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SALA­MALE­QUES EM CARACAS.

Escrito por Abdon Mar­inho

SALA­MALE­QUES EM CARA­CAS.

Por Abdon Mar­inho.

UMA FALSA polêmica instalou-​se nos últi­mos nes­tas ter­ras avis­tadas por Cabral. Falo da ida da pres­i­dente do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, sen­hora Gleisi Hoff­man, a Cara­cas para prestar men­su­ras e saudar o dita­dor Nicolás Maduro que assumiu por mais seis anos o gov­erno da Venezuela.

A sen­hora Gleisi Hoff­mann, assim, fez com­pan­hia aos pouquís­si­mos estrangeiros, que recon­hecem como legí­timo o novo gov­erno venezue­lano, eleito após mas­sacrar a oposição e os cidadãos do seu país, com vio­lên­cia, fome e mis­éria, num processo admi­tido por quase todas as nações do mundo civ­i­lizado como fraud­u­lento. De líderes estrangeiros só pude recon­hecer, Evo Morales, da Bolívia, que tenta implan­tar seu próprio mod­elo de per­pet­u­ação no poder; Daniel Ortega, da Nicarágua, que tenta implan­tar sua própria ditadura e car­rega nos ombros o peso das qua­tro­cen­tas almas dos cidadãos que foram mor­tas nos protestos con­tra seu gov­erno reprim­i­das vio­len­ta­mente no iní­cio de 2018; e Díaz-​Canel, de Cuba, a mori­bunda ditadura dos Cas­tro, que dis­pensa qual­quer outra apresentação.

Pois é, o gov­erno venezue­lano, empos­sado neste iní­cio de ano, não é aceito pelos países con­ti­nente – que até fiz­eram uma nota de repú­dio através do Grupo de Lima –, pela Comu­nidade Europeia, pela Orga­ni­za­ção dos Esta­dos Amer­i­canos — OEA, pelos Esta­dos Unidos e, frise-​se, pelo Brasil, mas lá estava a pres­i­dente do par­tido que até ontem gov­ernou o país, com men­su­ras e sala­male­ques, saudando e postando nas redes soci­ais o orgulho de fazer parte daquela fraude – uma vez que o novo gov­erno não é recon­hecido pelo Par­la­mento venezue­lano.

A falsa polêmica só não foi maior dev­ido a prisão, dois dias depois, na Bolívia, de Cesare Bat­tisti, o ter­ror­ista ital­iano que ficou, a con­vite do gov­erno do PT, homiziado no Brasil, por mais de uma década, para a ver­gonha e con­strang­i­mento dos cidadãos de bem.

Claro que pode­ria ter sido bem pior. Caso o gov­erno tivesse voltado ao PT, cer­ta­mente, estaria saudando o novo dita­dor, ofi­cial­mente, o gov­erno brasileiro, e não a pres­i­dente de um par­tido (ou de alguns par­tidos) e, para com­ple­tar o vex­ame, ainda estaríamos “acoitando” um ter­ror­ista inter­na­cional con­de­nado à prisão per­pé­tua no seu país por ter matado qua­tro cidadãos e ter deix­ado um outro para­plégico.

Pelo menos isso! Não tive­mos que pas­sar por esse con­strang­i­mento.

Mas por que digo ser falsa a polêmica em torno da ida da pres­i­dente do PT a Cara­cas? Muito sim­ples, o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, nunca na sua história teve qual­quer apreço à democ­ra­cia, tanto antes de chegar ao poder, durante o exer­cí­cio do poder e depois – como teste­munhamos agora.

Os exem­p­los estão aí para quem quiser com­pro­var e tiver apreço pela história. Citarei ape­nas aque­les que lembro.

No iní­cio de 1985, depois da der­rota da Emenda Dante de Oliveira, que prop­unha a eleição direta para pres­i­dente da República, as forças que que­riam o fim da ditadura mil­i­tar no Brasil enten­deram que dev­e­riam par­tic­i­par do processo pelas regras do jogo esta­b­ele­ci­das e apoiar Tan­credo Neves em oposição ao ex-​governador de São Paulo, Paulo Maluf, rep­re­sen­tante das forças até então no poder.

