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SOBRE DITADURAS, HOM­E­NA­GENS E MEMÓRIA.

Escrito por Abdon Mar­inho

SOBRE DITADURAS, HOM­E­NA­GENS E MEMÓRIA.

Por Abdon Mar­inho.

COMO tín­hamos anun­ci­ado aqui, os dep­uta­dos estat­u­ais do Maran­hão erguerem seus livrin­hos ver­mel­hos e elegerem, por una­n­im­i­dade — como con­vém a todos os mod­e­los autoritários – , a sua mesa dire­tora para coman­dar a Casa até fevereiro de 2023, algo inédito pela ante­ci­pação (não faze­mos ideia de quem serão os campeões do Brasileirão de 19, 20, 21 ou 22, ou se o Sam­paio vai superar a má fase e gan­har alguma com­petição nacional, aliás, sequer sabe­mos se estare­mos vivos, mas já sabe­mos e teste­munhare­mos – se estiver­mos vivos e eles tam­bém –, quem estará no comando legislativo).

Um dia após atentarem con­tra os princí­pios comez­in­hos do que seja democ­ra­cia — e con­tando com o silên­cio cúm­plice de insti­tu­ições como o Min­istério Público Estad­ual e a Ordem dos Advo­ga­dos do Brasil, secção do Maran­hão, além da imprensa e demais enti­dades da sociedade civil –, os dep­uta­dos de “De Volta para o Futuro”, aprovaram um pro­jeto de lei proibindo qual­quer hom­e­nagem a ditadura.

Nada con­tra o pro­jeto de lei, de ini­cia­tiva de um dep­utado do Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB, aprovado por um par­la­mento que no dia ante­rior demon­strara todo apreço a democ­ra­cia e que, cer­ta­mente, será san­cionado pelo gov­er­nador tam­bém fil­i­ado ao PCdoB e virar lei.

O autor da ini­cia­tiva pro­pa­gan­deia nas redes soci­ais que o “pro­jeto é uma medida que vai além do respeito aos dire­itos fun­da­men­tais. É tam­bém uma forma de respeito à minha con­sciên­cia e biografia. Sou advo­gado, con­sti­tu­cional­ista e diari­a­mente luto con­tra a cor­rupção e para que a lei seja cumprida. Durante a ditadura, cri­anças foram sequestradas, vio­len­tadas e tor­tu­radas. Aos autores, nossa única hom­e­nagem deve ser o desprezo.”

Como disse ante­ri­or­mente nada tenho con­tra uma lei que proíba hom­e­nagem a dita­dores, tor­tu­radores e out­ros lixos humanos que inun­dam a história, entre­tanto, con­siderando, sobre­tudo, a jus­ti­fica­tiva apre­sen­tada, entendo opor­tuno algu­mas observações.

O pro­jeto de lei foi apre­sen­tado por um dep­utado comu­nista, aprovado na assem­bleia leg­isla­tiva pre­si­dida por um dep­utado comu­nista e, cer­ta­mente, será san­cionado pelo gov­er­nador comu­nista do estado.

Os três, como sabe­mos, são inte­grantes do Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB.

— E o que tem isso Abdon?

Tem o seguinte, batat­inha: como é de con­hec­i­mento público, o PCdoB, que alega quase 100 anos de existên­cia, é o par­tido brasileiro que mais esteve do “lado errado” da história. Nestes quase cem anos apoiou – e apoia, e defendeu, e defende –, as ditaduras mais san­guinárias da história da humanidade.

Eis alguns exem­p­los: Maoísmo, na China com 60 mil­hões de mor­tos; Stal­in­ismo, na antiga União Soviética, com 20 mil­hões de mor­tos; Cam­boja, com 2 mil­hões de mor­tos; Cor­eia do Norte, com 2 mil­hões de mor­tos; Afe­gan­istão, com 1,5 mil­hão de mor­tos; Vietnã, com 1 mil­hão de mor­tos; Europa Ori­en­tal, com 1 mil­hão de mor­tos; América Latina 150 mil mortos.

