AbdonMarinho - O DRAMA DA SAÚDE PÚBLICA (PARTE I).
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O DRAMA DA SAÚDE PÚBLICA (PARTE I).

O DRAMA DA SAÚDE PÚBLICA (Parte I).

Por Abdon Mar­inho.

DEPOIS da tragé­dia de Bru­mad­inho (MG), que ceifou, quase que instan­ta­nea­mente, a vida de cen­te­nas de pes­soas, tudo pare­ceu menor ou irrel­e­vante. O próprio termo “tragé­dia”, parece haver gan­hado uma maior ampli­tude. Aguardo cor­agem para escr­ever um texto sobre o tema, ape­sar do “tudo” que já foi dito.

Antes de Bru­mad­inho, porém, uma cena me chamou a atenção. Acho que um ou dois dias antes daquela tragé­dia que os canais de tele­visão exibi­ram o drama pri­vado de uma sen­hora tendo que deslo­car em uma maca pelas ruas da cidade o seu pai enfermo.

Não sei o nome da sen­hora ou do seu pai que, tomei con­hec­i­mento, veio a óbito.

As cenas de pro­fundo deses­pero, entre­tanto, me vieram à lem­brança após rece­ber áudios e ima­gens de um protesto que ocor­ria no Municí­pio de Matões do Norte que inter­di­tou por um bom tempo a BR 135, prin­ci­pal via de acesso a cap­i­tal.

O fechamento do hos­pi­tal regional naquela urbe, sem qual­quer aviso aos profis­sion­ais e/​ou mesmo aos munícipes os levaram a pen­sar tratar-​se do encer­ra­mento defin­i­tivo das ativi­dades da unidade o que, segundo os mes­mos, traria sérios pre­juí­zos ao atendi­mento médico-​hospitalar de dezenas de municí­pios e econômi­cos àquele, em par­tic­u­lar.

Ainda segundo os moradores e alguns servi­dores o que os respon­sáveis da Empresa Maran­hense de Serviços Hos­pi­ta­lares — EMSERH, infor­maram foi que estavam, de fato, fechando o hos­pi­tal, razão pela qual ocor­reu a revolta pop­u­lar.

A nar­ra­tiva de que haverá ape­nas uma par­al­iza­ção por curto período e que os protestos não tin­ham qual­quer sen­tido, sendo mais o fruto da “doidice” ou de uma his­te­ria cole­tiva, pas­sou a cir­cu­lar somente quando o movi­mento revoltoso já provo­cava estra­gos palpáveis e um engar­rafa­mento de quase 5 km na BR.

Em todo caso, até agora, seja no site do gov­erno ou da própria Sec­re­taria de Estado da Saúde — SES, não con­sta um esclarec­i­mento obje­tivo sobre os motivos do fechamento da unidade e por quanto tempo ela per­manecerá fechada “para refor­mas”.

Quem sou eu para perquirir qual­quer coisa, mas não deixa de ser curioso que um gov­erno tão afeito a pro­pa­gan­dear, até com certo exagero, “inau­gu­ração de ordem de serviço” e disponha em orça­mento uma pequena for­tuna para a comu­ni­cação, deixe de esclare­cer a pop­u­lação sobre assun­tos rel­a­tivos às suas reais angús­tias.

A maior angús­tia da pop­u­lação hoje é a saúde pública – ou a sua falta –, pois sabem, os cidadãos, que dela depende suas vidas.

Não faz muito tempo fui abor­dado em Luís Domingues por um cidadão: — doutor, o sen­hor está sabendo que vão munic­i­palizar o Hos­pi­tal Regional de Caru­ta­pera? Doutor, se fiz­erem isso será um caos para nós desta região, ‘Caru­ta­pera’ não dá conta nem de aten­der sua pop­u­lação, como vai aten­der toda região? Muita gente vai mor­rer por falta de atendi­mento. É ruim, não tem ‘nada’, mas será pior se deixarem por conta do municí­pio.

Até hoje não sei se há fundo de ver­dade na suposta munic­i­pal­iza­ção do Hos­pi­tal Regional de Caru­ta­pera e, caso tenha havido, se se con­fir­mou o “caos” vatic­i­nado por aquele senhor.

O que se sabe é que o Estado não tem con­seguido man­ter sua rede pública de saúde com um padrão mín­imo de qual­i­dade, bem como pagar a pro­dução das unidades sob respon­s­abil­i­dade dos municí­pios.

Outro dia o prefeito de Bequimão me recla­mava que Estado não vem hon­rando com o paga­mento reg­u­lar da pro­dução do hos­pi­tal local­izado naquele municí­pio e que atende toda a região, há muito tempo, o que tem “estran­gu­lado” as finanças munic­i­pais para man­ter o hos­pi­tal aberto, cal­cu­lando em alguns mil­hões seu crédito junto a SES.

