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UM PAÍS QUE NÃO DESCE DO PALANQUE.

Escrito por Abdon Mar­inho

UM PAÍS QUE NÃO DESCE DO PALANQUE.

Por Abdon Marinho.

UM AMIGO mandou-​me uma análise sobre o quadro político atual com uma recomen­dação: “Pra meu amigo que res­pira política… no bom sen­tido da palavra”. Exagero dele. Emb­ora entenda que somos seres políti­cos, sendo o des­tino daque­les que odeiam a política, serem gov­er­na­dos pelos políti­cos – geral­mente os maus.

Ape­sar de “res­pi­rar política”, como bem exagerou esse amigo, no inter­valo entre o natal e ano novo encerrei-​me longe do assunto, prati­ca­mente sem inter­net, pouco liguei a tele­visão, quando o fazia era para ver algum pro­grama longe dos noti­ciosos. Voltei-​me à boa música de Bach, Mozart, Beethoven, Chopin, Tchaikovsky, Schu­bert, Mendelssohn, e ainda, enveredando pela música pop dos anos 60, 70 e 80. Fazia um bom tempo que ansi­ava por desligar-​me dos noti­ciários, das fofo­cas, da política e imer­gir na boa música como fazíamos no pas­sado não tão dis­tante.

Só no primeiro dia útil do novo ano voltei a deter-​me nas coisas do cotid­i­ano.

Já no segundo dia do ano (e o pas­sar dos dias só con­fir­mou), uma impressão se for­mou na minha mente: descendo da Marte da imer­são musi­cal, pen­sei, naquele dia, que a eleição para os novos gov­er­nos seria no dia seguinte e não que as posses dos eleitos ocor­reram no dia ante­rior (1º).

Toma­dos pelas mais dis­tin­tas paixões (nem todas sãs), a classe política nacional e tam­bém os cidadãos comuns se “recusam a descer dos seus palan­ques” ou, mel­hor dizendo, “des­ocu­par suas trincheiras de guerra”. O debate travado com um gov­erno eleito e recém empos­sado é o mesmo das vésperas das eleições. É como se não tivésse­mos tido eleições ou, pior, como se o resul­tado ori­undo das urnas não fosse legítimo.

Não se está dizendo aqui – ou mesmo insin­uando –, nem de longe isso, que não se deva ter oposição, pelo con­trário, nada é mais saudável para democ­ra­cia que uma oposição atu­ante, con­sis­tente e vig­i­lante. Mas o que assis­ti­mos até aqui, pelo menos, é que não se trata de “oposição”, mas, sim, de uma guerra eleitoral que ignora até mesmo os inter­esses da nação para fusti­gar o gov­erno eleito e empos­sado, prin­ci­pal­mente, no plano fed­eral, onde essa “guerra” eleitoral se tornou mais presente.

Ainda que não tivesse acabado de descer de Marte, não me recordo de ter assis­tido a uma situ­ação semel­hante nestes trinta e qua­tro anos de rede­moc­ra­ti­za­ção do Brasil que comem­o­raremos em 15 de março, quando o poder foi trans­mi­tido aos civis.

Nem mesmo o ex-​presidente Sar­ney, que assumiu a presidên­cia da República na condição de vice após o trágico pas­sa­mento de Tan­credo Neves, enfren­tou esse clima de cam­panha per­ma­nente que assis­ti­mos agora. Um ou outro ques­tio­nou sua posse, insi­s­ti­ram noutra solução – mas, ape­nas uma da parte dos políti­cos.

Os demais pres­i­dentes, mesmo aque­les eleitos após acir­radas e apaixon­adas dis­putas tiveram alguma “folga” para diz­erem a que vieram.

Fazia parte da “tradição” con­ceder aos eleitos – talvez até por respeito à democ­ra­cia –, cerca de cem dias de trégua. Essa trégua ocor­reu até com o ex-​presidente Col­lor de Mello que, como primeiro ato de gov­erno, “con­fis­cou” as par­cas econo­mias dos cidadãos. Naquele momento, mesmo os protestos dos inte­grantes do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, foram pon­tu­ais e de “políti­cos”.

