UM WATERGATE MARANHENSE?
Por Abdon Marinho.
O IDEÓLOGO do Comunismo, Karl Marx, disse – dentro, claro de um contexto maior –, que a história só se repete como farsa.
No início dos anos 70 do século passado, o presidente americano Richard Nixon foi envolvido em um escândalo de espionagem à sede do partido adversário, o Democrata. A partir de uma denúncia anônima dois jornalistas do The Washington Post, investigaram o assunto que passou à história como o “Caso Watergate”, em referência ao edifício onde se localizava a sede do partido espionado, o Democrata.
O escândalo culminou com a renúncia de Nixon. Antes, porém, na efervescência daqueles dias, o então presidente cunhou uma frase lapidar: “o inimigo é a imprensa”.
Pois é, quem diria que tanto tempo depois Marx, Nixon e a farsa fossem se encontrar no Maranhão? Parece uma piada de mau gosto.
Desde a “implantação” do governo comunista no nosso estado que se têm notícias de investigações (bisbilhotagem) contra os adversários políticos dos “donos do poder”.
Eram insinuações, sussurros que foram se amplificando e ganhando as ruas a ponto de às vésperas das eleições de 2018 um documento oficial da polícia estadual circular com um pedido para que os militares lotados no interior fizessem “levantamentos” sobre os posicionamentos políticos de lideranças.
Ainda para aquela eleição ouvi de alguém, aliado do governo comunista, que uma liderança que já tinha hipotecado apoio à sua candidatura fora “convencida” a mudar de posição após “conversa” com pessoas ligadas à Secretaria de Segurança ocorrida dentro do próprio palácio do governo.
Não dei crédito e até pensei que fosse um exagero político que estava vendo os votos minguarem à véspera da eleição. Onde já se viu autoridades republicanas chamarem lideranças políticas “em palácio” para ameaça-las para mudar de lado?
Custava-me ( e ainda custa) acreditar em tamanha degradação, isso apesar de tudo que assistimos – e das notícias que nos chegou –, dando conta de toda sorte abusos praticados por agentes do governo nas eleições de 2016.
Muitas delas, segundo dizem, “tomadas”, pelo governo estadual para os seus aliados.
Tudo que se imaginava sobre a espionagem que, supostamente, estaria ocorrendo no nosso estado – só registrando que uma das principais medidas do governo comunista foi melhor equipar os laboratórios de investigações criminais e de inteligência –, restou amplificado (ou confirmado) a partir do depoimento em juízo do ex-delegado Thiago Bardal e de um depoimento em carta e em áudio do delegado Ney Anderson.
Ainda que os acusem de criminosos ou “malucos”, suas palavras apenas reforçam (ou confirmam) aquilo que sempre foi a voz corrente das ruas.
Como dito noutras oportunidades, eram mais que reais uma possível bisbilhotagem da parte dos detentores do poder, mais de uma vez ouvi de amigos sinceros uma indagação: –– tu duvidas, Abdon, que não estejamos sendo “escutados”?
Em um texto escrito no ano passado – ou em 2017 –, dizia ter curiosidade sobre que tipo de levantamento o serviço de “espionagem” teria feito a meu respeito. Talvez nenhum.
Pois bem, o que os delegados (ou ex-delegados, não sei a situação funcional de ambos) fizeram foi revelar um grave esquema de espionagem a figuras públicas do estado.
Segundo já dito pelos mesmos, diversos desembargadores – e seus familiares –, um senador da República, deputados estaduais e federais, todos espionados – e uma curiosidade, como se fazia noutros nefastos regimes totalitários, a espionagem, conforme denunciada, também teria recaído sobre “aliados”.
Alguém lembra da machadinha que alcançou Trotski?
Desde a primeira vez que tratei deste assunto que alerto para a gravidade destas denúncias – não apenas as recentes, mas aquelas que são ditas, insinuadas, inferidas, desde o começo do atual governo –, não sendo aceitável que em pleno século vinte um ainda vivamos sob o escrutínio de um “estado policial”.
