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TEMPO DE CAJU, TEMPO DE CAJUEIRO.

Escrito por Abdon Mar­inho

TEMPO DE CAJU, TEMPO DE CAJUEIRO.

Por Abdon Marinho.

ALGUNS DIAS escrevi um texto inti­t­u­lado “A Cap­i­ta­nia do Maran­hão”. Nele mostrava que, desde sem­pre, os que pen­sam serem os “donos” do estado, têm um com­por­ta­mento para o público externo, onde posam de evoluí­dos, democ­ratas, defen­sores das liber­dades indi­vid­u­ais e dos dire­itos humanos, mas para o público interno, para aque­les que depen­dem dos seus gov­er­nos e de suas gestões, têm um com­por­ta­mento inverso.

Traçava a linha do tempo a par­tir do vitorin­ismo, que tinha em Vitorino Freire, segundo algu­mas pub­li­cações e os mais anti­gos, uma pes­soa de grande refino, mas que no Maran­hão tinha as práti­cas mais abom­ináveis; o sarneísmo com seu líder, o ex-​presidente Sar­ney, um int­elec­tual mem­bro da Acad­e­mia Brasileira de Letras, com obras pub­li­cadas por quase todo o mundo, que além das fron­teiras estad­u­ais, posa de o mais democ­rata dos homens, mas que teste­munhamos, tem sig­ni­fica­tiva respon­s­abil­i­dade no atraso em que vive­mos desde que chegou ao poder em 1965, dizendo-​se oposição ao régime de vio­lên­cia e opressão coman­dado por Vitorino Freire e, final­mente, o que se pre­tende o din­ismo, que gan­hou a eleição no “cansaço” ao sarneísmo, prom­e­tendo a rup­tura “defin­i­tiva” com o “antigo régime”, o com­pro­misso com a democ­ra­cia, o fim da opressão, a “procla­mação da república no Maran­hão”. Eleito, sai pelo Brasil “se vendendo” como o “novo” que der­ro­tou o último coro­nel do Nordeste brasileiro, o pal­adino da democ­ra­cia e todas as demais babo­seiras da autopromoção.

Ape­nas para ficar­mos nestes três exem­p­los, como dito, todos estes “líderes” fora das fron­teiras do estado pre­gavam e pregam uma coisa bem dis­tante da real­i­dade do nosso povo. Como se o próprio período de domínio ref­er­en­ci­ado com o próprio nome já não fosse prova sufi­ciente de atraso.

Algo bem assemel­hado ao dito pop­u­lar que ouvi­mos desde nos­sos avós: “por fora, bela viola; por den­tro, pão bolorento”.

O próprio Jesus, exem­plo maior de tol­erân­cia e inclusão, já ates­tava tal com­por­ta­mento e repreen­dia aos hipócritas que pro­fanavam o tem­plo, os que cul­ti­vavam o cos­tume de “um peso, duas medi­das” ou aquilo que mod­er­na­mente se chama de “duas caras”.

Quem não chegou a ler o texto ou nunca exper­i­men­tou na pele o sig­nifi­cado de um gov­erno opres­sor, pode ter uma vaga ideia do que isso seja assistindo aos vídeos ou lendo tex­tos da mídia inde­pen­dente sobre o trata­mento dis­pen­sado pelo gov­erno estad­ual a Comu­nidade do Cajueiro.

Ainda que se diga que o ato de demolição de diver­sas casas naquela comu­nidade deu-​se em cumpri­mento a uma decisão judi­cial legí­tima – por mais que ten­ham se exce­dido –, o ato de repressão a um protesto legí­timo real­izado pela tropa de choque da polí­cia estad­ual, coman­dada naquele ato pelo próprio secretário de segu­rança pública, altas horas da noite e sob as vis­tas do gov­er­nador do estado, foi algo do qual não temos lem­brança e de uma vio­lên­cia a causar revolta em todo e qual­quer cidadão de bem.

Alguém tem notí­cia da dis­per­são de uma man­i­fes­tação pací­fica, na madru­gada, com uso abu­sivo da força que não seja o poder estatal servindo aos ricos em detri­mento dos mais pobres?

A lem­brança mais pare­cida que tenho é a do Mas­sacre da Praça da Paz Celes­tial, de Pequim, ocor­rido em 1989, no século pas­sado, quando o gov­erno comu­nista da China reprimiu vio­len­ta­mente uma man­i­fes­tação pací­fica de jovens que pedia por democ­ra­cia.

