SALAMALEQUES EM CARACAS.
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- Criado: Terça, 15 Janeiro 2019 11:28
- Escrito por Abdon Marinho
SALAMALEQUES EM CARACAS.
Por Abdon Marinho.
UMA FALSA polêmica instalou-se nos últimos nestas terras avistadas por Cabral. Falo da ida da presidente do Partido dos Trabalhadores — PT, senhora Gleisi Hoffman, a Caracas para prestar mensuras e saudar o ditador Nicolás Maduro que assumiu por mais seis anos o governo da Venezuela.
A senhora Gleisi Hoffmann, assim, fez companhia aos pouquíssimos estrangeiros, que reconhecem como legítimo o novo governo venezuelano, eleito após massacrar a oposição e os cidadãos do seu país, com violência, fome e miséria, num processo admitido por quase todas as nações do mundo civilizado como fraudulento. De líderes estrangeiros só pude reconhecer, Evo Morales, da Bolívia, que tenta implantar seu próprio modelo de perpetuação no poder; Daniel Ortega, da Nicarágua, que tenta implantar sua própria ditadura e carrega nos ombros o peso das quatrocentas almas dos cidadãos que foram mortas nos protestos contra seu governo reprimidas violentamente no início de 2018; e Díaz-Canel, de Cuba, a moribunda ditadura dos Castro, que dispensa qualquer outra apresentação.
Pois é, o governo venezuelano, empossado neste início de ano, não é aceito pelos países continente – que até fizeram uma nota de repúdio através do Grupo de Lima –, pela Comunidade Europeia, pela Organização dos Estados Americanos — OEA, pelos Estados Unidos e, frise-se, pelo Brasil, mas lá estava a presidente do partido que até ontem governou o país, com mensuras e salamaleques, saudando e postando nas redes sociais o orgulho de fazer parte daquela fraude – uma vez que o novo governo não é reconhecido pelo Parlamento venezuelano.
A falsa polêmica só não foi maior devido a prisão, dois dias depois, na Bolívia, de Cesare Battisti, o terrorista italiano que ficou, a convite do governo do PT, homiziado no Brasil, por mais de uma década, para a vergonha e constrangimento dos cidadãos de bem.
Claro que poderia ter sido bem pior. Caso o governo tivesse voltado ao PT, certamente, estaria saudando o novo ditador, oficialmente, o governo brasileiro, e não a presidente de um partido (ou de alguns partidos) e, para completar o vexame, ainda estaríamos “acoitando” um terrorista internacional condenado à prisão perpétua no seu país por ter matado quatro cidadãos e ter deixado um outro paraplégico.
Pelo menos isso! Não tivemos que passar por esse constrangimento.
Mas por que digo ser falsa a polêmica em torno da ida da presidente do PT a Caracas? Muito simples, o Partido dos Trabalhadores — PT, nunca na sua história teve qualquer apreço à democracia, tanto antes de chegar ao poder, durante o exercício do poder e depois – como testemunhamos agora.
Os exemplos estão aí para quem quiser comprovar e tiver apreço pela história. Citarei apenas aqueles que lembro.
No início de 1985, depois da derrota da Emenda Dante de Oliveira, que propunha a eleição direta para presidente da República, as forças que queriam o fim da ditadura militar no Brasil entenderam que deveriam participar do processo pelas regras do jogo estabelecidas e apoiar Tancredo Neves em oposição ao ex-governador de São Paulo, Paulo Maluf, representante das forças até então no poder.
O que fez o PT? Se absteve de votar no Colégio Eleitoral, deixando, assim, de ajudar na derrota de Paulo Maluf. Mas não só isso, fez pior, expulsou do partido três de seus quadros que votaram a favor de Tancredo Neves e do fim da ditadura, José Eudes, Airton Soares e Bete Mendes.
Outro momento emblemático foi o quiproquó que criaram para não assinar Constituição Federal de 1988. Fizeram tanta confusão que muitos pensam, até hoje, que não assinaram, pois alegavam discordar de muitos dos seus pontos.
