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SEMOSTRAÇÃO IMBERBE

Escrito por Abdon Mar­inho

SEMOSTRAÇÃO IMBERBE.

Por Abdon Mar­inho.

POR QUE ele faz isso? Está ficando feio. Parece coisa de grêmio estu­dan­til do século pas­sado. Coisa de “patota”.

Foi assim, meio à queima roupa, que um amigo abordou-​me outro dia: ao tempo em que inda­gava, já exter­nava sua con­trariedade e opinava.

Tomei um susto. Ele, a quem se refe­ria esse amigo, o gov­er­nador do Maran­hão, Sen­hor Flávio Dino. O “ele”, no caso, pode ser plu­ral­izado dado ao fato de não ape­nas o gov­er­nador, mas todo o seu entorno, não ape­nas repro­duzir, como tam­bém emi­tir opinião que dis­tam de suas respon­s­abil­i­dades como servi­dores públi­cos pagos pelos con­tribuintes para bem cuidarem dos inter­esses do estado e não faz­erem pros­elit­ismo político dia e noite.

Não foi a primeira pes­soa de quem cul­tivo a intim­i­dade a mostrar-​se inco­modado com o fato de sua Excelên­cia ter esse pendão pela semostração: ato de se mostrar, de se exibir. 2 Mania de osten­tação (de grandeza, inteligên­cia, con­hec­i­mento, din­heiro, luxo etc.).

Se, durante a cam­panha eleitoral poder-​se-​ia deb­itar os exces­sos aos calores próprios da dis­puta, pas­sado o pleito, com o gov­er­nador reeleito, ainda em primeiro turno, o falatório de cunho ide­ológico perde qual­quer sentido.

Pior, ainda, quando sua Excelên­cia – e os seus ali­a­dos, na maio­ria servi­dores públi­cos –, se volta con­tra um pres­i­dente eleito e, por­tanto, pos­suidor da legit­im­i­dade con­ferida pelas urnas.

O país passa por uma de suas maiores crises de todos os tem­pos – legado de gestões desastradas –, os esta­dos da fed­er­ação, prati­ca­mente todos, sem exceção, fali­dos.

Não faz sen­tido algum, que o gov­er­nador do Maran­hão, estado atrás em quase tudo que é indi­cador econômico e/​ou social, junto com out­ros próceres nordes­ti­nos, façam coro con­tra um gov­erno demo­c­ra­ti­ca­mente eleito e até se recusem a par­tic­i­par de reuniões com os demais gov­er­nadores eleitos para tro­carem ideias e encon­trarem pon­tos em comuns no enfrenta­mento da crise, como vimos recen­te­mente, quando um único gov­er­nador da região nordeste, o do Piauí, com­pare­ceu a uma reunião com o pres­i­dente eleito.

A reper­cussão da descorte­sia foi tão mal rece­bida pelos eleitores que uma sem­ana depois estavam todos em Brasília ten­tando uma agenda com o futuro gov­erno que, desta vez, não lhes deu “bola”, fazendo-​os voltar para seus esta­dos sem ter fal­ado com ninguém de relevân­cia do gov­erno a se insta­lar a par­tir de janeiro.

Nada é mais saudável à democ­ra­cia que uma oposição con­sciente e con­sis­tente, entre­tanto, o que temos visto, com o nosso gov­er­nador à frente é que os der­ro­ta­dos no pro­jeto nacional não “desce­ram” do palanque e se “armam” para pedir o impeach­ment do futuro gov­erno tão logo ele se instale em 1º de janeiro.

Não se trata ape­nas de um com­por­ta­mento de “patota” de grêmio do século pas­sado, de movi­men­tos sec­tários, ou tolice pura e sim­ples, esta­mos diante de ati­tudes tres­lou­cadas, que o gov­er­nador do estado faz “tudo” para vender-​se como líder, emb­ora sem muito êxito, tanto que foi “rep­re­sen­tado” pelo gov­er­nador do Piauí.