Assim, o que assis­ti­mos no momento é algo – onde a vista alcança na história da jovem democ­ra­cia brasileira –, abso­lu­ta­mente inédito. Pelo que li, no dia seguinte à posse, o atual pres­i­dente e seus aux­il­iares, não chegaram a ter um segundo, sequer, da tão famosa e tradi­cional “trégua” da democ­ra­cia.

Aliás, prova maior de desapreço à democ­ra­cia foi exter­nada antes da posse: a comu­ni­cação pública dos mem­bros do par­tido der­ro­tado – e seus ali­a­dos –, de que não com­pare­ce­riam à posse dos eleitos – o que acabaram fazendo.

Esse com­por­ta­mento ilus­tra bem o “tom” que darão e que já vêm fazendo em relação ao novo gov­erno.

Como dizia, segundo li, as críti­cas e embates começaram mesmo durante a posse e tiveram con­tinuidade nos dias seguintes como uma espé­cie de “pror­ro­gação da eleição”.

Tudo tem sido motivo para “espinafrar” o novo gov­erno.

A crítica não per­doou nem a primeira-​dama, que paga pelo “pecado” de ser evangélica, de por ter feito um dis­curso em “libras” e, prin­ci­pal­mente, por ser esposa do pres­i­dente. Mas ela, se com­parada à min­is­tra Damares Alves, Min­istério da Mul­her, Família e Dire­itos Humanos, é uma felizarda, pois esta última tem sofrido mais que “sovaco de alei­jado”, nas mãos da patrulha política e da mídia.

Tudo que diz, mesmo em momen­tos de recon­hecida infor­mal­i­dade, tem sido ampli­fi­cado para desmerecê-​la – e ao próprio gov­erno.

Primeiro foi a história do azul e do rosa, quando disse que dora­vante, na nova ordem “meni­nos vestem azul e meni­nas vestem rosa”. Mais de uma sem­ana depois e quan­tas árvores não pere­ce­ram para incen­ti­var essa dis­cussão tola e sem qual­quer sen­tido prático. Qual­quer um, com mais de dois neurônios, perce­be­ria que a colo­cação foi explo­rada fora do con­texto, durante uma comem­o­ração pela investidura no cargo.

Em dias de lit­er­al­i­dade, “enten­deram” que essa colo­cação era a coisa mais impor­tante para o país. Até uma matéria espe­cial de entre­vista da min­is­tra no jor­nal da Globo foi mon­tada para “emparedar” a min­is­tra por conta do que disssera.

Uma segunda polêmica a gan­har destaque foi a opinião da min­is­tra sobre o fato de estu­dantes, ainda bem jovens, serem afas­ta­dos de suas famílias para irem estu­dar noutros esta­dos. O Jor­nal Nacional chegou a dis­pen­sar quase cinco min­u­tos para abor­dando o tema que nada tem a ver com a pasta da min­is­tra sendo que a opinião da mesma sobre o tema foi ape­nas isso: uma opinião de cunho pes­soal, tão vál­ida quanto a minha neste que­sito.

O que tem de rel­e­vante a opinião da min­is­tra sobre a cor das roupas das cri­anças ou sobre onde jovens ado­les­centes vão estu­dar ou mesmo sobre teo­rias bíbli­cas? Nada.

O que me causa pre­ocu­pação é a opinião do min­istro Guedes sobre o que farão com a econo­mia do país ou como solu­cionarão o déficit bil­ionário nas con­tas da pre­v­idên­cia.

Isso sim, envolve todo inter­esse nacional.

Mas tudo é motivo e tema para se ten­tar chamar o debate das próx­i­mas eleições, em 2022, para este iní­cio de gov­erno, quando quase nen­huma ação foi efe­ti­va­mente colo­cada em prática ou exe­cu­tada. Bem difer­ente do que ocor­reu em março de 1990.

Como o país pode avançar em alguma coisa se nem um gov­erno ini­cia e já se coloca outra cam­panha na pauta da nação?

O clima de cam­panha “fora de hora” teve lugar até na (re)posse do gov­er­nador do Maran­hão onde as notí­cias deram conta de gri­tos e palavras de ordem con­tra o pres­i­dente que era empos­sado na cap­i­tal fed­eral.

