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BOL­SONARO X HAD­DAD E OS RISCOS PARA A DEMOCRACIA.

Escrito por Abdon Mar­inho

BOLSONARO X HAD­DAD E OS RISCOS PARA A DEMOCRACIA.

Por Abdon Marinho.

UM ASSUNTO tem sido dis­cu­tido exaus­ti­va­mente no segundo turno desta eleição pres­i­den­cial: um suposto risco que a democ­ra­cia brasileira estaria cor­rendo com uma pos­sível eleição do dep­utado Jair Bol­sonaro, PSL, à presidên­cia da República.

São artis­tas, “int­elec­tu­ais”, inclu­sive estrangeiros, colo­cando tal infor­mação no debate politico como uma ver­dade abso­luta. O próprio can­didato Fer­nando Had­dad, PT, afir­mou tex­tual­mente ser patente esse “risco” caso o opos­i­tor seja eleito. Na mesma entre­vista deu-​nos conta que o adver­sário planeja “entre­gar” a Amazô­nia a nações estrangeiras.

E, agora, até um grupo de “juris­tas” aparece para dizer que só o can­didato Had­dad “pode garan­tir a democ­ra­cia no país”.

Con­fesso que sinto um frio na espinha quando ouço as opiniões políti­cas de quais­quer destes gru­pos: artis­tas, int­elec­tu­ais ou juris­tas, pois anal­isam os fatos a par­tir do seu con­venci­mento ide­ológico e não com base na real­i­dade prática ou histórica.

Decerto que sobraram razões para mil­hões de cidadãos/​eleitores repu­di­arem e não votarem no sen­hor Bol­sonaro. Ao longo da vida, sobre­tudo da vida política, e já se vão vinte oito anos, ele plan­tou essa repulsa.

Sobram razões porque indifer­ente a dig­nidade do cargo – e talvez valendo-​se disso –, ofendeu de forma injus­ti­fi­cada inúmeros segui­mento da nossa sociedade. Uma ligeira pesquisa nos canais de comu­ni­cação e se desco­bre ofen­sas a mul­heres, negros, indí­ge­nas, homos­sex­u­ais, etc.

São palavras chu­las, inju­riosas que não caberia a um rep­re­sen­tante do povo proferi-​las.

E foram tan­tos os momen­tos assim que o can­didato ao invés de Bol­sonaro pode­ria chamar-​se de “Boçalnaro”.

Sobram razões porque em vinte oito anos no exer­cí­cio do mandato, pouco ou nada se aproveita em bene­fí­cio da pop­u­lação, o mesmo podendo-​se se dizer em relação aos votos proferidos.

Sobram razões porque é patente a falta de preparo do candidato.

Pois bem, com tan­tos motivos seus adver­sários e/​ou detra­tores não dev­e­riam valer-​se de um que, a meu sen­tir, é falso. Qual seja, que um provável gov­erno do sen­hor Bol­sonaro rep­re­senta um risco a democ­ra­cia no país.

Quando vejo tanta gente impor­tante, artis­tas, int­elec­tu­ais, juris­tas, pes­soas por quem se tem algum tipo de con­sid­er­ação dizendo tamanha tolice passo a duvi­dar se, de fato, são mere­ce­do­ras do respeito que os brasileiros lhes devotam.

Qual risco corre a democ­ra­cia com a eleição do sen­hor Bol­sonaro? Nen­hum. Acaso acham que ele iria pro­mover um golpe de estado? Com quem?

Não faz muito sen­tido isso. Aliás não faz nen­hum sen­tido.

E, em que pese suas pro­postas de gov­erno serem mais um aglom­er­ado de intenções, se imple­men­tadas cam­inha jus­ta­mente em sen­tido inverso, tem um aspecto nacional­ista, coloca de forma clara a questão da pro­teção às fron­teiras nacionais.

Além do mais, temos um con­junto de insti­tu­ições con­sol­i­dadas. Um Poder Leg­isla­tivo ren­o­vado além das expec­ta­ti­vas; um Poder Judi­ciário atu­ante; um Min­istério Público ativo; sem con­tar com as Forças Armadas que, em qual­quer out­ros momento da história, se mostrou tão con­sciente do seu papel insti­tu­cional quanto agora.