O que fez o PT? Se absteve de votar no Colé­gio Eleitoral, deixando, assim, de aju­dar na der­rota de Paulo Maluf. Mas não só isso, fez pior, expul­sou do par­tido três de seus quadros que votaram a favor de Tan­credo Neves e do fim da ditadura, José Eudes, Air­ton Soares e Bete Mendes.

Outro momento emblemático foi o quipro­quó que cri­aram para não assi­nar Con­sti­tu­ição Fed­eral de 1988. Fiz­eram tanta con­fusão que muitos pen­sam, até hoje, que não assi­naram, pois ale­gavam dis­cor­dar de muitos dos seus pon­tos.

O certo é que o dep­utado Ulysses Guimarães, pres­i­dente da Assem­bleia Nacional Con­sti­tu­inte, inda­gado sobre o que faria, disse que os nomes de todos os con­sti­tu­intes iriam con­star no doc­u­mento. Assim, votaram con­tra, mas, por fim, acabaram assi­nando a Carta Magna.

Outro momento cru­cial que opôs o Brasil ao PT – reg­is­trando só min­has lem­bras do momento –, foi cam­panha que fiz­eram con­tra o Plano Real.

O país sofrendo com uma inflação galopante, insta­bil­i­dade política, ainda ten­tando superar o traumático impeach­ment de Col­lor, com um fraco e instável Ita­mar Franco no poder e par­tido não ape­nas se opondo à con­sis­tente pro­posta de debe­lar a inflação rep­re­sen­tada pelo Plano Real.

Desnecessário dizer que ao mesmo tempo fez cer­rada oposição a todos os gov­er­nos, inde­pen­dente destes apre­sentarem alguma pro­posta pos­i­tiva para o país ou não.

Mas eis que, final­mente, chegam ao tão son­hado e alme­jado poder em 2002.

E, no poder, fazem tudo aquilo que sem­pre criticaram e com­bat­eram nos gov­er­nos que os ante­ced­eram, com espe­cial destaque para a cor­rupção – que sem­pre exis­tiu no país –, mas que o par­tido e seus líderes tornaram uma prática de Estado, uma política de gov­erno, encar­regada de roubar a nação, e com o fruto do roubo perpetuá-​los no poder.

Isso está sobe­ja­mente com­pro­vado por todos os proces­sos civis e crim­i­nais que respon­deram, respon­dem e pelos quais estão sendo con­de­na­dos, notada­mente, os escân­da­los apel­i­da­dos de “Men­salão” e “Petrolão”.

Além da cor­rupção desen­f­reada – e talvez por conta dela –, outra car­ac­terís­tica do petismo no poder, foi o seu alin­hamento com prati­ca­mente todos os regimes total­itários do mundo, sejam as ditaduras ditas de “esquerda” rep­re­sen­tadas por Cuba, Cor­eia do Norte, Venezuela, Nicarágua e China, seja pelos regimes san­guinários da África – que se sus­peita, além da predileção pela ditadura em si, a aprox­i­mação envolvia negó­cios poucos esclare­ci­dos.

Foi esse espe­cial apreço dos gov­er­nantes de então por ditaduras que fez o país escr­ever as pági­nas mais ver­gonhosas de nossa história, como a “entrega” dos pugilis­tas cubanos à ditadura dos irmãos Cas­tro, negando pela primeira vez na história um pedido de asilo, no ano de 2007, e quando, no último dia 2010, e do mandato, o sen­hor Luís Iná­cio Lula da Silva, descon­hecendo decisão do Con­selho de Refu­gia­dos e do Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, que autor­i­zou a extradição, decidiu por “acoitar”, com sta­tus de refu­giado, o ter­ror­ista Batisti, ofend­endo toda a nação ital­iana – a quem tanto deve­mos e com quem sem­pre tive­mos uma das mel­hores relações.

Em relação aos pugilis­tas cubanos, que tem­pos depois, con­seguiram fugir da ditadura dos irmãos Cas­tro, ter­e­mos que car­regar essa ver­gonha pelo resto da vida. Com relação ao ter­ror­ista ital­iano, ainda que tarde, o Brasil deu uma pequena con­tribuição para que, final­mente, pague pelos seus crimes.