A franca hos­til­i­dade da mil­itân­cia comu­nista até chegou a con­trastar com o falso aceno de boa von­tade do gov­er­nador maran­hense que chegou a “ofer­tar” parce­ria para con­clusão das obras das creches no estado par­al­isadas desde o gov­erno da ex-​presidente Dilma Rouss­eff e do ex-​presidente Michel Temer.

Como ficou patente que o inter­esse do gov­er­nador, mais do que acol­her cri­anças, é se inserir no debate político nacional, ou seja, apare­cer, ninguém lhe deu bola.

A ideia, se fosse para “valer”, seria inter­es­sante.

O gov­erno estad­ual pode­ria, inclu­sive, usar a verba total disponi­bi­lizada no orça­mento para vender o pouco ou nada que fez ou fará, ou sim­ples­mente fazer pro­pa­ganda de geladeira no Polo Norte.

São 60 mil­hões – prati­ca­mente metade do orça­mento da União para o mesmo fim –, que o estado pode­ria mel­hor investir.

Acred­ito que, uma pela outra, cada crèche pre­cise de 500 mil para con­clusão, só com a verba da pro­pa­ganda daria para con­cluir 120 creches.

O gov­erno estad­ual não pre­cisa esperar o sinal verde do gov­erno fed­eral para isso, nos ter­mos da Con­sti­tu­ição Fed­eral, pode repas­sar a verba dire­ta­mente aos municí­pios para que eles deem como con­tra­partida nos atu­ais con­tratos.

Não creio que faça isso. Como ocor­reu durante os qua­tro anos ante­ri­ores o gov­erno estad­ual “vive” do mar­ket­ing que con­segue vender aos incau­tos na ten­ta­tiva de se via­bi­lizar como herdeiro do espólio esquerdista.

Neste campo, o êxito é recon­hecido, poder-​se-​ia dizer inclu­sive, que um dos poucos êxi­tos do gov­erno estad­ual é na pro­pa­ganda, no mar­ket­ing.

Tanto assim que depois de qua­tro anos onde con­seguiu o extra­ordinário feito de pio­rar quase todos os indi­cadores soci­ais her­da­dos do grupo Sar­ney – o que dis­pensa qual­quer outro comen­tário –, no próprio dia da (re)posse o sen­hor Leonardo Boff escreveu nas suas redes soci­ais que o gov­er­nador do Maran­hão será a “sal­vação” do Brasil.

A moti­vação de Boff para isso (descon­heço out­ros inter­esses), não foi o sen­hor Dino ter ele­va­dos indi­cadores econômi­cos ou soci­ais do estado (que pio­raram); não foi ter tirado os 54% (cinquenta e qua­tro por cento) dos maran­henses da linha da pobreza; errad­i­cado o anal­fa­betismo; resolvido o caos na saúde (onde, outro dia, os profis­sion­ais médi­cos ameaçaram greve por falta de condições de tra­balho e salários atrasa­dos); solu­cionado o prob­lema da falta de sanea­mento básico com a inau­gu­ração de cen­te­nas de senti­nas (como o próprio gov­er­nador anun­ciou nas suas redes soci­ais); trans­for­mado o estado no celeiro do país em pro­dução agrí­cola; e tan­tas out­ras coisas impor­tantes para o nosso povo. Para Boff – e out­ros adu­ladores –, o que cre­den­cia o gov­er­nador do Maran­hão a “sal­var” o Brasil do atraso em que se encon­tra e que será agravado no gov­erno Bol­sonaro, segundo ele, é o fato do gov­er­nador na (re)posse ter rece­bido a faixa de gov­er­nador (den­tre out­ras pes­soas) das mãos de uma menina negra.

Fico pen­sando que tipo de cogume­los alu­cinógenos essas pes­soas se servem no café da manhã. O que cre­den­cia um político a pleit­ear um cargo não são suas real­iza­ções como gov­er­nante ou mesmo como cidadão, para eles os que cre­den­ciam é um golpe de mar­ket­ing.

Vejo esse tipo de coisa e esfrego os olhos para saber se estou vendo mesmo.

