O “BOLSONARISMO” E O FRACASSO DA POLÍTICA.
Por Abdon Marinho.
QUALQUER que seja o resultado da disputa eleitoral deste ano tenho por mim que a política nacional nunca mais será a mesma.
No centro desta assertiva, com maior destaque, o candidato a presidente Jair Bolsonaro.
A partir da chamada redemocratização do pais, contada da data da eleição de Tancredo Neves, em 1985, não surgiu um político capaz de galvanizar tantos sentimentos – para o bem ou para o mal, quanto ele.
Não há paralelo. O diferencial em todos estes atos pró-Bolsonaro é o caráter voluntário. Mesmo nos menores municípios nordestinos, tidos como território do “petismo” temos vistos carreatas, “motocadas” ou mesmo passeio de bicicletas, em apoio ao candidato do Partido Social Liberal — PSL.
Os “seguidores” do “bolsonarismo” fazem questão de dizer que estão lá – participando dos eventos do candidato, sem o candidato –, de forma voluntária e espontânea.
Vão além: compram as camisas do candidato e tratam o candidato como “mito”.
Não me recordo de ter assistido um movimento igual em apoio a nenhum candidato na recente história política do país. Mesmo o movimento “Diretas Já”, de 1984, era um movimento de “causa”, se voltava contra a ditadura militar e pelo direito de escolha pelo voto direto do dirigente da nação. Sem contar que reunia uma miríade de pessoas e sentimentos, estes os mais díspares.
Outro grande movimento “espontâneo” ocorrido a partir de 2013, se voltava contra tudo e contra todos, sem possuir um objetivo determinado.
O que vemos hoje – e acho que as pesquisas de opinião pública não refletem com exatidão o fenômeno –, é o mais extraordinário movimento político espontâneo das últimas décadas, retrocedo para antes do régime militar, implantado em 1964.
Em termos proporcionais temos algo bem parecido ao movimento getulista, no século passado – e aí já peço desculpas aos historiadores se disse alguma tolice.
E por que acho que estamos diante de um fenômeno político? Simples, o senhor Bolsonaro é, talvez, um dos mais frágeis, dentre os candidatos, com ideias rasas e de senso comum que sei, não encontram adeptos nem entre os seus mais fieis eleitores e/ou seguidores, a maioria composta por pessoas de formação intelectual superior.
Por isso mesmo, a quase a unanimidade dos seus eleitores, concordam que o seu preparo para governar só seja igual ou superior ao da ex-presidente Dilma ou do ex-presidente Lula.
Apesar de tantas situações pessoais desfavoráveis e ideias curtas, contando com estrutura partidária minúscula, possuir pouquíssimos segundos de tempo na televisão e rádio e de ter ficado fora de atividades de campanha durante, praticamente, todo o primeiro turno – por conta do atentado –, consegue reunir o apoio de mais trinta por cento do eleitorado, não deixa dúvidas que o senhor Bolsonaro é um fenômeno político.
Como não reconhecer como fenômeno um candidato que a despeito de tantas fragilidades conta, hoje, com o apoio «fechado» de quase 35 milhões de eleitores, que não apenas votam nele, mas estão nas ruas fazendo sua campanha, sem receber nada para isso?
Esse sucesso, entretanto, é o reflexo mais contundente do fracasso da politica brasileira.
A história registra outros exemplos de surgimento de lideranças inusitadas na esteira do fracasso da politica institucional.
Diferente no caso brasileiro é o fato do senhor Bolsonaro ser “politico profissional” há quase 30 anos.
O que poucos dizem – talvez por não terem se dado conta –, é que tanto o fracasso da politica quanto o surgimento do “bolsonarismo» como fenômeno politico-eleitoral é uma criação do Partido dos Trabalhadores — PT e dos seus aliados, sobretudo dos os mais radicais, no poder desde 2003.
Foram eles com a sua falta de apreço pela democracia e respeito às instituições; com a utilização da corrupção como estratégia de permanência e manutenção do poder que destruiu a politica nacional e possibilitou o surgimento de supostos “salvadores da pátria” como o que hora se verifica.
Engana-se, também, os que pensam que os dois episódios: o fracasso da política e o surgimento de “mitos” não foi feito “por acidente”. Não foi.
A verdade a ser dita é uma só: o PT e suas lideranças não acreditam no modelo de democracia que lutamos à duras penas para conquistar. Isso quem diz não sou eu. São seus documentos e iniciativas.
Agora mesmo temos assistido o senhor José Dirceu – que, condenado a mais de trinta anos de cadeia, só está solto por vivermos numa democracia excessivamente condescende com criminosos – dizer que “vão tomar o poder” e falar que não reconhece a legitimidade do Poder Judiciário como instituição.
