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A VITÓRIA DA PERSEVERANÇA.

Escrito por Abdon Mar­inho

A VITÓRIA DA PERSEVERANÇA.

Por Abdon Mar­inho.

POR ESTES DIAS assis­ti­mos à con­sol­i­dação de uma vitória. Uma vitória, como o título diz, da per­se­ver­ança.

Os municí­pios maran­henses cor­ta­dos pela Estrada de Ferro Cara­jás pas­saram a rece­ber, para fins de incor­po­ração às suas receitas, uma com­pen­sação finan­ceira.

São Luís, rece­beu quase 28 mil­hões em val­ores retroa­t­ivos e mais 2,5 mil­hões por mês; Bacabeira, mais de 4 mil­hões retroa­t­ivos e mais quase 400 mil men­sais; Alto Ale­gre do Pin­daré, rece­beu 9,5 mil­hões retroa­t­ivos e mais de 800 mil men­sais; Arari quase 3 mil­hões retroa­t­ivos e mais 255 mil men­sais; Açailân­dia, 12 mil­hões retroa­t­ivos e mais de um mil­hão men­sais; Vila Nova dos Martírios 3,6 mil­hões retroa­t­ivos e mais 334 mil reais men­sais; Vitória do Mearim 2,2 mil­hões retroa­t­ivos e mais 205 mil reais men­sais; São Pedro da Água Branca 5,1 mil­hões retroa­t­ivos e mais 463 mil reais men­sais; Igarapé do Meio 2,7 mil­hões retroa­t­ivos e mais 250 mil reais men­sais; Cinelân­dia 4,9 mil­hões retroa­t­ivos e mais 448 mil reais men­sais; Buritic­upu 2,9 mil­hões retroa­t­ivos e mais 271 mil reais men­sais; Bom Jesus das Sel­vas 5,1 mil­hões retroa­t­ivos e mais 470 mil reais men­sais; Monção 1,3 mil­hões retroa­t­ivos e mais 123 mil reais men­sais; Turilân­dia 1,5 mil­hões retroa­t­ivos e mais 138 mil reais men­sais; Santa Inês 1,2 mil­hões retroa­t­ivos e mais 107 mil reais men­sais; Pindaré-​Mirim 1,3 mil­hões retroa­t­ivos e mais 121 mil reais men­sais; Itapecuru-​Mirim 1,4 mil­hões retroa­t­ivos e mais 125 mil reais men­sais; Ana­jatuba 2,2 mil­hões retroa­t­ivos e mais 196 mil reais men­sais.

Out­ros municí­pios tam­bém, como Bom Jardim, foram comtem­pla­dos com uma mel­hora na receita.

Esta vitória se tornou mais palpável quando o ex-​presidente da República, Sr. Michel Temer, san­cio­nou, em 18 de dezem­bro de 2017, a Lei 13.540÷2017, pela qual foi aumen­tada a Com­pen­sação Finan­ceira pela Explo­ração de Recur­sos Min­erais (CFEM) para 15% (quinze por cento) para os municí­pios escoa­dos da pro­dução de minério de ferro ou sofram os impactos das atividades.

Trata-​se, sem dúvida alguma, de uma grande vitória. No maran­hão 23 municí­pios irão rece­ber os 15% sobre os 3% (três por cento) do fat­u­ra­mento bruto sobre a explo­ração do minério de ferro. O restante ficarão assim dis­tribuí­dos: 60% para os municí­pios pro­du­tores; 15% com os esta­dos e 10% com a União.

Por ocasião do rateio deste din­heiro, mais de cem mil­hões de reais, o que mais apare­ceu foram pais para essa “cri­ança”.

Claro que muitos tiveram par­tic­i­pação e con­tribuíram de alguma forma para que estes recur­sos se tor­nassem uma real­i­dade, senadores, dep­uta­dos, prefeitos.

O que poucos sabem – quase ninguém –, é como essa vitória se iniciou.

Em mea­dos de janeiro de 2013, um domingo chu­voso, recebi uma lig­ação de um amigo, o advo­gado Ariosto Car­valho, que­ria levar na minha casa duas out­ras pes­soas para saber se aceitaria uma causa – quando chegaram fui apre­sen­tado aos sen­hores Leon­cio Lima e Fabrício.

O primeiro fora fun­cionário durante muitos anos da Vale e tinha sido procu­rado pela prefeita de Bom Jesus das Sel­vas, Cris­tiane Damião, que estava angus­ti­ada com a escassez de recur­sos no municí­pio.

