AbdonMarinho - RSS

4934 Irv­ing Place
Pond, MO 63040

+1 (555) 456 3890
info@​company.​com

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉMUM PACTO DAS ELITES CON­TRA O BRASIL

Escrito por Abdon Mar­inho

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉMUM PACTO DAS ELITES CON­TRA O BRASIL.

Por Abdon Marinho.

NADA nos dias atu­ais tem sido mais desafi­ador do que iden­ti­fi­car­mos a ver­dade. Parece-​me que cada um diz ou “vende” aquilo que lhe é con­ve­niente à sua própria “guerra”. Ninguém mais parece preocupar-​se com o que seja ver­dade ou o que seja ape­nas peça de pro­pa­ganda eleitoral, par­tidária, ide­ológ­ica ou de con­veniên­cia pes­soal.

Em meio a toda essa neb­u­losa cortina de fumaça – e devo pedir des­cul­pas pelo irre­sistível tro­cadilho infame –, uma coisa parece-​me bas­tante clara e para ela ped­i­mos muita atenção aos homens e mul­heres lúci­dos que restaram: um pacto das elites con­tra o Brasil.

Durante sécu­los, desde o iní­cio da nossa história como nação sem­pre tive­mos uma certeza: a desigual­dade.

Os “grandes”, felizes habi­tantes do “andar de cima”, além de usarem todos os recur­sos da nação em bene­fí­cio próprio, jamais, em hipótese alguma, seriam alcança­dos pelo braço da lei.

Igual­mente, durante os sécu­los, a luta da humanidade tem sido essa busca pela igual­dade.

A Declar­ação Uni­ver­sal dos Dire­itos Humanos, de 1948, inserta tal ideal logo no seu artigo primeiro: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dig­nidade e em dire­itos. Dota­dos de razão e de con­sciên­cia, devem agir uns para com os out­ros em espírito de fraternidade”.

Firme em tal propósito, quarenta anos depois, a Con­sti­tu­ição Fed­eral, de 1988, con­sagrou o mesmo princí­pio logo no seu artigo quinto: “Todos são iguais per­ante a lei, sem dis­tinção de qual­quer natureza, garantindo-​se aos brasileiros e aos estrangeiros res­i­dentes no País a invi­o­la­bil­i­dade do dire­ito à vida, à liber­dade, à igual­dade, à segu­rança e à pro­priedade, nos ter­mos seguintes:”.

Ape­sar de garan­tias tão fortes, sabíamos que a igual­dade propal­ada, sem­pre esteve dis­tante de ser uma real­i­dade. Exceto para pou­cas democ­ra­cia solid­i­fi­cadas, o Brasil seguia a onda do restante do mundo, onde, ape­sar da igual­dade for­mal, sem­pre soube­mos que uns “eram mais iguais do que outros”.

Ape­nas a par­tir de 2005, com o surg­i­mento do escân­dalo do “men­salão” e, pos­te­ri­or­mente, com o proces­sa­mento, jul­ga­mento e con­de­nação dos impli­ca­dos – que depois foram lev­a­dos a cumprir suas penas –, pas­samos a sen­tir uma certa mudança: a igual­dade começou a se fazer pre­sente e o braço da lei já era longo o sufi­ciente para alcançar “os felizes habi­tantes do andar de cima”.

O sen­ti­mento de que a mudança de par­a­digma era mesmo para valer gan­hou impulso com a defla­gração da Oper­ação Lava Jato, com suas dezenas de des­do­bra­men­tos, oper­ações, prisões, bus­cas e apreen­sões, recu­per­ação de bil­hões de dólares rou­ba­dos, jul­ga­men­tos e con­de­nações a duras penas dos impli­ca­dos, diver­sas autori­dades, políti­cos, como ex-​deputados, ex-​governadores, empresários das maiores empre­sas do Brasil e, até mesmo, um ex-​presidente da República, coin­ci­den­te­mente, o mais pop­u­lar da história recente do país.

