ZÉ REINALDO E O PREÇO DA LIBERDADE.
Por Abdon Marinho.
UMA DAS LEMBRANÇAS daqueles dias e meses que antecederam as eleições de 2006 é de uma conversa com o governador José Reinaldo, na residência de São Marcos. Fui lá com um sócio para atender algo que nos solicitara. Bem humorado e seguro falava sobre a campanha eleitoral, da estratégia que arquitetara para eleger seu sucessor. Apostava mais na possibilidade do ex-ministro Edson Vidigal, recém aposentado do STJ, sair na frente dos demais integrantes do que chamaram de “condomínio de candidatos” e disputar o segundo turno das eleições com a ex-governadora Roseana Sarney. Já eu dizia-lhe achar mais fácil o candidato Jackson Lago chegar na frente (como chegou) e expunha os motivos: possuía mais militância espalhada pelo estado.
Foi naquela manhã que o ex-governador disse uma frase que lembro como se fosse hoje: — vou libertar o Maranhão.
A questão da liberdade, no sentido de alternância política, era um mote que vinha sendo utilizado desde a campanha do ex-governador Cafeteira em 1994. Antes mesmo daquela campanha seus amigos e apoiadores fizeram circular em milhares de carros um adesivo com apenas duas palavras, em letras garrafais: LIBERDADE e MARANHÃO.
Duas palavras que sintetizavam todo um sentimento de milhões de maranhenses.
Na campanha de 1994 foi o mote principal – praticamente o único.
Eram adesivos, panfletos e, principalmente, a música de campanha que trazia na letra: “Liberdade é o respeito pelo direito, é a chama em nosso peito…”. Música, aliás, que já vinha de bem antes.
Acredito que, por conta disso, a frase do ex-governador tenha tido tamanha ressonância, a ponto de nunca tê-la esquecido: — vou libertar o Maranhão.
O governador Zé Reinaldo cumpriu sua palavra.
Não apenas fez tudo que pôde para que a oposição ao grupo Sarney vencesse aquelas eleições de 2006, como também, aceitou o sacrifício que lhe impuseram em 2010 – quando apresentaram 5 candidatos de oposição para a disputa das duas vagas –, como em 2014 – quando em nome da unidade das oposições –, não fez questão e não impôs que fosse ele o candidato a senador.
Eleitos os atuais donatários do poder, suportou até onde a dignidade lhe permitiu todos os desprestígios e humilhações impostas por muitos dos que nada fizeram por causa alguma no Maranhão, que não locupletarem-se do poder.
Num derradeiro apelo chegou a dizer que só não seria candidato a senador do grupo se não o quisessem. Não quiseram. A quem sempre cedeu em nome daquilo que prometeu e se dispôs a fazer, impuseram condições e humilhações.
Mostraram-lhe o caminho da porta e ele saiu.
Apesar de tudo nunca dispensou aos que lhe demonstraram tanto desapreço e desconsideração outras palavras que não as de elogios. Sua grandeza não permite que seja diferente.
Por amigos comuns, soube que sua solitária campanha ao Senado da República – conquista que poderia ter alcançado desde 2006, ou 2010, ou 2014 –, não ultrapassa as demais que estão postas, porque encontra dificuldades materiais para chegar a todos os cantos do estado e assim conseguir o voto livre das pessoas de bem – que sabemos são a maioria dos cidadãos/eleitores.
Tanto isso é verdade que faltando tão pouco tempo para o dia das eleições, o número de eleitores indecisos ou que não votam em nenhum é superior às manifestações de votos do primeiro colocado. Todos estes migrariam para o Zé Reinaldo se tivessem a oportunidade de conhecer suas propostas e história.
Mas são imensas suas dificuldades, não tem aviões ou helicópteros à disposição ou o dinheiro que têm os demais – sabe-se lá Deus conseguido às custas do quê –, para “conquistar” tantos quantos apoios necessários à difusão de sua candidatura.
Resta-lhe, tão somente a sua história, e o muito que fez. O que para vida é suficiente, mas para política dos nossos dias, resta insuficiente.
Enquanto isso, outros, com estruturas monumentais e poder, vão se impondo pela força do poderio político-econômico, querendo ganhar a eleição no “abafa”.
Ao ex-governador resta o apoio sincero dos homens e mulheres de bem que reconhecem tudo que ele fez.
É assim que enxergo esse movimento suprapartidário que tem hipotecado apoio à candidatura de Zé Reinaldo: como um movimento dos cidadãos de bem que reconhecem o papel deste grande maranhense, e que, sem qualquer temor, enfrentam as estruturas montadas, para apoiá-lo. Pessoas como D. Clay Lago, esposa do ex-governador Jackson Lago, como os ex-prefeitos Chico Leitoa e Léo Costa, como Aziz Santos e tantos outros que deixo de citar para evitar cometer a injustiça do esquecimento.
Apesar de tanto trabalho e desprendimento, pelos dados das últimas pesquisas, temo que estes esforços, ainda, não sejam suficientes para impedir o Maranhão carregar, para todo o sempre, a desonra de não de não reconhecer o imenso papel do ex-governador Zé Reinaldo para sua história política, retribuindo-lhe com um mandato de senador para que possa bem representar o estado. O que será uma pena.
Pior que isso, só mesmo o papel que a história reservará aos ingratos, aqueles pobres de espírito, que não reconhecem tudo que o sacrifício de um único homem foi capaz de lhes proporcionar. Estes terão o resto de suas vidas para conviver com a desonra da ingratidão. Que tenham uma vida longa.
Não, hoje não falaremos destes ingratos e/ou traidores, nem para citar-lhes os nomes, a história e a consciência de cada um se encarregará disso.
O certo é que Zé Reinaldo cumpriu sua promessa. Ponto. E, eles?
Abdon Marinho é advogado.