Um amigo, exagerando na car­i­catura, disse-​me recen­te­mente, na esteira desta dis­cussão, que para “apare­cer” só estava fal­tando a sua Excelên­cia amar­rar uma melan­cia no pescoço e sair sem roupas pela Praça Bened­ito Leite durante a feira do domingo.

Sem dá azo a tamanho exagero, até porque não acred­ito que cheguem a tanto, forçoso não recon­hecer que vem existindo um excesso de exposição nas con­du­tas dos atu­ais man­datários do estado, com, infe­liz­mente, o gov­er­nador à frente.

Tamanha exposição, inclu­sive, chega a mac­u­lar a dig­nidade do cargo ocu­pado, ferindo o respeito que se deve ter pela litur­gia do poder, o que certa vez, quando pres­i­dente da República, cobrou o ex-​presidente José Sar­ney.

Outro dia tomei con­hec­i­mento que um secretário do gov­erno, dep­utado fed­eral eleito, recla­mara que o gov­er­nador vem sendo “injus­ti­fi­cada­mente” ata­cado.

Ora, o secretário iden­ti­fica o efeito porém passa ao largo da causa.

Se sua Excelên­cia vem sendo “injus­ti­fi­cada­mente” ata­cado a culpa é exclu­si­va­mente sua, do excesso de exposição, da ten­ta­tiva vã de querer se pro­mover a “líder” da oposição ao futuro gov­erno.

Esse desejo incon­tido de “her­dar” o espólio do lulismo, do petismo e das esquer­das (se é que algum dia exis­tiu isso no Brasil), tem suas consequências.

Infe­liz­mente, o gov­er­nador, além de não aten­tar para fato de que a vit­rine política é um lugar que se sujeita a ques­tion­a­men­tos e ataques, tem colo­cado os seus inter­esses políti­cos pes­soais à frente dos inter­esses do estado, con­forme já reclamou, mais de uma vez, o Jor­nal Pequeno, ali­ado de primeira hora do atual governo.

O gov­er­nador, assim como qual­quer cidadão, tem dire­ito de ter “lado” político, de pos­suir inter­esse legí­timo de algum dia vir a ser pres­i­dente da República, o que não pode é igno­rar suas atribuições fun­cionais, pois antes de ser político, de ter inter­esses eleitorais, ele tem um estado para admin­is­trar e que pre­cisa dos bons prés­ti­mos do gov­erno federal.

O próprio gov­er­nador, ao lançar mão de um tar­dio decreto de aus­teri­dade, é o primeiro a recon­hecer que a situ­ação finan­ceira do Maran­hão não é con­fortável, em grande parte dev­ido aos equívo­cos da sua própria admin­is­tração.

Lem­bro de ter escrito, logo no iní­cio do gov­erno, que dev­e­riam (e pode­riam) ser aus­teros pois estava a suceder uma estru­tura de quase cinquenta anos, pode­ria exonerar muita gente, rever todos os con­tratos, cor­ri­gir muitos dos “malfeitos”.

Sentira-​se agre­di­dos, não ape­nas man­tiveram quase todos servi­dores enraiza­dos dos gov­er­nos ante­ri­ores, como trataram de nomear um grande número de novos servi­dores, na maio­ria das vezes escolhendo-​os mais pelos critérios políti­cos que de com­petên­cia com­pro­vada; com relação aos con­tratos, aos invés de reduzi-​los, fiz­eram foi ampliar, no que­sito aluguel de imóveis, tidos pelos adver­sários como “cama­radas”, o gov­erno não fica devendo as maiores imo­bil­iárias da cidade; quan­tos aos “malfeitos” o noti­ciário, vez ou outra, não deixa esque­cer o quanto se fazem pre­sente.

Uma admin­is­tração trôpega que não apre­senta resul­ta­dos min­i­ma­mente sat­is­fatórios nas áreas essen­ci­ais como edu­cação, saúde, infraestru­tura e que reduziu a pos­si­bil­i­dade de cresci­mento econômico do estado se torna vul­nerável às críti­cas sejam elas jus­tas ou não.

Outro dia amigo – não digo o nome para evi­tar fux­ico –, fazia troça com a política econômica do gov­erno estad­ual.