Outro detalhe que depõe con­tra a falsa imputação de “risco a democ­ra­cia” é a pro­posta do can­didato de facil­i­tar o acesso às armas para a pop­u­lação civil. Em lugar algum, em nen­hum momento da história alguém que plane­jou “aten­tar” con­tra a democ­ra­cia facil­i­tou acesso às armas a pop­u­lação civil é o con­trário.

Isso é bem fácil de com­preen­der: quem quer tomar – e man­ter o poder indefinida­mente –, pre­cisa de uma pop­u­lação vul­nerável, inca­paz de defender-​se por si pois esta poderá e dev­erá rebelar-​se con­tra um poder total­itário.

Um cotejo entre as pro­postas dos dois can­didatos, o que se percebe é que a pro­posta do sen­hor Had­dad, esta sim, tem cunho bem mais anti­democrático.

O que só con­firma o ensi­na­mento de papai: “med­i­mos os out­ros pela nossa trena”.

Na plataforma do can­didato petista con­sta a pro­posta de uma nova con­sti­tu­inte; uma reforma do poder judi­ciário para torná-​lo “mais democrático”; reforma dos tri­bunais de con­tas; “democ­ra­ti­za­ção” dos meios de comu­ni­cação, etc. Con­sta ainda a chamada inte­gração sul-​americana, sul-​sul, que nada mais é que um bio­mbo para con­tin­uar o apoio aos san­guinários regimes total­itários, como fiz­eram com Cuba, com a Venezuela, com a Nicarágua, com a Cor­eia do Norte e diver­sas ditaduras africanas, inclu­sive fornecendo-​lhes apoio finan­ceiro, recur­sos públi­cos que dev­e­riam ser investi­dos no Brasil, na redução das desigual­dades soci­ais.

O mote das pro­posta do can­didato petista é o que chamam de “democ­ra­ti­za­ção das insti­tu­ições”, o que nos leva a crer que acima das insti­tu­ições do Estado e até mesmo inseri­das nelas, estaria a sociedade fis­cal­izando e con­trolando, através de inúmeros con­sel­hos pop­u­lares.

Quem não é acos­tu­mado com isso imag­ina tratar-​se de algo muito bom, quanto mais “povo” no con­t­role mel­hor. Não é bem assim. Isso que chamam de con­t­role social de tudo, na ver­dade, é feito por movi­men­tos, cole­tivos soci­ais, sem­pre con­tro­la­dos e manip­u­la­dos pelos que estão no poder.

O roteiro da pro­posta de gov­erno do sen­hor Had­dad não é orig­i­nal, é uma cópia do que foi implan­tado na Venezuela, cujo os resul­ta­dos todos esta­mos assistindo. Con­siste no apar­el­hamento da máquina pública, das insti­tu­ições e assim, usando instru­men­tos próprios da democ­ra­cia, destruí-​la.

Não é novo porque já assis­ti­mos o apar­el­hamento da máquina pública e das insti­tu­ições nos treze anos em que o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, esteve à frente dos des­ti­nos da nação.

Um novo gov­erno petista será a con­tinuidade deste propósito.

E ninguém pode se con­sid­erar enganado, o pro­grama de gov­erno do sen­hor Had­dad esta­b­elece, com todas as letras as pre­mis­sas de um gov­erno nos moldes do implan­tado na Venezuela.

Não bas­tasse con­star no plano de gov­erno, tam­bém foi dito de forma categórica pelo sen­hor José Dirceu que o plano deles não é ape­nas gan­har as eleições e sim “tomar o poder”.

Alguém duvida que o sen­hor Dirceu será figura de proa num gov­erno petista? Alguém duvida que ele exerce uma influên­cia até maior que a do ex-​presidente Lula junto ao par­tido? Alguém duvida que, caso eleitos, não ten­tarão “tomar o poder”, como já foi con­fes­sado pelo sen­hor Dirceu?

Os que acred­i­tam que um gov­erno do sen­hor Had­dad é o único capaz de garan­tir a democ­ra­cia brasileira estão com­ple­ta­mente desconec­ta­dos da real­i­dade. É jus­ta­mente o contrário.