Aqui, ressalte-​se, não se trata de júbilo pelo infortúnio pes­soal de quem quer que seja, mas, ape­nas o reg­istro da mudança ocor­rida no país. Quem há pou­cas décadas iria imag­i­nar um grande empresário, um político de primeira grandeza como hós­pede do Estado?

Longe de quere­las e sen­ti­men­tos de cunho ide­ológico, o que se louva, por­tanto, é o reg­u­lar fun­ciona­mento das insti­tu­ições, para quem todos os cidadãos devem rece­ber igual trata­mento per­ante a lei.

Mas, como diz o ditado pop­u­lar “ale­gria de pobre dura pouco”, de uns tem­pos para cá temos teste­munhado diver­sas ini­cia­ti­vas e situ­ações visando levar o país ao retro­cesso insti­tu­cional, aos tem­pos de “casa grande e sen­zala”, com os habi­tantes do “andar de cima”, mais uma vez, inim­putáveis e inal­cançáveis pelo braço lei.

E vão além, querem punir os ousarem desafiar tal “sta­tus quo”.

Trata-​se do novo “pacto das elites”, escrito ou não, for­mal­mente com­bi­nado ou não, mas que todos pare­cem saber o seu papel e o desem­penha com abne­gação.

Nas altas cúpu­las da República “ninguém solta a mão de ninguém”, num ver­gonhoso esquema de pro­teção mútua a desafiar a con­quista da igual­dade entre os cidadãos.

A ban­dalha tem iní­cio com a par­tic­i­pação do Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, que, por imposição legal/​constitucional é o guardião da Con­sti­tu­ição, con­forme esta­b­elece o artigo 102: “Com­pete ao Supremo Tri­bunal Fed­eral, pre­cipua­mente, a guarda da Con­sti­tu­ição, cabendo-​lhe:”.

Ape­sar da relevân­cia do cargo – e do papel que desem­pen­ham –, os min­istros da mais ele­vada corte do país são os primeiros a não se “darem o respeito” e agirem de forma indeco­rosa, pois sabem que estão acima da lei.

Como reles mar­gin­ais, são capazes dos maiores absurdos.

Não faz muito tempo uma pub­li­cação trouxe ao con­hec­i­mento da pat­uleia que a Usina de Itaipu ban­cava (ou con­tinua ban­cando) via­gens dos min­istros e de suas famílias pelos “qua­tro can­tos do mundo”. Não se ouviu uma expli­cação, um esclarecimento.E, talvez seja o de menos.

Os últi­mos tem­pos tem sido prodi­giosos na rev­e­lação dos malfeitos das excelên­cias.

Para fugir às críti­cas, imag­inem, a mais ele­vada Corte do país abriu um inquérito sig­iloso sob o argu­mento que iria apu­rar fakes news assacadas con­tras as excelên­cias. Antes já tin­ham deter­mi­nado a cen­sura prévia à revista eletrônica Cru­soe e ao site O Antag­o­nista.

Mas quem pre­cisa se valer de fake news quando a real­i­dade, à vista de todos, é ainda mais assus­ta­dora?

Quem não sabe que tem min­istro que atua mais como empresário do que como juiz da corte?

Quem ignora que os escritórios das suas famílias, mesmo das esposas, remu­neram algu­mas excelên­cias? Isso não é fake news.

Mas os min­istros se jul­gam acima da lei e por isso mesmo deter­mi­nam a sus­pen­são de inves­ti­gações que pos­sam chegar a eles, como bem recen­te­mente fiz­eram com “finado” COAF e com a Receita Fed­eral, impondo a esta última a sus­pen­são admin­is­tra­tiva dos seus fis­cais.

O que faziam os fis­cais? Fis­cal­izavam movi­men­tação sus­peitas de uma cen­tena de CPF’s.

Qual a razão das con­tas dos min­istros do Supremo Tri­bunal Fed­eral, Supe­rior Tri­bunal de Justiça ou de qual­quer outro tri­bunal do país não poderem ser devas­sadas? O que teriam a escon­der da pop­u­lação que paga as suas contas.