É claro que é uma coin­cidên­cia o fato de ambas as repressões terem ocor­ri­dos sob gov­er­nos comu­nistas – sem con­tar que o fato ocor­rido na China foi infini­ta­mente mais grave –, ape­sar, de até hoje não ter­mos infor­mações seguras sobre a quan­ti­dade de víti­mas. Lá, naquela época, não tín­hamos uma imprensa livre acom­pan­hando o desen­ro­lar dos fatos. Aqui, infe­liz­mente, temos uma imprensa de tal sorte com­pro­metida com os des­man­dos, que só falta dizer que as víti­mas “bat­eram” na tropa de choque e lançaram as bom­bas de efeito moral sobre famílias, homens, mul­heres e cri­anças.

Espal­har men­ti­ras, desa­cred­i­tar pes­soas para jus­ti­ficar abu­sos per­pe­trado con­tra cidadãos na cal­ada da noite é uma vio­lên­cia adi­cional.

Segundo li, mesmo inte­grantes de enti­dades de defe­sas de dire­itos humanos e advo­ga­dos foram impe­di­dos de se aprox­i­mar dos man­i­fes­tantes pelos cordões de iso­la­mento enquanto ocor­ria a repressão injus­ti­fi­cada.

Não se pode protes­tar, mesmo que paci­fi­ca­mente, em frente o palá­cio do gov­erno, do gov­erno que prom­e­teu jus­ta­mente liber­dade? Tolhe-​se jus­ta­mente a liber­dade de protes­tar? Esta­mos na China na China? Esta­mos na Rússia?

Desde que cheguei à ilha de São Luís, em mea­dos dos anos oitenta, acom­panho a história de con­fli­tos na área do Cajueiro. Em 1998 o gov­erno estad­ual, influ­en­ci­ado pelos comu­nistas que inte­gravam o gov­erno Roseana Sar­ney e querendo fazer pros­elit­ismo político – ape­nas mais uma coin­cidên­cia –, anun­ciou com todas as pom­pas e cir­cun­stân­cias o fim do con­flito na região do Cajueiro e que estaria emitindo escrit­ura defin­i­tiva da área aos ocu­pantes.

Emb­ora tenha sido uma escrit­ura con­do­minial e com cláusula res­o­lu­tiva aque­les condômi­nos se tornaram pro­pri­etários daque­las ter­ras. Tanto assim que em 2014, no último dia útil do ano e do gov­erno, foi edi­tado um decreto para desapro­pri­ação da área – sem con­duto cumprir a obri­gação con­sti­tu­cional da prévia e justa ind­eniza­ção em din­heiro –. declarando-​a de util­i­dade pública em favor da WPR Gestão de Por­tos e Ter­mi­nais Ltda.

A situ­ação pare­ceu de tamanha gravi­dade que o gov­er­nador Flávio Dino, nos primeiros dias do seu mandato revo­gava o decreto nº. 30.610÷2014, tornando-​o sem efeito, con­forme infor­mou e explorou cansativa­mente na imprensa, nota da Sec­re­taria de Estado de Comu­ni­cação do dia 12 de janeiro de 2015.

A par­tir da revo­gação do decreto de desapro­pri­ação a área, ao meu sen­tir, retornou àque­les pro­pri­etários recon­heci­dos por escrit­ura do gov­erno estadual,

Descon­heço como, neste ínterim, a WPR Gestão de Por­tos e Ter­mi­nais Ltda, “virou” pro­pri­etária das ter­ras e como o gov­erno estad­ual, que no iní­cio mostrou-​se, suposta­mente, pre­ocu­pado com os con­fli­tos na área pas­sou a omitir-​se na solução da solução do mesmo. Pior, vindo com a falsa des­culpa que a ele, gov­erno, caberia tão somente o cumpri­mento das decisões judiciais.

Ora, qual­quer um no Maran­hão está cansado de saber o gov­erno estad­ual, desde que assum­ido pelos atu­ais donatários, se recusa ou reluta a não mais poder em cumprir ordens judi­ci­ais de rein­te­grações de posse. Soube até que denún­cias con­tra esse com­por­ta­mento já foram feitas diver­sas vezes em vários organ­is­mos.