Dizia: “— Abdon, a prin­ci­pal car­ac­terís­tica deste gov­erno em relação à econo­mia é o saudosismo”.

Olhei intri­gado ante a assertiva. Ele con­tin­uou: “— lem­bra que quando chegastes aqui, em mea­dos dos anos oitenta, as pes­soas não “faziam” super­me­r­cado e, sim, Lusi­tana? Pois é, a política econômica do gov­erno, favore­cendo um único grupo, “que­brou” todos os demais super­me­r­ca­dos, agora, como nos anos oitenta, as pes­soas não estão mais “fazendo” super­me­r­cado, fazem Mateus”.

Pois bem, com pouco ou quase nada de pos­i­tivo a mostrar, com um “dever de casa” longe cumprido a primeira linha, sua Excelên­cia, veste-​se de pro­fes­sor de Deus nas redes soci­ais, opinando sobre tudo e todos, atraindo para si – e para o gov­erno –, os ques­tion­a­men­tos e críticas.

Tanta exposição – do gov­er­nador, secretários e adu­ladores –, não faz bem nem aos expos­tos e muito menos ao gov­erno, pois as pes­soas acabam por perder o “respeito” pela autori­dade.

É dizer, se as próprias autori­dades, como dizia papai, não se dão o respeito, como exi­gir que out­ros o façam.

Na atual quadra, tenho visto coisas inédi­tas, provo­cadas por esse excesso de exposição. Nas próprias Redes Soci­ais do gov­er­nador, já vi cidadãos chamando-​o de “nigrinha” (à toa, vadia, vagabunda; pes­soa que não presta, que não vale nada. Ape­sar de ser uma palavra fem­i­nina tam­bém pode ser apli­cada a homens); na mesma linha, já vi um outro apelando para que pare com a “nigrin­hagem”; e, ainda, um outro “pedindo” que deix­asse de “fuler­agem” (falta de seriedade; modo de agir sem refi­na­mento).

Emb­ora sejam ter­mos comuns do vocab­ulário maran­hense, vamos com­bi­nar, não fica bem quando apli­ca­dos a um gov­er­nador, secretários ou out­ras autori­dades de alto escalão, não tanto pelas pes­soas em si, mas pelos próprios car­gos que ocu­pam por del­e­gação da maio­ria da pop­u­lação.

Se nas redes soci­ais do próprio gov­er­nador – e dos seus ali­a­dos –, lê-​se algo como o referido acima, dá para imag­i­nar o que “rola” noutras redes, sobre­tudo, nos gru­pos de What­sApp. Pois é, são críti­cas ter­ríveis e de todos os cun­hos, pas­sando pela com­pleição física à insin­u­ações de con­teúdo sex­ual, que por decoro próprio, deixo de relatar.

O secretário ao recla­mar de “ataques injus­ti­fi­ca­dos”, talvez devesse recon­hecer que tais “ataques” nada mais são do que as con­se­quên­cias da semostração – implan­tada como estraté­gia política –, e a “fulaniza­cão” das insti­tu­ições decor­rentes de um estilo de gov­erno que inau­gu­raram.

Creio que este­jam equiv­o­ca­dos, mas quem sou eu para achar algo?

Abdon Mar­inho é advo­gado.

MAIS MÉDI­COS: IDE­OLO­GIAS, CON­TRADIÇÕES E NECESSIDADES.

Escrito por Abdon Mar­inho

MAIS MÉDI­COS: IDE­OLO­GIAS, CON­TRADIÇÕES E NECES­SI­DADES.

Por Abdon Mar­inho.

FERVILHA nas redes soci­ais, e até mesmo na imprensa tida por séria, a dis­cussão acerca da saída de Cuba do Pro­grama Mais Médi­cos. Cada um com uma opinião, quase sem­pre, fruto das próprias con­vicções ide­ológ­i­cas dos autores.

No afã de venderem seus posi­ciona­men­tos, ver­dade e men­tira pas­sam a ter o mesmo valor.