Caso seja eleito o can­didato petista eles “tomarão” o poder, porque pre­cis­arão fazer isso. Eles pre­cis­arão romper com a ordem insti­tu­cional para soltar o comando par­tidário que está preso e tam­bém os que estão em vias de sê-​lo.

Será que alguém acred­ita que o sen­hor Dirceu, num gov­erno petista, vai querer ir para pen­i­ten­ciária cumprir os seus mais de trinta anos de cana? Que o primeiro ato do sen­hor Had­dad não será anis­tiar o sen­hor Lula e os demais encar­cer­a­dos? Não será impedir o prossegui­mento das inves­ti­gações e a con­tinuidade dos processo que poderão esten­der ainda mais suas penas?

Ora, só será pos­sível fazer isso com a rup­tura da ordem democrática e insti­tu­cional. E no caso petista, difer­ente­mente do que pode­ria acon­te­cer num gov­erno Bol­sonaro, é bem mais fácil, pois ainda hoje a máquina pública e as insti­tu­ições estão “coal­hadas” de seus inte­grantes que foram “apar­el­hando” o Estado nos últi­mos anos.

A tomada do poder com a rup­tura da ordem democrática é o plano do petismo para se rein­serir e se man­ter no poder com seu pro­jeto crim­i­noso. Não é sem razão que até hoje, depois de tudo que foi rev­e­lado para a pop­u­lação, grande parte dos crimes cometi­dos expos­tos (será impos­sível desco­brir tudo), nunca assumi­ram nada, nunca fiz­eram uma “mea culpa”, pelo con­trário, se acham víti­mas, se acham injustiça­dos, enten­dem que o povo brasileiro ainda não atingiu o nível int­elec­tual de com­preen­der a cor­rupção como uma prática aceitável de gov­erno em nome da “causa maior”.

Assim, pelas razões expostas acima, entendo que se o critério para escolha do diri­gente da nação, for por conta “risco à democ­ra­cia”, a opção cor­reta não é a can­di­datura petista.

Se há algum risco à ordem democrática, acred­ito que o risco maior vem da can­di­datura do Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT, tanto pelo que já viven­ci­amos, como tam­bém, pelo que con­sta no seu plano de governo.

O que restou aos cidadãos foi uma espé­cie de “escolha de Sofia” entre o que de pior qual­i­dade poderíamos optar: chance­lar a can­di­datura sem rumo do PSL ou ceder à chan­tagem do pro­jeto crim­i­noso do PT ou enten­der a neu­tral­i­dade como uma posição política aceitável.

Deus tenha piedade do Brasil e dos brasileiros.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

INSIN­U­AÇÃO DEVIADAGEMAFLORA PRE­CON­CEITOS ATÉ NO SUPREMO.

Escrito por Abdon Mar­inho

INSIN­U­AÇÃO DEVIADAGEMAFLORA PRE­CON­CEITOS ATÉ NO SUPREMO.

Por Abdon Mar­inho.

QUANDO era cri­ança ainda ouvíamos muito um tipo de xinga­mento: “lep­roso”; “um lep­roso desses” e out­ros lig­a­dos à hanseníase, con­hecida como lepra. Durante milênios a doença, até então incurável e con­ta­giosa obri­gava o encer­ra­mento dos seus infec­ta­dos em lep­rosários e os obri­gava a não ter quase nen­hum con­tato com os seus.

Assim, durante milênios além do sofri­mento a que estavam sub­meti­dos os seus por­ta­dores, seus des­ig­na­tivos tin­ham o condão de servir para o xinga­men­tos e reforçar os preconceitos.

Com o pas­sar dos anos a doença pas­sou a ser curada, os lep­rosários foram extin­tos e deixou-​se de uti­lizar seus des­ig­na­tivos como forma de xinga­men­tos e preconceitos.

A homos­sex­u­al­i­dade existe tam­bém a milênios – desde que o mundo é mundo –, nunca foi doença – emb­ora tenha sido clas­si­fi­cada assim, erronea­mente, durante muito tempo.

Não sendo doença e, por­tanto, não sendo “con­ta­giosa”, difer­ente da hanseníase, ainda hoje é usada como xingamento.

Em pleno século vinte e um é comum usarem os des­ig­na­tivos da condição sex­ual das pes­soas como instru­men­tos para a ofensa, o menosprezo, a desqualificação.