O PCdoB defendeu e apoiou todos estes regimes total­itários, que mas­sacraram mil­hões de seres humanos por dis­cor­darem deles e por não quer­erem viver sob a escravidão imposta.

O PCdoB até hoje não fez uma autocrítica con­sis­tente e pública aos seus posi­ciona­men­tos em relação às bar­bari­dades cometi­das por seus “ídolos”.

E não me digam que estes são fatos de um pas­sado dis­tante. Não o são. Ainda hoje o par­tido defende aque­las práti­cas e os regimes autoritários da Cor­eia do Norte, do Cam­boja, de Cuba e o que restou de mod­e­los que descam­baram para ditaduras, como é o caso da Venezuela.

São países onde imperam graves vio­lações aos dire­itos humanos fun­da­men­tais. Basta dizer que na Cor­eia do Norte, por exem­plo, as penas pas­sam da pes­soa que come­teu um suposto delito. Um cidadão falou mal do “grande líder”, disse que estava com fome, a família inteira é dester­rada para um “campo de reed­u­cação com tra­bal­hos força­dos” onde ficarão pelo resto de suas vidas mis­eráveis.

Pois é, esse régime, não faz muito tempo, gan­hou uma nota ofi­cial de sol­i­dariedade do par­tido. Acho que o único par­tido brasileiro a come­ter tamanho desatino.

Exem­p­los mais próx­i­mos de tira­nias apoiadas pelo Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB, são a Venezuela, onde o chav­ismo já matou mil­hares de pes­soas, seja pela fome, seja pela falta de medica­men­tos, seja pela vio­lên­cia e, que, segundo a ONU, já forçou ao exílio de mais de 3 mil­hões de cidadãos; e Cuba que sob o jugo dos irmãos Cas­tro é respon­sável pela elim­i­nação de mais de 80 mil cubanos, sem con­tar com a cru­el­dade da repressão que sofrem há sessenta anos.

Diante de tudo isso, quando vejo alguém do PCdoB falando em dire­itos humanos, garan­tias fun­da­men­tais, me socor­rem duas ideias: a primeira, que a pes­soa que fala isso está “tirando sarro” da minha cara ou me insul­tando; a segunda, que a pes­soa se “intrigou” com os livros de história no jardim de infân­cia e nunca mais quis saber do assunto.

A longa noite de vinte um anos, que foi a ditadura brasileira, segundo as mais abal­izadas fontes, não elim­i­nou 400 pes­soas – e repu­di­amos todos esses crimes –, assim como os casos de tor­turas e demais vio­lações de dire­itos humanos.

Os cidadãos de bem, os famil­iares ou mesmo as víti­mas, têm todo o dire­ito de repu­diar, de negar perdão aos atos prat­i­ca­dos.

Já os inte­grantes do Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB, por mais que ensaiem, não pos­suem qual­quer legit­im­i­dade para dizer nada sobre dita­dores, tor­turas, perec­i­mento de cidadãos, pois ao longo da sua história apoiou – e ainda apoia –, as ditaduras mais ordinárias que já exi­s­ti­ram – e ainda exis­tem –, na face da terra.

Por baixo, car­regam nos ombros cerca 100 mil­hões de mor­tos.

Mas não é só, desde os anos cinquenta do século pas­sado que todos sabem dos crimes cometi­dos pelas ditaduras apoiadas pelo par­tido, que, ape­sar disso, nunca fez uma autocrítica, pelo con­trário, con­tin­uou apoiando e defend­endo as mes­mas.

Essa prática con­serva até hoje, seja por defender os crimes acima referi­dos, seja por defender os crimes ainda em curso na Cor­eia do Norte, no Cam­boja, na China, em Cuba, e mesmo na Venezuela.