Eu próprio, con­forme con­tei noutra opor­tu­nidade, falei, certa vez, com um mag­istrado pedindo-​lhe que deter­mi­nasse uma rein­te­gração posse cristalina e den­tro de todos os parâmet­ros legais e ele com muita sin­ceri­dade me disse: — doutor, eu recon­heço que o sen­hor tem razão. Mas não vou deter­mi­nar a rein­te­gração porque o gov­erno estad­ual não as estão cumprindo e eu não vou emi­tir uma ordem para ficar no vazio.

No caso do Cajueiro alega jus­ta­mente o oposto. Mas, sin­ce­ra­mente gostaria de saber, como pro­pri­etários, recon­heci­dos pelo estado, desde 1998, vinte anos depois, viraram inva­sores.

Até o dia 30 de dezem­bro de 2014 eram os legí­ti­mos pro­pri­etários, inclu­sive, com escrit­ura, e depois viraram inva­sores com a Justiça e o gov­erno estad­ual dando guar­ida aos inter­esses da empresa, que suposta­mente teria adquirido a área em transação neb­u­losa, de pes­soas que não eram os legí­ti­mos pro­pri­etários recon­heci­dos pelo Estado do Maran­hão, que lhes con­cedeu a escrit­ura defin­i­tiva da área.

O gov­erno desapro­priou a área? Ind­eni­zou os pro­pri­etários? Os pro­pri­etários venderam a área a empresa? Não! Nada disso, mas para o gov­erno quem tem razão é a empresa.

Em novem­bro de 2018, a con­vite de um colega advo­gado que defende o dire­ito de pro­priedade de um cidadão que adquiriu uma gleba de ter­ras ainda nos anos oitenta e que figura na escrit­ura do con­domínio, fui a comu­nidade do Cajueiro. Uma equipe de tele­visão estava a cam­inho jus­ta­mente para falar com este cidadão que a despeito de ser pro­pri­etário da terra teve a mesma “esbul­hada” pela empresa que destruiu a humilde casa e todas as árvores da mesma.

Esse episó­dio de 2018 con­trasta com a infor­mação dis­sem­i­nada pelo gov­erno de que as pes­soas que estão sendo desa­lo­jadas são inva­sores que chegaram a área a par­tir de 2016.

Quando cheguei no acesso à comu­nidade a primeira coisa que me sur­preen­deu foi que o dire­ito de “ir e vir” da pop­u­lação estava sendo restringido pela empresa que mon­tou can­ce­las impedindo a livre cir­cu­lação de pes­soas. Achei vex­atório e ver­gonhoso.

A segunda impressão foi da beleza do lugar, da vista para mar, do arvoredo into­cado na área não des­matada, com diver­sas fruteiras.

Na con­versa com aque­les moradores – e com a imprensa que me entre­vis­tou –, o que disse que não have­ria como bar­rar a con­strução de Porto, sobre­tudo, quando o mesmo é de inter­esse do estado, entre­tanto, o que não se podia con­sen­tir era que aque­las pes­soas, muitas delas morando na área há quase cem anos, pro­pri­etários do imóveis, fos­sem expul­sos sem uma justa e prévia ind­eniza­ção, diante de um pro­jeto tão grande.

O gov­erno estad­ual deve expli­cações à sociedade sobre o que vem ocor­rendo na comu­nidade do Cajueiro, não sendo aceitável que de forma desumana, com ind­eniza­ções pífias ou com “uma mão na frente e outra atrás” os coloque em uma diás­pora.

Os abu­sos cometi­dos pre­cisam ser denun­ci­a­dos nos fóruns nacionais e inter­na­cionais.

Por onde passo vejo os pés de cajueiros car­rega­dos de cajus. É tempo de caju, é tempo de Cajueiro.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

APE­SAR DE … O MARAN­HÃO NA ROTA DO DESENVOLVIMENTO.

Escrito por Abdon Mar­inho

APESAR DE … O MARAN­HÃO NA ROTA DO DESENVOLVIMENTO.

Por Abdon Marinho.

EMB­ORA com menos destaque do que o esper­ado, a noti­cia mais impor­tante para o Maran­hão nos últi­mos tem­pos foi a assi­natura da con­cessão de mais um tre­cho da Fer­rovia Norte-​Sul.

A despeito da inér­cia das autori­dades locais – e por vezes até a tor­cida con­trária –, que pouco ou nada fazem, o Maran­hão, parece-​me, “con­de­nado” ao desen­volvi­mento e São Luís, sua cap­i­tal, mais ainda.