Assim seguirá o Brasil pelos próx­i­mos anos: com sua pop­u­lação ou grande parte dela se recu­sando a descer do palanque e a tra­bal­har pelo bem de todos.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

CASA DE FERREIRO

Escrito por Abdon Mar­inho

CASA DE FERREIRO

Por Abdon Marinho.

NO SÍTIO do Min­istério Público Estad­ual uma notí­cia em destaque serve para con­ferir nova sig­nifi­cação à expressão “falar de corda em casa de enfor­cado”. Ela, a notí­cia, informa-​nos, inte­grantes da pat­uleia, que o ex-​prefeito do Municí­pio de Itapecuru-​Mirim, com alguns de seus famil­iares foram con­de­na­dos nas penas da Lei de Impro­bidade Admin­is­tra­tiva, den­tre as quais a ineleg­i­bil­i­dade por oito anos, proibição de con­tratar com poder público em deter­mi­nadas condições, ressar­cir o erário em mais de duzen­tos mil reais, den­tre out­ros.

O “malfeito” do ex-​gestor a dá ensejo às pesadas con­de­nações seria o fato de ter nomeado para car­gos de secretários munic­i­pais seus par­entes (irmãos e cun­hados) o que, na visão do MPMA, estaria em fla­grante afronta à Con­sti­tu­ição Fed­eral de 1988, con­forme decisão do Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, que sobre este tema, edi­tou a Súmula Vin­cu­lante nº. 13, que esta­b­elece: “A nomeação de côn­juge, com­pan­heiro ou par­ente em linha reta, colat­eral ou por afinidade, até o ter­ceiro grau, inclu­sive, da autori­dade nomeante ou de servi­dor da mesma pes­soa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou asses­so­ra­mento, para o exer­cí­cio de cargo em comis­são ou de con­fi­ança ou, ainda, de função grat­i­fi­cada na admin­is­tração pública direta e indi­reta em qual­quer dos poderes da união, dos esta­dos, do dis­trito fed­eral e dos municí­pios, com­preen­dido o ajuste medi­ante des­ig­nações recíp­ro­cas, viola a Con­sti­tu­ição Federal”.

Como esta ação – que cul­mi­nou com a con­de­nação do ex-​gestor e seus famil­iares –, exis­tem inúmeras out­ras dis­tribuí­das nas diver­sas comar­cas do estado, pro­postas pelo MPMA.

Visando, aliás, a dar efe­tivo cumpri­mento à mesma, mal os atu­ais gestores foram empos­sa­dos nos car­gos, em janeiro de 2017, a cada um deles (e até pres­i­dentes de câmara) rece­beram “recomen­dações” dos Min­istério Público Estad­ual para que se abstivessem de nomear quais­quer par­entes nos ter­mos do que decidira o STF na já men­cionada súmula.

A con­de­nação noti­ci­ada no sitio do MPMA origina-​se de ação pro­posta antes da “enx­ur­rada” de recomen­dações aos gestores que assumi­ram em janeiro 2017, que, de certo modo, achei pos­i­tivo pois inibiu – ou dev­e­ria inibir –, os “arrou­bos” dos empos­sa­dos, sequiosos em aten­der as deman­das de seus eleitores e ali­a­dos.

Retor­nando ao sitio do MPMA lá encon­tramos alem daquela já repor­tada, noti­cias sobre as diver­sas e rel­e­vantes medi­das do órgão para com­bater a cor­rupção e apre­sen­tar respostas as deman­das da sociedade. E, não temos dúvi­das, mis­são que desem­penha com inco­mum dedicação.

O que não encon­tramos no sitio do MPMA é uma única nota, uma linha sequer, sobre a acusação de que o próprio Procurador-​geral teria nomeado a esposa de um sobrinho para um cargo em comis­são na estru­tura do órgão.

Há quase quinze dias os veícu­los de comu­ni­cação locais noti­cia­ram o fato e até agora nen­huma expli­cação, jus­ti­fica­tiva ou esclarec­i­mento aos cidadãos que pagam os salários de todos eles: nomeadores e nomea­dos.