Aliás, ape­nas para fins históri­cos, emb­ora alegue ter nascido em 1922, o PCdoB, só “nasceu”, efe­ti­va­mente, a par­tir de uma dis­sidên­cia do Par­tido Comu­nista Brasileiro – PCB, quando este ado­tou a linha revi­sion­ista de Nikita Khrush­chov, que denun­ciou os crimes cometi­dos por Stálin. Os então dis­si­dentes, reivin­dicaram para si o “legado” crim­i­noso do stal­in­ismo, pos­te­ri­or­mente, a par­tir dos anos 60, pas­saram a ado­tar a linha maoísta e depois a chamada linha albanesa, tam­bém con­hecida por Hox­haísmo, uma refer­ên­cia a Enver Hoxha que dirigiu por qua­tro décadas aquele pequeno país com mão de ferro perseguindo dis­si­dentes, reli­giosos, e até aque­les que usassem barba – uma forma de repressão aos muçul­manos.

Con­heci os comu­nistas maran­henses do PCdoB, lá pelos idos de 198586 (alguns deles ainda usavam o bigod­inho em hom­e­nagem ao cama­rada Stálin), quando a Albâ­nia, o país mais iso­lado da Europa e vivendo sobre uma bru­tal ditadura era o farol e mod­elo do que que­riam para o Maran­hão e para o Brasil.

Emb­ora lou­vável o pro­jeto de lei (e cer­ta­mente virará lei) que, de alguma forma, repu­dia a ditadura brasileira, soa, no mín­imo, irônico que tal proposi­tura, com aprovação e sanção em nome da “memória histórica” parta jus­ta­mente de inte­grantes de um par­tido que tudo que fez ao longo de sua existên­cia foi apoiar ditaduras que cole­cionava (e cole­ciona) cadáveres de cidadãos que ousaram contesta-​las.

Ditaduras pelas quais o próprio gov­er­nador do estado demon­strou insus­peito apreço ao sair vestido em hom­e­nagem aos líderes comu­nistas no último car­naval, inclu­sive, car­regando a foice e o martelo que sim­boliza sua dout­rina.

Os cidadãos de bem, temos hor­ror as ditaduras, não ape­nas aque­las dirigi­das por nos­sos inimi­gos ou adver­sários ide­ológi­cos, mas todas elas, de todas as cor­rentes, do pas­sado, do pre­sente e do futuro.

A memória histórica não pode ser seletiva.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

AOS PERSEGUIDOS.

Escrito por Abdon Mar­inho

AOS PERSEGUI­DOS.

Por Abdon Marinho.

QUANDO acordei, ainda na madru­gada, a primeira lem­brança que assaltou-​me à mente foi da con­ver­são de Saulo, que nos conta os Atos dos Após­to­los. Fiquei repetindo, inti­ma­mente, Saulo, por que me persegues? Diver­sas vezes, até lem­brar da con­strução com­pleta: “Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: Quem és, Sen­hor? E disse o Sen­hor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues”. (at. 9:45).

Durante todo o dia fiquei com a lem­brança a marte­lar a cabeça. Não sou tão reli­gioso assim, a ponto de lem­brar pas­sagens bíbli­cas. Até, pelo con­trário, muitos devem ser os peca­dos que car­rego. E, me per­gun­tei: por que esta pas­sagem tão especí­fica?

Voltei-​me a Saulo. Esta parte do livro dos Atos, trata, jus­ta­mente, da sua con­ver­são. Sabe­mos que antes dela, Saulo tinha como ofí­cio a perseguição aos primeiros Cristãos. Era sua “mis­são”. Não por pos­suir um ódio a este ou aquele ou a todos daquele grupo, especi­fi­ca­mente, mas sim, por com­bater as ver­dades que pre­gavam. A boa nova que, por des­ig­nação de Jesus Cristo, tin­ham a incum­bên­cia de propa­gar a todos os povos.

Esse era o tra­balho de Saulo: perseguir aque­les que propa­gassem aque­las ver­dades.