Assim, viado, baitola, qualira, sap­atão, etc., são ter­mos usa­dos para ofender as pes­soas pois, enten­dem estes, que seus des­ti­natários por sua condição sex­ual – ou não –, mere­cem ser ofendidos.

Emblemático do que digo é a polêmica envol­vendo dois senadores maran­henses – um recém-​eleito e outro já no meio do mandato.

Ainda no final do ano pas­sado, em retorsão a um dis­curso do dep­utado e do pres­i­dente do seu par­tido, o PDT, o senador Roberto Rocha, PSDB, pub­li­cou numa rede social: “Não entendo o motivo dos con­stantes ataques que me fazem os pede­tis­tas Lupi e Wev­er­ton. Logo eu que sem­pre torci pela feli­ci­dade do casal”. A mídia, como é seu dever, divul­gou a assertiva do senador e, tam­bém, a reação do deputado.

Naquela ocasião escrevi um texto sobre o assunto inti­t­u­lado “A Ofensa Gay”, onde dizia ser a mim incom­preen­sível que um senador da República, ainda que com “pil­héria”, usasse uma suposta situ­ação sex­ual de out­rem (ver­dadeira ou não) como instru­mento de ofensa.

E, do mesmo modo, que o dep­utado recebesse o comen­tário jocoso como uma ofensa.

Con­forme indaguei na opor­tu­nidade, casais het­eros­sex­u­ais podem ser con­sid­er­a­dos “mel­hores” que casais homos­sex­u­ais? Não, numa sociedade, que se pre­tende respeita­dora dos cidadãos pelo que são de essen­cial e não por conta de suas condições ou prefer­ên­cias sex­u­ais.

Dizia mais: que os dois par­la­mentares (sem­pre vesti­dos de defen­sores dos dire­itos humanos e das mino­rias), até pelo papel social rel­e­vante que ocu­pam no cenário político, não pode­riam e não dev­e­riam reforçar estereóti­pos e preconceitos.

Parece que cam­in­haram em sen­tido jus­ta­mente oposto.

À guisa de defender a honra própria, a esposa legí­tima do dep­utado (senador eleito) foi recla­mar na mais alta corte da República que o senador insin­uara ser o seu esposo “viado” e que isso afe­tara a sua honra sub­je­tiva como “esposa traída”.

Nos ter­mos da petição: “o senador teria agido no intu­ito de atin­gir a honra e a rep­utação do dep­utado e tam­bém a imagem pública de sua relação con­ju­gal”. Afir­mando ainda que: “o senador, ao insin­uar a existên­cia de um rela­ciona­mento extra­con­ju­gal de seu marido, teria man­i­fes­tado um pen­sa­mento que ofende a imagem que ela tem de si, chamando-​a de mul­her traída”.

Como podemos ver, os envolvi­dos no episó­dio, enten­dem ser uma “ofensa” chamar out­rem de gay. Não só, que ser chamado de homos­sex­ual atin­giria a “honra” e “rep­utação”, além de sua imagem pública. Formidável!

Como já assis­ti­mos bem mais que insin­u­ações de que o dep­utado “suposta­mente” teria feito for­tuna enquanto ocu­pava car­gos públi­cos e exer­cia mandatos, e que tais asserti­vas nunca deman­daram ações judi­ci­ais nem nos juiza­dos con­tra os assacadores – que dirá no Supremo –, decerto acham que ser chamado de “veado” é algo bem mais grave que ser chamado de cor­rupto.

Cer­ta­mente as acusações de cor­rupção, enriquec­i­mento ilíc­ito, etc., não ofen­dem a rep­utação ou a imagem pública dos envolvi­dos, ser chamado de homos­sex­ual, sim. Estu­pe­fa­ciente!

E quando pen­sava que já tín­hamos visto de tudo, eis que a “ofensa gay” ganha adep­tos na mais ele­vada corte do país.