Este é um breve retrato do que foi o par­tido da sen­hora Hoff­mann antes e durante o poder.

Na oposição nova­mente, começou por negar a democ­ra­cia brasileira, da qual sem­pre foi ator desta­cado, não com­pare­cendo a posse do pres­i­dente da República legit­i­ma­mente eleito (goste­mos dele ou não), mas indo ren­der hom­e­nagem a um pro­jeto de dita­dor que não tem legit­im­i­dade recon­hecida pela comu­nidade inter­na­cional e nem mesmo pelos cidadãos de seu país.

O com­parec­i­mento da pres­i­dente do PT à posse do sen­hor Maduro é a prova mais elo­quente de coerên­cia com a sua história ao longo de todos esses anos. Com a abstenção no Colé­gio Eleitoral, em 1985; com o “beicinho” para não assi­nar a Con­sti­tu­ição e/​ou votar con­tra seu texto final; com a oposição fer­renha ao Plano Real; com a cor­rupção gen­er­al­izada nos seus gov­er­nos; com a “entrega” dos jovens dis­si­dentes cubanos aos seus algo­zes; com exílio e apoio ao ter­ror­ista ital­iano Cesare Batisti; e tan­tos out­ros absur­dos.

Tudo que ocor­reu, antes, durante, e agora, depois dos seus anos de poder, nada mais é do que o PT sendo o PT, muito bem rep­re­sen­tado pela sen­hora Hoff­mann.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

PATRIMÔNIO HISTÓRICO: DE CAFETEIRA A KÁTIA BOGÉA.

Escrito por Abdon Mar­inho

PATRIMÔNIO HISTÓRICO: DE CAFETEIRA A KÁTIA BOGÉA.

Por Abdon Mar­inho.

RECEBO de um amigo uma coleção de fotografias do Com­plexo Deodoro (Praça Deodoro, Praça do Pan­teon, alamedas Silva Maia e Gomes Cas­tro). Ainda não tive opor­tu­nidade de ir con­statar com os próprios olhos a revi­tal­iza­ção daque­les logradouros que tan­tas recor­dações trazem de uma parte da minha juven­tude. Pelas fotografias, entre­tanto, é pos­sível ver­i­ficar a grandiosi­dade do tra­balho exe­cu­tado e, em ape­nas duas palavras defini-​lo: encan­ta­mento e gratidão.

Só quem tem amor e vivên­cia com a cap­i­tal do estado dimen­siona, com exatidão, sua importân­cia para cidade. Só lamento que a reforma e revi­tal­iza­ção não tenha alcançado o entorno do Liceu Maran­hense (onde estudei) indo até o Giná­sio Costa Rodrigues, cobrindo quase todo o Campo de Ourique. Mas, o que está feito rep­re­senta uma extra­ordinária obra.

Há mais de trinta anos quando cheguei a essa ilha, chamava tudo no entorno da Bib­lioteca Bened­ito de Leite de Praça Deodoro, a exceção do Pan­teão que ficava mais abaixo.

Eram os tem­pos da rede­moc­ra­ti­za­ção do país, Sar­ney acabava de tomar posse no lugar de Tan­credo Neves. Ini­ciá­va­mos as trata­ti­vas para fun­dação dos grêmios estu­dan­tis na cidade e em todo Maran­hão, aque­les ban­cos quadra­dos de pedra ou as escadarias da bib­lioteca, não raro, eram nos­sos locais de reuniões, tanto para tratar das pau­tas estu­dan­tis como para apoiar os movi­men­tos dos tra­bal­hadores, como o foi na greve dos pro­fes­sores de 1986.

Já naquela época a velha Deodoro estava degradada – o que foi pio­rando nos anos seguintes –, mas era nosso espaço, nossa trincheira de lutas.