Ao longo da história humana – até hoje –, muitos são os sofrem perseguições por pro­fes­sarem uma fé dis­tinta da maio­ria, difer­ente daquela dos donos do poder, ou por falarem a ver­dade. Quan­tos não foram os már­tires a mor­rerem de forma hor­renda por não se cur­varem aos deuses pagãos de Roma? Quan­tos não são os que ainda hoje sofrem perseguições por sua fé, suas ideias ou seus princí­pios? Quan­tos não são os que sofrem por expor as incon­sistên­cias, as incom­petên­cias dos “líderes com pés de barro”? Não teria sido mais fácil negar a Deus e aos ensi­na­men­tos de Jesus para sal­varem as próprias vidas e dos seus próx­i­mos? Não era (e não é) mais cômodo “ficar na sua” para não ser molestado, podendo até auferir algu­mas van­ta­gens dos poderosos que acham não mere­cerem ques­tion­a­men­tos ou que lhes apon­tem as fal­has?

Saulo ouviu a Jesus, con­heceu a ver­dade, converteu-​se. De perseguidor pas­sou a perseguido. E, por sua fé, morreu.

Depois – e por sécu­los –, foi a vez dos cristãos se tornarem perseguidores, agora usando a sua fé como justificativa.

Com o pas­sar dos anos, dos sécu­los, dos milênios, até chegar­mos aos dias atu­ais, em que a sociedade se orgulha de viver tem­pos de tol­erân­cia, as perseguições con­tin­uam. São as mes­mas, talvez com novas roupa­gens.

Quan­tos não são os exem­p­los que nos chegam diari­a­mente, pelos vários meios de comu­ni­cação, infor­mando sobre tor­tura, encar­ce­ra­men­tos arbi­trários, punições cole­ti­vas de pes­soas por pro­fes­sarem uma fé?

Em alguns países mesmo a posse de uma bíblia é motivo para prisão por anos.

Quan­tos não foram os jor­nal­is­tas ou comu­ni­cadores mor­tos ou apri­sion­a­dos nos últi­mos anos por divul­garem notí­cias con­tra os poderosos?

O Brasil, que há mais de trinta anos diz viver uma democ­ra­cia plena, ocupa o sexto lugar nas perseguições con­tra os profis­sion­ais de imprensa, atrás, ape­nas, de ditaduras san­guinárias.

Aqui mesmo, próx­imo a nós, temos con­hec­i­mento das perseguições sofridas por aque­les que não temem dizer a ver­dade, ou de posicionar-​se de forma dis­tinta àquela dos donos do poder.

Não faz muito tempo pas­samos o desagradável con­strang­i­mento, ver­gonha mesmo, ao ver­mos a mais ele­vada Corte de Justiça do país “inven­tando” uma inves­ti­gação clan­des­tina cujo o propósito único é perseguir aque­les que emitem críti­cas as posições e exces­sos das excelên­cias, bem como aos seus incon­táveis abu­sos.

E, por menos que isso, essa mesma Corte orde­nou a cen­sura prévia a duas pub­li­cações jor­nalís­ti­cas, em fla­grante vio­lação à Con­sti­tu­ição da nação.

E, nes­tas ter­ras tim­bi­ras, quan­tos não já foram os jor­nal­is­tas, comu­ni­cadores ou mesmo cidadãos, que sofr­eram (ou sofrem) perseguições por expres­sarem suas ideias ou faz­erem críti­cas aos poderosos de plan­tão? Ao denun­cia­rem a empul­hação e as men­ti­ras ven­di­das como ver­dades?

Quan­tos não são “punidos”, tendo que gas­tar o pouco que pos­suem para custear suas defe­sas nas varas da Justiça? Quan­tos não já foram con­de­na­dos por crimes de opinião, inclu­sive, com restrições à suas liber­dades de loco­moção?

O com­bate à ver­dade con­tinua cada vez mais firme, talvez, mais sofisti­ca­dos, onde os poderosos querem pas­sar de respeitáveis democ­ratas. Mas as perseguições estão aí, à vista de todos, sem quais­quer con­strang­i­men­tos.

Antes, pelo con­trário, é exer­cida com orgulho, como demon­stração de força, para aniquilar e calar qual­quer um que ouse pre­gar a ver­dade ou a mostrar seus peca­dos.

Agem, assim, como Saulo perseguindo aque­les por sua fé, sua crença, por pre­garem a ver­dade que lhe foi orde­nada por Jesus para que pregassem.

