AbdonMarinho - MAIS MÉDICOS: IDEOLOGIAS, CONTRADIÇÕES E NECESSIDADES.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

MAIS MÉDI­COS: IDE­OLO­GIAS, CON­TRADIÇÕES E NECESSIDADES.

MAIS MÉDI­COS: IDE­OLO­GIAS, CON­TRADIÇÕES E NECES­SI­DADES.

Por Abdon Mar­inho.

FERVILHA nas redes soci­ais, e até mesmo na imprensa tida por séria, a dis­cussão acerca da saída de Cuba do Pro­grama Mais Médi­cos. Cada um com uma opinião, quase sem­pre, fruto das próprias con­vicções ide­ológ­i­cas dos autores.

No afã de venderem seus posi­ciona­men­tos, ver­dade e men­tira pas­sam a ter o mesmo valor.

O Brasil, tido por muitos como país de anal­fa­betos políti­cos, passa a dis­cu­tir ide­olo­gias em cada esquina e os con­ceitos do que seja esquerda e dire­ita que deixaram de ser meros indi­cadores de direção.

O Pro­grama Mais Médi­cos pas­sou a fazer parte do cardá­pio das dis­cussões ide­ológ­i­cas, sobre­tudo porque muitos dos seus inte­grantes são ori­un­dos de Cuba, que tem nessa “mão de obra” uma de suas prin­ci­pais fontes de renda (senão a prin­ci­pal) e com liq­uidez extraordinária.

E, de outro lado, porque o pres­i­dente eleito do Brasil, já infor­mou das exigên­cias que fará para que esses profis­sion­ais con­tin­uem a tra­bal­har no Brasil a par­tir de 1º de janeiro de 2019: que sejam sub­meti­dos ao “reval­ida”, exame obri­gatório para brasileiros for­ma­dos no exte­rior e estrangeiros que dese­jam tra­bal­har no país; que a remu­ner­ação seja inte­gral­mente paga aos profis­sion­ais; e que pos­sam trazer suas famílias se assim dese­jarem.

Se pesquis­arem nos meus escritos verão que sem­pre fui um crítico da forma como foi implan­tado o pro­grama, ao meu sen­tir, para ben­e­fi­ciar o gov­erno cubano em pre­juízo dos profis­sion­ais que prestam o serviço.

Pare­ceu – e parece-​me –, incom­preen­sível que em pleno século 21, seres humanos ainda sejam trata­dos como “pro­duto”, como são os médi­cos cubanos que tra­bal­ham no pro­grama.

Mais, que o gov­erno brasileiro use recur­sos ori­un­dos dos nos­sos impos­tos para sub­sidiar uma ditadura, como tem feito esses anos todos, desde que cri­aram o programa.

Essa é a crit­ica. Como con­hece­dor da real­i­dade do Maran­hão e dos municí­pios brasileiros sabe­mos que os médi­cos do pro­grama fazem um tra­balho extra­ordinário, indo onde nunca antes nen­hum médico, mesmo os mais vol­un­tar­iosos, ousaram ir prestar assistên­cia aos mais neces­si­ta­dos.

Por outro lado, sabe­mos que – em que pese sua importân­cia e até acred­i­tando nas boas intenções do gov­erno de então em criar tal pro­grama –, ele pos­suiu, sim, a final­i­dade de aju­dar finan­ceira­mente a ditadura cubana já ruim das per­nas desde que deixou de rece­ber sub­sí­dios de out­ros regimes total­itários, primeiro da antiga União Soviética, depois China e por último da Venezuela.

O Pro­grama Mais Médi­cos – não ques­tiono seus méri­tos no atendi­mento dos pacientes brasileiros –, tem sido a forma mais efi­ciente de finan­cia­mento do régime de Havana, por coin­cidên­cia surgido jus­ta­mente quando o começaram a min­guar os sub­sí­dios venezue­lanos, na pré crise que levou o país ao colapso finan­ceiro nos dias atuais.

Basta fazer con­tas. O Brasil paga por médico do pro­grama R$ 11.520,00 (onze mil quin­hen­tos e vinte reais), em dólar, cerca de US$ 3,113.00 (três mil cento e treze dólares), repas­sa­dos men­salmente através da Orga­ni­za­ção Pan-​Americana da Saúde (Opas), que paga mil dólares de salário aos médi­cos cubanos, sendo US$ 400 dólares para sua manutenção no Brasil e US$ 600 dólares deposi­ta­dos em uma poupança na ilha.

Ainda que a enti­dade fique a tit­ulo de taxa de admin­is­tração com 100 dólares/​per capita, out­ros US$ 2,000.00 (dois mil dólares), são repas­sa­dos men­salmente ao gov­erno cubano, isso sem falar nos out­ros US$ 600 (seis­cen­tos dólares) da poupança com­pul­sória dos médicos.

Só como receita direta ao gov­erno, con­siderando os cerca de oito mil e quin­hen­tos médi­cos, são mais de US$ 200 mil­hões de dólares/​anuais, din­heiro “limp­inho» entanto no caixa, sem que tivesse que fazer nada além de fornecer “mão de obra». E, ainda, con­siderando os mes­mos parâmet­ros, mais de US$ 60 mil­hões dólares/​ano à dis­posição do tesouro rel­a­tivos à poupança com­pul­sória dos profissionais.

Até pelo mis­tério que envolve os regimes total­itários não temos como pre­cisar, mas acred­ito que este sub­sidio des­façado ao régime cubano figura entre os maiores, com­para­dos, talvez, aos aportes feitos pela antiga União Soviética, durante o período da Guerra Fria, ou os da Venezuela, nos áureos tem­pos do Chav­ismo.