Anos depois, não me recordo o que fui fazer no cen­tro, pas­sei pela Deodoro. A Praça fora trans­for­mada numa feira de imundice, com o mau cheiro de tudo que é pro­duto, empeste­ando o ambi­ente, gor­dura e sujeira, veícu­los, bar­ra­cas, tudo em tamanha des­or­dem, que fui tomado por um sen­ti­mento de imensa tris­teza – a Praça Deodoro já não era mais o espaço do povo, como o céu é do con­dor, nas palavras do baiano Cas­tro Alves.

O desalento só aumen­tou ao pas­sar em frente a bib­lioteca e me deparar com um hor­rendo gradeado con­fi­nando a escadaria. Mais que um pré­dio bonito como aquele encer­rado em grades, senti o apri­sion­a­mento do próprio saber e das min­has memórias.

Voltei triste para casa. Lem­brava das amizades feitas e con­sol­i­dadas naque­les ban­cos de pedras, em frente ao Colé­gio Rosa Cas­tro, quando saíamos do Liceu para pegar os ônibus que nos levaria as nos­sas casas, ou das vezes que lá ficá­va­mos esperando a sirene tocar para cor­rermos para entra no colé­gio; ou, ainda, de quando ficá­va­mos nas escadarias da bib­lioteca, primeiro para con­tem­plar o pôr do sol e depois para ficar num bate papo enquanto esperá­va­mos os ônibus que nos levariam emb­ora esvaziar um pouco.

Tudo pálido reg­istro em meio a tanta sujeira, des­or­dem urbana e grades hor­ren­das.

É destas lem­branças que ressurgem todo o encan­ta­mento e gratidão com a revi­tal­iza­ção do Com­plexo Deodoro (que depois ainda será somado à revi­tal­iza­ção da Rua Grande), sinto que estão devol­vendo à cidade uma parte de sua história, cabendo aos gov­er­nantes de agora e do futuro, a mis­são de con­ser­var e man­ter o extra­ordinário serviço feito.

Talvez seja pedir muito aos nos­sos gov­er­nantes, tendo em vista a falta de zelo com que trataram e tratam o Cen­tro Histórico, revi­tal­izado pelo ex-​governador Cafeteira através do Pro­jeto Reviver há trinta anos.

O Com­plexo Deodoro – que não sei se engloba a Rua Grande –, é a maior obra de revi­tal­iza­ção feita no estado depois do Pro­jeto Reviver, inau­gu­rado em 1989.

No livro Reviver, de 1992, que mostra em detal­hes, com fotografias e doc­u­men­tos tudo que foi real­izado no Cen­tro Histórico de São Luís e que tem o pre­fá­cio de Américo Azevedo Neto, o extinto ex-​governador escreve: “Muitos pen­sam e por isso afir­mam haver eu con­quis­tado São Luís e o Maran­hão. A real­i­dade é o inverso: não fui eu quem con­quis­tou essa cidade e este Estado, eu é que fui por ambos con­quis­tado. Não fui eu quem pren­deu, eu é que fui a presa. Tudo o que fiz ou venha fazer terá que ser visto em razão do fato de ter me ren­dido aos encan­tos desta cidade e do seu povo e às pos­si­bil­i­dades deste Estado. Chegado aqui, logo a cidade me con­siderou filho e me bati­zou Cafeteira; logo o povo me chamou irmão e eu me senti escravo”.

Faço essa obser­vação para reg­is­trar que as duas maiores obras de revi­tal­iza­ção da nossa cap­i­tal deve­mos a “estrangeiros” que con­seguiram enx­er­gar aquilo que nós, maran­henses, pouca ou nen­huma importân­cia temos dado: o nosso Cen­tro Histórico.

O primeiro, o ex-​governador Epitá­cio Cafeteira, paraibano de João Pes­soa, porém maran­hense de coração, que tendo son­hado em fazer um poema para agrade­cer a hos­pi­tal­i­dade e o car­inho com o qual foi rece­bido, fê-​lo de uma das mais extra­ordinárias maneiras, um “Poema em Pedra e Cal”, legando-​nos uma das mais com­plexas e com­ple­tas obras de revi­tal­iza­ção que o Maran­hão já assis­tiu, investindo recur­sos volu­mosos e con­tratando a mais qual­i­fi­cada equipe téc­nica com o propósito de devolver a cap­i­tal a grandiosi­dade histórica do seu pas­sado.