O min­istro Fux, a quem foi dis­tribuída a ação na qual a esposa do dep­utado entendeu-​se como ofen­dida, man­dou arquiva-​la sob o argu­mento da ausên­cia da legit­im­i­dade, enten­deu que “como a suposta ofensa foi dirigida ao dep­utado fed­eral, ape­nas ele teria legit­im­i­dade para ofer­e­cer a queixa-​crime. Seu entendi­mento foi acom­pan­hado pelo min­istro Roberto Bar­roso, que tam­bém enten­deu não haver legit­im­i­dade da esposa, pois não teria havido intenção de ofendê-​la. Para Bar­roso, a intenção do senador seria a de ofender o dep­utado, sem men­cionar a mulher.

Vejam que para estes dois min­istros, houve, sim ofensa à honra do dep­utado. Afi­nal o senador insin­uou que o mesmo teria uma relação homos­sex­ual com o pres­i­dente nacional da agremi­ação par­tidária. E, ser chamado de homos­sex­ual é uma ofensa.

Pois bem, se somente isso já seria sufi­ciente para demon­strar que os pre­con­ceitos, inclu­sive insti­tu­cionais, são rev­e­la­dos das mais diver­sas for­mas, inclu­sive pelo Supremo, estes dois votos foram ven­ci­dos, não porque acharam que não houve qual­quer ofensa, mas sim para reforçar que ela tanto houve que a esposa suposta­mente “traída” teria plena legit­im­i­dade para lit­i­gar no STF com este absurdo assunto de alcova.

O min­istro Marco Aurélio que abriu a divergên­cia assen­tou: “a afir­mação do senador, caso com­pro­vado o dolo, pode con­fig­u­rar injúria reflexa à honra da mul­her do dep­utado fed­eral, con­ferindo a ela legit­im­i­dade ativa para pro­por a ação penal”.

Os min­istros Alexan­dre de Moraes e Rosa Weber, com um ou outro adendo, seguiram a divergên­cia para garan­tir o prossegui­mento da Ação Penal con­tra o senador Roberto Rocha no Supremo.

Ora, ao meu sen­tir, quer pare­cer que algo não está certo, pois se digo: fulano é het­eros­sex­ual e isso não é ofen­sivo, porque seria ofen­sivo dizer fulano é homos­sex­ual? Não é a própria Con­sti­tu­ição que asse­gura a igual­dade entre todos, livre de qual­quer tipo de dis­crim­i­nação? Considerar-​se-​ia ofen­sivo chamar ou insin­uar que um homos­sex­ual seria hétero? Este pode­ria pode­ria ir ao STF dizer “senador fulano ofendeu-​me, pois me chamou de hétero e eu sou gay, biba, bichona, mona, quero processa-​lo por ‘ofensa’”. O Supremo aceitaria tal ação?

Então ficamos assim: um senador insin­uando que o dep­utado teria uma relação homos­sex­ual, suposta­mente na intenção de ofendê-​lo e uma turma inteira na con­cordân­cia de que uma insin­u­ação neste sen­tido é ofen­siva.

O mais trágico de tudo isso é todos os envolvi­dos no episó­dio, inclu­sive os cinco min­istros que par­tic­i­param do jul­ga­mento, agi­ram com tanta nat­u­ral­i­dade que sequer se deram conta de que estavam reforçando pre­con­ceitos ao enten­derem que o sim­ples insin­uar que este ou aquele é um homos­sex­ual chega a ser ofen­sivo. Tão ofen­sivo que ofende, por vias reflexas, até a esposa do suposto homos­sex­ual.

E, se não fosse trágico seria cômico, pois como a notí­cia do jul­ga­mento que deu provi­mento ao agravo da esposa do dep­utado “ofen­dido” com a alcunha de gay, chegou logo depois das eleições que o fez senador, jor­nal­is­tas enga­ja­dos nas hostes ali­adas, decerto alguns homos­sex­u­ais, fes­te­jaram a decisão do tri­bunal, não sei se por não se darem conta do sig­nifi­cado ou ape­nas pelo vício da adu­lação.

Devem ter pen­sado: – besta, onde já viu “xin­gar” o dep­utado de “viado”? Ora, se fosse uma insin­u­ação de cor­rupção, ladroagem, desvios de recur­sos, enriquec­i­mento ilíc­ito, etc., tudo bem. ‘Viado”, não. “Viado”, não pode.