A Fer­rovia Norte-​Sul foi pro­je­tada para ser a espinha dor­sal do sis­tema fer­roviário nacional, interli­gando as prin­ci­pais mal­has fer­roviárias das cinco regiões do Brasil.

Essa é uma infor­mação você encon­tra em qual­quer livro de geografia básica.

O tre­cho agora con­ce­dido, quando con­cluído, será sufi­ciente para interli­gar os por­tos de San­tos ao de São Luís (Itaqui) e abrir o Maran­hão para o mundo – e um mundo de pos­si­bil­i­dades.

Quando toda a fer­rovia estiver pronta, com seus mais de 4 mil quilômet­ros o país inteiro, como coste­las, poderá se interli­gar a essa imensa espinha dor­sal trans­portando riquezas pelos por­tos do Norte, Nordeste, Sud­este e Sul do Brasil.

Em artigo pub­li­cado recen­te­mente inti­t­u­lado “A Ilha Cobiçada”, o juiz fed­eral Roberto Veloso, além de traçar uma linha histórica da ilha, desde a fun­dação da França Equinocial por sua priv­i­le­giada prox­im­i­dade a linha do equador, traz-​nos dados inter­es­santes sobre as poten­cial­i­dades da Ilha e do estado que “casam” per­feita­mente com o que esta­mos dizendo aqui.

A prin­ci­pal delas é a neces­si­dade de ampli­ação do Porto do Itaqui que, segundo o arti­c­ulista, pos­sui, ape­nas, cerca de dez por cento da capaci­dade do Porto de San­tos, daí o “con­ges­tion­a­mento” de navios para atracar que assis­ti­mos diariamente.

Ora, só a pro­dução de grãos deste ano alcançou o recorde de mais 240 bil­hões de toneladas em 15 cul­turas difer­entes. Essa pro­dução é trans­portada a altos cus­tos e com per­das sig­ni­fica­ti­vas por rodovias longe de ideais. Esse trans­porte a par­tir da interli­gação das mal­has fer­roviárias poderá, futu­ra­mente, ser feito com menos per­das e barate­ando o custo em relação ao mer­cado inter­na­cional, trazendo mais div­i­den­dos ao país.

Outra coisa que Veloso chama atenção no texto são os bene­fí­cios econômi­cos advin­dos da explo­ração com­er­cial do Cen­tro de Lança­mento de Alcân­tara para toda a região no entorno da ilha – e ouso acres­cen­tar, para todo o estado.

O desen­volvi­mento econômico é bené­fico para todos. E uma coisa já passa da hora de apren­der­mos: não existe desen­volvi­mento social sem que haja desen­volvi­mento econômico.

A ideia de que a humanidade pode alcançar a feli­ci­dade par­til­hando mis­éria já provou infini­tas vezes que não funciona.

Essa com­preen­são foi tor­nada pública por um dos líderes do comu­nismo chinês, Deng Xiaop­ing, há mais de quarenta anos, quando implan­tou as refor­mas econômi­cas na China.

Outro que tam­bém abor­dou a questão das poten­cial­i­dades do Maran­hão – e com inco­mum con­hec­i­mento de causa –, foi o ex-​governador e ex-​ministro José Reinaldo Tavares, em artigo pub­li­cado no Jor­nal Pequeno, edição de 9 de julho de 2019, inti­t­u­lado “A Vale e o Maran­hão”.

No artigo, Tavares aborda, desde os estu­dos que fiz­eram com que a Vale do Rio Doce optasse por fazer o trans­porte do minério de ferro das Ser­ras dos Cara­jás pela Baía de São Mar­cos, o que pos­si­bil­i­tou a empresa se tornar o que é hoje à neces­si­dade de con­tra­partidas ao Maran­hão por parte da empresa, agora, por ocasião da ren­o­vação das con­cessões.

O ex-​governador chama a atenção para o fato da Vale querer ante­ci­par a ren­o­vação de suas con­cessões de suas fer­rovias porque se vencer o prazo terá que par­tic­i­par de novos leilões onde tudo pode acon­te­cer, até perder as con­cessões.