O Brasil, tido por muitos como país de anal­fa­betos políti­cos, passa a dis­cu­tir ide­olo­gias em cada esquina e os con­ceitos do que seja esquerda e dire­ita que deixaram de ser meros indi­cadores de direção.

O Pro­grama Mais Médi­cos pas­sou a fazer parte do cardá­pio das dis­cussões ide­ológ­i­cas, sobre­tudo porque muitos dos seus inte­grantes são ori­un­dos de Cuba, que tem nessa “mão de obra” uma de suas prin­ci­pais fontes de renda (senão a prin­ci­pal) e com liq­uidez extraordinária.

E, de outro lado, porque o pres­i­dente eleito do Brasil, já infor­mou das exigên­cias que fará para que esses profis­sion­ais con­tin­uem a tra­bal­har no Brasil a par­tir de 1º de janeiro de 2019: que sejam sub­meti­dos ao “reval­ida”, exame obri­gatório para brasileiros for­ma­dos no exte­rior e estrangeiros que dese­jam tra­bal­har no país; que a remu­ner­ação seja inte­gral­mente paga aos profis­sion­ais; e que pos­sam trazer suas famílias se assim dese­jarem.

Se pesquis­arem nos meus escritos verão que sem­pre fui um crítico da forma como foi implan­tado o pro­grama, ao meu sen­tir, para ben­e­fi­ciar o gov­erno cubano em pre­juízo dos profis­sion­ais que prestam o serviço.

Pare­ceu – e parece-​me –, incom­preen­sível que em pleno século 21, seres humanos ainda sejam trata­dos como “pro­duto”, como são os médi­cos cubanos que tra­bal­ham no pro­grama.

Mais, que o gov­erno brasileiro use recur­sos ori­un­dos dos nos­sos impos­tos para sub­sidiar uma ditadura, como tem feito esses anos todos, desde que cri­aram o programa.

Essa é a crit­ica. Como con­hece­dor da real­i­dade do Maran­hão e dos municí­pios brasileiros sabe­mos que os médi­cos do pro­grama fazem um tra­balho extra­ordinário, indo onde nunca antes nen­hum médico, mesmo os mais vol­un­tar­iosos, ousaram ir prestar assistên­cia aos mais neces­si­ta­dos.

Por outro lado, sabe­mos que – em que pese sua importân­cia e até acred­i­tando nas boas intenções do gov­erno de então em criar tal pro­grama –, ele pos­suiu, sim, a final­i­dade de aju­dar finan­ceira­mente a ditadura cubana já ruim das per­nas desde que deixou de rece­ber sub­sí­dios de out­ros regimes total­itários, primeiro da antiga União Soviética, depois China e por último da Venezuela.

O Pro­grama Mais Médi­cos – não ques­tiono seus méri­tos no atendi­mento dos pacientes brasileiros –, tem sido a forma mais efi­ciente de finan­cia­mento do régime de Havana, por coin­cidên­cia surgido jus­ta­mente quando o começaram a min­guar os sub­sí­dios venezue­lanos, na pré crise que levou o país ao colapso finan­ceiro nos dias atuais.

Basta fazer con­tas. O Brasil paga por médico do pro­grama R$ 11.520,00 (onze mil quin­hen­tos e vinte reais), em dólar, cerca de US$ 3,113.00 (três mil cento e treze dólares), repas­sa­dos men­salmente através da Orga­ni­za­ção Pan-​Americana da Saúde (Opas), que paga mil dólares de salário aos médi­cos cubanos, sendo US$ 400 dólares para sua manutenção no Brasil e US$ 600 dólares deposi­ta­dos em uma poupança na ilha.

Ainda que a enti­dade fique a tit­ulo de taxa de admin­is­tração com 100 dólares/​per capita, out­ros US$ 2,000.00 (dois mil dólares), são repas­sa­dos men­salmente ao gov­erno cubano, isso sem falar nos out­ros US$ 600 (seis­cen­tos dólares) da poupança com­pul­sória dos médicos.