Quando vemos como se aflo­ram os pre­con­ceitos e dis­crim­i­nações, inclu­sive nas ele­vadas instân­cias da Justiça e envol­vendo tan­tos dig­natários da República, logo estes que dia sim e no outro tam­bém, pregam respeito às mino­rias e tol­erân­cia às diver­si­dades, enten­demos que, em pleno segundo turno das eleições pres­i­den­ci­ais, se dis­cuta mais as prefer­ên­cias sex­u­ais que o desem­prego, o caos na saúde, na edu­cação, a cor­rupção desen­f­reada e tan­tos out­ros assun­tos que dev­e­riam ocu­par a mente das autori­dades.

Con­sid­erar como ofen­sivo alguém ser chamado de homos­sex­ual deve ser a grande con­tribuição do Brasil ao futuro da humanidade.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

AS BATATAS DOS VENCEDORES.

Escrito por Abdon Mar­inho

AS BATATAS DOS VENCE­DORES.

Por Abdon Marinho.

OS MAIS anti­gos devem lem­brar da expressão “ao vence­dor, as batatas”.

Em “Memórias Pós­tu­mas de Brás Cubas”, Machado de Assis nos apre­senta o filó­sofo Joaquim Borba dos San­tos, o autor da tese do “humanitismo”, segundo a qual somente os mais aptos sobre­vivem e enx­erga a guerra como forma de sele­cionar a espécie.

Em «Quin­cas Borba» a tese do «humanitismo» é apre­sen­tada pelo próprio filó­sofo que expõe seus con­ceitos a Rubião, per­son­agem daquela obra, diz ele: “Supõe tu um campo de batatas e duas tri­bos fam­intas. As batatas ape­nas chegam para ali­men­tar uma das tri­bos que assim adquire forças para trans­por a mon­tanha e e ir à outra ver­tente, onde há batatas em abundân­cia; mas, se as duas tri­bos dividi­rem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-​se sufi­cien­te­mente e mor­rem de inanição. A paz nesse caso, é a destru­ição; a guerra é a con­ser­vação. Uma das tri­bos exter­mina a outra e recolhe os despo­jos. Daí a ale­gria da vitória, os hinos, acla­mações, rec­om­pen­sas públi­cas e todos os demais feitos das ações béli­cas. Se a guerra não fosse isso, tais demon­strações não chegariam a dar-​se, pelo motivo real de que o homem só comem­ora e ama o que lhe é aprazível ou van­ta­joso, e pelo motivo racional de que nen­huma pes­soa can­on­iza uma ação que vir­tual­mente a destrói. Ao ven­cido, ódio ou com­paixão; ao vence­dor, as batatas”.

Vez ou outra cos­tumo usar a expressão “ao vence­dor, as batatas”. Uso-​a, quase sem­pre para dizer que as vezes nos apeg­amos as míseras vitórias, con­quis­tadas a qual­quer preço, pas­sado por cima de tudo e de todos, travando-​se guerra de destru­ição con­tra “tribos-​irmãs, con­tra com­pan­heiros de ontem que, quando pré­cisá­va­mos nos esten­deu as mãos, para rece­ber as “batatas” como troféus, ante a grandiosi­dade da vida.

Pen­sava sobre isso enquanto anal­isava o resul­tado do último pleito.

A mídia e os puxa-​sacos fes­te­jando a vitória como a tribo que acabara de diz­imar a outra para ter acesso ao “vale das batatas”. No caso da vito­ria eleitoral, as gor­das ver­bas, os cala-​boca, as sinecuras ou mesmo os car­guin­hos para os par­entes e aderentes.

Para estes tudo é motivo de ale­gria e para fes­te­jar. Tanto que até per­dem a capaci­dade de análise dos números e cotejando-​os com os fatos.

Ainda no começo do ano, bem antes do iní­cio do processo eleitoral me per­gun­taram se acred­i­tava na vitória do atual gov­er­nador.

Respondi: –– E ele vai perder para quem? Só se for para ele mesmo.

Como pre­visto, a vito­ria ocor­reu ainda em primeiro turno, obtendo, o can­didato vence­dor quase 60% por cento dos votos váli­dos, ele­gendo os dois senadores e as maiores ban­cadas de dep­uta­dos fed­erais e estad­u­ais.

Ape­sar de fes­te­jarem como uma vitória “avas­sal­adora” sobre os adver­sários, um ver­dadeiro “fim da história”, não é isso que se depreende dos números e dos fatos.