Ora, isso numa democracia, ressalvado o direito à liberdade expressão, é chamamento a um golpe de estado nos moldes do feito na Venezuela e que desgraçou aquele país.
Usa-se eleições legítimas para se destruir as instituições democráticas e o próprio Estado.
Neste contexto, a estratégia do petismo e aliados passa também pela “destruição” das demais forças politicas ou torná-las seus satélites.
Foi isso que fizeram desde que chegaram ao poder: trabalham para eliminação das demais agremiações e lideranças fazendo alianças fisiológicas responsáveis pelos grandes escândalos de corrupção.
A estratégia de eliminação da classe politica é mais presente em relação ao PSDB, mas, no atual pleito, trabalharam – e ainda trabalham –, para aniquilamento politico de Marina Silva, da Coligação Rede/PV – como fizeram em 2014 –, e, também, de Ciro Gomes, do PDT.
As publicações nacionais dos últimos dias trazem escabrosas histórias de como o ex-presidente/presidiário Lula tem manobrado, de dentro da cadeia, para acabar com as candidaturas de Marina Silva e Ciro Gomes, que, pelo menos, no plano teórico, sempre foram aliados do “petismo”.
A eles não interessa uma sociedade baseada no pluralismo de ideias, dentro de um consenso do entendimento médio do seja a democracia.
Se fosse assim, não trabalhariam para fomentar a divisão da sociedade entre norte e sul; brancos e negros; índios e brancos; pobres e ricos, gays e heterossexuais e, pasmem, até entre homens e mulheres, como se uns não precisassem de outros.
Enquanto promovem a destruição dos demais agrupamentos políticos e radicalizam posições divisionistas da sociedade, fomentam o surgimento de “líderes» como Bolsonaro.
Assim, em última análise, o “bolsonarismo» nada mais é do que uma criação do “petismo”, dos seus treze anos de desmandos.
Tenho conversado com alguns amigos que são eleitores do presidenciável do PSL.
Esses eleitores que, segundo pesquisas formam a maioria do seu eleitorado, têm pelo menos duas graduações, com mais de uma especialização, pai de família com filhos na adolescência ou próximo disso, que, se não é rico, sustenta a si e aos seus sem maiores dificuldades. Ou seja não é alguém sem esclarecimento do que seja política.
O que ouvi: votam e fazem campanha para Bolsonaro porque vêem nele o único capaz de romper, nesse momento, com o projeto de sociedade que o “petismo” já tentou implantar e que “ameaça” a fazê-lo, caso cheguem ao poder novamente.
Como o petismo conhece as fragilidades do candidato Bolsonaro vem incentivando o clima de “guerra”, como estratégia de fortalecimento da sua candidatura.
E quem disse isso, conforme já referido acima, foi o próprio José Dirceu, ao cunhar que “não basta ganhar a eleição, temos que tomar o poder”.
Esse é o tipo de radicalização que, longe de interessar ao conjunto da sociedade – que quer o país estável para produzir e gerar empregos –, mas tão somente a quem incentiva a “guerra” e instabilidade como forma de colher dividendos.
Um erro que pode “estragar” a estratégia é que o “bolsonarismo”, parece-me, bem maior que Bolsonaro.
Assim, chegaremos ao sete de outubro: de um lado os “bolsonaristas” imaginando-se numa “cruzada” para salvar a sociedade brasileira dos males do “comunismo”, da “depravação”, da “venezuelização” do Brasil, destruição da “família cristã ocidental” e do outro os devotos e seguidores do “petismo” imaginando-se – e pregando –, que eleito Bolsonaro, a missão de um futuro governo seu será eliminar as chamadas minorias e os outros seguimentos da sociedade.
Decerto imaginam milícias “bolsonaristas” armadas para eliminar gays, índios, negros, pobres, nordestinos, etc. Talvez pensem que será reimplantada um novo modelo de sociedade patriarcal, em voga até o início do século passado, com as mulheres e filhos como “propriedades” dos seus senhores.
Se não fosse tão terrível, tão dantesco e toscas tais ideias, tal quadro seria engraçado.
O Brasil vive um momento tão surreal, que é como se tivéssemos retrocedido alguns séculos.
Ao que parece, no atual momento menos importante que termos uma educação de qualidade, uma saúde efetiva para a população, estarmos preparados para competir de igual para igual com os demais países no mercado global ou conectados aos avanços tecnológicos ou da ciência é sabermos com quem fulano ou beltrano vai para cama ou o que pensa sobre determinados temas próprios da vida privada.
Será que foi para isso que tanto batalhamos para chegar até aqui?
Vejo como resultado desta eleição apenas um: o fracasso de um projeto de nação.
Abdon Marinho é advogado.