A segunda, a pres­i­dente do Insti­tuto do Patrimônio Histórico e Artís­tico Nacional – IPHAN, Kátia Bogéa, sergi­pana de Lagarto, rad­i­cada na cap­i­tal desde 1979, tendo ded­i­cado toda sua vida profis­sional de his­to­ri­adora e servi­dora pública, desde seu ingresso como estag­iária no IPHAN, em 1980, à pesquisa do patrimônio maran­hense e ao tra­balho de preser­vação e pro­teção do Cen­tro Histórico de São Luís e Alcân­tara.

Se, ape­sar de tanta ded­i­cação e tenaci­dade, assis­ti­mos a per­das irreparáveis no nosso patrimônio histórico, dá para imag­i­nar o teria acon­te­cido sem ela é sua equipe.

Por este tra­balho, sobre­tudo, no cargo de super­in­ten­dente regional, que ocupou de 2003 a 2015, foi alvo das insat­is­fações de muitos maran­henses que, sem con­strag­i­men­tos e indifer­entes ao mag­ní­fico tra­balho que sem­pre desem­pen­hou, tra­ma­ram e con­seguiram afastá-​la do cargo, nos ester­tores do gov­erno Dilma Rousseff.

Essa a maior “con­tribuição” ao tra­balho de revi­tal­iza­ção do Com­plexo Deodoro, pois alçada à presidên­cia do órgão, Kátia Bogéa pode imple­men­tar com mais efi­ciên­cia o PAC Cidades Históri­cas que artic­u­lara com sua equipe durante a sua gestão frente ao órgão regional junto à prefeitura da cap­i­tal.

Essa “con­tribuição” fez um grande bem ao Cen­tro Histórico de São Luís, a Alcân­tara, a Pindaré-​Mirim, e a diver­sas out­ras man­i­fes­tações cul­tur­ais e ao patrimônio ima­te­r­ial do nosso Estado, como o reg­istro do Tam­bor de Crioula e do Com­plexo Cul­tural do Bumba Meu Boi.

O que dizem é que neste pouco tempo frente ao IPHAN, não faz mais pelo nosso patrimônio dev­ido ao desin­ter­esse das autori­dades locais que, muitas das vezes, nem a aten­dem ao tele­fone ou come­tem a descorte­sia de inau­gu­rar como suas obras onde não deram um prego.

O Maran­hão, assim, talvez, esteja per­dendo uma opor­tu­nidade única de avançar na recu­per­ação de uma grande parcela do seu Cen­tro Histórico, con­cluindo out­ras eta­pas do Pro­jeto Reviver, ide­al­izado por Cafeteira há trinta anos, além de con­ser­var aquilo que foi feito com tanta ded­i­cação naquela opor­tu­nidade.

É bem pos­sível que isso seja só um fux­ico, mas me per­mito dar-​lhe crédito diante da infor­mação de que, até hoje, ape­sar de tudo que já fez e con­tinua fazendo pelo nosso Estado, nunca as excelên­cias estad­u­ais ofer­e­ce­ram ou aprovaram a Dra. Kátia Bogéa um título de cidadã maran­hense. Um dos poucos esta­dos com essa falta. E olha que já deram título de cidadão maran­hense a tan­tos tipos que até o desval­ori­zou, mas não a quem tem con­tribuição efe­tiva dada ao Maranhão.

Mas é assim mesmo. Nossa velha Deodoro está de volta. Vamos torcer – e rogar a Deus –, para que as autori­dades a zele e a con­serve como patrimônio da cidade que tanto amamos.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

UM PAÍS QUE NÃO DESCE DO PALANQUE.

Escrito por Abdon Mar­inho

UM PAÍS QUE NÃO DESCE DO PALANQUE.

Por Abdon Marinho.