Como dis­se­mos ante­ri­or­mente o can­didato ao gov­erno não teve adver­sários à altura, senão vejamos:

A can­di­data Roseana Sar­ney, que ficou em segundo lugar nas pesquisas, foi para dis­puta ape­nas “por dever de ofí­cio”, demon­strando a mesma empol­gação da tor­cida do Ibis Fute­bol Clube, con­hecido como o pior time do mundo, diante do campe­onato nacional.

Até às vésperas das con­venções acon­te­ciam apos­tas de que ela não seria can­di­data, não teria “cor­agem” para entrar.

Não bas­tasse essa “empol­gação de velório”, a can­di­data enfrenta o “peso da história” de per­tencer a um grupo politico “acu­sado” de des­man­dar no estado por cinquenta anos, ela própria tendo gov­er­nado o estado por qua­torze anos. Isso cansa.

Lem­bro que um mês antes do pleito, na bar­bearia que fre­quento na COHAB, ouvia alguns os pop­u­lares diz­erem: –– Roseana nova­mente, não, já deu. Que vote­mos em qual­quer outro.

Acho até que foi longe ao alcançar pouco mais de trinta por cento dos votos válidos.

A can­di­data que ficou em ter­ceiro lugar, ex-​prefeita Maura Jorge, emb­ora demon­strando mais inter­esse pela dis­puta, não dis­punha de tempo algum de rádio e tele­visão, não era con­hecida em todo o estado e não teve a exper­iên­cia necessária para “colar» sua cam­panha na do can­didato a presidên­cia Jair Bol­sonaro, visto serem do mesmo partido.

Emb­ora dando o desconto de que o can­didato por conta do aten­tado pas­sou o primeiro turno quase que todo inter­nado num hos­pi­tal de São Paulo, fal­tou à Maura a “sacação» para ir visitá-​lo, pegar um depoi­mento em video a seu favor e espal­har nas redes para «casar» os votos dele aos seus.

Se tivesse feito isso, talvez até tivesse chegado ao segundo turno. Com certeza teria muito mais votos que teve. Arrisco que teria mais de vinte por cento ao invés dos oito por cento que teve.

Não fez isso – não o quanto se esper­ava –, como resul­tado, os eleitores do can­didato Bol­sonoro votaram no comu­nista can­didato à reeleição. Duas pro­postas total­mente antagônicas.

O ter­ceiro can­didato do trio oposi­cionista, o senador Roberto Rocha, o único, a meu sen­tir, com condições de enfrentar o sen­hor Flávio Dino de “igual para igual”, apre­sen­tou um bom plano de gov­erno, um rumo efe­tivo para o Maran­hão, mas demorou para «engatar» na cam­panha – talvez dev­ido as prob­le­mas de saúde na família, a falta de recur­sos finan­ceiros, etc.

O certo é só foi para o enfrenta­mento con­tra o can­didato a reeleição nos últi­mos dias.

Até que teve uma inques­tionável mel­hor par­tic­i­pação no debate pro­movido pela TV Globo, mas aí já fal­tavam ape­nas três dias para o pleito, a Inês jazia morta.

Não bas­tasse a demora em “pegar» na cam­panha, o can­didato pas­sou qua­tro anos tendo sua imagem sendo descon­struída pela máquina de destruir rep­utações for­madas pelos diver­sos meios de comu­ni­cação alin­hados e/​ou sub­ven­ciona­dos pelo gov­erno e seus ali­a­dos.

Con­fesso que não esper­ava que o estrago em sua imagem tivesse sido no tamanho que foi, mas não chegou a ser uma sur­presa.

Já no iní­cio deste ano escrevi um texto inti­t­u­lado “Um senador e seus moin­hos”, onde aler­tava para as situ­ações que teria que “vencer” caso pre­tendesse ser um can­didato com alguma chance.

Infe­liz­mente, pouco ou nada chegou a fazer para mudar a pés­sima imagem que ele próprio aju­dou a con­struir, mas que foi infini­ta­mente ampli­ada por seus adver­sários nos últi­mos anos.