Aos persegui­dos, aos não se cansam ou que têm cor­agem para sofrer os martírios em nome da ver­dade ou do que con­sid­eram justo, como muitos já o fiz­eram ante­ri­or­mente, em nome da fé, resta a esper­ança nas palavras do próprio Jesus: “Bem-​aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus”. (Mateus 5:10).

Abdon Mar­inho é advo­gado.

ASSEM­BLEIA BOLIVARIANA.

Escrito por Abdon Mar­inho

ASSEM­BLEIA BOLIVARIANA.

Por Abdon Mar­inho.

NÃO SE ENGANEM pelo título. Esse texto não tratará das des­graças que cas­tigam nos­sos irmãos venezue­lanos – antes fosse –, falare­mos de um assunto bem mais próx­imo de nós que a maio­ria dos leitores e, com certeza, os cidadãos não sabem. E não sabem porque o assunto vem sendo tratado com inco­mum discrição.

Há pouco mais de uma sem­ana – no máx­imo duas –, li uma matéria dando conta que a Assem­bleia Leg­isla­tiva do Maran­hão, iria realizar eleições para sua mesa dire­tora. Ini­cial­mente, pen­sei tratar-​se de um engano, pois em fevereiro ocor­rera a eleição.

Reli a matéria e, aí, com­preendi que já estavam falando da eleição da mesa para o segundo biênio desta leg­is­latura (2021÷2022).

Impressionou-​me a veloci­dade com que suas excelên­cias trataram da questão. Mal os novos dep­uta­dos assumi­ram, sequer tiveram tempo de dizer a que vieram e já vão eleger a mesa que con­duzirá os tra­bal­hos leg­isla­tivos a par­tir de 2021.

Segundo soube, a matéria já trami­tou e a eleição poderá ocor­rer a qual­quer momento.

Nada tenho con­tra a atual mesa (ou mesmo os demais par­la­mentares) – até por que não os con­heço –, mas me pre­ocupa, sobre­maneira, que este tipo de casuísmo ocorra.

Primeiro, pelo que me con­sta, mudaram a regra, per­mitindo a que a dita eleição ocor­resse no ano ante­rior; agora, que já ocorra no primeiro ano da leg­is­latura; a próx­ima será que per­mi­tir que real­izem a eleição para os dois biênios de forma simultânea?

Ora, pelo que se anun­cia como ver­dade, a eleição ocor­rerá com pouco mais de sessenta dias do iní­cio da leg­is­latura, o que impede, o que na próx­ima mar­quem para ocor­rer de uma só vez, e se faça letra morta o entendi­mento constitucional?

Na história do Brasil, todas as con­sti­tu­ições, desde a do Império, até a de 1967 – e depois a Emenda Con­sti­tu­cional n. 01, de 1969 –, deixaram tal assunto para os reg­i­men­tos inter­nos das Casas Leg­isla­ti­vas.

Quase todas seguiram à linha da Con­sti­tu­ição de 1934 que esta­b­ele­cia: “Art 26 — Somente à Câmara dos Dep­uta­dos incumbe eleger a sua Mesa, reg­u­lar a sua própria polí­cia, orga­ni­zar a sua Sec­re­taria com observân­cia do art. 39, nº 6, e o seu Reg­i­mento Interno, no qual se asse­gu­rará, quanto pos­sível, em todas as Comis­sões, a rep­re­sen­tação pro­por­cional das cor­rentes de opinião nela definidas”.

Ape­sar de não con­star na Con­sti­tu­ição, desde a insta­lação do Par­la­mento Brasileiro, em 1826, a regra tem sido que as Mesas Dire­toras não se “per­petuem no comando”. Desde a cri­ação do par­la­mento, poucos foram os pres­i­dentes que ficaram na presidên­cia da Câmara Fed­eral mais que um biênio. Mesmo durante a longa noite da ditadura.

Nos raros casos que isso se deu – salvo uma ou outra exceção –, não ocor­reu den­tro da mesma leg­is­latura, podemos citar como exem­p­los recentes, o caso de Ulysses Guimarães (85 e 87; 87 e 89) e do atual pres­i­dente Rodrigo Maia (que assumiu para um mandato “tam­pão” em 2016, depois se elegeu para o biênio seguinte e agora, foi eleito para o biênio 20192020).