A súmula vin­cu­lante nº. 13, fez – em 21 de agosto de 2018 –, dez anos de existên­cia no mundo jurídico, e numa daque­las coin­cidên­cias feitas que de propósito, no dia 27 de agosto, pare­cendo que a comem­o­rar suas bodas, lá estava sua Excelên­cia, o Procurador-​geral, apondo sua assi­natura na nomeação da esposa do sobrinho e, para um cargo, ao que parece, até sem relevân­cia mais acen­tu­ada. Uma “sinecu­raz­inha”, boca, conezia, gov­er­ni­cho, nicho, prebenda, teta, veni­aga.

O silên­cio “tão” demor­ado de sua Excelên­cia – e do próprio órgão –, sus­cita no seio da sociedade dúvi­das sobre a reg­u­lar­i­dade da nomeação.

Amplia e cor­rob­ora com este sen­ti­mento, a resposta – depois de tanto tempo –, vinda não através de uma nota ofi­cial esclare­cendo os fatos, mas, sim, do ato de exon­er­ação da suposta par­ente por afinidade da autori­dade.

Veja, a nomeada (agora exon­er­ada), ainda que não osten­tasse o sobrenome de casada, o que pode­ria induzir a erro sua excelên­cia, o nomeador – na even­tu­al­i­dade de ale­gar não saber de quem se tratava –, pos­sui um nome por demais inco­mum. Difi­cil­mente pas­saria desa­pare­cido do olhar arguto da autori­dade.

Se em algum momento houve dúvida quanto a reg­u­lar­i­dade da nomeação, ela se dis­sipa por com­pleto com a exon­er­ação feita de inopino após os ques­tion­a­men­tos dos veícu­los de comu­ni­cação e, segundo soube, pela pos­si­bil­i­dade da adoção de medi­das legais anun­ci­adas pelo sindi­cato que rep­re­senta os servi­dores do órgão.

Se a nomeação ocor­reu amparada na lei por que exonerar agora após o assunto ser escan­dal­izado na imprensa?

Se estava errada e em desacordo com o entendi­mento sumu­lado do Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, que providên­cias serão tomadas pelo órgão que fis­cal­iza e intenta as pesadas ações (civis e crim­i­nais) con­tra os demais gestores? A exon­er­ação “elide” o malfeito? Ficará o “não” dito pelo não dito?

Já escrevi diver­sas vezes sobre o Min­istério Público Estad­ual (pode pesquisar no meu sitio), em um dos tex­tos o título foi o seguinte: “Quem Vigia o Vigiador?”, onde aler­tava jus­ta­mente para o fato do MPMA, por obri­gação legal, ado­tar tanto rigor com os demais sem, muitas das vezes, não olhar o próprio umbigo. Naquele e noutros tex­tos citava alguns exemplos.

Não sat­is­faz à sociedade o fato de “pego em fla­grante delito”, sua Excelên­cia (através do sub­sti­tuto ime­di­ato) ter pro­movido a exon­er­ação da suposta par­ente por afinidade.

Não ape­nas o próprio procu­rador, mas o órgão pre­cisam esclare­cer as cir­cun­stân­cias em que ocor­reu a nomeação ques­tion­ada pelos veícu­los de comu­ni­cação, bem como, as moti­vações que fiz­eram ces­sar o vínculo.

A autori­dade sabia quem era? Se não sabia, a nomeou sem con­hecer? Se sabia, qual a jus­ti­fica­tiva para afrontar a imposição que cobra de todos os demais agentes públi­cos? A nomeada não é – ou não era –, par­ente por ocasião da nomeação? Se não era, por qual razão fez-​se necessário a con­sulta ao Con­selho Nacional do Min­istério Público, con­forme infor­mou sua excelên­cia a um veiculo de comu­ni­cação? Quanto a exon­er­ação: o serviço não era mais necessário? Encon­traram alguém mais capacitado?

A súmula, con­forme tran­scrita acima é bas­tante clara e sucinta. Com todas as letras diz que a nomeação de par­entes até o ter­ceiro grau, inclu­sive por afinidade, con­traria a Con­sti­tu­ição Fed­eral. Nesta matéria ainda há duvida – com decisões dis­crepantes –, em relação ao fato da súmula ser aplicável ou não em relação aos chama­dos agentes políti­cos (secretários munic­i­pais, estad­u­ais e ministros).

No caso da nomeação feita pelo procurador-​geral, onde residiria a dúvida? A esposa do sobrinho não seria par­ente em ter­ceiro grau por afinidade? O Min­istério Público não seria alcançado pelos efeitos da súmula?