Na ver­dade o Poder Judi­ciário dev­e­ria agir como a Mul­her de César, além de ser hon­esto, dev­e­ria pare­cer hon­esto e dar exem­plo.

Seus inte­grantes dev­e­riam ser os primeiros a não recearem quais­quer devas­sas em suas contas.

Aliás, dev­e­ria ser de lei a proibição a qual­quer sig­ilo quanto aos seus rendi­men­tos pois dev­e­riam viver só com aquilo que recebem dos cofres públi­cos legal­mente, o que seria mais que o sufi­ciente posto que gan­ham o teto do fun­cional­ismo.

Se querem ser ricos aban­donem as togas e virem empresários de fato é de direito.

Mas como dito no iní­cio deste texto, as excelên­cias, todas elas, pre­cisam se “defend­erem”, ninguém larga a mão de ninguém. Faz parte do roteiro.

O princí­pio da igual­dade per­ante a lei pas­sou foi longe das autori­dades brasileiras que não se con­strangem com quais­quer absurdo que venha acon­te­cer e estão dis­pos­tos a ir às últi­mas con­se­quên­cias para que o império da impunidade volte a reinar.

Agora mesmo têm como obje­tivo encon­trar uma solução para o pri­sioneiro número um país, o ex-​presidente Lula.

O Lula espirra e lá está um min­istro pronto a jul­gar qual­quer réclame.

Outro dia, para o espanto da nação, assis­ti­mos ao Supremo Tri­bunal Fed­eral, a mais ele­vada Corte do país fun­cio­nando como juízo de exe­cução penal.

Segundo alguns cál­cu­los o ex-​presidente já inten­tou cerca de duas cen­te­nas de recur­sos para sair da cadeia, anu­lar seus proces­sos e ficar impune, até agora nen­hum sur­tiu o efeito necessário. E não foi por falta de inter­esse dos seus jul­gadores da Praça dos Três Poderes. É mesmo por falta de sus­ten­tação jurídica.

Se depen­desse da von­tade de cer­tos min­istros faz tempo que o ex-​presidente estaria em casa con­tando loro­tas aos incautos.

Vimos do que são capazes. Em questão de horas um decisão de juiz de primeira instân­cia foi des­feita pelo órgão máx­imo da justiça do país, com dire­ito a inter­rupção da sessão onde dezenas de out­ros feitos estavam sendo jul­ga­dos para rece­ber os par­tidários do ex-​presidente.

O agachamento dos min­istros ao sen­hor Lula já levou alguns arti­c­ulis­tas a apel­i­darem o STF (Supremo Tri­bunal Fed­eral) de STL (Supremo Tri­bunal do Lula).

É o que acon­tece quando se dá o respeito.

Mas, como dito, o que acon­tece no Supremo não é um fato iso­lado. Tudo faz parte do “pacto das elites” em curso.

Não deve­mos estran­har se muito em breve o Supremo jul­gar proce­dente uma ação pro­posta pelo Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB, que visa proibir a prisão antes do trân­sito em jul­gado. Aquele “saidão” que o min­istro Marco Aurélio Melo ten­tou no final do ano pas­sado, no último dia de expe­di­ente e que não vin­gou.

O PCdoB pre­tende a soltura de cerca de 180 mil del­i­quentes de todos os naipes para soltar junto com eles o ex-​presidente Lula.

O Con­gresso Nacional nos brindou com a Lei do Abuso de Autori­dades.

Claro que nen­huma pes­soa de bom senso é con­trário à uma lei que com­bata o abuso de autori­dade. Como cansa­dos de saber – e como demon­strado acima –, uma lei que vise coibir abu­sos é mais que necessária.

Quem não quer que todos os cidadãos, oper­adores do dire­itos sejam trata­dos com respeito e urban­idade?

Uma lei que com­bata abu­sos é boa para todos, inclu­sive para os bons juizes, os bons pro­mo­tores, os bons del­e­ga­dos, os bons poli­ci­ais, os bons cidadãos.