UM AMIGO mandou-​me uma análise sobre o quadro político atual com uma recomen­dação: “Pra meu amigo que res­pira política… no bom sen­tido da palavra”. Exagero dele. Emb­ora entenda que somos seres políti­cos, sendo o des­tino daque­les que odeiam a política, serem gov­er­na­dos pelos políti­cos – geral­mente os maus.

Ape­sar de “res­pi­rar política”, como bem exagerou esse amigo, no inter­valo entre o natal e ano novo encerrei-​me longe do assunto, prati­ca­mente sem inter­net, pouco liguei a tele­visão, quando o fazia era para ver algum pro­grama longe dos noti­ciosos. Voltei-​me à boa música de Bach, Mozart, Beethoven, Chopin, Tchaikovsky, Schu­bert, Mendelssohn, e ainda, enveredando pela música pop dos anos 60, 70 e 80. Fazia um bom tempo que ansi­ava por desligar-​me dos noti­ciários, das fofo­cas, da política e imer­gir na boa música como fazíamos no pas­sado não tão dis­tante.

Só no primeiro dia útil do novo ano voltei a deter-​me nas coisas do cotid­i­ano.

Já no segundo dia do ano (e o pas­sar dos dias só con­fir­mou), uma impressão se for­mou na minha mente: descendo da Marte da imer­são musi­cal, pen­sei, naquele dia, que a eleição para os novos gov­er­nos seria no dia seguinte e não que as posses dos eleitos ocor­reram no dia ante­rior (1º).

Toma­dos pelas mais dis­tin­tas paixões (nem todas sãs), a classe política nacional e tam­bém os cidadãos comuns se “recusam a descer dos seus palan­ques” ou, mel­hor dizendo, “des­ocu­par suas trincheiras de guerra”. O debate travado com um gov­erno eleito e recém empos­sado é o mesmo das vésperas das eleições. É como se não tivésse­mos tido eleições ou, pior, como se o resul­tado ori­undo das urnas não fosse legítimo.

Não se está dizendo aqui – ou mesmo insin­uando –, nem de longe isso, que não se deva ter oposição, pelo con­trário, nada é mais saudável para democ­ra­cia que uma oposição atu­ante, con­sis­tente e vig­i­lante. Mas o que assis­ti­mos até aqui, pelo menos, é que não se trata de “oposição”, mas, sim, de uma guerra eleitoral que ignora até mesmo os inter­esses da nação para fusti­gar o gov­erno eleito e empos­sado, prin­ci­pal­mente, no plano fed­eral, onde essa “guerra” eleitoral se tornou mais presente.

Ainda que não tivesse acabado de descer de Marte, não me recordo de ter assis­tido a uma situ­ação semel­hante nestes trinta e qua­tro anos de rede­moc­ra­ti­za­ção do Brasil que comem­o­raremos em 15 de março, quando o poder foi trans­mi­tido aos civis.

Nem mesmo o ex-​presidente Sar­ney, que assumiu a presidên­cia da República na condição de vice após o trágico pas­sa­mento de Tan­credo Neves, enfren­tou esse clima de cam­panha per­ma­nente que assis­ti­mos agora. Um ou outro ques­tio­nou sua posse, insi­s­ti­ram noutra solução – mas, ape­nas uma da parte dos políti­cos.

Os demais pres­i­dentes, mesmo aque­les eleitos após acir­radas e apaixon­adas dis­putas tiveram alguma “folga” para diz­erem a que vieram.

Fazia parte da “tradição” con­ceder aos eleitos – talvez até por respeito à democ­ra­cia –, cerca de cem dias de trégua. Essa trégua ocor­reu até com o ex-​presidente Col­lor de Mello que, como primeiro ato de gov­erno, “con­fis­cou” as par­cas econo­mias dos cidadãos. Naquele momento, mesmo os protestos dos inte­grantes do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, foram pon­tu­ais e de “políti­cos”.

Assim, o que assis­ti­mos no momento é algo – onde a vista alcança na história da jovem democ­ra­cia brasileira –, abso­lu­ta­mente inédito. Pelo que li, no dia seguinte à posse, o atual pres­i­dente e seus aux­il­iares, não chegaram a ter um segundo, sequer, da tão famosa e tradi­cional “trégua” da democ­ra­cia.