Naquela opor­tu­nidade, pelo que entendi, já tin­ham feito con­tatos com out­ros advo­ga­dos que não mostraram muito inter­esse ou não enten­deram bem do que se tratava, por isso me procuraram.

Ao tér­mino das colo­cações, disse-​lhes, já naquela opor­tu­nidade, que tín­hamos uma causa muito inter­es­sante. Em princí­pio, não uma causa “jurídica” na acepção comum do termo, mas uma causa política.

A ideia ini­cial era ape­nas a cri­ação de um con­sór­cio de municí­pios maran­henses impacta­dos pela linha fer­roviária para, jun­tos, pres­sion­arem a Vale em busca de com­pen­sação finan­ceira. A empresa já con­tribuía aqui e ali com pequenos pro­je­tos, mas algo bem incip­i­ente, como favor.

Além da com­pen­sação social e ambi­en­tal a ser cobrada da empresa, havia uma outra pauta que era con­seguir que fos­sem lib­er­a­dos os recur­sos deposi­ta­dos junto ao BNDES desde a pri­va­ti­za­ção da empresa Com­pan­hia Vale do Rio Doce, que pri­va­ti­zada virara Vale. A ter­ceira pauta era essa: fazer con­star no Código de Min­er­ação algum tipo de com­pen­sação finan­ceira pelos impactos cau­sa­dos.

A primeira reunião visando a cri­ação deste con­sór­cio, ocor­rida no Mul­ti­cen­ter Sebrae, se não me falha a memória, con­tou com a par­tic­i­pação de pouco mais de meia dúzia de prefeitos. Estes, mes­mos, duvi­dando que a ini­cia­tiva fosse dar em algo.

Diziam: — A Vale é muito poderosa; nada que fiz­er­mos vai fazer sur­tir qual­quer efeito; jamais rece­ber­e­mos alguma coisa e por aí vai.

Esta­mos falando de um período bem ante­rior a Mar­i­ana, a Bru­mad­inho, com a Vale alcançado recordes de pro­dução e val­oriza­ção.

Ninguém enten­dia muito bem o que eram com­pen­sações ou porque uma empresa pri­vada tinha que “dar din­heiro aos municí­pios”.

Alguns, não sei por qual razão, até tin­ham medo ou não que­riam par­tic­i­par.

A prefeita de Açailân­dia, um dos municí­pios mais impacta­dos pela fer­rovia, foi uma das que recusou-​se a entrar do con­sór­cio, segundo ela iria tratar dos inter­esses do seu municí­pio dire­ta­mente com a Vale. Por conta disso, o vice-​prefeito Juscelino, que era entu­si­asta da ideia, virou o embaix­ador do con­sór­cio, e tam­bém por conta disso, em Açailân­dia foi real­izada a primeira audiên­cia pública visando a sua cri­ação.

Com o prefeito de São Luís, Edvaldo Holanda Júnior, estive­mos no dia 4 de abril daquele ano, era um fim de tarde, com o obje­tivo de con­vi­dar o municí­pio a inte­grar o con­sór­cio, gen­til como sem­pre, ouviu, assen­tiu, mas nunca deu resposta se iria par­tic­i­par ou não.

Ape­nas recen­te­mente tive notí­cias que São Luís pas­sara a inte­grar o con­sór­cio.

Na linha de frente a prefeita de Bom Jesus das Sel­vas, Cris­tiane Damião; o prefeito de Alto Ale­gre do Pin­daré, Atenir Ribeiro; a prefeita de Vila Nova dos Martírios, Karla Batista; o prefeito de Monção, João de Fatima; o prefeito de Santa Rita, Tim Ribeiro; o prefeito de Arari, Djalma Machado; o prefeito de Tufilân­dia, Dr. Neto; o prefeito de Bacabeira, Alan Lin­hares, entre out­ros. Já não lem­bro o nome de todos.

Em 23 de abril lançou-​se ofi­cial­mente o con­sór­cio. A par­tir daquela data pas­samos a per­cor­rer os 23 municí­pios para fazer as audiên­cias públi­cas para a sua for­mal­iza­ção. Fal­tei ape­nas a duas (man­dei um rep­re­sen­tante do escritório), nas demais estive pre­sente no tra­balho de con­venci­mento dos munícipes e vereadores.