São questões que o MPMA pre­cisa respon­der, insisto, a não deixar quais­quer dúvi­das para a sociedade. Exis­tem dezenas de ações (talvez cen­te­nas) sendo respon­di­das por gestores e ex-​gestores por infringên­cia da súmula nº.13. Como ficam essas ações? Cidadãos con­tin­uarão sendo con­de­na­dos por faz­erem aquilo que o chefe do órgão que os proces­sam fez? São cul­pa­dos daquilo que out­ros são inocentes? Será cor­reto arguir tal prece­dente em sede de defesa?

O silên­cio, as respostas enviesadas, a omis­são, o pouco caso, causam um imere­cido des­gaste a imagem do Min­istério Público Estadual.

Sem uma resposta ofi­cial ou ati­tudes e medi­das con­vin­centes, a qual­quer um será líc­ito dizer: –– Casa de fer­reiro, espeto de pau.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

ALEI­JADO, SIM; ADU­LADOR, JAMAIS.

Escrito por Abdon Mar­inho

ALEI­JADO, SIM; ADU­LADOR, JAMAIS.

Por Abdon Mar­inho.

COR­RIA a quadra final do gov­erno Sar­ney (19661971) quando fui acometido pela poliomielite. Tinha um ano ou pouco mais. Morá­va­mos em um povoado dis­tante de tudo, sobre­tudo, do con­hec­i­mento. Era o oitavo filho de pais agricul­tores e anal­fa­betos por parte de pai, mãe e parteira.

Enquanto a doença me con­sumia, minha mãe, muito devota, se ape­gava às promes­sas a São Fran­cisco e aos remé­dios caseiros. Nada sur­tia efeito. A “guerra” estava quase per­dida quando apare­ceu um viz­inho de nome Joaquim Rosa e disse a mamãe: “— comadre, leve esse menino ime­di­ata­mente a Teresina senão ele morre”.

Assim foi. Meus pais reuni­ram as pou­cas econo­mias, e minha mãe seguiu comigo, primeiro no lombo de bur­ros até Dom Pedro – não havia estradas –, e, de lá, até Teresina, em um “pau de arara”.

Os médi­cos evi­taram o pior, mas não as seque­las. Tive que reapren­der a andar e a con­viver com a poliomielite desde então.

Vendo com os olhos de hoje, penso que ela (a pólio) ocor­reu num “bom” momento, pois tinha minha mãe para cuidar de mim, cerca de qua­tro anos e dois par­tos depois ela par­tiria nos deixando na orfan­dade.

Em pouco mais de cinco anos, tive poliomielite, e minha mãe mor­reu de parto do seu décimo filho. Tinha pouco mais de 36 anos.

Posso dizer que o Estado fal­hou comigo duas vezes: ao não me garan­tir a vaci­nação necessária e ao tirar minha mãe tão jovem. Sinto tris­teza, mas não car­rego comigo mágoas.

A pólio é uma doença que nos lega algu­mas lim­i­tações e, não raro, suas seque­las se agravam com o pas­sar do tempo. Eu, por exem­plo, quando mais novo andava quilômet­ros sem me cansar, chegava a ir a pé ou de “monareta”, uma bici­cleta que tive, do nosso povoado à cidade mais próx­ima, Gonçalves Dias, e voltar no fim da tarde. Hoje, poucos met­ros, subir escadas, já me causam cansaço.

Quando jovem, era outro papo, pas­sava os dias pas­sar­in­hando no mato, ban­hando no açude, indo com meu pai por léguas bus­car arroz, milho ou fei­jão, que ele com­prava “na folha”, descendo as ladeiras no car­rinho de rolimã ou numa conga de car­naúba, e tan­tas out­ras coisas.

Por minha condição e tam­bém por morar em um povoado sem escola, come­cei tarde nos estu­dos, oito ou nove anos. Primeiro no Alde­nora Belo de Gov­er­nador Archer e depois no Ban­deirante, de Gonçalves Dias. O segundo grau já foi na cap­i­tal, no Liceu Maran­hense, e depois de algu­mas ten­ta­ti­vas, pas­sei no vestibu­lar e formei-​me em Dire­ito pela Uni­ver­si­dade Fed­eral do Maran­hão — UFMA.