Em todos os casos, a regra tem sido até admitir-​se a eleição seguida da mesa em caso de mudança de leg­is­latura quan­tos os mandatos foram ren­o­va­dos pelo voto.

Ainda assim, entendo que não dev­e­riam per­mi­tir casuís­mos como o que se deu com o atual pres­i­dente Rodrigo Maia.

A regra esta­b­ele­cida com a pro­mul­gação da Con­sti­tu­ição de 1988, é bas­tante clara e ela esta­b­elece: “Art. 57. O Con­gresso Nacional reunir-​se-​á, anual­mente, na Cap­i­tal Fed­eral, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezem­bro. (Redação dada pela Emenda Con­sti­tu­cional nº 50, de 2006).

§ 4º Cada uma das Casas reunir-​se-​á em sessões preparatórias, a par­tir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da leg­is­latura, para a posse de seus mem­bros e eleição das respec­ti­vas Mesas, para mandato de 2 (dois) anos, vedada a recon­dução para o mesmo cargo na eleição ime­di­ata­mente sub­se­qüente. (Redação dada pela Emenda Con­sti­tu­cional nº 50, de 2006)”.

Com tal orde­na­mento o leg­is­lador con­sti­tu­inte pre­tendeu que a rep­re­sen­tação da Casa do Povo fosse sem­pre ren­o­vada, per­mitindo a ampla par­tic­i­pação de todas as cor­rentes e/​ou mino­rias, e ainda, que a cor­re­lação de forças pudessem ser alter­adas na vigên­cia das leg­is­lat­uras.

Não fosse assim, pode­ria esta­b­ele­cer que os mandatos das mesas dire­toras das casas leg­isla­ti­vas fos­sem de qua­tro anos.

A regra inserta no pará­grafo quarto é jus­ta­mente o con­trário disso: vedando a recon­dução para o mesmo cargo na eleição ime­di­ata­mente sub­se­quente, como vimos acima.

No Maran­hão, onde tudo pode acon­te­cer, e segundo Vieira, até os céus mentem, trataram de “des­cumprir” a regra inserta na Con­sti­tu­ição Fed­eral, per­mitindo através das suces­si­vas Emen­das Con­sti­tu­cionais de nº. 20, 40 e 60, de 21 de dezem­bro de 2010, no apa­gar das luzes, que pudesse haver a pos­si­bil­i­dade de reeleição infini­ta­mente.

Vejamos: “Art. 29 – A Assem­bleia Leg­isla­tiva reunir-​se-​á, anual­mente na Cap­i­tal do Estado, de 02 de fevereiro a 17 de julho e de 1o de agosto a 22 de dezem­bro. (mod­i­fi­cado pelas Emen­das à Con­sti­tu­ição no 14 e no 49, de 30/​05/​2006).

§ 3o — A par­tir de 1o de fevereiro, no primeiro ano da Leg­is­latura, a Assem­bleia Leg­isla­tiva reunir-​se-​á em Sessões Preparatórias, para a posse de seus mem­bros e eleição da Mesa Dire­tora para o mandato de dois anos, per­mi­tida a reeleição. (mod­i­fi­cado pelas Emen­das à Con­sti­tu­ição nº. 20, nº. 40 e nº. 60, de 21/​12/​2010)”.

Em resumo, o que os par­la­mentares maran­henses fiz­eram – e con­tin­uam fazendo –, foi per­mi­tir o surg­i­mento de uma estru­tura de poder arcaica, anti­democrática e que nos remete ao que existe de mais atrasado no mundo, sobre­tudo, agora com a pos­si­bil­i­dade de eleições, como se dizia lá no sertão, “encan­gadas”, sem per­mi­tir que o tempo mod­i­fiquem as cor­re­lações de forças e humores e, ainda, com o risco de se tornarem úni­cas.