Acon­tece que a lei recém-​aprovada, em que pese tenha alguns pon­tos volta­dos a isso, na ver­dade o que ela pre­tende é aniquilar os instru­men­tos de inves­ti­gações sobre os poderosos, sobre os vel­hos “habi­tantes do anda de cima”, como sem­pre foi. Uma maçã enve­ne­nada.

A grande parte do Con­gresso Nacional está pre­ocu­pada com o abuso ou a igual­dade entre os cidadãos, eles já se sen­tem supe­ri­ores a isso. O propósito de tais ini­cia­ti­vas é a “auto-​preservação”, estão leg­is­lando, ver­dadeira­mente, em causa própria.

Nesta mesma linha foi a ini­cia­tiva que vetou a incor­po­ração do COAF no Min­istério da Justiça e “desidrata” sem­pre que tem a opor­tu­nidade o “Pacote Anti­crime” pro­posto pelo min­istro Sér­gio Moro.

Se demon­strado que segui­men­tos dos poderes judi­ciário leg­isla­tivos estão com­pro­meti­dos com o “pacto das elites”, existe a clara con­statação que o Poder Exec­u­tivo tam­bém a ele se encon­tra com­pro­metido.

Os três poderes estão de mãos dadas na con­quista da impunidade.

As provas mate­ri­ais do que digo estão aí para qual­quer um ver. O dis­curso do pres­i­dente deu um giro de 180 graus, indo do “dei carta branca ao min­istro Sér­gio Moro” a “quem manda sou eu”. Pior que o dis­curso são as várias desautor­iza­ções ao min­istro, as inter­venções na Receita Fed­eral, na Polí­cia Fed­eral e tan­tos out­ros órgãos, sem con­tar que nunca moveu uma “palha” para que pacote anti­crime do min­istro fosse aprovado, pelo con­trário, muitos dos seus par­tidários fazem é tra­bal­har contra.

A aposta é que ainda não demi­tiu o min­istro, que largou uma car­reira sól­ida na mag­i­s­tratura para aten­der ao seu chamado de com­bater a cor­rupção com uma rede e não com uma vara de pesca, por covar­dia. As humil­hações que impõe ao min­istro é um recado para que ele saia por livre e espon­tânea von­tade.

Resta saber quanto tempo Moro vai resistir.

O pres­i­dente age, infe­liz­mente, como aquele menino pobre que sem­pre foi mal­tratado e agora foi admi­tido no time dos dos “bem-​nascidos”, no clube dos ricos, na frater­nidade da elite.

Assisto a tudo isso com aquela velha sen­sação de que a a vida copia a arte.

O que assis­ti­mos é a real­i­dade de O Império Con­tra Ataca, com a liq­uidação de quase todas as forças da Resistên­cia.

No Brasil de hoje, a “Resistên­cia” às forças do “Império” está cada vez menor. Os homens de bem resistiremos?

Abdon Mar­inho é advo­gado.

O ESTADO PRI­VA­TI­ZADO: O ESCAN­DALOSO CASO DO CAJUEIRO.

Escrito por Abdon Mar­inho

O ESTADO PRI­VA­TI­ZADO: O ESCAN­DALOSO CASO DO CAJUEIRO.

Por Abdon Mar­inho.

AINDA em 2018 quando a con­vite de um colega advo­gado vis­itei a comu­nidade do Cajueiro, local­izada na zona rural do Municí­pio de São Luís, que vive uma situ­ação de con­flito por conta da insta­lação de um porto pri­vado de um con­sór­cio sino-​brasileiro, disse as pes­soas com quem falei da importân­cia de se unirem, pois estariam soz­in­has numa luta de difí­cil vitória.

Os acon­tec­i­men­tos dos últi­mos dias com­pro­vam que estava certo, senão por uma cir­custân­cia: dizia – e até disse nos tex­tos ante­ri­ores –, que o gov­erno estad­ual estava “omisso” nesta questão.

Equivoquei-​me com­ple­ta­mente, forçoso recon­hecer que estava errado. Na ver­dade, o gov­erno não está omisso – nunca esteve –, ele fez a opção de ficar do lado da empresa pri­vada que tenta con­struir o porto na local­i­dade, expul­sando, ou ind­enizando a “preço de bananas” suas pro­priedades.