Se muitos prefeitos não acred­i­tavam, o que dizer do restante da população?

Mod­esta parte, sai-​me bem no papel de ten­tar con­vencer e explicar a importân­cia do con­sór­cio e da “briga” que está­va­mos tra­vando.

Moti­vado pela esper­ança e certo que está­va­mos fazendo algo grandioso para o nosso estado, escrevi um texto sobre o assunto: “Uma Causa para o Maran­hão” – está no meu site e, acred­ito, foi repro­duzido pelo próprio con­sór­cio e por algum jornal.

O ano quase todo foi con­sum­ido com estas audiên­cias públi­cas. Se já não me falha a memória a última foi real­izada em Bom Jesus das Sel­vas, no iní­cio de outubro.

Para­lelo (e mesmo antes) à for­mação do con­sór­cio, ten­tá­va­mos exercer a pressão política sobre a Vale – as duas primeiras reuniões, inclu­sive, ocor­reram no meu escritório.

Como ela (Vale) mostrava-​se intran­si­gente, com os dados forneci­dos pelo sen­hor Leôn­cio Lima, cos­turei um doc­u­mento nar­rando toda situ­ação cau­sada pela Vale e a sua indifer­ença.

Doc­u­mento escrito perguntaram-​me como o mesmo dev­e­ria chamar-​se, aí me ocor­reu uma a ideia. Ele dev­e­ria ter como título “Carta aos Povos do Mundo”. A ser redigido em diver­sas lín­guas (ini­cial­mente por­tuguês e inglês) e ser dis­tribuído em todos os países onde a Vale tivesse negó­cios.

A par­tir daquele doc­u­mento a Vale começou a ace­nar com a pos­si­bil­i­dade de disponi­bi­lizar recur­sos como con­tra­partida pelos danos cau­sa­dos a pop­u­lação.

Na última reunião real­izada no meu escritório já disse que esta com­pen­sação pode­ria ser na casa dos cem mil­hões de reais por ano aos municí­pios.

O valor exato foi infor­mado numa reunião em um hotel da Ponta d’Areia em 27 de novem­bro daquele ano.

Antes disso, porém, tive­mos uma outra vitória. Em 23 de out­ubro, na Câmara de Vereadores de Marabá (PA), estive­mos numa reunião com o dep­utado Leonardo Quin­tão, de Minas Gerais, a época rela­tor do Código de Min­er­ação, que se com­pro­m­e­teu em incluir a com­pen­sação aos municí­pios maran­henses na nova leg­is­lação.

Naquele momento a Vale já tinha super­ado as rus­gas com o con­sór­cio por conta de protestos e até inter­dição de seus tril­hos e já estavam com um boa relação, tanto que cedeu o seu trem exec­u­tivo para levar (prefeitos e equipe) até Marabá.

Após essas vitórias “fui dis­pen­sado” pelos diri­gentes do con­sór­cio, as promes­sas feitas à título de hon­orários, esque­ci­das.

Foi uma causa que me con­sumiu por mais de um ano. Durante o qual era a pes­soa que tinha mais a ofer­e­cer a causa. Respei­tando a importân­cia dos gestores, não podemos nos fur­tar a recon­hecer que eram anôn­i­mos, ao passo que eu já tinha uma car­reira jurídica con­sol­i­dada e recon­hecida há mais de quinze anos.

Não sei quanto a Vale repas­sou aos municí­pios maran­henses nestes últi­mos anos – de 2014 a 2019 –, se tiver man­tido a palavra, foram mais de 500 mil­hões.

Agora o gov­erno fed­eral repassa mas estes out­ros cem mil­hões, além dos repasses men­sais para estas e as futuras gerações.

Ape­sar de não ter rece­bido, até hoje, um único cen­tavo, nem mesmo ressarci­men­tos pelas via­gens e despe­sas pes­soais – dis­cuto pos­síveis dire­itos na Justiça –, fico muito feliz com o resul­tado alcançado.

Lem­bro dos dis­cur­sos feitos em diver­sas ocasiões naque­las audiên­cias públi­cas quando dizia da neces­si­dade da luta pelas com­pen­sações e para a respon­s­abil­i­dade social da Vale de out­ras empre­sas.

Aque­las palavras não foram vãs, agora o trem não deixa só a poeira, o dano ambi­en­tal e o apito. Agora deixa, tam­bém, recur­sos, que, se bem apli­ca­dos, farão grande difer­ença na vida das comu­nidades maranhenses.