Com uma res­olução leg­isla­tiva “enges­saram” o par­la­mento e des­cumpri­ram o que dese­jou o leg­is­lador con­sti­tu­inte orig­inário.

Ora, enquanto o atual pres­i­dente con­seguir o voto para se eleger – o que não será difí­cil com os suces­sivos acú­mu­los de força política decor­rente do cargo –, será sem­pre o pres­i­dente do par­la­mento estad­ual.

Como disse, nada tenho con­tra o cidadão, até porque não o con­heço, o prob­lema é que isso atenta con­tra as mais comez­in­has nor­mas democráti­cas e a exper­iên­cia é sen­hora que isso sem­pre trouxe prob­le­mas, den­tre os quais o “enfraque­c­i­mento” dos demais deputados.

Quando se fala em lim­i­tação de mandatos par­la­mentares como forma de se reduzir dis­torções e o pat­ri­mo­ni­al­ismo, a ideia de alguém poder se eleger infini­ta­mente ao comando de um par­la­mento é algo ver­dadeira­mente absurdo.

A per­pet­u­ação no poder, repito, é incom­patível com os ideais democráti­cos que tanto son­hamos e ansi­amos.

É algo que com­bina com os regimes autoritários, com as ditaduras comu­nistas, boli­var­i­anas – ou não –, que tan­tos males causaram a humanidade.

É algo que se assemelha ao mod­elo da antiga União Soviética em que o Secretário-​geral do Par­tido Comu­nista ficava no poder man­dando em todo país até a morte.

Mas o Brasil e o Maran­hão não é e não tem “inveja” de tais mod­e­los. Não podemos dese­jar a implan­tação de um mod­elo anti­democrático por aqui.

O que me causa espanto diante desse cenário, não é a con­spir­ação dos políti­cos con­tra a democ­ra­cia é o silên­cio das demais insti­tu­ições do estado e dos demais cidadãos.

Até agora o Min­istério Público Estad­ual, que “ se mete” até em jogo de cas­tanha no inte­rior, diante do que vem se con­sol­i­dando, não temos notí­cia de ter dito nada, cobrado um esclarec­i­mento ou ten­tado bar­rar as ini­cia­ti­vas anti­democráti­cas pela via judi­cial, que aliás, começaram lá atrás. Falta uma Con­sti­tu­ição ao fis­cal da lei?

Nunca ouvi dizer que con­trariar a Con­sti­tu­ição é regra “interna corporis”.

Mas o silên­cio, parece não ser priv­ilé­gio do MPE, a Ordem dos Advo­ga­dos do Brasil — OAB, que, nos ter­mos da Con­sti­tu­ição tem um papel rel­e­vante – não é sem razão o “Art. 133. O advo­gado é indis­pen­sável à admin­is­tração da justiça, sendo invi­o­lável por seus atos e man­i­fes­tações no exer­cí­cio da profis­são, nos lim­ites da lei” –, tam­bém não tem nada a dizer, deve achar tudo “bonito” ou que não tem nada com isso.

Aliás, quem parece não ter “nada com isso” é a imprensa, não falo da oposição porque esta ou deixou de exi­s­tir ou sim­ples­mente não sabe qual é o seu papel. Já a imprensa não, ela pos­sui garan­tias con­sti­tu­cionais para exercer um papel crítico e ser a voz da sociedade. Ape­sar disso devota um silên­cio cúm­plice a estas for­mas de desmandos.

O que Assem­bleia vem fazendo já trazem reflexos para os par­la­men­tos munic­i­pais, com todo tipo de manobras sendo feitas para manip­u­lar as eleições nos coman­dos das Câmaras Munic­i­pais, sendo que muitas delas só estão se resol­vendo con­forme os “humores” do Poder Judi­ciário.

Essa bal­búr­dia começou lá atrás, com as suces­si­vas alter­ações na Con­sti­tu­ição Estad­ual, para aten­der o “inter­esse da hora”, con­forme já expli­camos.

A sociedade pre­cisa ficar atenta ao que vem ocor­rendo para não acabar endos­sando as práti­cas espúrias que sem­pre combateu.

Abdon Mar­inho é advo­gado.