocu­pação com a leg­is­latura ini­ci­ada recen­te­mente.

Emb­ora de longe – mas vivendo numa aldeia onde de tudo se sabe –, tomamos con­hec­i­mento que já na sessão inau­gural dos tra­bal­hos leg­isla­tivos um dep­utado vet­er­ano e um “débu­tante” acusaram-​se mutu­a­mente de práti­cas crim­i­nosas a desafi­arem a leg­is­lação penal.

O novato acu­sou o vet­er­ano de ten­ta­tiva de trá­fico de influên­cia para pro­te­ger um suposto par­ente que retru­cou com acusações até bem mais graves: disse com todas as letras que o “novato” rep­re­sen­tante das “novas práti­cas políti­cas” seria useiro e vezeiro no crime de extorsão e chantagem.

Em que pese não terem chegado às vias de fato, o mais grave é que acusações tão sérias envol­vendo “rep­re­sen­tantes do povo” não ten­ham sido objeto de qual­quer cen­sura dos demais dep­uta­dos, não se tendo con­hec­i­mento que qual­quer pro­ced­i­mento para apu­rar o con­teúdo das acusações tenha sido instaurado.

Até onde se sabe, é que ficou o “dito pelo dito”, cada qual com sua “imputação” ale­gre e sat­is­feito.

Outra fato que me chamou a atenção nestes primeiros dias, foi a infor­mação que as excelên­cias não aprovam, se ori­un­dos da “oposição”, sequer, requer­i­men­tos de infor­mações.

Ora, esse tipo de “cen­sura” fere a essên­cia da ativi­dade par­la­men­tar.

É de se per­gun­tar: se um par­la­men­tar não pode requerer uma infor­mação ao Poder Exec­u­tivo, qual será mesmo o seu papel?

Repare que qual­quer cidadão, com base na Lei de Acesso à Infor­mação, Lei nº. 12.527, pode requerer quais­quer infor­mações de quais­quer órgãos do país, que não este­jam pro­te­gi­das por sig­ilo. Entre­tanto, no Maran­hão, um dep­utado não pode requerer infor­mação do exec­u­tivo porque seus pares não aprovam.

E vai servir o par­la­mento para que, mesmo?

Parece bobagem, mas não é.

A neg­a­tiva e/​ou rejeição de míseros requer­i­men­tos de infor­mações (que qual­quer cidadão tem o direto de requerer) não só depõe con­tra o Poder Leg­isla­tivo que recusa uma pre­rrog­a­tiva do par­la­men­tar, como depõe con­tra o Poder Exec­u­tivo, que tenta pas­sar a imagem de “evoluído” politicamente.

Ainda neste assunto, em data bem recente, uma das Casas do Con­gresso Nacional, sus­pendeu um decreto do pres­i­dente da República, em exer­cí­cio, que impunha lim­i­tações a Lei de Acesso à Infor­mação.

Registre-​se que essa vitória do par­la­mento fed­eral con­tou com o apoio maciço dos ali­a­dos do gov­er­nador do estado que, por estas pla­gas, instrui sua ban­cada na Assem­bleia Leg­isla­tiva a rejeitar requer­i­men­tos de informações.

Imag­inemos se fosse um pedido de inves­ti­gação, um pedido de Comis­são Par­la­men­tar de Inquérito — CPI, etc.

Ati­tudes assim enfraque­cem o Poder Leg­isla­tivo e o coloca em situ­ação de sub­al­terno ao Poder Exec­u­tivo, dando azo a todo tipo de desrespeito.

Não é sem razão que um secretário de estado tenha feito gal­hofa e foi desre­speitoso com um dep­utado estad­ual, eleito e legí­timo rep­re­sen­tante do povo. O secretário de estado se referiu, de forma pejo­ra­tiva, ao dep­utado como “ô da bici­cleta”.

— Ô da bicicleta?!

É essa a maneira “edu­cada” de se referir a um dep­utado estad­ual? Um rep­re­sen­tante do povo?

Pior que isso foi ver que seus cole­gas, tam­bém secretários de gov­erno, e até o gov­er­nador do estado com­par­til­harem e/​ou “cur­tirem” a pub­li­cação desre­speitosa.

Tal nível de acinte não se volta uni­ca­mente con­tra o dep­utado – que nada mais que­ria do que uma infor­mação –, trata-​se, na ver­dade, de uma afronta e um desre­speito a todo o par­la­mento. Não só aos dep­uta­dos, mas a insti­tu­ição.

Vendo essas coisas, acabo por acred­i­tar no antigo mantra.

No pas­sado – não sei se ainda estava por lá ou se foi pouco depois da minha saída –, um secretário de estado man­dou um requer­i­mento ao Pres­i­dente da Assem­bleia.

Dizia ele fazia aquele requer­i­mento de “ordem” do gov­er­nador.

O então pres­i­dente da ALEMA, não perdeu a viagem. Chamou seu secretário e disse-​lhe: — responda ao secretário fulano de “ordem” minha que aqui as pes­soas se enten­dem de igual para igual, o secretário manda ofí­cio para você e o gov­er­nador para o pres­i­dente.

Por vias tor­tas, naquela opor­tu­nidade, se fez valer que dev­e­ria (deve) haver um respeito entre os Poderes.

Para isso é necessário que os próprios par­la­mentares ten­ham con­sciên­cia disso.Não pensem que será uma mis­são fácil.

No mesmo dia que o dep­utado “deb­utou” na Assem­bleia con­tra o colega vet­er­ano, foi o mesmo para as redes soci­ais e sen­ten­ciou: “— para aque­les que estavam acos­tu­ma­dos com a “velha política”, vou logo avisando: eu cheguei!”. (algo mais ou menos assim).

Achei muito engraçado. Pense numa autoes­tima ele­vada. Sua excelên­cia chegou, esqueçam todo o pas­sado, o futuro e o presente.

O “eu cheguei” de sua excelên­cia resolve tudo, só tem um senão, joga no lixo os 184 anos de história da Casa de Manoel Bequimão que fes­te­jaram ainda ontem.

Podemos até enten­der que os seus cole­gas da atual leg­is­latura, pelo que disse, serão ape­nas coad­ju­vantes. Agora ele chegou. É ele e mais quarenta um.

Caberia dizer: — menos, excelên­cia, menos.

Foi ape­nas o primeiro mês, vamos torcer para não pio­rar.

Abdon Mar­inho é advo­gado.