Essa foi uma vitória extra­ordinária, a vitória dos que acred­i­taram numa pos­si­bil­i­dade remota e não desi­s­ti­ram. Essa foi vitória da per­se­ver­ança.

Abdon Mar­inho é advogado.

UM WATER­GATE MARANHENSE?

Escrito por Abdon Mar­inho

UM WATER­GATE MARANHENSE?

Por Abdon Marinho.

O IDEÓL­OGO do Comu­nismo, Karl Marx, disse – den­tro, claro de um con­texto maior –, que a história só se repete como farsa.

No iní­cio dos anos 70 do século pas­sado, o pres­i­dente amer­i­cano Richard Nixon foi envolvido em um escân­dalo de espi­onagem à sede do par­tido adver­sário, o Democ­rata. A par­tir de uma denún­cia anôn­ima dois jor­nal­is­tas do The Wash­ing­ton Post, inves­ti­garam o assunto que pas­sou à história como o “Caso Water­gate”, em refer­ên­cia ao edifí­cio onde se local­izava a sede do par­tido espi­onado, o Democ­rata.

O escân­dalo cul­mi­nou com a renún­cia de Nixon. Antes, porém, na efer­vescên­cia daque­les dias, o então pres­i­dente cun­hou uma frase lap­i­dar: “o inimigo é a imprensa”.

Pois é, quem diria que tanto tempo depois Marx, Nixon e a farsa fos­sem se encon­trar no Maran­hão? Parece uma piada de mau gosto.

Desde a “implan­tação” do gov­erno comu­nista no nosso estado que se têm notí­cias de inves­ti­gações (bis­bil­ho­tagem) con­tra os adver­sários políti­cos dos “donos do poder”.

Eram insin­u­ações, sus­sur­ros que foram se ampli­f­i­cando e gan­hando as ruas a ponto de às vésperas das eleições de 2018 um doc­u­mento ofi­cial da polí­cia estad­ual cir­cu­lar com um pedido para que os mil­itares lota­dos no inte­rior fizessem “lev­an­ta­men­tos” sobre os posi­ciona­men­tos políti­cos de lid­er­anças.

Ainda para aquela eleição ouvi de alguém, ali­ado do gov­erno comu­nista, que uma lid­er­ança que já tinha hipotecado apoio à sua can­di­datura fora “con­ven­cida” a mudar de posição após “con­versa” com pes­soas lig­adas à Sec­re­taria de Segu­rança ocor­rida den­tro do próprio palá­cio do gov­erno.

Não dei crédito e até pen­sei que fosse um exagero político que estava vendo os votos min­guarem à véspera da eleição. Onde já se viu autori­dades repub­li­canas chamarem lid­er­anças políti­cas “em palá­cio” para ameaça-​las para mudar de lado?

Custava-​me ( e ainda custa) acred­i­tar em tamanha degradação, isso ape­sar de tudo que assis­ti­mos – e das notí­cias que nos chegou –, dando conta de toda sorte abu­sos prat­i­ca­dos por agentes do gov­erno nas eleições de 2016.

Muitas delas, segundo dizem, “tomadas”, pelo gov­erno estad­ual para os seus ali­a­dos.

Tudo que se imag­i­nava sobre a espi­onagem que, suposta­mente, estaria ocor­rendo no nosso estado – só reg­is­trando que uma das prin­ci­pais medi­das do gov­erno comu­nista foi mel­hor equipar os lab­o­ratórios de inves­ti­gações crim­i­nais e de inteligên­cia –, restou ampli­fi­cado (ou con­fir­mado) a par­tir do depoi­mento em juízo do ex-​delegado Thi­ago Bardal e de um depoi­mento em carta e em áudio do del­e­gado Ney Anderson.

Ainda que os acusem de crim­i­nosos ou “malu­cos”, suas palavras ape­nas reforçam (ou con­fir­mam) aquilo que sem­pre foi a voz cor­rente das ruas.

Como dito noutras opor­tu­nidades, eram mais que reais uma pos­sível bis­bil­ho­tagem da parte dos deten­tores do poder, mais de uma vez ouvi de ami­gos sin­ceros uma inda­gação: –– tu duvi­das, Abdon, que não este­jamos sendo “escu­ta­dos”?