É certo tam­bém que muitos hos­pi­tais con­struí­dos nos municí­pios estão fechando e out­ros nem seque chegaram a ser aber­tos. Os que “teimam” em man­ter as por­tas aber­tas não recebem de forma reg­u­lar o que foi acor­dado com o gov­erno estadual.

Aliás, uma das prin­ci­pais recla­mações dos municí­pios em relação a Atenção Básica é a falta da con­tribuição do estado. Relatam que a Atenção Básica é man­tida uni­ca­mente com os recur­sos fed­erais e dos municí­pios.

Não bas­tasse isso, por conta da nossa lig­ação com o setor, nos chegam infor­mações dando conta do fechamento de diver­sas out­ras unidades e/​ou serviços.

Só nos últi­mos dias me deram conta que na UTI Car­dio­pe­diátrica do Hos­pi­tal Car­los Macieira, os médi­cos “entre­garam” o serviço dev­ido a falta de paga­mento e/​ou redução do con­trato, o que cul­mi­nará com fim do serviço de cirur­gias cardía­cas de cri­anças, caso não se chegue a solução do impasse.

Antes já tinha sido infor­mado do fechamento da UPA de Cha­pad­inha; da redução do número de médi­cos nas UPA’s de São Luís; do fim do serviço de orto­pe­dia da UPA Araçagy; do fechamento do Cen­tro de Espe­cial­i­dades Médi­cas — CEMESP; do fechamento da Mater­nidade Maria do Amparo, em São Luís; do fechamento da UTI neona­tal e pediátrica do hos­pi­tal macror­re­gional de Coroatá e out­ros prob­le­mas menores (mais graves)m como a falta de condições mín­i­mas para os profis­sion­ais exercerem sua mis­são de sal­var vidas e diminuir ou elim­i­nar sofri­men­tos.

E nem vamos falar na já crônica falta de medica­men­tos espe­ci­ais nas unidades públi­cas e na far­má­cia do estado.

Isso só as infor­mações que me chegam, que se forem ver­dadeiras, já causam uma enorme defi­ciên­cia nos serviços públi­cos de saúde do Maran­hão.

Não faz muito tempo, um lití­gio com os médi­cos que ameaçavam com par­al­iza­ção de suas ativi­dades por falta de paga­mento só foi resolvido na Justiça, com aque­les profis­sion­ais cedendo e aqui­escendo em esperar um pouco mais para rece­ber seus salários.

Diante de todos estes fatos, me parece fora de ordem que gov­er­nador venha, mais uma vez, fazer pros­elit­ismo com a propal­ada inau­gu­ração do can­teiro de obras do futuro hos­pi­tal de urgên­cias de São Luís – uma promessa de cam­panha do seu ali­ado, Edi­valdo Holanda Júnior, desde a cam­panha de 2012, que na época, e na pro­pa­ganda, até deram o nome de Jack­son Lago –, quando não con­segue man­ter a rede ou serviços já exis­tentes.

É con­strange­dor para as pes­soas de bem ter que assi­s­tir ao “fes­tejo” de uma promessa cujo o iní­cio chega com meia década de atraso enquanto teste­munha o vem ocor­rendo em todos os can­tos do estado com a saúde pública.

Não temos a menor dúvida da neces­si­dade deste novo hos­pi­tal de urgên­cias e emergên­cias para a cap­i­tal, isso é pací­fico, entre­tanto, quer me pare­cer que o gov­erno atual acha mais fácil e con­ve­niente tra­bal­har em cima de um sonho que nem sabe se será con­cretizado no seu gov­erno do que enfrentar a dura real­i­dade de man­ter em fun­ciona­mento reg­u­lar a rede hos­pi­ta­lar e os serviços já exis­tentes sob sua respon­s­abil­i­dade.

Só posso achar que para as autori­dades faz mais sen­tido, e deve ser mais inter­es­sante, a foto ao lado da maquete — e com todos os recur­sos dig­i­tais –, que a dura real­i­dade dos pacientes em macas ou no chão frio dos corre­dores, da falta de atendi­mento, das macas cir­cu­lando pelas ruas ou da pro­cis­são de ambulân­cias que tanto prom­e­teram extin­guir.

O drama da saúde pública no estado está longe de acabar, é uma tragé­dia silen­ciosa que vai ceifando a vida mil­hares de maran­henses pela falta de atendi­mento médico ou porque falta “tudo” nas unidades onde são aten­di­dos.

No próx­imo texto explanarei sobre uma das ideias para mino­rar essa tragé­dia anun­ci­ada.

Abdon Mar­inho é advo­gado.