Desde então, com as difi­cul­dades da profis­são, que todos con­hece­mos, vivo do nobre ofí­cio de advogar.

Pois bem, fiz estas obser­vações porque, cinquenta anos depois, quando falo ou escrevo algo que desagrade os donos do poder, eles, através de seus baju­ladores de plan­tão, acusam-​me de ser “manco”, como se eu, com um ano de idade, tivesse “culpa” de ter sido acometido por uma doença.

Não que isso me inco­mode, em abso­luto, aliás, tem­pos atrás, até escrevi um texto sobre o assunto: “Sou Defi­ciente, e daí?”. Por outro lado, isso muito rev­ela sobre o caráter – ou a falta dele –, destes detra­tores e dos seus “donos”.

O que dizer de quem, para desmere­cer alguém, à falta de qual­quer argu­mento, acusa-​o de pos­suir uma defi­ciên­cia física? Ou men­tal? Ou mesmo pos­suir uma condição sex­ual ou de gênero difer­ente da sua ou da maio­ria? Ou de ser idoso?

Não raro, no Maran­hão de hoje, vejo isso acon­te­cer, não ape­nas comigo, mas com diver­sos out­ros cidadãos. Eu sou o “manco”, o Dr. Pedro Leonel Pinto de Car­valho, um dos mais respeita­dos advo­ga­dos do Brasil, é “octo­genário” com dis­função erétil, o pres­i­dente da República é o “colostomizado”.

Decerto temos out­ros infini­tos defeitos, basta só procu­rar bem.

Dos ataques por condições pes­soais, até aqui, só tenho visto escapar os obe­sos, talvez por não quer­erem “falar do boi em cima do couro”, como bem ensina o dito pop­u­lar.

Em relação a esse “alei­jado”, até colo­cam um pato com o pé enfaix­ado e de muleta, com uma car­i­catura com alguns traços meus, bem mal feita, por sinal, até porque tive poliomielite nas duas per­nas. Uso a car­i­catura para ilus­trar o texto.

Como esse nível de baju­lação nunca é desin­ter­es­sada, devo imag­i­nar que, de alguma forma, parte dos impos­tos que pago – e que pag­amos todos, em cifras cada vez mais ele­vadas, graças ao atual gov­erno –, este­jam servindo para remu­nerar esse tipo de desqual­i­fi­ca­dos que já não con­seguem mais sobre­viver ape­nas da explo­ração de anciãs.

Aos baju­ladores sem­pre sobram as migal­has do poder, uma sinecura em alguma sec­re­taria, prefeitura, nos poderes do estado ou mesmo algum jabá das gor­das con­tas ofer­tadas às agên­cias de pub­li­ci­dade que tra­bal­ham com afinco para vender mérito onde só exis­tem defeitos – din­heiro que muito faz falta à edu­cação e à saúde.

O certo é que, de alguma forma, nós, os con­tribuintes, esta­mos pagando para ser­mos desqual­i­fi­ca­dos (ou, pelo menos, sofr­ermos ten­ta­ti­vas de ofen­sas) quando esboçamos quais­quer opiniões dis­so­nantes àque­las dos atu­ais donatários do poder.

As últi­mas “ten­ta­ti­vas” de ofen­sas – não con­sidero ofensa ser chamado de manco ou alei­jado –, vieram por conta do texto “Cumpra-​se, con­forme a von­tade del Rei”, onde critico um decreto do gov­erno que autor­iza o des­cumpri­mento de decisões judi­ci­ais ou ao menos as condi­cionam a deter­mi­na­dos req­ui­si­tos.

Emb­ora inócuo, o decreto de sua Excelên­cia, pelo menos para as ter­ras maran­henses, cria uma bizarra espé­cie de “Quinta Instân­cia” no Poder Judi­ciário, que, com chiste, disse será coman­dada pelo seu Zez­inho da SEPLAN, o fun­cionário do ter­ceiro ou quarto escalão encar­regado de ver­i­ficar as dotações orça­men­tárias e a disponi­bil­i­dade finan­ceira para, então, inserir van­ta­gens aos servi­dores públi­cos, ainda que deci­di­das como dire­ito dos mes­mos até pelo Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF.