O certo é que o deputado Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Nacional Constituinte, indagado sobre o que faria, disse que os nomes de todos os constituintes iriam constar no documento. Assim, votaram contra, mas, por fim, acabaram assinando a Carta Magna.
Outro momento crucial que opôs o Brasil ao PT – registrando só minhas lembras do momento –, foi campanha que fizeram contra o Plano Real.
O país sofrendo com uma inflação galopante, instabilidade política, ainda tentando superar o traumático impeachment de Collor, com um fraco e instável Itamar Franco no poder e partido não apenas se opondo à consistente proposta de debelar a inflação representada pelo Plano Real.
Desnecessário dizer que ao mesmo tempo fez cerrada oposição a todos os governos, independente destes apresentarem alguma proposta positiva para o país ou não.
Mas eis que, finalmente, chegam ao tão sonhado e almejado poder em 2002.
E, no poder, fazem tudo aquilo que sempre criticaram e combateram nos governos que os antecederam, com especial destaque para a corrupção – que sempre existiu no país –, mas que o partido e seus líderes tornaram uma prática de Estado, uma política de governo, encarregada de roubar a nação, e com o fruto do roubo perpetuá-los no poder.
Isso está sobejamente comprovado por todos os processos civis e criminais que responderam, respondem e pelos quais estão sendo condenados, notadamente, os escândalos apelidados de “Mensalão” e “Petrolão”.
Além da corrupção desenfreada – e talvez por conta dela –, outra característica do petismo no poder, foi o seu alinhamento com praticamente todos os regimes totalitários do mundo, sejam as ditaduras ditas de “esquerda” representadas por Cuba, Coreia do Norte, Venezuela, Nicarágua e China, seja pelos regimes sanguinários da África – que se suspeita, além da predileção pela ditadura em si, a aproximação envolvia negócios poucos esclarecidos.
Foi esse especial apreço dos governantes de então por ditaduras que fez o país escrever as páginas mais vergonhosas de nossa história, como a “entrega” dos pugilistas cubanos à ditadura dos irmãos Castro, negando pela primeira vez na história um pedido de asilo, no ano de 2007, e quando, no último dia 2010, e do mandato, o senhor Luís Inácio Lula da Silva, desconhecendo decisão do Conselho de Refugiados e do Supremo Tribunal Federal — STF, que autorizou a extradição, decidiu por “acoitar”, com status de refugiado, o terrorista Batisti, ofendendo toda a nação italiana – a quem tanto devemos e com quem sempre tivemos uma das melhores relações.
Em relação aos pugilistas cubanos, que tempos depois, conseguiram fugir da ditadura dos irmãos Castro, teremos que carregar essa vergonha pelo resto da vida. Com relação ao terrorista italiano, ainda que tarde, o Brasil deu uma pequena contribuição para que, finalmente, pague pelos seus crimes.
Este é um breve retrato do que foi o partido da senhora Hoffmann antes e durante o poder.
Na oposição novamente, começou por negar a democracia brasileira, da qual sempre foi ator destacado, não comparecendo a posse do presidente da República legitimamente eleito (gostemos dele ou não), mas indo render homenagem a um projeto de ditador que não tem legitimidade reconhecida pela comunidade internacional e nem mesmo pelos cidadãos de seu país.
O comparecimento da presidente do PT à posse do senhor Maduro é a prova mais eloquente de coerência com a sua história ao longo de todos esses anos. Com a abstenção no Colégio Eleitoral, em 1985; com o “beicinho” para não assinar a Constituição e/ou votar contra seu texto final; com a oposição ferrenha ao Plano Real; com a corrupção generalizada nos seus governos; com a “entrega” dos jovens dissidentes cubanos aos seus algozes; com exílio e apoio ao terrorista italiano Cesare Batisti; e tantos outros absurdos.
Tudo que ocorreu, antes, durante, e agora, depois dos seus anos de poder, nada mais é do que o PT sendo o PT, muito bem representado pela senhora Hoffmann.
Abdon Marinho é advogado.