Aliás, prova maior de desapreço à democ­ra­cia foi exter­nada antes da posse: a comu­ni­cação pública dos mem­bros do par­tido der­ro­tado – e seus ali­a­dos –, de que não com­pare­ce­riam à posse dos eleitos – o que acabaram fazendo.

Esse com­por­ta­mento ilus­tra bem o “tom” que darão e que já vêm fazendo em relação ao novo gov­erno.

Como dizia, segundo li, as críti­cas e embates começaram mesmo durante a posse e tiveram con­tinuidade nos dias seguintes como uma espé­cie de “pror­ro­gação da eleição”.

Tudo tem sido motivo para “espinafrar” o novo gov­erno.

A crítica não per­doou nem a primeira-​dama, que paga pelo “pecado” de ser evangélica, de por ter feito um dis­curso em “libras” e, prin­ci­pal­mente, por ser esposa do pres­i­dente. Mas ela, se com­parada à min­is­tra Damares Alves, Min­istério da Mul­her, Família e Dire­itos Humanos, é uma felizarda, pois esta última tem sofrido mais que “sovaco de alei­jado”, nas mãos da patrulha política e da mídia.

Tudo que diz, mesmo em momen­tos de recon­hecida infor­mal­i­dade, tem sido ampli­fi­cado para desmerecê-​la – e ao próprio gov­erno.

Primeiro foi a história do azul e do rosa, quando disse que dora­vante, na nova ordem “meni­nos vestem azul e meni­nas vestem rosa”. Mais de uma sem­ana depois e quan­tas árvores não pere­ce­ram para incen­ti­var essa dis­cussão tola e sem qual­quer sen­tido prático. Qual­quer um, com mais de dois neurônios, perce­be­ria que a colo­cação foi explo­rada fora do con­texto, durante uma comem­o­ração pela investidura no cargo.

Em dias de lit­er­al­i­dade, “enten­deram” que essa colo­cação era a coisa mais impor­tante para o país. Até uma matéria espe­cial de entre­vista da min­is­tra no jor­nal da Globo foi mon­tada para “emparedar” a min­is­tra por conta do que disssera.

Uma segunda polêmica a gan­har destaque foi a opinião da min­is­tra sobre o fato de estu­dantes, ainda bem jovens, serem afas­ta­dos de suas famílias para irem estu­dar noutros esta­dos. O Jor­nal Nacional chegou a dis­pen­sar quase cinco min­u­tos para abor­dando o tema que nada tem a ver com a pasta da min­is­tra sendo que a opinião da mesma sobre o tema foi ape­nas isso: uma opinião de cunho pes­soal, tão vál­ida quanto a minha neste que­sito.

O que tem de rel­e­vante a opinião da min­is­tra sobre a cor das roupas das cri­anças ou sobre onde jovens ado­les­centes vão estu­dar ou mesmo sobre teo­rias bíbli­cas? Nada.

O que me causa pre­ocu­pação é a opinião do min­istro Guedes sobre o que farão com a econo­mia do país ou como solu­cionarão o déficit bil­ionário nas con­tas da pre­v­idên­cia.

Isso sim, envolve todo inter­esse nacional.

Mas tudo é motivo e tema para se ten­tar chamar o debate das próx­i­mas eleições, em 2022, para este iní­cio de gov­erno, quando quase nen­huma ação foi efe­ti­va­mente colo­cada em prática ou exe­cu­tada. Bem difer­ente do que ocor­reu em março de 1990.

Como o país pode avançar em alguma coisa se nem um gov­erno ini­cia e já se coloca outra cam­panha na pauta da nação?

O clima de cam­panha “fora de hora” teve lugar até na (re)posse do gov­er­nador do Maran­hão onde as notí­cias deram conta de gri­tos e palavras de ordem con­tra o pres­i­dente que era empos­sado na cap­i­tal fed­eral.

A franca hos­til­i­dade da mil­itân­cia comu­nista até chegou a con­trastar com o falso aceno de boa von­tade do gov­er­nador maran­hense que chegou a “ofer­tar” parce­ria para con­clusão das obras das creches no estado par­al­isadas desde o gov­erno da ex-​presidente Dilma Rouss­eff e do ex-​presidente Michel Temer.