Em um texto escrito no ano pas­sado – ou em 2017 –, dizia ter curiosi­dade sobre que tipo de lev­an­ta­mento o serviço de “espi­onagem” teria feito a meu respeito. Talvez nenhum.

Pois bem, o que os del­e­ga­dos (ou ex-​delegados, não sei a situ­ação fun­cional de ambos) fiz­eram foi rev­e­lar um grave esquema de espi­onagem a fig­uras públi­cas do estado.

Segundo já dito pelos mes­mos, diver­sos desem­bar­gadores – e seus famil­iares –, um senador da República, dep­uta­dos estad­u­ais e fed­erais, todos espi­ona­dos – e uma curiosi­dade, como se fazia noutros nefas­tos regimes total­itários, a espi­onagem, con­forme denun­ci­ada, tam­bém teria recaído sobre “ali­a­dos”.

Alguém lem­bra da machad­inha que alcançou Trot­ski?

Desde a primeira vez que tratei deste assunto que alerto para a gravi­dade destas denún­cias – não ape­nas as recentes, mas aque­las que são ditas, insin­u­adas, inferi­das, desde o começo do atual gov­erno –, não sendo aceitável que em pleno século vinte um ainda viva­mos sob o escrutínio de um “estado policial”.

Infe­liz­mente, ape­nas agora as autori­dades pare­cem “acor­dar” para a gravi­dade da situ­ação e – como o TJMA e o senador Roberto Rocha –, pas­saram a cobrar providên­cias junto as autori­dades fed­erais.

Antes, ape­sar do zun­zun­zum em todas as rodas, pare­cia – ou não davam crédito que suas esposas, fil­hos, pais, par­entes ou ader­entes e mesmo os próprios –, que nada estava acon­te­cendo.

Outra curiosi­dade é que as autori­dades maran­henses, a quem se imputavam tão graves acusações, fin­giam que não deviam quais­quer sat­is­fações à pat­uleia.

Ape­nas agora, após os supos­tos “bis­bil­ho­ta­dos” cobrarem a apu­ração dos fatos ao Min­istério da Justiça, ao Con­selho Nacional de Justiça, ao Supremo Tri­bunal Fed­eral e a Procuradoria-​Geral da República, tanto o secretário de segu­rança pública – e o gov­er­nador, indi­re­ta­mente –, apare­cem de forma enviesada, para prestar esclarecimentos.

E, como dis­se­mos ante­ri­or­mente, apare­ce­ram ao velho estilo Nixon.

Junto com uma rep­re­sen­tação con­tra os del­e­ga­dos que denun­cia­ram os supos­tos “malfeitos”, rep­re­sen­taram con­tra os jor­nal­is­tas que divul­garam as infor­mações que lhes chegaram.

Quem disse que a imprensa não é a inimiga?

Em sendo ver­dade o que vem sendo posto – não ape­nas pelos delegados/​denunciantes ou pelos jornalistas/​blogueiros que cobri­ram o assunto, mas tam­bém pelo mur­múrio das ruas, que são muitos e inten­sos desde muito tempo –, estare­mos diante do mais grave aten­tado à democ­ra­cia em nosso país, crimes que nem o ditadura mil­i­tar ousou colo­car em prática.

Diante de indí­cios é certo que o papel da polí­cia é inves­ti­gar.

Mas não esta­mos falando disso, até porque ao indí­cio de qual­quer crime, o papel da autori­dade poli­cial seria reme­ter os mes­mos às instân­cias judi­ci­ais com­pe­tentes para que elas deter­mi­nassem e/​ou prosseguis­sem com as inves­ti­gações em face das pre­rrog­a­ti­vas dos impli­ca­dos.

Até onde se sabe, não foi o que acon­te­ceu, pelo menos não se tem notí­cias de nada desta natureza.

Então, esta­mos falando de crime, de bis­bil­ho­tagem crim­i­nosa, escu­tas clan­des­ti­nas, desvir­tu­a­mento da função estatal.

Qual o obje­tivo disso? Chan­tagear os desem­bar­gadores e seus famil­iares? Chan­tagear os políti­cos? Quem tinha (ou tem) inter­esse neste tipo de pro­ced­i­mento crim­i­noso? Tais fatos, se ocor­reram, foi à rev­elia do gov­er­nador ou foi uma mis­são trans­mi­tida aos crim­i­nosos por quem estava acima na cadeia de comando?