Só como receita direta ao gov­erno, con­siderando os cerca de oito mil e quin­hen­tos médi­cos, são mais de US$ 200 mil­hões de dólares/​anuais, din­heiro “limp­inho» entanto no caixa, sem que tivesse que fazer nada além de fornecer “mão de obra». E, ainda, con­siderando os mes­mos parâmet­ros, mais de US$ 60 mil­hões dólares/​ano à dis­posição do tesouro rel­a­tivos à poupança com­pul­sória dos profissionais.

Até pelo mis­tério que envolve os regimes total­itários não temos como pre­cisar, mas acred­ito que este sub­sidio des­façado ao régime cubano figura entre os maiores, com­para­dos, talvez, aos aportes feitos pela antiga União Soviética, durante o período da Guerra Fria, ou os da Venezuela, nos áureos tem­pos do Chav­ismo.

Com a ascen­são do petismo ao poder foi a vez do Brasil “con­tribuir» com a mori­bunda ditadura cubana.

Assim, feitas tais con­sid­er­ações, temos que o Pro­grama Mais Médi­cos – e mais uma vez sem dis­cu­tir seus méri­tos –, é, tam­bém, um pro­duto ide­ológico com duplo viés: enal­tec­i­mento da ditadura por conta de sua polit­ica de saúde e finan­cia­mento direto do régime. Não deixa de ser emblemático que o Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT tenha tido os mel­hores resul­ta­dos, nas últi­mas eleições, jus­ta­mente nos bol­sões de mis­éria do país, prin­ci­pal­mente no nordeste.

A forma encon­trada, tanto para o pros­elit­ismo, quanto para o finan­cia­mento foi a mais engen­hosa: a pro­pa­ganda cotid­i­ana sub­lim­i­nar, sem uma palavra a sendo dita, ape­nas o tra­balho ordeiro e dis­ci­plinado e os recur­sos caindo na conta do régime sem chamar a atenção, através de uma enti­dade multilateral.

Até para os profissionais/​médicos o con­trato tem sido um negó­cio exce­lente, pois saíram de um salário médio men­sal de US$ 29 (vinte nove dólares) para US$ 1.000 (mil dólares), ainda que US$ 400 (qua­tro­cen­tos dólares), dire­ta­mente, e US$ 600 (seis­cen­tos dólares) através de uma poupança com­pul­sória, sig­nifica um ganho extraordinário.

Mas, como diz o ditado, não existe “crime per­feito”. O Pro­grama Mais Médi­cos não pode­ria ser dire­ciona­dos ape­nas aos médi­cos cubanos, e aí seu ponto fraco essen­cial: ter­mos médi­cos do Brasil e de out­ros países inscritos no mesmo pro­grama recebendo o valor com­pleto pago pelo gov­erno brasileiro, enquanto que out­ros, no caso, os médi­cos cubanos, recebendo menos de menos de um quarto deste valor – se con­sid­er­ar­mos a poupança com­pul­sória.

Como aceitar e jus­ti­ficar que profis­sion­ais exercendo as mes­mas atribuições – e, segundo dizem, até com maior zelo –, rece­bam menos de um quarto do valor pago a out­ros profis­sion­ais pelos mes­mos serviços?

Como aceitar tal con­tradição? Como Jus­ti­ficar? Como aceitar em pleno século 21 que pes­soas sejam tratadas como “pro­priedade” do Estado?

A expli­cação torna-​se mais dramática quando cobrada de um par­tido que nasceu e cresceu empun­hando a ban­deira dos dire­itos dos tra­bal­hadores, que não raro gri­tou a seguinte palavra de ordem: «Tra­bal­hadores do mundo uni-​vos vós não ten­des nada a perder a não ser vos­sos gril­hões”. Cor­ruptela da frase do Man­i­festo Comu­nista de 1848.

Somente os muito cíni­cos e/​ou desprovi­dos de qual­quer ética con­seguem jus­ti­ficar tal coisa. Podem dizer: vejam que mar­avilha esses médi­cos gan­havam em média 29 dólares em Cuba e fizemo-​lhes o ben­efi­cio de pos­si­bil­i­tar que gan­hem qua­tro­cen­tos dólares, é ou não um avanço? Além do mais, dirão, é “justo” que paguem o “inves­ti­mento” que o Estado fez na sua sua for­mação.