Com a ascen­são do petismo ao poder foi a vez do Brasil “con­tribuir» com a mori­bunda ditadura cubana.

Assim, feitas tais con­sid­er­ações, temos que o Pro­grama Mais Médi­cos – e mais uma vez sem dis­cu­tir seus méri­tos –, é, tam­bém, um pro­duto ide­ológico com duplo viés: enal­tec­i­mento da ditadura por conta de sua polit­ica de saúde e finan­cia­mento direto do régime. Não deixa de ser emblemático que o Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT tenha tido os mel­hores resul­ta­dos, nas últi­mas eleições, jus­ta­mente nos bol­sões de mis­éria do país, prin­ci­pal­mente no nordeste.

A forma encon­trada, tanto para o pros­elit­ismo, quanto para o finan­cia­mento foi a mais engen­hosa: a pro­pa­ganda cotid­i­ana sub­lim­i­nar, sem uma palavra a sendo dita, ape­nas o tra­balho ordeiro e dis­ci­plinado e os recur­sos caindo na conta do régime sem chamar a atenção, através de uma enti­dade multilateral.

Até para os profissionais/​médicos o con­trato tem sido um negó­cio exce­lente, pois saíram de um salário médio men­sal de US$ 29 (vinte nove dólares) para US$ 1.000 (mil dólares), ainda que US$ 400 (qua­tro­cen­tos dólares), dire­ta­mente, e US$ 600 (seis­cen­tos dólares) através de uma poupança com­pul­sória, sig­nifica um ganho extraordinário.

Mas, como diz o ditado, não existe “crime per­feito”. O Pro­grama Mais Médi­cos não pode­ria ser dire­ciona­dos ape­nas aos médi­cos cubanos, e aí seu ponto fraco essen­cial: ter­mos médi­cos do Brasil e de out­ros países inscritos no mesmo pro­grama recebendo o valor com­pleto pago pelo gov­erno brasileiro, enquanto que out­ros, no caso, os médi­cos cubanos, recebendo menos de menos de um quarto deste valor – se con­sid­er­ar­mos a poupança com­pul­sória.

Como aceitar e jus­ti­ficar que profis­sion­ais exercendo as mes­mas atribuições – e, segundo dizem, até com maior zelo –, rece­bam menos de um quarto do valor pago a out­ros profis­sion­ais pelos mes­mos serviços?

Como aceitar tal con­tradição? Como Jus­ti­ficar? Como aceitar em pleno século 21 que pes­soas sejam tratadas como “pro­priedade” do Estado?

A expli­cação torna-​se mais dramática quando cobrada de um par­tido que nasceu e cresceu empun­hando a ban­deira dos dire­itos dos tra­bal­hadores, que não raro gri­tou a seguinte palavra de ordem: «Tra­bal­hadores do mundo uni-​vos vós não ten­des nada a perder a não ser vos­sos gril­hões”. Cor­ruptela da frase do Man­i­festo Comu­nista de 1848.

Somente os muito cíni­cos e/​ou desprovi­dos de qual­quer ética con­seguem jus­ti­ficar tal coisa. Podem dizer: vejam que mar­avilha esses médi­cos gan­havam em média 29 dólares em Cuba e fizemo-​lhes o ben­efi­cio de pos­si­bil­i­tar que gan­hem qua­tro­cen­tos dólares, é ou não um avanço? Além do mais, dirão, é “justo” que paguem o “inves­ti­mento” que o Estado fez na sua sua for­mação.

Já me dis­seram isso!

Pois é, entre­tanto o cidadão de bem vai avaliar e pon­derar não ser razoável se pague pelo mesmo tra­balho R$ 900,00 (nove­cen­tos reais) e para outro, que even­tual­mente ate tra­balhe menos, R$ 11.520,00 (onze mil quin­hen­tos e vinte reais). Vai dizer tratar-​se de tra­balho escravo, explo­ração do tra­bal­hador, que não é razoável é eti­ca­mente aceitável que seres humanos sejam trata­dos como “coisa”, produto.

Dito isso, tenho por certo que o pro­grama foi cri­ado, como referido alhures, com o duplo viés ide­ológico, tanto no que se ref­ere a doutri­nação como pelo sub­sidio direto à ditadura cubana.

Igual­mente, tenho por certo que as exigên­cias man­i­fes­tadas pelo pres­i­dente eleito – que con­sidero cor­re­tas –, têm, tam­bém o viés ide­ológico.

Assim como o PT, e suas lid­er­anças, nunca me enga­naram ao cri­arem um pro­grama que encerra taman­has con­tradições no que se ref­ere o trata­mento dis­pen­sado aos médi­cos cubanos do pro­grama, o dis­curso do pres­i­dente eleito, recém con­ver­tido em democ­rata, tam­pouco me con­vence, emb­ora, recon­heça, tenha man­i­fes­tado no sen­tido cor­reto.

Encerro dizendo que o Pro­grama Mais Médi­cos tem sido impor­tan­tís­simo para assistên­cia a saúde brasileira e pre­cisa ser man­tido, desta feita, sem os viés ide­ológi­cos que o nortearam até aqui, abrindo a pos­si­bil­i­dade de par­tic­i­pação de médi­cos brasileiros e estrangeiros sub­meti­dos ao exame de afer­ição de suas capaci­dades; com todos sub­or­di­na­dos a mesma leg­is­lação tra­bal­hista e gan­hando os mes­mos val­ores por iguais funções.

Ali­a­dos a isso, a implan­tação de uma per capita igual para os entes fed­er­a­dos garan­ti­ndo a efe­tiva polit­ica do Sis­tema Único de Saúde — SUS.

Além disso, aju­daria muito, se líderes e lid­er­a­dos descessem dos palanques.

Abdon Mar­inho é advo­gado.