Por força deste inter­esse a empresa tem feito acor­dos com os esta­dos onde atua. Com o Pará, den­tre out­ras coisas, se com­pro­m­e­teu a fazer uma siderur­gia; com Minas Gerais a con­tin­uar investindo forte­mente no estado; com o Espírito Santo, a con­struir uma fer­rovia ao custo de mais de um bil­hão de reais lig­ando o estado ao Rio de Janeiro; e com o gov­erno fed­eral a con­strução da Fer­rovia de Inte­gração do Cen­tro Oeste — FICO, interligando-​a à Fer­rovia Norte-​Sul para o trans­porte da pro­dução daque­les esta­dos. O custo da fer­rovia de 380 km é de 2,4 bil­hões de reais.

O ex-​governador alerta para o muito que a Vale “deve” ao Maran­hão e para a neces­si­dade das autori­dades locais, das forças políti­cas, cobrarem da empresa trata­mento semel­hante ao que vem dando aos demais esta­dos, con­forme abor­dado ante­ri­or­mente.

Vai além, diz que duas coisas, ini­cial­mente, se impõem: 1) que a Vale man­tenha o porto de minério a ser expor­tado na Baía de São Mar­cos, con­forme foi deci­dido, tec­ni­ca­mente, quando da implan­tação do Pro­jeto Cara­jás; 2) a con­strução de uma fer­rovia lig­ando Bal­sas – e a região con­hecida por Matopiba –, a Estre­ito, interli­gando à Fer­rovia Norte-​Sul, obra fun­da­men­tal para o escoa­mento da pro­dução daquela região.

Estou certo que o desen­volvi­mento para o Maran­hão virá. O quanto de desen­volvi­mento e o tempo depen­derá da capaci­dade de artic­u­lação e dis­cern­i­mento das autori­dades.

Falta ao gov­erno do estado um corpo téc­nico com­posto por pes­soas com o nível de con­hec­i­mento e visão de futuro do ex-​governador José Reinaldo Tavares, com autori­dade e con­hec­i­mento para “peitar” autori­dades e empre­sas nego­ciando as mel­hores condições para o estado do Maran­hão.

Essa visão que o fez pro­je­tar e ini­ciar um ambi­cioso pro­jeto de malha viária para o estado que os gov­er­nos pos­te­ri­ores – inclu­sive o atual – não tiveram a capaci­dade de dar con­tinuidade.

Até aqui, com toda esta dis­cussão gan­hando corpo, não temos visto o empenho (ou a com­preen­são) das autori­dades para o que está em jogo: o futuro de pro­gresso e mil­hares de empre­gos já na implan­tação dos pro­je­tos.

Parece-​me que tanto as autori­dades estad­u­ais, quanto as munic­i­pais, não se deram conta da grandiosi­dade dos pro­je­tos que estão em curso.

Não vemos na Assem­bleia Leg­isla­tiva ou Câmara Munic­i­pal – e mesmo no gov­erno ou prefeitura da cap­i­tal –, ninguém dis­cutindo tais assun­tos. É como se não soubessem o que se passa.

Não temos notí­cias, por exem­plo, se a reforma do Plano Dire­tor de São Luís e dos demais municí­pios da ilha con­tem­plam essas pos­si­bil­i­dades futuras.

O próprio gov­er­nador, que dev­e­ria ser o primeiro a olhar os inter­esses do estado, parece não con­seguir enx­er­gar além dos próprios son­hos de “virar” pres­i­dente da República nas próx­i­mas eleições, tendo ante­ci­pado a cam­panha eleitoral em qua­tro anos, pas­sando a maior parte do tempo ocupando-​se do seu “pro­jeto” em detri­mento dos pro­je­tos para o Maran­hão, em um momento ímpar de oportunidades.

Isso quando não ocupa as redes soci­ais e out­ras mídias, dia sim e no outro tam­bém, para fusti­gar o gov­erno fed­eral e o pres­i­dente da República. Parece birra de menino mimado.

Ora, se você é gov­er­nador de um estado, pre­cisa, antes das paixões e pro­je­tos pes­soais, focar nos inter­esses do povo que admin­is­tra e que depende de suas ini­cia­ti­vas.

Agora mesmo, o gov­er­nador de São Paulo esteve na China de lá trazendo inves­ti­men­tos para o seu estado, inclu­sive uma fábrica da gigante de tec­nolo­gia Huawei, já tendo feito diver­sos out­ros acor­dos com out­ros países e/​ou empre­sas.

O mesmo acon­te­cendo com os demais esta­dos com os gov­er­nadores bus­cando inves­ti­men­tos e/​ou recur­sos junto a out­ros países ou junto ao gov­erno fed­eral ou ainda ten­tando influ­en­ciar nas dis­cussões do Con­gresso Nacional na solução dos graves prob­le­mas finan­ceiros que atrav­es­sam seus esta­dos.