Pro­priedades estas que foram lhes con­ce­di­das pelo próprio gov­erno estad­ual.

Come­cei a firmar-​me nesta con­vicção quando vi através de diver­sos vídeos que me foram envi­a­dos no dia do cumpri­mento de uma rein­te­gração de posse deter­mi­nada pela justiça; depois quando vi, tam­bém através de vídeos que me foram envi­a­dos, a repressão empreen­dida pelas forças poli­ci­ais diante de um protesto pací­fico, feito pelos moradores que ape­nas que­riam ser ouvi­dos pelo gov­er­nador do estado; e, final­mente, quando teste­munhamos o elo­quente silên­cio do gov­erno estad­ual diante de uma nota do con­sór­cio, veic­u­lado em diver­sas mídias e até em horário nobre de tele­visão, na qual, entre out­ras coisas, “desautor­iza” a autori­dade do estado.

Se você é maran­hense e não esteve em coma nos últi­mos anos, sabe que este gov­erno é o que menos cumpriu ordens de rein­te­gração de posse, moti­vando, inclu­sive, recla­mações diver­sas. Mesmo aque­las onde o esbulho é patente, o gov­erno resis­tia a não mais poder no seu cumprimento.

Logo soa estranho que venha dizer que “não” pode­ria deixar de cumprir a decisão judi­cial – cumprida com exces­sos –, pois, temia ser sub­metido a um processo de impeach­ment, con­forme se divul­gou em uma espé­cie de nota que mais pare­cia uma piada.

Impeach­ment? Logo agora, depois de cen­te­nas de out­ros des­cumpri­men­tos? Ainda mais quando se fala em uma pro­priedade duvi­dosa, con­forme já demonstramos?

Depois, a vio­lên­cia com que se reprimiu um protesto pací­fico da comu­nidade atingida.

O que foi aquilo? Havia neces­si­dade de todo aquele excesso? Havia a neces­si­dade se mobi­lizar tanta força para reprimir pes­soas que estavam prote­s­tando paci­fi­ca­mente? Havia a neces­si­dade do próprio secretário de segu­rança pública super­vi­sionar a repressão feita na cal­ada da noite?

Quer me pare­cer que os inte­grantes do gov­erno ten­taram – e ainda ten­tam –, fugir da própria ver­gonha. Tendo já cometido toda sorte de desatino no curso deste processo e mais a vio­lên­cia na des­ocu­pação, não que­riam que a mesma viesse até a porta do palá­cio.

Bateu-​lhes à porta a vio­lên­cia e a ver­gonha.

Por fim, desde o dia 15 de agosto de 2019, todos os canais de mídia, inclu­sive, a tele­visão Mirante, veic­u­lam em horário nobre uma “nota” que mal­trata a ver­dade e insulta o gov­erno estad­ual, sem que este esboce qual­quer reação.

Não perce­beram ou a empresa doadora de cam­panha do par­tido do gov­er­nador já deter­mina que atos são ou não legítimos?

Aliás, foi a nota que motivou esse texto. Não pre­tendia voltar ao tema depois de ter escrito duas vezes sobre o assunto e esclare­cido o que entendo como o cor­reto.

Pois bem, o quarto pará­grafo da nota diz: “uma escrit­ura apre­sen­tada por alguns moradores é de 1998. Entre out­ras nul­i­dades, foi emi­tida com base em Decre­tos revo­ga­dos em 1991.Portanto, é nula de pleno dire­ito”.

Vejam onde cheg­amos: uma empresa pri­vada deter­mi­nando que atos estatais são váli­dos e quais são nulos de pleno direito?!

Lá no meu inte­rior se dizia que “quem aluga a bunda não escolhe a hora de sen­tar”. É de se per­gun­tar – e per­gun­tar não ofende –, se a “doação de cam­panha” com­prou a autono­mia do estado.

Mas deix­e­mos isso de mão. A nota, neste ponto, deixa de lado a verdade.