Como disse, são fatos de gravi­dade ímpar a recla­mar uma inves­ti­gação célere e com­pleta, capaz de aferir as respon­s­abil­i­dades de cada um (se exis­tentes), com punições, igual­mente, exem­plares.

O Supremo Tri­bunal Fed­eral ou o Con­selho Nacional de Justiça ou mesmo a Procuradoria-​Geral da República ou todos, pela gravi­dade dos fatos relata­dos, pre­cisam colo­car ao encargo da Polí­cia Fed­eral a respon­s­abil­i­dade de tal inves­ti­gação.

Faz-​se necessário, anda, que se garanta aos del­e­ga­dos – e a quan­tos mais sou­berem dos fatos e pud­erem provar –, os bene­fí­cios da colab­o­ração premiada.

É medida urgente que se impõe.

Noutra quadra, é de soar estranho que o gov­er­nador do estado, que tanto fala em democ­ra­cia para o público externo, diante de fatos tão graves e que não estão na pauta ape­nas agora – , mas que vêm de longe –, se não tem nada com os mes­mos, até o momento não tenha tomado quais­quer providên­cias no sen­tido de apu­rar – e fazer ces­sar a nuvem de sus­peitas –, e punir os respon­sáveis. Muito pelo con­trário, o que sabe é que devota toda con­fi­ança naque­les que, segundo as denún­cias, estariam impli­ca­dos nas práti­cas deli­tu­osas.

O que dizer? A história recente com­prova que Stálin sentou-​se e par­ticipou dos esforços de guerra com os ali­a­dos para livrar o mundo do pesadelo nazista, enquanto ele mesmo man­tinha uma máquina de destru­ição sim­i­lar ou mais efi­ciente que a de Hittler.

Quem disse que a história não se repete como farsa?

Abdon Mar­inho é advo­gado.

AS ELEIÇÕES E A VIÚVA PORCINA.

Escrito por Abdon Mar­inho

AS ELEIÇÕES E A VIÚVA PORCINA.

Por Abdon Mar­inho.

DIZIA a um amigo que pre­tendia escr­ever sobre con­jun­tura política local quando ele fez uma observação/​recomendação bem inter­es­sante: —Mas apro­funda. Tem coisas que pare­cem ser mas não são.

Deci­dido a escr­ever porém “encu­cado” com as colo­cações deste amigo, lembrei-​me de “Roque San­teiro”, fol­hetim da Rede Globo, de auto­ria de Dias Gomes e Aguinaldo Silva, exibido no horário das 20 horas entre os anos de 1985 e 1986.

Aquele fol­hetim teve por base uma peça do próprio Dias Gomes, apre­sen­tada nos anos sessenta e, depois, numa nov­ela, já com o nome “Roque San­teiro” que foi cen­surada pelo régime mil­i­tar em mea­dos dos anos setenta.

Com o fim do régime mil­i­tar e a rede­moc­ra­ti­za­ção do país a par­tir da eleição de Tan­credo Neves e José Sar­ney em janeiro de 1985 e a posse deste último em março – Tan­credo Neves adoe­ceu na véspera da posse e mor­reu no mês seguinte –, a cen­sura foi abol­ida e o fol­hetim, final­mente foi exibido.

Ainda menino, lem­bro que exis­tia toda uma expec­ta­tiva para assi­s­tir a nov­ela que fora cen­surada pelos “mil­i­cos”, as pes­soas não des­gru­davam da tele­visão no horário da nov­ela e no dia seguinte comen­tavam nas feiras, nos bares ou nas repar­tições o que ocor­rera no capí­tulo anterior.

A nov­ela, de fato, não decep­cio­nou, tanto que ainda hoje lem­bramos de seus per­son­agens mem­o­ráveis, como o Sin­hoz­inho Malta, o poderoso do pedaço, inter­pre­tado por Lima Duarte e seu famoso bor­dão: “tô certo ou tô errado?”, enquanto sacu­dia o braço com grossas pul­seiras de ouro; o prefeito de Asa Branca, seu Florindo, inter­pre­tado por Ary Fon­toura; o Zé das Medal­has, de Armando Bógus; o padre Hipól­ito, de Paulo Gracindo; o Roberto Math­ias, de Fábio Júnior e grande elenco.