Esse tipo de ridículo plan­etário a que o Maran­hão é, mais uma vez, sub­metido – fico até imag­i­nando as pes­soas ques­tio­nando os maran­henses sobre a cri­ação da Quinta Instân­cia ou o fato da última palavra sobre o cumpri­mento de decisão judi­cial ser dada pelo seu Zez­inho da SEPLAN ou mesmo que o “cumpra-​se” dos mag­istra­dos deva ser seguido de con­sid­er­ações –, tem como causa o fato do atual gov­er­nador, temendo ser ofus­cado por algum aux­il­iar, tenha se cer­cado de “fãs” e, pior, de xerim­ba­bos, adu­ladores da pior espé­cie, daque­les capazes de elo­giar os gases soltos, ape­nas para agradar o “chefe”.

Alerto sobre isso desde antes da posse, na “carta aberta” logo após a eleição, já dizia: fuja dos adu­ladores. Em diver­sos out­ros tex­tos, inclu­sive no “O Menino Só”, falo sobre a ausên­cia de pes­soas capazes de chamar a atenção de sua Excelên­cia ante alguns dos seus desati­nos – e não tem sido poucos.

Sobra aquela sen­sação de que esta­mos sendo guia­dos por “cachorro mijado por gambá”, ou seja, sem faro algum para nos con­duzir a um bom des­tino.

O time, se fosse escal­ado pelo “manco”, seria um time de pes­soas capazes e não de inca­pazes capazes de tudo, sobre­tudo, adu­lar o “capitão”, ainda que coberto de erros e tenha per­dido o pênalti na cara do gol.

A frus­tração do “alei­jado” — que na ver­dade tornou-​se alei­jado pela omis­são do Estado –, é saber que depois de cinquenta anos, e já com os qua­tro do atual gov­erno, as mul­heres do Maran­hão ainda mor­ram de parto por falta de assistên­cia e pacientes mor­ram enquanto aguardam na fila por um atendi­mento ou sofram no chão frio e imundo dos hos­pi­tais públi­cos, pois sequer leitos ou macas lhes são disponi­bi­lizadas.

Isso causa frus­tração, dor e revolta. Assim como causa frus­tração ver cer­tos fre­quen­ta­dores de escân­da­los poli­ci­ais coman­darem as obras públi­cas do estado.

Causa pro­funda frus­tração assi­s­tir à perseguição a jor­nal­is­tas e a cidadãos livres que ousam emi­tir uma opinião con­trária ao gov­erno que se prom­e­teu democrático e lib­ertário.

E essa é a mesma frus­tração que sinto quando assisto à desen­voltura no palá­cio do gov­erno de cer­tos tipos que con­hece­mos bem e que há muito tempo dev­e­riam ser hós­pedes do Estado.

Causa frus­tração, des­en­canto e tris­teza saber que um estado tão rico, como é o nosso, pos­sui uma pop­u­lação tão pobre, com mais da metade vivendo abaixo da linha da pobreza.

Não, esse não foi o tipo de futuro que son­hei e dese­jei para o Maran­hão e isso é, de fato, muito frus­trante.

O povo do Maran­hão expia uma culpa que não é sua, mas sim de gov­er­nantes inábeis, incom­pe­tentes ou cor­rup­tos, ou tudo isso junto, e isso é frus­trante.

São cinquenta anos de frus­trações com os des­ti­nos do Maran­hão, e uma parcela delas é cau­sada pelo atual gov­erno.

Fico feliz que o meu “defeito” seja ter sido vítima da poliomielite e tenha me tor­nado “alei­jado”. Não tem prob­lema, con­vivo bem com isso.

Cer­ta­mente não con­vive­ria bem se o meu defeito fosse o vício da adu­lação, da baju­lação ou da sabu­jice quase tão graves ou igual ao vício em sub­stân­cias ilíc­i­tas.

Mas cada um com suas escol­has. Como bem ensi­nam os evan­gel­hos de Mateus, Mar­cos, Lucas e João, foi o próprio Jesus Cristo que disse: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

Abdon Mar­inho é advo­gado.