Con­forme demon­stramos, até 1976 todas as ter­ras – até por inter­esses estratégi­cos –, per­ten­ciam a União Fed­eral, inte­gravam o seu patrimônio.

Naquele ano, por força do Decreto nº. 78.129, de 29 de julho de 1976, as ter­ras foram cedi­das por afora­mento ao Estado do Maran­hão.

A ementa do decreto dizia: “autor­iza a cessão, sob régime de afora­mento, dos ter­renos que men­ciona, situ­a­dos, no Municí­pio de São Luís, Estado do Maran­hão”.

Com efeito esse decreto foi revo­gado pelo Decreto (sem número) de 15 de fevereiro de 1991, que “man­teve” as con­cessões ante­ri­or­mente con­ce­di­das, vejamos a ementa: “Man­tém con­cessões, per­mis­sões e autor­iza­ções nos casos que men­ciona e dá out­ras providên­cias”.

Não pode­ria ser difer­ente uma vez que Con­sti­tu­ição Fed­eral de 1988, em seu artigo 26, incluiu entre o patrimônio dos esta­dos “as ter­ras devo­lu­tas não com­preen­di­das entre as da União”. (Art. 26, II, CF).

É dizer, quando a Con­sti­tu­ição foi pro­mul­gada, em 1988, aque­las ter­ras já estavam inseri­das no patrimônio do estado por força do decreto de 1976, já referido.

Mas, ainda que os decre­tos não tivessem man­tido as con­cessões e o estado não pudesse ter con­ce­dido a escrit­ura con­do­minial aque­las cen­te­nas de famílias, as ter­ras teriam sido reav­i­das pela União Fed­eral e não por terceiros.

O que esta­mos dizendo – e provando com doc­u­men­tos –, é que quais­quer títu­los daque­las ter­ras só têm val­i­dade se com­pro­vado a aquisição junto à União Fed­eral ou ao Estado do Maran­hão, pois as ter­ras eram da união que as con­cedeu como foro ao estado.

Fora disso é con­versa fiada. ‘É “gri­lagem”. Mesmo porque, nos ter­mos do artigo 191, pará­grafo único, da Con­sti­tu­ição Fed­eral, ter­ras públi­cas não podem ser adquiri­das através do insti­tuto do usu­capião.

Este é um assunto que não com­porta grandes inda­gações. Mais sim­ples que isso só desenhando.

O Estado do Maran­hão tinha poderes para out­or­gar a escrit­ura àque­las famílias, como fez.

Chega a ser ver­dadeira­mente escan­daloso que uma empresa pri­vada “tutele” o estado a ponto de dizer que este ou aquele ato foi ile­gal ou é nulo de pleno dire­ito. Com qual autoridade?

Pior que ninguém diz nada. Nem do atual gov­erno nem do gov­erno que out­or­gou a escrit­ura con­do­minial.

A situ­ação fica ainda mais curiosa quando recor­damos que em 1998 vigia em nosso estado o con­domínio sarno-​comunista com estes últi­mos respon­sáveis pela com­pli­cada situ­ação fundiária do estado que fes­te­jaram como a um “gol de placa” aquela “paci­fi­cação” – ainda mais porque está­va­mos às vésperas de ini­ciar o processo eleitoral daquele ano.

Agora, ape­sar de esta­mos nova­mente vivendo a era do comuno-​sarneísmo (o que difer­en­cia um e outro é que agora os comu­nistas estão no comando), tanto uns quan­tos out­ros silen­ciem sobre uma questão de tamanha gravidade.

A empresa veicu­lou em todos meios de comu­ni­cação – inclu­sive no sis­tema Mirante onde a ex-​governadora teve (ou ainda tem) par­tic­i­pação acionária –, uma nota dizendo que ela prati­cou uma fraude, um ato nulo de pleno dire­ito, jun­ta­mente com seus sub­or­di­na­dos comu­nistas e nem ela nem o par­tido dizem nada a respeito do assunto.