A espinha dor­sal da his­to­ria gira em torno da suposta morte de Roque San­teiro, um faze­dor de San­tos, que suposta­mente teria mor­rido ao defender sua cidade, inter­pre­tado por José Wilker e sua falsa viúva chamada de viúva Porcina, magis­tral­mente inter­pre­tada por Regina Duarte. Como ficamos sabendo, Roque nunca mor­reu defend­endo a cidade, Porcina nunca fora casada com ele (na ver­dade era amante de Sin­hoz­inho Malta) e, por­tanto, nunca fora viúva.

À história a viúva Porcina pas­sou a des­ig­nar as “coisas que eram sem nunca terem sido”. Daí ter lem­brado de Roque San­teiro quando meu amigo disse que as coisas na política local pare­cem ser uma coisa quando na real­i­dade é outra.

Nada mais parece caber na definição de viúva Porcina do que a suposta can­di­datura à presidên­cia da República do gov­er­nador do Maran­hão, sen­hor Flávio Dino, do PCdoB.

Logo que assumiu o comando do estado pela segunda vez, sua excelên­cia declarou-​se pré-​candidato à presidên­cia.

Não só declarou como ten­tou a todo custo (e ainda tenta) polarizar com o pres­i­dente Jair Bolsonaro.

A cada coisa que diz o pres­i­dente, certa ou errada, lá está o gov­er­nador para desdizê-​lo, ainda que seja só para isso: ser do con­tra.

Não ape­nas o gov­er­nador mas todo o “estafe” gov­er­na­men­tal, este­jam em horário de expe­di­ente ou não, lá estão a fusti­garem o pres­i­dente. Se este disser que o céu é azul-​anil lá estarão o gov­er­nador e seus xerim­ba­bos a diz­erem que o céu é ver­melho como a ban­deira do par­tido.

Ape­sar de tamanha insistên­cia para se fazer notar, não colou.

Ninguém levou a sério essa can­di­datura de Flávio Dino à presidên­cia. Nem os supos­tos adver­sários, na figura do atual pres­i­dente – ou do seu min­istro Sér­gio Moro, outro alvo pref­er­en­cial dos comu­nistas locais –, nem, prin­ci­pal­mente, os ali­a­dos.

Ninguém no chamado campo da esquerda “deu bola” para a can­di­datura de Dino à presidên­cia, pelo con­trário, o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, que ainda detém o sta­tus de maior força política de oposição, já disse tex­tual­mente que o próx­imo can­didato do par­tido será o sen­hor Had­dad, der­ro­tado no último pleito; o Par­tido Democrático Tra­bal­hista — PDT, com Ciro Gomes – que não saiu-​se mal na última dis­puta –, con­tinua no pro­jeto de viabilizar-​se como alter­na­tiva ao pro­jeto petista, mas levando os votos deste campo.

A Dino resta o minús­culo PCdoB… e só.

Mesmo as out­ras siglas “nan­i­cas” con­tin­uarão como “viú­vas” de Lula ten­dendo a seguir uma futura can­di­datura petista.

O boato sobre uma pos­sível ida do gov­er­nador para PDT não deve pas­sar de boato (provavel­mente espal­hado pelos ali­a­dos do gov­er­nador) pois par­tido algum abriria mão de uma can­di­datura já con­sol­i­dada para aventurar-​se numa nova sem qual­quer motivo aparente.

Mesmo a pere­gri­nação à Curitiba para adu­lação de Lula dev­erá sur­tir algum efeito para a can­di­datura pres­i­den­cial de sua excelência.

E, emb­ora o gov­er­nador venha a público dizer que “estava brin­cando” ao lançar-​se can­didato à presidên­cia da república qua­tro anos antes da dis­puta, qual­quer um que analise mel­hor o quadro sabe que não estava. Ele ten­tou – e con­tinua ten­tando com inves­ti­men­tos ele­va­dos na mídia, local, nacional e inter­na­cional –, vender-​se como a alter­na­tiva da esquerda brasileira para 2022, acon­tece que, até aqui, a estraté­gia não tem dado certo e ninguém o tem lev­ado a sério, obrigando-​o a recuar e dizer que a can­di­datura era a “viúva Porcina” – a que era sem nunca ter sido.

Não fosse o “chega pra lá” dos com­pan­heiros de luta, o gov­er­nador teria facil­i­tado, em muito, aquela que é a sua prin­ci­pal difi­cul­dade: acal­mar os ali­a­dos “doid­in­hos” para ocu­parem a cadeira que hoje ocupa.