Já me dis­seram isso!

Pois é, entre­tanto o cidadão de bem vai avaliar e pon­derar não ser razoável se pague pelo mesmo tra­balho R$ 900,00 (nove­cen­tos reais) e para outro, que even­tual­mente ate tra­balhe menos, R$ 11.520,00 (onze mil quin­hen­tos e vinte reais). Vai dizer tratar-​se de tra­balho escravo, explo­ração do tra­bal­hador, que não é razoável é eti­ca­mente aceitável que seres humanos sejam trata­dos como “coisa”, produto.

Dito isso, tenho por certo que o pro­grama foi cri­ado, como referido alhures, com o duplo viés ide­ológico, tanto no que se ref­ere a doutri­nação como pelo sub­sidio direto à ditadura cubana.

Igual­mente, tenho por certo que as exigên­cias man­i­fes­tadas pelo pres­i­dente eleito – que con­sidero cor­re­tas –, têm, tam­bém o viés ide­ológico.

Assim como o PT, e suas lid­er­anças, nunca me enga­naram ao cri­arem um pro­grama que encerra taman­has con­tradições no que se ref­ere o trata­mento dis­pen­sado aos médi­cos cubanos do pro­grama, o dis­curso do pres­i­dente eleito, recém con­ver­tido em democ­rata, tam­pouco me con­vence, emb­ora, recon­heça, tenha man­i­fes­tado no sen­tido cor­reto.

Encerro dizendo que o Pro­grama Mais Médi­cos tem sido impor­tan­tís­simo para assistên­cia a saúde brasileira e pre­cisa ser man­tido, desta feita, sem os viés ide­ológi­cos que o nortearam até aqui, abrindo a pos­si­bil­i­dade de par­tic­i­pação de médi­cos brasileiros e estrangeiros sub­meti­dos ao exame de afer­ição de suas capaci­dades; com todos sub­or­di­na­dos a mesma leg­is­lação tra­bal­hista e gan­hando os mes­mos val­ores por iguais funções.

Ali­a­dos a isso, a implan­tação de uma per capita igual para os entes fed­er­a­dos garan­ti­ndo a efe­tiva polit­ica do Sis­tema Único de Saúde — SUS.

Além disso, aju­daria muito, se líderes e lid­er­a­dos descessem dos palanques.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

POR UMA ESCOLA COM EDUCAÇÃO.

Escrito por Abdon Mar­inho

POR UMA ESCOLA COM EDUCAÇÃO.

Por Abdon Mar­inho.

O BRASIL tornou-​se a pátria das dis­cussões sem sen­tido. Penso, as vezes, que nos tor­namos uma nação de nés­cios.

O país tem sido tomado por um fre­n­esi em torno de um Pro­jeto de Lei chamado de Escola sem Par­tido. Não entrarei, em princí­pio, nesta questão até porque entendo que ela nada mais é do o fruto tosco da polit­i­calha que tomou de conta de todos os debates.

O acir­ra­mento é tamanho que os gru­pos políti­cos inter­es­sa­dos em vender suas teses e faz­erem pros­elit­ismos inun­dam os meios de comu­ni­cação con­tra ou a favor.

Agora mesmo leio, numa rede social, que o gov­er­nador Flávio Dino edi­tou um decreto, segundo ele, garan­ti­ndo “Esco­las com Liber­dade e sem Cen­sura no Maran­hão”. Como dito acima não entrarei no mérito do tal pro­jeto e nos seus por­menores, mas tão somente no que cir­cun­dam o tema.

Começo por este decreto do gov­er­nador.

No iní­cio do período eleitoral, acho que final de julho ou começo de agosto, estava eu no Tri­bunal Regional Eleitoral — TRE, quando ini­cia­ram o debate de um processo em que o objeto era saber se mere­ce­riam ser penal­izada a can­di­data Roseana Sar­ney e um blogueiro. Ela por ter feito uma reunião em sua casa, onde a própria ou um dos par­tic­i­pantes chamara o gov­er­nador de “dita­dor”; já o blogueiro por ter divul­gado o pro­nun­ci­a­mento suposta­mente ofen­sivo.