O Maran­hão parece ser o único que não pre­cisa de nada disso, razão pela qual o gov­er­nador ache razoável ante­ci­par a cam­panha pres­i­den­cial em qua­tro anos e sair “Brasil afora” em cam­panha e fazendo pros­elit­ismos con­tra o gov­erno fed­eral, arran­jando quizila por tudo que se diga.

Aliás, surpreendeu-​me outro dia, quando li que sua excelên­cia declarara que “até agora” o gov­erno fed­eral não ado­tara nen­huma retal­i­ação ao Maran­hão. Já é uma boa notí­cia, mais uma des­on­esti­dade.

Fosse uma colo­cação hon­esta, o gov­er­nador teria admi­tido que o atual gov­erno já tomou, em sete meses de mandato, mais medi­das favoráveis ao Estado do Maran­hão que os gov­er­nos dos seus ali­a­dos em 13 anos de poder. Os exem­p­los são os referi­dos acima dos quais se desta­cam a fer­rovia e a explo­ração com­er­cial do Cen­tro de Lança­mento de Alcân­tara.

Como dito ante­ri­or­mente, o Maran­hão está na rota do desen­volvi­mento, ape­sar do desin­ter­esse ou falta de con­hec­i­mento das autori­dades locais.

Aposte no Maranhão!

Abdon Mar­inho é advo­gado.

A CAP­I­TA­NIA DO MARANHÃO.

Escrito por Abdon Mar­inho

A CAP­I­TA­NIA DO MARANHÃO.

Por Abdon Marinho.

AVANÇADO século XXI a impressão que sobra é que o Maran­hão per­manece a mesma cap­i­ta­nia dos primeiros anos de sua existên­cia, com o estado à dis­posição – e para servir –, seus suser­a­nos.

O que digo não é nen­huma novi­dade. Até onde a lem­brança alcança, foi assim com Vitorino Freire; foi assim com Sar­ney.

O Suser­ano da vez é o comu­nista Flávio Dino, que quando assumiu, da sacada do Palá­cio dos Leões, prometeu-​nos a procla­mação da república – evento que, segundo ele, ainda não chegara ao Maran­hão, a despeito de ter ocor­rido para o resto do pais em 1889.

Já no quinto ano da promessa solene, o que con­sta­mos é que o Maran­hão é a mesma cap­i­ta­nia de sem­pre; um brin­quedo a serviço dos inter­esses dos gov­er­nantes – tal como o foi com Vitorino e com Sar­ney, ape­nas para ficar nos ante­ces­sores recentes de quem herda até o “ismo”, vitorin­ismo, sarneísmo, din­ismo.

Uma antiga car­i­catura, de um inspi­rado char­gista, quando da vitória de Roseana, em 1994, retratava o seu pai, ex-​presidente Sar­ney, entregando-​lhe o estado do Maran­hão (o desenho de um mapa) dizendo: –– toma filha, este é o seu brin­quedo.

Os cidadãos do Maran­hão sem­pre tive­mos como crítica aos gov­er­nos ante­ri­ores a uti­liza­ção do estado em bene­fí­cio de um grupo, tanto no campo político quanto no econômico.

O que a faz o atual donatário? Usa o estado, inclu­sive seus recur­sos em defesa de um pro­jeto pes­soal: o sonho de repe­tir Sar­ney e virar pres­i­dente da República – essa é a meta.

O roteiro é o mesmo de Vitorino Freire – apri­morado por Sar­ney e, agora, ampli­fi­cado e lev­ado ao exagero pelo sen­hor Dino –, para o público externo o verniz de democ­rata e defen­sor das liber­dades indi­vid­u­ais enquanto para o público interno a real­i­dade é bem outra.

Os exem­p­los do que falo estão aí, à vista de todos, falam por si.

Há alguns dias sua excelên­cia e o seu estafe – não ape­nas os inte­grantes do primeiro escalão, mas tam­bém os xerim­ba­bos do entorno –, vestiram-​se de defen­sores da liber­dade de imprensa na questão envol­vendo as pub­li­cações de con­ver­sas de autori­dades obti­das de forma crim­i­nosa, através de hack­ers, feitas pelo site The Inter­cept, sob a respon­s­abil­i­dade do jor­nal­ista norte-​americano Glenn Greenwald.