Igual­mente escan­daloso é o gov­erno tratar o assunto como um con­flito entre par­tic­u­lares dizendo só lhe cabe cumprir a ordem de rein­te­gração de posse, quando a comu­nidade ostenta uma escrit­ura con­do­minial que lhe foi out­or­gada pelo próprio gov­erno estad­ual.

Vejam que absurdo! O gov­erno estad­ual está, implici­ta­mente, dizendo que o doc­u­mento que emi­tiu não tem qual­quer valia e que as ter­ras onde o empreendi­mento será insta­l­ado per­tencem à empresa.

Os mem­bros do par­tido, hoje no poder, à época man­davam e des­man­davam no Insti­tuto de Ter­ras do Maran­hão — ITERMA, foram os respon­sáveis por todos os lev­an­ta­men­tos e assi­naram (através do pres­i­dente do par­tido) a escrit­ura con­do­minial jun­ta­mente com a gov­er­nadora e o secretário estad­ual de agri­cul­tura.

Estran­hamente, repito, não aparece ninguém nem do gov­erno nem do par­tido para defend­erem os próprios atos. Será que não restou um “gota” de con­strang­i­mento? Foi um ato estatal prat­i­cado por inte­grantes do par­tido que está no poder.

Enga­naram aque­las pes­soas – e toda a pop­u­lação do estado –, naquele momento, quando venderam a ideia que haviam resolvido o con­flito ou agora quando se colo­cam ao lado da empresa?

Igual­mente vex­atória é a posição de out­ros par­tidos – e políti­cos –, que sem­pre se bat­eram con­tra a “gri­lagem” de ter­ras no estado. Nen­hum deles tem nada a dizer sobre os fatos. A comu­nidade do Cajueiro tornou-​se invisível a eles.

O com­por­ta­mento de hoje não é muito difer­ente do com­por­ta­mento daque­les que sem­pre estiveram ao lado dos grileiros de ter­ras públi­cas em toda a história do Maran­hão. Dev­e­riam pen­sar duas vezes antes de diz­erem que falam em nome e – em defesa –, do povo.

Aqui não se trata se ser con­tra ou a favor de um pro­jeto de desen­volvi­mento para o estado – que somos inteira­mente favoráveis –, o que está em dis­cursão é uma questão de justiça. Esconder-​se sob esse argu­mento só reforça a ideia de que sem­pre foi fala­cioso o dis­curso em defesa dos fra­cos e oprimidos.

Com mil escusas por ter retor­nado ao tema. Espero não ter mais de voltar a fazê-​lo.

Abdon Mar­inho é advogado.

QUEM É GRILEIRO DAS TER­RAS DO CAJUEIRO?

Escrito por Abdon Mar­inho

QUEM É GRILEIRO DAS TER­RAS DO CAJUEIRO?

Men­ti­ras, engo­dos e omissões.

Por Abdon Marinho.

O ATUAL CON­FLITO na área e por conta das ter­ras do Cajueiro, local­izadas no Municí­pio de São Luís, Cap­i­tal do Maran­hão, tem sido usado para dis­sem­i­nar men­ti­ras, pro­mover engo­dos e descorti­nar omissões.

Com base em doc­u­men­tos ofi­ci­ais, com fé pública, por­tanto, traçarei uma linha do tempo para que perce­bam que a situ­ação não e de difí­cil indagação.

O primeiro doc­u­mento mostra que até o ano de 1976 a área per­ten­cia à União Fed­eral que a aforou em favor do Estado do Maran­hão, no total de 610 hectares, nos ter­mos do Decreto nº. 78.129÷77, con­forme matric­ula nº. 184, fls., 227, R-​01, do Livro nº. 2-​C.

O segundo doc­u­mento mostra que no dia 17 de março de 1998, foi lavrada a matric­ula 25.509, fls. 42, Protesto. 47.913, página 335, do cartório do 4º Ofí­cio, Livro nº. 112E, pelo qual o Estado do Maran­hão através da gov­er­nadora Roseana Sar­ney “pas­sou” parte daquela área a Comu­nidade do Cajueiro.

No doc­u­mento con­sta cadeia sucessória da área, con­forme podemos ver­i­ficar na parte infe­rior do doc­u­mento.