Chamou minha atenção a afir­mação da defesa da can­di­data rep­re­sen­tada de que aquele era o ter­ceiro processo cujo objeto era o fato de alguém ter chamado sua Excelên­cia de “ditador”.

Em que pese a sapiên­cia dos argu­men­tos da acusação, defesa e dos doutos jul­gadores, achei tão irrel­e­vante que se deman­dasse horas a fio num debate sobre uma palavra (dita­dor), que aproveitei o primeiro inter­valo para sair da plenário do tribunal.

Faço esse reg­istro, aprovei­tando o decreto de sua Excelên­cia, para mostrar que, inde­pen­dente das questões de fundo, esta­mos diante de um embate de posições políti­cas que pas­sam ao largo da causa edu­ca­cional. Acho que o menos impor­tante para os con­tendores envolvida em tal debate é a edu­cação das nos­sas crianças.

Ora, então o gov­er­nador diz que o Pro­jeto de Lei em questão padece de um viés autoritário e recorre jus­ta­mente a um decreto, o mais autoritário dos instru­men­tos? Por que inter­di­tar o debate no parlamento?

Esse tipo de ati­tude faz lem­brar a posição do penúl­timo dos ex-​presidentes mil­itares, o gen­eral Ernesto Geisel, quando deu iní­cio a aber­tura política. Sendo crit­i­cado por seus ali­a­dos bradou:

— Farei a aber­tura política ainda que seja na marra.

Sig­amos. O gov­er­nador fala tam­bém que se trata de uma medida con­tra a cen­sura. Mas, segundo dizem, ninguém nunca se proces­sou tan­tos jor­nal­is­tas e blogueiros neste estado quanto no atual gov­erno, são dezenas de ações nas esferas civis e crim­i­nais con­tra pes­soas que exercem, nos lim­ites asse­gu­ra­dos na Con­sti­tu­ição Fed­eral, o dire­ito de crítica e de opinião.

Como aceitar o dis­curso a favor da liber­dade e con­tra a censura?

Essas são con­sid­er­ações feitas ape­nas para pon­tuar o caráter politico do assunto que toma de conta dos debates, a tal edu­cação sem partido.

Quer me pare­cer, como já dito, que todo esse debate é feito pelo mero inter­esse político/​eleitoral, sem qual­quer pre­ten­são de se resolver a grave crise pela qual passa a edu­cação brasileira.

Os números da edu­cação nacional são ater­radores con­forme todas os órgãos que avaliam sua qual­i­dade. Não tem um único indi­cador que não aponte o Brasil nas últi­mas posições em tudo que é avali­ação do ensino.

Um dos mais recentes estu­dos, divul­gado ainda no primeiro semes­tre deste ano, dava conta que ape­nas 5%(cinco por cento) dos estu­dantes do ensino médio pos­suíam os con­hec­i­men­tos bási­cos em matemática e, pior, menos de 2% (dois por cento) os con­hec­i­mento bási­cos da lín­gua por­tuguesa.

Uma nação de anal­fa­betos fun­cionais que não sabem o ele­men­tar nas duas dis­ci­plinas mais bási­cas: a lín­gua por­tuguesa e matemática. O país está muito bem na “fita”, os estu­dantes só lambem ler e contar.

Estes dados rev­e­lam que a edu­cação brasileira encontra-​se inevi­tavel­mente fal­ida. O nível de aproveita­mento do con­teúdo é de bem menos de 90% (noventa por cento).

Ora, a edu­cação faliu por conta da suposta “Escola com Par­tido” ou a tal “Escola com Par­tido” é fruto desta falência?

Eis uma questão a mere­cer atenção!

Antes de qual­quer debate, o que dev­e­ria mere­cer a atenção das autori­dades con­sti­tuí­das é como cheg­amos a esse ponto. Outro é como vamos reti­rar a edu­cação do quadro las­ti­moso em se encon­tra.