Como con­sid­erar como uma vitória “avas­sal­adora” uma dis­puta em que o “Exército Ver­melho” – com todos os recur­sos que só poder podem pro­por­cionar –, enfren­tou um autên­tico “Exército de Bran­ca­le­one” e só colo­cou cerca de nove pon­tos per­centu­ais para evi­tar um impre­visível segundo turno?

Acho que falta humil­dade no folguedo. Um gov­er­nador com a máquina na mão (e gov­erno é gov­erno, já dizia papai), enfrentando esse time adver­sários, só con­segue ficar a nove pon­tos do segundo turno não pode “subir nos saltos” e achar que “abafou”.

Basta ver os números de Alagoas, da Bahia, do Ceará e de Per­nam­buco.

Além do mais no último quadriênio, para chegar até aqui, sua excelên­cia, foi se aliando e abrindo as por­tas do palá­cio para notórias fig­uras da política local e seus par­tidos, muitos dos quais com pro­gra­mas abso­lu­ta­mente antagôni­cos ao do seu par­tido, sem con­tar os históri­cos expoentes do grupo Sar­ney.

Foi assim com o dep­utado Maran­hãoz­inho e seu PR; com o dep­utado Rezende e seu DEM; com o dep­utado Fufuca e seu PP; com o dep­utado Fer­nan­des e seu PTB; com o ex-​deputado Gastão Vieira do PROS, o prefeito Luís Fer­nando, e tan­tos out­ros.

Alguns destes o governador/​candidato ergueu suas mãos e os “apre­sen­tou” como as mel­hores pes­soas para acompanhá-​lo.

Mas não é só, segundo os opos­i­tores, para con­seguir essa “magra” vitória a chapa gov­ernista teria cometido uma série de abu­sos e ilíc­i­tos que já estão sendo – e out­ros que serão –, dis­cu­ti­dos per­ante a Justiça Eleitoral.

Com tudo isso, só ficou a nove pon­tos da “nota de corte” do segundo turno, e ainda teve uma votação nom­i­nal infe­rior ao do seu can­didato a senador, o não menos notório dep­utado Wev­er­ton Rocha, pres­i­dente do PDT local.

Como con­selho, talvez sua excelên­cia devesse con­sid­erar que, bem difer­ente do que alardeia, não faz um bom gov­erno, e que os cidadãos de bem não aprovam muitas de suas ati­tudes tais como o vale tudo político/​eleitoral; a “ingratidão” em relação ao ex-​governador José Reinaldo; a política trib­utária que aumen­tou os impos­tos sobre os menores, mas que ben­efi­ciou ape­nas um ou dois gru­pos econômi­cos; a política de “tomar” os veícu­los dos cidadãos que por uma ou outra razão atrasaram o paga­mento dos impos­tos e taxas, bem como, inscrevê-​los, por conta disso, nos órgãos de pro­teção ao crédito.

Difer­ente do que é ven­dido para o público interno e externo, a mis­éria no Maran­hão só aumen­tou nos últi­mos anos, esta­mos na rabeira de quase tudo quanto é indi­cador social e de desen­volvi­mento, con­tin­u­amos sem pro­duzir quase nada, sem gerar riquezas e com uma grande parcela da pop­u­lação sobre­vivendo de esmo­las – isso num estado tão rico quanto o nosso.

Quem teve a opor­tu­nidade de, na sexta-​feira ante­rior ao pleito, assi­s­tir ao pro­grama Globo Repórter, da Rede Globo, teve a opor­tu­nidade de ver um pouco da real­i­dade de muitos dos nos­sos municí­pios: uma estrada só de “puaca” no verão e lama no inverno, levando a uma escola sem qual­quer tipo de estru­tura de ensino; viu tam­bém cri­anças con­duzindo jumen­tos por quilômet­ros para fazer chegar em casa a água de beber, coz­in­har, etc. e mul­heres lavando rouba numa espé­cie de “bica” cole­tiva.

Essa é a real­i­dade de uma grande parcela da pop­u­lação do inte­rior mas, tam­bém, das per­ife­rias da cap­i­tal e out­ros cen­tos.

Como disse no iní­cio do ano: sua excelên­cia gan­hou porque não tinha para quem perder. Se tivesse, o resul­tado talvez fosse bem outro.

Ainda assim, ao vence­dor, as batatas.

Abdon Mar­inho é advo­gado.