A ideia perseguida por sua excelên­cia é con­seguir êxito onde Sar­ney fra­cas­sou (a velha obsessão), qual seja, unir todos do grupo – já que a oposição inex­iste –, em torno de sua can­di­datura à presidên­cia.

A mesma estraté­gia de Sar­ney com o pro­jeto pres­i­den­cial de Roseana antes do escân­dalo da Lúnus, quando pre­tendeu união de todos (até da oposição) em torno do mesmo.

Difer­ente de Sar­ney é que na atual quadra e, con­forme con­fes­sado, com uma can­di­datura “viúva Porcina” – vejam que iro­nia –, o gov­er­nador que gan­hou a eleição no primeiro turno; que “empol­gado” lançou uma can­di­datura à presidên­cia da República; com a futura eleição sucessória cam­in­hando para ser deci­dida entre os ali­a­dos de hoje – a menos que surja até 2022 algum “out­side”, que até agora não vis­lum­bramos –, não terá voz ativa na própria sucessão.

Ora, já temos duas can­di­dat­uras postas: do atual vice-​governador e do senador Wev­er­ton Rocha (PDT) – e difer­ente do que fez o gov­er­nador –, estes dois, não escon­dem de ninguém que “não abrem nem para um trem car­regado de giletes”, como se dizia out­rora. O vice-​governador dis­putará no cargo, com os dois leões tra­bal­hando por ele, mas o segundo já conta com uma forte artic­u­lação política, somando-​se a isso o fato de ter colo­cado “as mãos” na FAMEM, ter con­struído um pequeno império de comu­ni­cação e ter se cap­i­tal­izado (e ainda está se cap­i­tal­izando) para disputa.

Pois bem, enquanto, pelo menos, dois “ali­a­dos” estiverem tra­vando a “briga de foices” pelo gov­erno estad­ual, sua excelên­cia, já vestido de ex estará “cor­rendo” atrás de votos para eleger-​se senador. E não pensem sem que será fácil.

Emb­ora sua excelên­cia tente se vender – nas esferas nacional e inter­na­cional –, como um grande líder – o Col­lor das “esquer­das”, cri­ado arti­fi­cial­mente as pela mídia nacional e transna­cional –, o certo é que seu gov­erno tem sido pífio, con­seguindo o inimag­inável: pio­rar os indi­cadores soci­ais her­da­dos da oli­gar­quia Sar­ney, aumen­tando o número de mis­eráveis do estado; a econo­mia do estado cresce como rabo de cav­alo: para baixo; os servi­dores públi­cos já não sabem até quando terão seus salários pagos em dia; os aposen­ta­dos assis­tem, incré­du­los, a que­bradeira do seu fundo de aposen­ta­do­ria e, tam­bém, temem pelo amanhã; a infraestru­tura estad­ual pare­cendo uma piada com as estradas se “dis­sol­vendo” nas primeiras chu­vas, e tan­tas out­ras mazelas.

Sobre as obras que se dis­solvem com as chu­vas já há quem diga que estes empre­it­eiros – que dom­i­nam as obras estad­u­ais –, não podem par­tic­i­par de algum evento em que este­jam del­e­ga­dos sérios, sob pena de serem pre­sos em flagrante.

Mas não é só, optou, sua excelên­cia, por seguir as ori­en­tações de Maquiavel, preferindo ser temido a amado, talvez por isso, dia sim e no outro tam­bém, a pauta da mídia local seja sobre perseguições a jor­nal­is­tas, com infini­tos proces­sos; aos adver­sários, aos ali­a­dos e até mesmo out­ros expoentes cidadãos, como desem­bar­gadores – e seus famil­iares –, juízes, etcetera, com uma “polí­cia política” investigando-​os, con­forme se tem notí­cias desde o começo do gov­erno.

São escân­da­los sérios para os quais, até agora, o gov­erno estad­ual não apre­sen­tou respostas sat­is­fatórias, tanto assim, que o Tri­bunal de Justiça, depois de um longo e tene­broso inverno – fala-​se destas espi­ona­gens desde muito tempo –, resolveu cobrar inves­ti­gações por parte da Procu­rado­ria Geral de Justiça; do Con­selho Nacional de Justiça e ao próprio Supremo Tri­bunal Fed­eral.

Com tudo isso, não é estranho que pesquisa recente aponte os maran­henses como os mais desmo­ti­va­dos dos brasileiros.

Tô certo ou tô errado”?

Abdon Mar­inho é advo­gado.