Infelizmente, apenas agora as autoridades parecem “acordar” para a gravidade da situação e – como o TJMA e o senador Roberto Rocha –, passaram a cobrar providências junto as autoridades federais.
Antes, apesar do zunzunzum em todas as rodas, parecia – ou não davam crédito que suas esposas, filhos, pais, parentes ou aderentes e mesmo os próprios –, que nada estava acontecendo.
Outra curiosidade é que as autoridades maranhenses, a quem se imputavam tão graves acusações, fingiam que não deviam quaisquer satisfações à patuleia.
Apenas agora, após os supostos “bisbilhotados” cobrarem a apuração dos fatos ao Ministério da Justiça, ao Conselho Nacional de Justiça, ao Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria-Geral da República, tanto o secretário de segurança pública – e o governador, indiretamente –, aparecem de forma enviesada, para prestar esclarecimentos.
E, como dissemos anteriormente, apareceram ao velho estilo Nixon.
Junto com uma representação contra os delegados que denunciaram os supostos “malfeitos”, representaram contra os jornalistas que divulgaram as informações que lhes chegaram.
Quem disse que a imprensa não é a inimiga?
Em sendo verdade o que vem sendo posto – não apenas pelos delegados/denunciantes ou pelos jornalistas/blogueiros que cobriram o assunto, mas também pelo murmúrio das ruas, que são muitos e intensos desde muito tempo –, estaremos diante do mais grave atentado à democracia em nosso país, crimes que nem o ditadura militar ousou colocar em prática.
Diante de indícios é certo que o papel da polícia é investigar.
Mas não estamos falando disso, até porque ao indício de qualquer crime, o papel da autoridade policial seria remeter os mesmos às instâncias judiciais competentes para que elas determinassem e/ou prosseguissem com as investigações em face das prerrogativas dos implicados.
Até onde se sabe, não foi o que aconteceu, pelo menos não se tem notícias de nada desta natureza.
Então, estamos falando de crime, de bisbilhotagem criminosa, escutas clandestinas, desvirtuamento da função estatal.
Qual o objetivo disso? Chantagear os desembargadores e seus familiares? Chantagear os políticos? Quem tinha (ou tem) interesse neste tipo de procedimento criminoso? Tais fatos, se ocorreram, foi à revelia do governador ou foi uma missão transmitida aos criminosos por quem estava acima na cadeia de comando?
Como disse, são fatos de gravidade ímpar a reclamar uma investigação célere e completa, capaz de aferir as responsabilidades de cada um (se existentes), com punições, igualmente, exemplares.
O Supremo Tribunal Federal ou o Conselho Nacional de Justiça ou mesmo a Procuradoria-Geral da República ou todos, pela gravidade dos fatos relatados, precisam colocar ao encargo da Polícia Federal a responsabilidade de tal investigação.
Faz-se necessário, anda, que se garanta aos delegados – e a quantos mais souberem dos fatos e puderem provar –, os benefícios da colaboração premiada.
É medida urgente que se impõe.
Noutra quadra, é de soar estranho que o governador do estado, que tanto fala em democracia para o público externo, diante de fatos tão graves e que não estão na pauta apenas agora – , mas que vêm de longe –, se não tem nada com os mesmos, até o momento não tenha tomado quaisquer providências no sentido de apurar – e fazer cessar a nuvem de suspeitas –, e punir os responsáveis. Muito pelo contrário, o que sabe é que devota toda confiança naqueles que, segundo as denúncias, estariam implicados nas práticas delituosas.
O que dizer? A história recente comprova que Stálin sentou-se e participou dos esforços de guerra com os aliados para livrar o mundo do pesadelo nazista, enquanto ele mesmo mantinha uma máquina de destruição similar ou mais eficiente que a de Hittler.
Quem disse que a história não se repete como farsa?
Abdon Marinho é advogado.