Não há caso nen­hum no mundo de país que tenha se desen­volvido sem inve­stir em edu­cação. No Brasil, a par­tir da cri­ação do FUN­DEB (antes FUN­DEF), os inves­ti­men­tos em edu­cação até aumen­taram – e sig­ni­fica­ti­va­mente –, entre­tanto ainda insu­fi­cientes e/​ou mal apli­ca­dos o que vem refletindo-​se, den­tre out­ras coisas, na situ­ação caótica em que ela se encon­tra.

A mis­erável ver­dade é que nem dois por cento dos nos­sos jovens que con­cluem o ensino médio sabem ler, e ape­nas cerca de cinco por cento pos­suem con­hec­i­men­tos bási­cos de matemática.

Estes são dados que dizem tudo. O resto é con­versa fiada.

E, se não sabem o ele­men­tar de dis­ci­plinas bási­cas, não sabem nada dos demais assun­tos que os tornem habil­i­ta­dos a dis­putarem, em pé de igual­dade, as opor­tu­nidades com jovens de out­ros países.

Ano após ano, o que vemos são que cri­anças e ado­les­centes sabendo menos, o nível de apren­dizado nas esco­las é risível, o desin­ter­esse é patente e a falta de per­spec­ti­vas uma das mais duras real­i­dades, trazendo con­sigo a vul­ner­a­bil­i­dade e a vio­lên­cia para den­tro das esco­las.

Essa condição vex­atória da nossa edu­cação, con­dena o país a um atraso perigoso em relação aos demais países, com­pro­m­e­tendo a própria sobera­nia da nação. Tudo isso sem que os respon­sáveis fos­sem pre­sos ou insta­dos a respon­derem de alguma forma por todo o mal que causaram.

E que vemos diante de tanto descal­abro? Uma dis­cussão tola, super­fi­cial sobre ide­olo­gias den­tro das escolas.

Os que estão pre­ocu­pa­dos com isso, con­tra ou favor, os que defen­dem a doutri­nação e os que a ela se opõem, podem ficar cer­tos de uma coisa: as cri­anças e ado­les­centes, como não con­seguem com­preen­der um texto básico, não serão doutri­na­dos ou se rebe­larão con­tra qual­quer dout­rina, pelo sim­ples motivo de não com­preen­derem o que é isso.

Essa é a a grande tragé­dia nacional.

Será que não se deram conta que esse debate – sobre­tudo na atual situ­ação e quadro desalen­ta­dor que passa a edu­cação –, é tolo e sem sen­tido?

Que é inócua essa dis­cussão se a escola tem ou não par­tido quando não se tem edu­cação alguma?

Chega! Basta de pros­elit­ismo! Será que não se enver­gonham? Desçam do palanque e, prin­ci­pal­mente, autori­dades façam alguma coisa, além de cuidarem dos próprios inter­esses.

Será que ainda não se deram conta do risco real que corre o país?

O que o país pre­cisa não é de um escola sem ou com par­tido. O que o país pre­cisa de uma escola com edu­cação. Uma escola que pos­si­bilite a cri­ança e ao jovem desen­volver toda sua poten­cial­i­dade e o per­mita por si próprio fazer suas próprias escol­has.

Uma escola com edu­cação nos ter­mos pre­vis­tos no artigo 205 da Con­sti­tu­ição Fed­eral que diz: “A edu­cação, dire­ito de todos e dever do Estado e da família, será pro­movida e incen­ti­vada com a colab­o­ração da sociedade, visando ao pleno desen­volvi­mento da pes­soa, seu preparo para o exer­cí­cio da cidada­nia e sua qual­i­fi­cação para o trabalho”.

Não tem mis­tério. Acon­tece que nas últi­mas décadas esque­ce­ram o papel da edu­cação na sociedade e, por último, tudo se tornou motivo para uma guerra ide­ológ­ica irra­cional capaz de com­pro­m­e­ter o futuro da própria nação.

Abdon Mar­inho é advo­gado.