Achei curioso aquele povaréu todo nas redes soci­ais, nos pro­nun­ci­a­men­tos, defend­endo a liber­dade de imprensa, de expressão, o respeito à Con­sti­tu­ição.

Lem­bre que certa vez o ex-​presidente Lula “se zan­gou” e quase expulsa do país um jor­nal­ista, tam­bém, norte-​americano, Larry Rohter, então cor­re­spon­dente do New York Times, tudo porque este escrevera um artigo dizendo que o pres­i­dente bebia demais.

Por mais que puxe pela memória não con­sigo me recor­dar de nen­hum destes que hoje bradam pela liber­dade de imprensa, pelo o respeito à Con­sti­tu­ição, ter se lev­an­tado con­tra o autori­tarismo daquele gov­erno em favor do jor­nal­ista.

Ficaram mudos e muitos até defend­eram que o Brasil expul­sasse o jor­nal­ista. Não enx­er­garam qual­quer abuso nem mesmo diante das con­stantes ameaças de con­t­role social da mídia e do Con­selho Nacional de Comu­ni­cação.

Em relação ao episó­dio envol­vendo o jor­nal­ista Larry Rohter as ameaças de expul­são e proces­sos se deram por “suposto crime de opinião”. Nada mais que isso! Situ­ação bem diversa à do jor­nal­ista Glenn Green­wald, sob o qual pesa fun­dadas sus­peita de que possa ter algum envolvi­mento com o “hack­ea­mento” dos celu­lares e out­ros meios de comu­ni­cação de mil­hares de autori­dades brasileiras. Sem con­tar, ainda, a gravís­sima sus­peita de que teria “com­prado” o mandato do marido em troca deste tipo de tra­balho.

Mas isso é assunto para a Polí­cia Fed­eral, que cer­ta­mente dará as respostas necessárias.

Pois bem, é provável que digam que os fatos envol­vendo o jor­nal­ista Larry Rohter e o silên­cio obse­quioso dos agora defen­sores da liber­dade de imprensa e da Con­sti­tu­ição, estão “des­b­o­ta­dos” pelo tempo, mas o que dizer do que vem acon­te­cendo com a repressão à imprensa no nosso estado?

Nunca na história do Maran­hão se proces­sou tanto e tan­tos jor­nal­is­tas quanto desde a insta­lação do atual gov­erno em 2015. Os proces­sa­dos são muitos, as ações se con­tam às cen­te­nas.

Outro dia per­gun­tei a um jornalista/​blogueiro quan­tos proces­sos ele respon­dia ori­un­dos do atual gov­erno e ele respon­deu: — Abdon, somando todas, pas­sam de trinta proces­sos.

Não me recordo de ter lido da parte daquele jor­nal­ista nada que trans­borde do jor­nal­ismo inves­tiga­tivo ou da denún­cia moti­vada pelo inter­esse público.

E mesmo que tivesse alguma incor­reção fac­tual, o gov­erno – e os gov­ernistas –, pode­ria se valer do dire­ito de resposta garan­tido em lei.

Não querem isso. Não têm inter­esse em repor a ver­dade ou dar sua ver­são dos fatos.

O que, ver­dadeira­mente, inter­essa é asfix­iar finan­ceira­mente os jor­nal­is­tas, é obrigá-​los a gas­tar com advo­ga­dos e a perder tempo em audiên­cias.

Con­seguiram! O Maran­hão não tem mais uma imprensa vibrante, cora­josa, sem medo de gov­er­nos ou gov­er­nantes. Hoje, rara­mente, se encon­tra em algum jor­nal ou blogue, qual­quer crítica con­trária ao gov­erno local. Cri­aram o para­doxal jor­nal­ismo “à favor”.

Meu pai dizia que no Maran­hão “o que din­heiro ou ‘taca” não resolvesse era porque tinha sido pouca”.

Talvez seja assim que este­jam aniqui­lando a imprensa do Maran­hão.

Não temos notí­cia de qual­quer man­i­fes­tação de sol­i­dariedade, de apoio ou de defesa das liber­dades de imprensa, de expressão ou da Con­sti­tu­ição, da parte de ninguém.

Neste que­sito o atual gov­erno já chegou muito além do que imag­i­naram Sar­ney e Vitorino Freire.