Como ficou patente que o inter­esse do gov­er­nador, mais do que acol­her cri­anças, é se inserir no debate político nacional, ou seja, apare­cer, ninguém lhe deu bola.

A ideia, se fosse para “valer”, seria inter­es­sante.

O gov­erno estad­ual pode­ria, inclu­sive, usar a verba total disponi­bi­lizada no orça­mento para vender o pouco ou nada que fez ou fará, ou sim­ples­mente fazer pro­pa­ganda de geladeira no Polo Norte.

São 60 mil­hões – prati­ca­mente metade do orça­mento da União para o mesmo fim –, que o estado pode­ria mel­hor investir.

Acred­ito que, uma pela outra, cada crèche pre­cise de 500 mil para con­clusão, só com a verba da pro­pa­ganda daria para con­cluir 120 creches.

O gov­erno estad­ual não pre­cisa esperar o sinal verde do gov­erno fed­eral para isso, nos ter­mos da Con­sti­tu­ição Fed­eral, pode repas­sar a verba dire­ta­mente aos municí­pios para que eles deem como con­tra­partida nos atu­ais con­tratos.

Não creio que faça isso. Como ocor­reu durante os qua­tro anos ante­ri­ores o gov­erno estad­ual “vive” do mar­ket­ing que con­segue vender aos incau­tos na ten­ta­tiva de se via­bi­lizar como herdeiro do espólio esquerdista.

Neste campo, o êxito é recon­hecido, poder-​se-​ia dizer inclu­sive, que um dos poucos êxi­tos do gov­erno estad­ual é na pro­pa­ganda, no mar­ket­ing.

Tanto assim que depois de qua­tro anos onde con­seguiu o extra­ordinário feito de pio­rar quase todos os indi­cadores soci­ais her­da­dos do grupo Sar­ney – o que dis­pensa qual­quer outro comen­tário –, no próprio dia da (re)posse o sen­hor Leonardo Boff escreveu nas suas redes soci­ais que o gov­er­nador do Maran­hão será a “sal­vação” do Brasil.

A moti­vação de Boff para isso (descon­heço out­ros inter­esses), não foi o sen­hor Dino ter ele­va­dos indi­cadores econômi­cos ou soci­ais do estado (que pio­raram); não foi ter tirado os 54% (cinquenta e qua­tro por cento) dos maran­henses da linha da pobreza; errad­i­cado o anal­fa­betismo; resolvido o caos na saúde (onde, outro dia, os profis­sion­ais médi­cos ameaçaram greve por falta de condições de tra­balho e salários atrasa­dos); solu­cionado o prob­lema da falta de sanea­mento básico com a inau­gu­ração de cen­te­nas de senti­nas (como o próprio gov­er­nador anun­ciou nas suas redes soci­ais); trans­for­mado o estado no celeiro do país em pro­dução agrí­cola; e tan­tas out­ras coisas impor­tantes para o nosso povo. Para Boff – e out­ros adu­ladores –, o que cre­den­cia o gov­er­nador do Maran­hão a “sal­var” o Brasil do atraso em que se encon­tra e que será agravado no gov­erno Bol­sonaro, segundo ele, é o fato do gov­er­nador na (re)posse ter rece­bido a faixa de gov­er­nador (den­tre out­ras pes­soas) das mãos de uma menina negra.

Fico pen­sando que tipo de cogume­los alu­cinógenos essas pes­soas se servem no café da manhã. O que cre­den­cia um político a pleit­ear um cargo não são suas real­iza­ções como gov­er­nante ou mesmo como cidadão, para eles os que cre­den­ciam é um golpe de mar­ket­ing.

Vejo esse tipo de coisa e esfrego os olhos para saber se estou vendo mesmo.

Assim seguirá o Brasil pelos próx­i­mos anos: com sua pop­u­lação ou grande parte dela se recu­sando a descer do palanque e a tra­bal­har pelo bem de todos.

Abdon Mar­inho é advo­gado.