O ter­ceiro doc­u­mento mostra que em 30 de dezem­bro de 2014, o então gov­er­nador Arnaldo Melo baixou o Decreto nº. 30.610, pub­li­cado no Diário Ofi­cial do Estado do dia 31 de dezem­bro de 2014, desapro­priando a área em favor da WPR Gestão de Por­tos e Ter­mi­nais Ltda.

O quarto doc­u­mento o Decreto nº. 30.624, de 12 de janeiro de 2015, do gov­er­nador Flávio Dino revo­gando a desapro­pri­ação, segundo jus­ti­fica­tiva, den­tre out­ras coisas, con­siderando a existên­cia de con­fli­tos e a neces­si­dade de serem apro­fun­da­dos os estu­dos, inclu­sive quanto aos impactos socioam­bi­en­tais da implan­tação de um Ter­mi­nal Por­tuário na localidade.

O quinto doc­u­mento é o Decreto nº. 33.892, de 16 de março de 2018, baix­ado pelo gov­er­nador Flávio Dino mais uma vez desapro­priando a área do Cajueiro, agora em favor da WRP São Luís Gestão de Por­tos e Ter­mi­nais Ltda.

No mesmo decreto o gov­er­nador “dele­gou” a empresa a respon­s­abil­i­dade pelas ind­eniza­ções dos moradores da área.

Como disse – e mostrei –, isso tudo se depreende de doc­u­men­tos públi­cos deten­tores de fé pública.

Dito isso, cheg­amos as seguintes con­clusões:

  1. As ter­ras orig­i­nar­i­a­mente per­ten­ciam à União Fed­eral que as repas­sou para o Estado do Maranhão;
  2. Se antes de 1977 a União Fed­eral não vendeu qual­quer gleba a ter­ceiros e se o Estado do Maran­hão não fez isso depois daquela data, quando as ter­ras lhes foram aforadas, quais­quer ale­gação de pro­priedade se funda em título falso ou no mín­imo de duvi­dosa idoneidade;
  3. Os úni­cos e legí­ti­mos pro­pri­etários são aque­les que foram afora­dos ou tit­u­la­dos pela União Fed­eral ou pelo Estado do Maranhão;
  4. O suposto con­flito entre par­tic­u­lares é – sem­pre foi – fruto da leniên­cia do poder público;
  5. Difer­ente do que afir­mam, a respon­s­abil­i­dade é do gov­erno estad­ual, primeiro por ter feito a tit­u­lar­iza­ção em 1998 e depois por ter, em 2018, desapro­pri­ado e del­e­gado a WRP a respon­s­abil­i­dade pelas ind­eniza­ções.

Os con­fli­tos, os atos de vio­lên­cia, são provo­ca­dos e ocor­rem dev­ido à falta de sis­tem­ati­za­ção e omis­são das autori­dades.

Desde que o Estado do Maran­hão con­cedeu a tit­u­lar­i­dade aque­las pes­soas que já estavam lá em 1998, passou-​se quase vinte anos sem ouvir­mos quais­quer notí­cias de con­fli­tos, que retornaram agora quando o estado se omi­tiu e não chamou para si a respon­s­abil­i­dade pela desapro­pri­ação da área.

Não era coisa de outro mundo. O Estado tem o dire­ito de desapro­pri­ação para aten­der ao inter­esse público. Bas­taria chamar todos aque­les a quem con­cedeu a pro­priedade e ofer­e­cer uma pro­posta justa e prévia de ind­eniza­ção. Sim­ples­mente isso: desapro­priar pela escrit­ura de 1998 e, qual­quer outro, pela ben­feito­ria que por ven­tura estivesse na área.

O gov­erno estad­ual entre­gou a respon­s­abil­i­dade ao inter­es­sado no pro­jeto e deu (e está dando) toda essa con­fusão e agora está “fug­indo” às suas respon­s­abil­i­dades.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

P.S. Seguem abaixo dois decre­tos: o que con­cedeu o afora­mento e o que manteve.