Por um lado, com a força das ameaças, dos proces­sos e/​ou do din­heiro calam a crítica local, por outro, com muito din­heiro, tenta se con­struir fal­sos líderes nacionais.

Outro dia li, em algum veículo de comu­ni­cação que só uma empresa – que suposta­mente cuida da imagem de sua excelên­cia –, já rece­beu dos cofres públi­cos este ano perto de R$ 3 mil­hões de reais – e ainda esta­mos na metade do ano.

O tra­balho é uma nota aqui, uma entre­vista ali, uma capa de revista acolá – a cri­ação de um sen­ti­mento favorável à figura de um gov­er­nante que não apre­senta nada de novo em ter­mos de gestão pública.

Ape­nas para se ter uma ideia do absurdo, o orça­mento de um dos esta­dos mais pobres do país com comu­ni­cação é quase a metade do orça­mento do gov­erno fed­eral – para o mesmo setor –, para divul­gar seus feitos do (e no) Brasil inteiro.

A uti­liza­ção do estado em bene­fí­cio de pro­je­tos pes­soais não fica restrita ape­nas a isso, alcança diver­sas out­ras coisas, até mesmo, as mais bizarras e infan­tis.

Agora mesmo, tomamos con­hec­i­mento que o gov­er­nador “decre­tou” a admis­são na Ordem Tim­bi­ras, no grau de Grã-​Cruz, o sen­hor Felipe de Santa Cruz Oliveira Scalet­sky, Pres­i­dente do Con­selho Fed­eral da Ordem dos Advo­ga­dos do Brasil.

Emb­ora não tenha encon­trado em nen­hum sítio ofi­cial o inteiro teor da Lei Del­e­gada nº. 160, de 1984, bem como, o Decreto nº. 10.346, de 1987, sabe-​se que a admis­são na Ordem Tim­bi­ras é a prin­ci­pal dis­tinção do estado, con­ferida “a per­son­al­i­dades que se dis­tin­guiram por rel­e­vantes serviços presta­dos ao Estado do Maran­hão, con­cor­rendo para o bem-​estar social e grandeza mate­r­ial e espir­i­tual do seu povo”.

Não sou eu que estou dizendo, isso con­sta da jus­ti­fica­tiva do decreto.

O que per­gunto é: alguém sabe de algo de rel­e­vante que o sen­hor Santa Cruz tenha feito ao Estado do Maran­hão a jus­ti­ficar a con­cessão da maior hon­raria do estado? Eu, sin­ce­ra­mente, não lembro.

O que se sabe é que o sen­hor Santa Cruz é con­tes­tado pelos próprios inte­grantes da classe dos advo­ga­dos por utilizar-​se do cargo em bene­fí­cio de suas próprias con­vicções políti­cas e partidárias.

O que se sabe é que ele, na defesa de suas con­vicções, não reluta em ofender seus próprios rep­re­sen­ta­dos, como o fez em data recente ao referir-​se a uma advo­gada como “puta” – sem desmere­cer o respeito que se deve ter a estas profis­sion­ais do sexo –, no claro propósito de ofender uma colega que lhe con­fron­tou.

Este é o cidadão que o gov­er­nador enten­deu que merece rece­ber, com pom­pas e cir­custân­cia – provavel­mente em uma solenidade custeada pelos cofres públi­cos –, a maior hon­raria do estado.

A menos que me mostrem algo de rel­e­vante que o sen­hor Santa Cruz tenha feito a jus­ti­ficar o rece­bi­mento tal hon­raria, entendo que o gov­er­nador a con­fere ape­nas para provar que pode uti­lizar o estado para sat­is­fazer seus capri­chos, suas bir­ras con­tra o pres­i­dente da República, ainda que para isso tenha que ofender todas as mul­heres e advo­gadas que se sen­ti­ram afe­tadas pelos destem­peros ver­bais do pres­i­dente da OAB.

Aí volta­mos à velha ale­go­ria de Roseana recebendo o Maran­hão como brin­quedo do pai. Agora é o sen­hor Dino – aquele que prom­e­teu as luzes do pro­gresso quando assumiu –,

que, como um menino bir­rento, está “brin­cando” com o estado.

Não deve ser sem razão que no mesmo dia em sua excelên­cia reabil­i­tou que o ex-​presidente Sar­ney como guardião da Con­sti­tu­ição do Brasil decre­tou a hom­e­nagem a Santa Cruz.

Abdon Mar­inho é advo­gado.